“Liberdade de comércio” é o cacete!
Livre comércio e perda de sistemas de apoio estão acabando com a produção de alimentos na África
CORVALLIS, Oregon – A despeito das boas intenções, a pressão pela privatização de funções do governo e a insistência no “livre comércio” que frequentemente é injusto, fez cair a produção de alimentos, aumentou a pobreza e uma crise de fome para milhões de pessoas em várias nações africanas, concluiram os pesquisadores em um recente estudo.
As reformas dos mercados que começaram no meio da década de 1980 e, supostamente, deveriam ajudar o crescimento econômico, sairam pela culatra em algumas das nações mais pobres do mundo e, nos últimos anos, levaram a motins de fome, relatam os cientistas hoje em Proceedings of the National Academy of
Sciences.
“Muitas dessas reformas eram projetadas para tornar os países mais eficientes e vistas como uma solução para o precário sistema de ensino, saúde e infraestrutura em geral”, declara Laurence Becker, um professor associado de geociências na Universidade do Estado do Oregon (OSU). “Porém elas algumas vezes eliminaram sistemas de apoio críticos para fazendeiros pobres que não tinham carro, nem títulos de posse, ganhavam US$ 1 por dia e tinham suas economias da ordem de US$ 600 escondidas debaixo do colchão”.
“Então se pedia que essas pessoas competissem com alguns dos sistemas agrícolas mais eficientes do mundo e elas simplesmente não conseguiam”, continua Becker. “Com as barreiras tarifárias removidas, a comida importada mais barata inundava os paises, alguns dos quais eram quase que auto-suficientes em agricultura. Muitas pessoas deixaram a agricultura e abandonaram os sistemas que tinham funcionado por séculos em suas culturas”.
A pesquisa chegou à conclusão que essas forças minaram a produção de alimentos por 25 anos. A coisa estourou no início de 2008 quando o preço do arroz – um produto de primeira necessidade em muitas nações africanas – dobrou no período de um ano, para consumidores que gastavam grande parte de sua renda unicamente em alimento. Motins de fome e anarquia econômica e política foram a consequência.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da OSU, da Universidade da Califórnia em Los Angeles e do Macalester College, tomando como base pesquisas habitacionais e de mercado e dados das produções nacionais.
Becker diz que não há soluções simples ou óbvias, mas que as nações desenvolvidas e organizações tais como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional precisam reconhecer que abordagens que podem ser eficazes em economias mais evoluídas, não são imediatamente traduzíveis para nações menos desenvolvidas.
Becker explica que “não sugerimos que todos os produtores locais, tais como pequenos fazendeiros, vivam em uma economia fictícia que seja isolada do resto do mundo”..
“Mas, ao mesmo tempo, temos que compreender que essas pessoas frequentemente têm pouca educação formal, nenhum sistema de extensão, nem contas bancárias, quase nunca tem carros, nem estradas. Eles podem cultivar suas fazendas e fornecer comida e empregos para seus países, mas algumas vezes precisam de uma pequena ajuda, de uma forma que funcione para eles. Algumas boas sementes, boa assessoria, um pouco de fertilizante e um mercado local para seus produtos”.
Muitas pessoas em nações africanas, prossegue Becker, exploram a terra local em comunidade, como têm feito por gerações, sem títulos de propriedade ou equipamentos caros, e desenvolveram sistemas que podem não ser avançados, mas são funcionais. Elas frequentemente não estão preparadas para competir com multinacionais e sofisticados sistemas de comércio. A perda da produção agrícola local as coloca à mercê de súbitas altas dos preços dos alimentos no mercado mundial. E alguns dos fazendeiros competem com os dos EUA, Leste Asiático e outras nações que subsidiam escanacaradamente suas agriculturas, enquanto dizem a elas que elas devem adotar totalmente o livre comércio, sem qualquer ajuda.
Becker declara: “Um mercado realmente livre é coisa que não existe neste mundo. Nós não temos um, mas dizemos às pessoas famintas que elas deveriam ter”.
Esta pesquisa examinou os problemas em Gâmbia e Costa do Marfim na África Ocidental, onde os problemas dessa natureza se agravaram recentemente. Também foram examinadas as condições no Mali, que, em contraste, foi mais capaz de sustentar a produção local de alimentos – por causa de uma melhor malha viária, uma posição geográfica que torna o arroz importado mais caro, uma tradição cultural de preferência pelos produtos locais e outros fatores. .
Os governos historicamente corruptos continuam a ser um problema, dizem os pesquisadores.
“Em muitas nações africanas, o governo é encarado como um saqueador, não como uma ajuda ou como protetores dos direitos”, afirma Becker. “Apesar disso, temos que conseguir um resultado melhor em fazer com que o governo preste um mínimo de apoio para ajudar a agricultura local a sobreviver”.
