Einstein (mais uma vez…) está certo
Noventa anos depois dele ter exposto sua famosa teoria, uma sonda da NASA provou que o universo se comporta da maneira que ele disse. Agora a corrida continua para demonstrar que a outra metade da relatividade também funciona.
Anushka Asthana e David Smith
Domingo, 15 de Abril de 2007
The Observer
Junto a seu nome, no “the Oxford English Dictionary”, está a simples definição: gênio. Ainda assim, por décadas os físicos têm feito a pergunta: será que Albert Einstein cometeu um erro? Após meio século, sete cancelamentos e US$ 700 milhões, uma missão para testar sua teoria acerca do universo, finalmente confirmou que o homem era mesmo genial – ou, ao menos, provou isto pela metade.
Os resultados preliminares da “Gravity Probe B”, um dos satélites mais complicados da NASA, confirmou, ontem, “com uma precisão melhor do que 1%”, a afirmação que Einstein fez a 90 anos atrás – de que um objeto tal como a Terra realmente distorce a tessitura do espaço e do tempo.
Mas isso – que é chamado de “efeito geodésico” – é apenas metade da teoria. A outra, o “arrasto da estrutura”, diz que, à medida em que o mundo gira, ele arrasta a tessitura do universo com ele.
Francis Everitt, o profesor da Universidade Stanford que devotou sua vida a investigar a Teoria da Relatividade de Einstein, disse aos cientistas da “American Physical Society” que vai levar mais uns oito meses antes que ele possa medir o efeito de “arrasto do sistema de referência” com precisão.
“Compreender os detalhes é meio como uma escavação arqueológica”, diz William Bencze, o gerente de programa para a missão. “Um cientista começa com um trator, continua com uma pá e, finalmente, usa pincas e escovas de dentes para tirar a poeira. Nós estamos na fase da escova de dentes, agora”.
O projeto Gravity Probe B foi concebido no final dos anos 1950 mas sofreu décadas de atrasos, enquanto outos cientistas realizavam outros testes para corroborar a teoria de Einstein. Foi a determinação de Everitt’s que impediu que fosse cancelado. A missão conjunta entre a NASA e a Universidade Stanford usa quatro das mais perfeitas esferas – giroscópios ultra precisos – para detectar minúsculas distorções na tessitura do universo. A meta de Everitt era provar, com o maior grau de precisão jamais atingido, se Einstein estava correto em sua forma de descrever a gravidade.
De acordo com Einstein, da mesma forma que uma grande bola colocada em um tecido elástico estica a tessitura do tecido e faz com que ele se deforme, os planetas e estrelas fazem com que o espaço-tempo se encurve. Uma pequena bola-de-gude que se mova ao longo do tecido será atraída para a bola, tal como a Terra o é para o Sol, mas não cairia nela, enquanto se mantivesse se movendo em grande velocidade. A gravidade, argumentava Einstein, não era uma força atrativa entre corpos, como se pensava antes.
Poucos cientistas precisam dos resultados finais, que serão divulgados em dezembro, para convencê-los da genialidade de Einstein. “Desde os aspectos mais esotéricos de dilatação do tempo, até a bela e simples equação E=mc², o vasto corpo das idéias de Einstein sobre o universo têm resistido ao teste do tempo”, disse Robert Massey, da Royal Astronomical Society.
Ele disse que a missão era uma experiência de “ciência legítima” para verificar uma teoria e confirmar seu brilhantismo, porém outros criticaram os custos e a demora do estudo, dizendo que o que foi anunciado, já tinha sido demonstrado. Sir Martin Rees, o “Astronomer Royal”, declarou que o anúncio “não vai fazer nenhum raio cair”.
A explicação da Teoria
Quando Einstein escreveu sua Teoria da Relatividade Geral em 1915, ele encontrou uma nova maneira de descrever a gravidade. Não era uma Força, como supunha Sir Isaac Newton, mas uma conseqüência da distorção do espaço e do tempo, que, em sua teoria constituiam uma só entidade: o “espaço-tempo”. Qualquer objeto distorce a tessitura do espaço-tempo e, quanto maior for, maior será esse efeito.
Da mesma forma que uma bola de boliche, colocada em uma cama-elástica, estica o tecido e causa um afundamento, os planetas e estrelas encurvam o espaço-tempo – um fenômeno conhecido como “efeito geodésico”. Uma bola-de-gude que se mova ao longo da cama elástica será inexoravelmente atraída para a bola.
Assim, os Planetas que orbitam o Sol não estão sendo puxados pelo Sol; eles estão seguindo a deformação curva do espaço-tempo causada pelo Sol. A razão pela qual os Planetas nunca caem no Sol é a velocidade com a qual cruzam o espaço.
De acordo com a teoria, matéria e energia distorcem o espaço-tempo, curvando-o em torno de si. O “Arrasto do Sistema de Referência” teoricamente ocorre quando a rotação de um grande corpo entorta o espaço-tempo próximo. Esta é a segunda parte da teoria de Einstein que a missão da NASA ainda tem que corroborar.
[Atualizando em 16 de abril: Com base em sugestões do Daniel e do Fernando, modifiquei a tradução de “Frame Dragging” do original para “Arrasto do Sistema de Referência”. Para quem não entendeu, desde o início, fica a explicação:
Em um sistema de coordenadas onde a reta é a menor distância entre dois pontos (o chamado “Espaço Euclideano”) os valores absolutos das distâncias e dos “tempos” (que são função das distâncias) não variam, seja qual for o ‘ponto origem’ do seu sistema de coordenadas.
Em um espaço curvo, a coisa fica completamente diferente: a menor distância entre dois pontos é uma linha chamada “geodésica” (o nome não foi dado à toa: qualquer meridiano terrestre é o exemplo mais fácil de visualizar do que é uma “geodésica” – notem o prefixo “geo”…)
Einstein demonstrou que o Espaço-Tempo no universo, infelizmente, não é Euclideano e que a presença de matéria/energia encurva este espaço-tempo. Esta parte já foi comprovada no início do século XX, com uma observação de uma estrela próxima do Sol, durante um eclipse.
Só que existe mais um “pequeno” detalhe.
O próprio movimento de rotação da grande massa considerada (um planeta ou uma estrela) deveria produzir mais um efeito: além de encurvar o espaço-tempo, ela deveria “torcer” o sistema de referencial inercial no sentido de sua rotação. Isso é o efeito de “Arrasto do Sistema de Referência” que a Gravity Probe B ainda está procurando.