Neutrinos mais rápidos do que a luz?… (2)

Atualização rapidinha: Phil Plait, em seu blog Bad Astronomy, fala de uma notícia não confirmada de que os tais 60 nanossegundos de diferença medidos nos neutrinos emitidos pelo LHC e captados no Gran Sasso podem ser resultado de uma má conexão no cabo de fibra óptica que envia os dados do receptor do GPS para um circuito do computador… Link para o original (em inglês): Unconfirmed rumor: FTL neutrinos may be due to a faulty GPS connection.

Nada de dobra, Senhor Sulu!…

2012 – O último Carnaval?

Pode muito bem ser… Já que o negócio é aproveitar qualquer deixa para vaticinar um Apocalipse, um suposto “fim-do-mundo” com base em uma conta-de-chegar feita a partir de um calendário Maia, é tão bom quanto qualquer algaravia extraída de uma exegese de uma centúria de Nostradamus…

Então, a partir de agosto (mes sabidamente aziago), as oscilações das anomalias do campo magnético da Terra vão começar a se intensificar, acompanhadas de um recrudescimento na atividade tectônica, com amplo fornecimento de terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas. Afora os efeitos sobre as condições climáticas locais (que serão acompanhadas de intenso debate sobre se esses fenômenos são decorrentes das “mudanças climáticas” antropogênicas, ou, ao contrário: se as mudanças climáticas tidas como antropogências são uma mera manifestação das forças telúricas), o subito “endoidamento” das declinações magnéticas vai causar efeitos devastadores nas espécies que se pautam pela magnetosfera terrestre para suas migrações sazonais.

As grandes navegações serão muito menos afetadas, porque se pautam mais pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS) do que pelas obsoletas bússolas (que os tradutores de programas “científicos” insistirão em chamar de “compassos”, enganados pelo falso-cognato), até que…

Com o campo magnético da Terra instável e enfraquecido, o Sol resolve fazer gracinha: uma inusitada Ejeção de Massa Coronal de proporções épicas é expelida bem na direção do terceiro planeta.

A chuva de parículas altamente energéticas encontra uma magnetosfera enfraquecida e provoca imediatamente um caos nas linhas de transmissão de energia elétrica, causando “apagões” em cascata, desligando usinas geradoras e colocando fora de combate toda a comunicação por fios, inclusive e principalmente a internet. Pior ainda: as redes de satélites de comunicações, GPS e outros monitoramentos (principalmente os satélites meteorológicos) literalmente “vão para o espaço”…

Sem redes de transmissão de eletricidade, sem comuinicações em tempo real, com a indústria pesada (o que inclui as refinarias de petróleo) fora de combate, as redes de transporte público funcionando precariamente (enquanto os estoques de combustível durarem), o mundo subitamente estará devolvido à tecnologia do início do século XX… mas com uma população de século XXI.

Ironicamente, as populações dos rincões mais atrasados do planeta serão as menos afetadas inicialmente. Os ianomâmis não vão sentir imediatamente os efeitos do caos em Wall Street e os habitantes do Sudão do Sul vão continuar morrendo como moscas por causa da fome e de condições sub-humanas de vida, mas nada vai ficar imediatamente “pior” para eles.

Por outro lado, as epidemias vão demorar mais a se transformar em pandemias, em face da quase paralisação do transporte aeronáutico (a essa altura, resumido aos voos militares). Mas os surtos locais vão ser bem mais graves, por conta da dificuldade do acesso a medicamentos e das restrições ao reforço das equipes de agentes da saúde locais.

Para culminar a desgraça, a rede NEAT foi uma das mais prejudicadas na nova atribuição de prioridades e, justamente agora, um asteróide rasante resolveu “rasar” demais e, apesar de ter sido detectado com alguma antecedência pelos telescópios em terra, seu ponto de impacto não pode ser calculado porque o tempo de computação necessário estava empenhado pela FEMA e o a realocação dos recursos ficou parada na Câmara dos Deputados dos EUA por conta de uma feroz oposição do Tea Party a qualquer iniciativa do governo, em um ano eleitoral.