A ênfase sobre uma maior responsabilidade do setor privado que começou na década de 1980, diz o relatório, funcionou até certo ponto, enquanto o preço dos alimentos importados, especialmente do arroz, permaneceu barato. Mas isso causou um crescente desemprego e uma erosão da produção local de alimentos que, em 2007-08 explodiu em uma crise de alimentos global, motins urbanos e violência. As técnicas sofisticadas e a ênfase da “Revolução Verde” podem ter causado mais males do que bens em vários locais, conclui o estudo.
Outro problema, afirmama os pesquisadores” foi uma “tendência urbana” nos programas assistenciais dos governos, onde os poucos sistemas de apoio que funcionavam, eram mais orientados para as necessidades da população urbana do que da rural.
As possíveis soluções, concluem os pesquisadores, incluem uma maior diversidade de cultivos locais, barreiras tarifárias adequadas e os sistemas de crédito, viário e de processamento locais necessários a processar as colheitas locais e levá-las aos mercados locais.
Em primeiro lugar, ainda bem que apareceu um estudo honesto que diz o que todos já sabiam, mas fingiam que não.
Eu só gostaria de saber se algum desses luminares do FMI, por exemplo, aceitaria aprender a jogar poker, apostando toda sua renda com um profissional…
A conclusão de Becker: “Não temos um mercado livre de verdade, mas dizemos aos famintos que eles têm que ter”, é uma re-descoberta da pólvora!
O que me leva a sombrias considerações sobre as campanhas contra a destruição das florestas e contra o aquecimento global…
“Nós também não paramos de poluir e gastar à rodo, mas vocês têm que limpar e economizar… por mais que passem fome…”
Ora!… Passe ontem!…
Como pegar uma idéia boa e esculhambá-la com politicagem barata
Dia Mundial Sem Carro
Uma iniciativa louvável, né?… Não se você deixar na mão de idiotas que gostam de dar a bunda dos outros barretadas com o chapéu alheio.
Reproduzido da página do G1: (os grifos são meus)
Fiscalização intensa
A fiscalização foi intensa na manhã desta terça-feira (22) no
Centro do Rio, onde o estacionamento foi proibido em algumas
ruas por
causa do Dia Mundial Sem Carro. Agentes da CET-Rio,
Guarda Municipal e da Secretaria Especial de Ordem Pública
(Seop) começaram cedo o trabalho. Com a proibição, muita gente
optou por deixar o carro em casa e seguir de ônibus, metrô ou
trem para o Centro. Com isso, o trânsito ficou melhor em
diversos pontos da cidade.
A conclusão do parágrafo é patética: se nem com a remoção de uma porrada de carros, o trânsito melhorasse, estava na hora de demolir o centro da cidade e construir outro. Grande novidade!…
Mas o parágrafo começa traindo nas entrelinhas o verdadeiro móvel: onde se lê “fiscalização intensa”, leia-se “oba! mais umas multinhas!” Porque se fosse para a Prefeitura gastar algo em prol da sociedade, o “entusiasmo” das “otoridades” seria bem outro (meu neto estuda em uma Escola Municipal… preciso dizer mais?…)
Segunda mentira deslavada: ninguém “optou” por deixar o carro em casa; “foi constrangido”, isso sim! E o que diz o Código Penal a respeito?
Constrangimento ilegal
Art. 146 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que
a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Como é que fica esse negócio de “fazer o que ela [a lei] não manda”? No meu entender, a “violência” fica caracterizada com a ação excepcional da fiscalização e a restrição, também excepcional, do número de vagas disponíveis – sem falar da “grave ameaça”… Ou bem há uma legislação que restringe a circulação de carros particulares no centro da cidade (como há em São Paulo), ou não há. No momento em que o poder público se vale de uma “otoridade”, bem ao gosto dos tão xingados governos da ditadura militar, que, de resto, ninguém lhe conferiu, para constranger o cidadão, alguma coisa está podre… Ou há regras nesse jogo, ou não há: o que não pode haver é uma mudança das regras só porque o prefeito quer parecer “preocupado com o meio ambiente” e, a título de “dar o exemplo”, vai demagogicamente para o trabalho de bicicleta, mas, antes, cuida de estar em boa companhia: você também não vai poder ir de carro!
Trânsito e poluição nos centros das grandes cidades são questões sérias e merecem medidas até drásticas.
Não medidas “para inglês ver” e obter espaço na mídia (que deveria, também, ter vergonha na cara e não publicar asneiras).
PS: Me ocorreu que eu posso ser mal entendido por estar sempre defendendo os proprietários de carros particulares. Então, eu quero sugerir um outro cenário.
