Novas medições feitas por satélites da NASA permitiram aos pesquisadores identificar e quantificar, pela primeira vez, como os continentes, com as mudanças climáticas em curso, vêm aumentando sua absorção da água líquida e como isso afeta a elevação dos níveis dos mares.

Um novo estudo realizado pelos cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato (Jet Propulsion Laboratory = JPL) em Pasadena, Califórnia, e da Universidade da Califórnia em Irvine, demonstra que, enquanto as calotas polares e as geleiras continuam a derreter, as mudanças no tempo e no clima ao longo da década passada, fizeram com que os continentes absorvessem e armazenassem mais uns 3,2 trilhões de toneladas de água nos solos, lagos e aquíferos subterrâneos, diminuindo temporariamente a elevação dos níveis dos mares em cerca de 20%.

O aumento dessas reservas de água ficaram espalhados por toda a Terra, mas somadas dão um volume igual ao do Lago Huron, o sétimo maior lago do mundo. O estudo foi publicado na edição de 12 de fevereiro da Science.

A cada ano, uma grande quantidade de água evapora dos oceanos, cai sobre as terras como chuva ou neve e volta aos oceanos por escoadouros ou rios. Isto é conhecido como o ciclo hidrológico global, ou simplesmente ciclo da água. Os cientistas sabem há muito tempo que pequenas mudanças no ciclo hidrológico – por exemplo, mudanças persistentes na umidade dos solos ou níveis dos lagos – podem modificar a taxa de elevação dos níveis dos mares daquilo que seria esperado com base nas taxas de derretimento das calotas e das geleiras. No entanto, não sabiam o quão grande esse efeito de absorção pelos solos poderia ser, porque não havia instrumentos que pudessem medir precisamente as mudanças das águas armazenadas nas terras em nível global.

“Sempre presumimos que a exploração dos aquíferos para irrigação e consumo resultava em uma transferência líquida de água das terras para os oceanos”, explica o autor principal do estudo,  J.T. Reager do JPL, que começou o trabalho como estudante de pós-graduação na UC Irvine. “O que não tinhamos percebido até agora é que, ao longo da última década, as mudanças no ciclo hidrológico global mais do que compensaram as perdas do bombeamento das águas para uso humano, fazendo que as terras agissem como uma esponja – ao menos, temporariamente. Estes novos dados são vitais para a compreensão das variações decenais dos níveis dos mares. A informação será um complemento crítico para projeções futuras do aumento dos níveis dos mares que, por sua vez, depende do derretimento dos gelos e do aqucimento dos oceanos”.

O lançamento em 2002 dos satélites gêmeos da NASA Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE) [Experiência de Recuperação de Gravidade e Clima] criou a primeira ferramenta capaz de quantificar as tendências de armazenamento de água nas terras. Com a medição da distância entre os dois satélites GRACE, com a precisão de um fio de cabelo humano, enquanto percorrem suas órbitas em torno da Terra, os pesquisadores podem detectar mudanças na atração gravitacional que resultam de mudanças regionais da quantidade de água por toda a superfície da Terra. com uma cuidadosa análise desses dados, os cientistas do JPL foram capazes de medir a mudança da quantidade de água armazenada nos continentes, assim como as mudanças nas calotas e geleiras.

“Esses resultados vão resultar em um refinamento dos cálculos da elevação dos níveis dos mares, tais como aqueles apresentados no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change = IPCC), que reconhece a importância das modificações causadas pelas mudanças climáticas na hidrologia, mas que não foram capazes de incluir qualquer estimativa confiável na parte tocante à elevação dos oceanos”, acrescenta o hidrologista senior do JPL, Jay Famiglietti, principal autor do artigo e professor da Universidade da Califórnia em Irvine.

Famiglietti também observou que o estudo é o primeiro a observar os padrões globais de mudanças no armazenamento de águas nas terras e que as regiões úmidas estão ficando mais úmidas, enquanto as regiões áridas vão ficando mais secas.

“Esses padrões são consistentes com observações anteriores das precipitações sobre as terras e oceanos, assim como com a projeções do IPCC das mudanças nessas precipitações em um clima cada vez mais quente”, afirmou ele. “Porém vamos precisar de um registro muito mais longo dos dados para compreender inteiramente as causas dos padrões e se eles serão persistentes”.

A NASA usa o ponto de vantagem do espaço para ampliar nossos conhecimentos de nosso planeta natal, melhorar nossas vidas e salvaguardar nosso futuro, assim como desenvolve novas maneiras de observar os sistemas naturais interconectados da Terra com bases de dados de longa duração. A agência partilha livremente seus conhecimentos e trabalha com instituições por todo o mundo para melhorar nossa compreensão das mudanças que estão ocorrendo em nosso planeta.

Para mais dados sobre a elevação dos níveis dos mares:

https://sealevel.nasa.gov/

Mais informações sobre a missão GRACE:

http://grace.jpl.nasa.gov/mission/grace/

Maiores informações sobre os estudos da NASA sobre o planeta:

http://science.nasa.gov/earth-science/

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