O fato do meteorito ter atingido o Oriente Médio (causando, entre outras coisas, a destrução de Jerusalém) foi interpretado por muitos como “uma demonstração da cólera divina”, com as vertentes religiosas trocando acusações, insultos e atentados terroristas, por conta da “blasfêmia” alheia. No entando, os efeitos sísmicos do impacto causaram danos bem mais permanentes, notadamente nos campos petrolíferos da região (… realmente uma pena o que aconteceu com os arranha-céus de Dubai, mas fazer o que?…)

A coincidência do meteorito ter caido no dia 22 de dezembro de 2012 foi aclamada como a realização da “Profecia Maia” (apesar do suposto calendário Maia apontar o dia 21…), mas o fim-do-mundo não foi o que geralmente se esperava… Na verdade, o mundo não acabou (e precisava muito mais do que isso para realmente acabar com a Terra…): apenas a humanidade ficou em uma merda bem maior do que já estava.

Mas pensam que alguém se emendou?… Ledo engano d’alma!… As dicussões sobre a conservação do meio ambiente foram devidamente arquivadas por conta do “esforço de recuperação”, as preocupações com poluição descartadas em favor da “retomada da normalidade” e as mudanças climáticas foram de volta para a prateleira, com o argumento de que “em face das súbitas mudanças, há que recalcular tudo novamente” (tese adiantada pelo Heartland Institute e rapidamente encampada pelos cacos de midia remanescentes).

Mas 2012 não foi o último Carnaval: em 2013 minha escola, Acadêmicos do Salgueiro, saiu com o enredo: “Os Orixás salvaram a Bahia da urucubaca dos Maias”…

Em uma extinção global, para que a pressa?

 

 

Traduzido de Global Extinction: Gradual Doom as Bad as Abrupt

Na “Grande Extinção”, há 250 milhões de anos, o fim chegou devagar

 

Photo of Griesbach Creek in the Arctic.

A geologia do Arroio Griesbach no Ártico conta uma antiga história de extinção lenta.
Créditos e imagem ampliada

3 de fevereiro de 2012

A mais mortífera das extinções em massa de todas levou um longo tempo para matar 90% da vida marinha da Terra – e o fez por estágios – conforme um relatório recentemente publicado.

Isso mostra que extinções em massa não precisam ser eventos súbitos.

Thomas Algeo, um geólogo da Universidade de Cincinnati, e 13 colegas produziram uma análise em alta resolução da geologia de uma seção da fronteira Permiano-Triássica na Ilha Ellesmere no Ártico Canadense.

Sua análise, publicada na edição de 3 de fevereiro no Geological Society of America Bulletin, apresenta fortes indícios de que a maior extinção em massa da Terra ocorreu ao longo de centenas de milhares de anos.

Map showing paleogeography during the Permian-Triassic boundary 252 million years ago.

Paleogeografia durante a fronteira da extinção Permiano-Triássica, há 252 milhões de anos.
Crédito e imagem ampliada


Há cerca de 252 milhões de anos, no fim do período Permiano, a Terra tinha se transformado em um planeta quase sem vida. Cerca de 90% de todas as espécies vivas desapareceu, naquilo que os cientistas chamam de “A Grande Extinção”.

Algeo e seus colegas levaram a maior parte da última década investigando os indícios químicos encrustados nas rochas que se formaram durante essa maciça extinção.

O mundo revelado por esta pesquisa é uma paisagem devastada, sem vegetação e abrasada pela erosão por chuvas ácidas, enormes “zonas mortas” nos oceanos e um aquecimento de efeito estufa desenfreado que causou temperaturas escaldantes.

Os indícios colhidos por Algeo e seus colegas apontam para um intenso vulcanismo na Sibéria como um fator preponderante.

“Os cientistas relacionam esta extinção às erupções vulcânicas nos Trapps Siberianos¹ que provavelmente oafetaram primeiro a vida boreal com gases tóxicos e cinzas”, disse H. Richard Lane, diretor de programa na Divisão de Ciências da Terra na Fundação Nacional de Ciências (NSF) que financiou a pesquisa.

Photo showing the barren arctic landscape of Ellesmere Island.

A árida paisagem ártica da Ilha Ellesmere foi o local das pesquisas dos cientistas.
Crédito e imagem ampliada

 

Os Trapps Siberianos formam uma grande região de rochas vulcânicas na Sibéria. O grande evento eruptivo que formou os trapps, um dos maiores eventos de vulcanismo dos últimos 500 milhões de anos da história geológica da Terra, durou um milhão de anos e se estendeu pela fronteira Permiano-Triássica.