Ninguém vai discutir que os ônibus contribuem enormemente para a poluição, certo?… E, se juntássemos às restrições de tráfego de carros particulares, uma restrição aos ônibus?… Com uma “fiscalização intensa” em cima daqueles com motor desregulado, pneus carecas, suspensão defeituosa, ou simplesmente em péssimas condições de conservação?…
Será que a população pedestre (e a prefeitura, por falar nisso…) ia topar?…
Deu no The New York Times: indústria ignorou os próprios cientistas sobre aquecimento global
A edição de 24 de abril do The New York Times vem com uma reportagem, assinada por Andrew C. Revkin, intitulada: Na questão climática, a indústria ignorou seus próprios cientistas.
Os primeiros parágrafos da reportagem dizem:
Por mais de uma década a Coalizão do Clima Global, um grupo que representava as indústrias cujos lucros eram ligados aos combustíveis fósseis, liderou uma agressiva campanha de relações públicas e lobbying contra a ideia de que emissões de gases de efeito estufa poderiam levar ao aquecimento global.
“O papel dos gases de efeito estufa nas mudanças climáticas não é bem comprendido”, afirmava a Coalizão em um “backgrounder” científico distribuído a legisladores e jornalistas no início da década de 1990, que acrescentava que “os cientistas divergiam” quanto à questão.
Porém, um documento anexado a um processo em uma corte federal mostra que, mesmo enquanto a coalizão trabalhava para desviar as opiniões, seus próprios experts técnicos e científicos estavam avisando que a ciência que apoiava o papel dos gases de efeito estufa no aquecimento global, não podia ser refutada.
“As bases científicas para o Efeito Estufa e o impacto potencial das emissões humanas de gases de efeito estufa, tais como o CO2, sobre o clima, estão bem estabelecidas e não podem ser negadas”, escreveram os experts em um relatório interno compliado para a Coalizão em 1995.
A coalizão era financiada por taxas pagas por grandes corporações e grupos de comércio que representavam as indústrias de petróleo, carvão e automotivas, entre outras. Em 1997, no ano em que foi negociado um acordo internacional sobre o clima que veio a ser conhecido como o Protocolo de Protocol, seu orçamento totalizot US$1,68 milhões, de acordo com registros de impostos obtidos por grupos ambientais.
O artigo prossegue (são duas páginas na Internet) mostrando que o lobby das indústrias poluidoras fez o que podia e não podia para – nem tanto para impedir, mas muito mais para retardar o quanto possível – a conscientização do público e as medidas dos governos que, já sabiam, seriam inevitáveis mais cedo ou mais tarde.
Só que eu notei uma enorme omissão nesse artigo: bem ao estilo da “nova-era-Obama”, não se faz qualquer referência ao governo W. Bush…
Em qualquer banana-country esse (des)governo já estaria sendo alvo de milhares de Comissões Parlamentares de Inquérito, Auditorias Fiscais e investigações criminais (de preferência, pela Corte de Haia).
Mas os Estados Unidos não podem “passar esse recibo”…
A mediocridade passa a ser obrigatória no Brasil
Como é que eu posso me juntar ao coro de apupos à jornalista Ruth de Aquino, se ela parece ser uma lídima porta-voz da sociedade brasileira?
Alguém duvida disso?… Então dê uma olhadinha nesta notícia reproduzida no Jornal da Ciência da SBPC (que ainda não suscitou comentário algum… talvez por medo de soar “elitista”…):Câmara proíbe aluno de cursar duas faculdades públicas ao mesmo tempo.
Não é sensacional?… Primeiro, foi o famigerado sistema de “cotas” — um “atestado de falência” para o ensino público e as políticas sociais. E uma tremenda “enganação” para com os candidatos a um diploma de curso superior: nem precisa dizer que, quem não aprendeu antes do vestibular, não será depois que vai aprender… E — sejamos francos — de semi-analfabeto com diploma de curso superior, o Brasil já está cheio (a OAB que o diga!…)
Pois o nosso sábio Legislativo — eleito livremente pela sociedade brasileira e seu representante legítimo — acaba de “tirar o sofá da sala”, mais uma vez…
Será que, em nome de tanto “igualitarismo”, vamos “progredir” em outros campos, também?… Por exemplo, no futebol. Já que é profundamente injusto que um “pereba” como eu nunca vá ter a oportunidade de jogar pelo timinho da Nike pela Seleção Brasileira, que tal aprovar uma legislação compensatória,.obrigando todas as equipes a ter uma “cota” de “pernas-de-pau”? Assim satisfaríamos as inúmeras famílias brasileiras que acham que seus rebentos são “craques”, mas nunca tiveram uma chance.
O que a Ruth de Aquino falou, é o que o “povão” pensa! É chato, é ridículo, é uma mostra de ignorância sobre como se faz pesquisa científica, mas é um retrato da opinião pública (ou, pelo menos, da “opinião que se publica” — como diria o Barão de Itararé).