O termo “trapps” deriva da palavra sueca para “escada” – trappa ou trapp – e se refere às elevações em degraus que formam a paisagem da região.Uma vasta parte da Sibéria Ocidental revela depósitos vulcânicos com até 5 km de espessura que cobrem uma área equivalente ao Brasil. A lava fluiu por onde a vida já estava mais ameaçada, através de um grande depósito de carvão.

“A erupção liberou grande quantidade de metano quando queimou pelo carvão”, diz Algeo. “E o metano é 30 vezes mais eficaz como gás de efeito estufa do que o dióxido de carbono”.”Não temos certeza sobre quanto durou o efeito estufa, mas parece que foram de dezenas a centenas de milhares de anos”.

Grande parte dos indícios foi dissolvida no oceano e Algeo e seus colegas procuraram por eles no meio dos depósitos de fósseis marinhos.As investigações anteriores se focalizaram em depósitos criados pelo desaparecido Oceano de Tetis, um antepassado do Oceano Índico. Esses depósitos, particularmente no Sul da China, registram uma súbita extinção no fim do Permiano.

“Nos depósitos marinhos de águas rasas, a última extinção em massa do Permiano foi, em geral, abrupta”, explica Algeo. “Com base nessas observações, foi largamente inferido que a extinção foi um evento globalmente sincronizado”.

Platô Putorana, um Patrimônio da Humanidade da UNESCO, contem 500 milhões de anos de história

Foto do Platô Putorana, que contem 500 milhões de anos de história (Patrimônio da Humanidade – UNESCO).
Crédito e imagem ampliada


Estudos recentes estão começando a desafiar essa versão.Algeo e seus co-autores se focalizaram nas camadas de rochas do Fiord Blind de Oeste na Ilha Ellesmere no Ártico Canadense.Esse local, no fim do Permiano, ficava muito mais próximo dos vulcões siberianos do que o Sul da China.

As camadas da rocha sedimentar canadense tem 24 metros de espessura e atravessam a fronteira Permiano-Triássica, inclusive o horizonte da última extinção em massa do Permiano.Os investigadores examinaram como o tipo de rocha se modificou de baixo para cima, assim como a composição química das rochas e os fósseis nelas contidos.

 

Graph of Phanerozoic marine biodiversity plotting number of families versus geolgoic time.

A biodiversidade marinha mudou de maneira significativa em centenas de milhões de anos da história da Terra.
Crédito e imagem ampliada

Eles descobriram uma extinção total de espongiários silicosos ocorrida cerca de 100.000 anos antes da extinção em massa marinha observada nos sítios tetianos.O que parece ter acontecido, segundo Algeo e seus colegas, é que os efeitos do início da atividade vulcânica siberiana, tais como gases tóxicos e cinzas, ficaram confinados às latitudes do Norte.Somente depois que as erupções estavam em pleno curso é que os efeitos alcançaram as latitudes tropicais do Oceano de Tetis.

A pesquisa foi patrocinada pelo Conselho Canadense de Pesquisas em Ciências Naturais e Engenharia e pelo Programa de Exobiologia da NASA.Além da Algeo, os co-autores do estudo são: Charles Henderson, Universidade de Calgary; Brooks Ellwood, Universidade Estadual de Louisiana; Harry Rowe, Universidade do Texas em Arlington; Erika Elswick, Universidade de Indiana, Bloomington; Steven Bates e Timothy Lyons, Universidade da California, Riverside; James Hower, Universidade de Kentucky; Christina Smith e Barry Maynard, Universidade de Cincinnati; Lindsay Hays e Roger Summons, Massachusetts Institute of Technology; James Fulton, Woods Hole Oceanographic Institution; e Katherine Freeman, Universidade Estadual de Pennsylvania.


Nota do Tradutor:1 – Tenho visto por aí traduzirem do inglês “Siberian Traps” por “Armadilhas Siberianas”. Só que “Trapp” em geologia não tem nada a ver com “trap” = “armadilha”. O termo geológico deriva do sueco (e não do sânscrito, como consta na WikiPedia em português) e significa “em forma de degraus”). A “armadilha” real é para os tradutores… E só para deixar a ideia bem longe das “armadilhas”, eu inventei de dar um gênero masculino (associando a “os degraus”) ao termo “trapp”.

 

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