E, se a ciência no Brasil continuar dependendo da SBPC para defendê-la, eu vou dizer o que Brecht disse pela boca de Galileu: “Infeliz do povo que precisa de heróis”.
..
Mais uma vez, na contramão…
Com profundo desprazer, leio que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) concedeu US$ 197 milhões para a construção de duas usinas termoelétricas a carvão no Brasil (uma no Ceará e outra no Maranhão) [notícia do G-1 aqui].
Como triste ironia, na hora em que o mundo inteiro discute fontes alternativas de geração de energia, logo em dois estados com grande potencial para isso (eólica no Ceará e maremotriz no Maranhão) vão construir usinas termoelétricas a carvão… E sem sequer a má desculpa da proximidade com jazidas de carvão — o que me leva a suspeitar ainda mais do que pode estar por trás dessa decisão tosca.
Tudo bem que não temos um Steven Chu para o Ministério das Minas e Energia… mas precisava ser um Lobão?…
Não dá para não comparar…
Fiquei com um gosto ruim na boca, depois de traduzir os dois últimos boletins “Por dentro da ciência” da AIP. Mesmo dando o devido desconto às patriotadas; considerando que a administração do Obama pode até não ser grande coisa: pior que a do W. Bush não será; conhecendo que os Estados Unidos podem exportar sua inflação, porque são eles que imprimem os dólares… não dá para não se sentir mal com o rumo diametralmente oposto que o governo brasileiro está dando às respostas governamentais à crise econômica.
Fica mais chato ainda depois dos anunciados cortes nas verbas do Ministério da Ciência e Tecnologia e do anúncio de demissões de pessoal na Embraer (cadê a Força Aérea comprando mais uns Tucanos e Bandeirantes para garantir a Embraer?… Vai dizer que a FAB tem todos os aviões que precisa?…)
E é extremamente desagradável ver que o Departamento de Energia dos EUA vai investir em “energia limpa”, enquanto que nosso ministro das Minas e Energia cogita de fazer usinas elétricas a carvão… Bom… O Ministro deles é um Prêmio Nobel, enquanto o nosso…
Sem falar nos investimentos previstos para o setor de transportes (nos EUA, é claro!…) Revitalização de ferrovias — notadamente no transporte de passageiros, o que, entre outras coisas, diminui o número de viagens aéreas — e reparos na malha rodoviária… Enquanto que aqui… deixa pra lá…
Olha só!… É muito bonitinho falar de desenvolvimento sustentável, de cessar o desmatamento das florestas, mas o fato é que a cura mais eficaz para esse tipo de coisa é a prosperidade. E não adianta colher safras monumentais se não há malha viária para escoar a produção. Não adianta ter um parque industrial com tecnologia de ponta, se falta energia (e as linhas de transmissão de eletricidade no Brasil?… Vão bem?…) e se o governo não cuida de manter essas empresas (sim, eu estou voltando ao caso da Embraer).
Eu nem argumento mais em favor da pesquisa e da ciência… Não dá para chegar a essa sofisticação quando coisas primárias como infraestrutura estão pegando forte e claro.
Falar de “redistribuição de riquezas” é ótimo para campanhas eleitoreiras eleitorais, mas, antes de redistribuir, é sempre bom lembrar de não dilapidar essas riquezas.
Enfim… “Chi fá, non sá”…
Síndrome do Titanic
Salve, Gente! Deixa o Lula pra lá… (gente melhor do que eu, já escreveu o suficiente sobre a “mosca azul” que picou nosso Presidente).
Mais uma vez, eu encontrei um link interessante no BLOG do Daniel, sob o título “Are you being served?” (The Economist). Se você não sabe (ou tem preguiça de) ler em inglês, eu dou um breve resumo: a partir da análise da necessidade de reflorestar as nascentes que abastecem de água o Canal do Panamá, o articulista chega à brilhante conclusão que gastar dinheiro com restauração da natureza, é um investimento economicamente compensador! E discute diversos outros exemplos pelo mundo a fora. (“Abstract” mais abstrato do que esse, vai ser difícil encontrar…)
O ponto importante é que até os “Porcos Capitalistas” estão vendo o óbvio. Poluição, gasto desenfreado de recursos naturais não-renováveis, desmatamento indiscriminado, impermeabilização do solo (via super-conurbações), tudo isso tem efeitos economicamente indesejáveis e em prazos não tão longos assim. O que está assustando os nossos vizinhos do hemisfério Norte é que o processo está se acelerando! Afinal, durante séculos eles destruíram suas florestas, poluíram seus rios e lagos, extinguiram um sem-número de espécies animais, exauriram seus solos e lançaram toneladas de poluentes na atmosfera, e, aparentemente, nada aconteceu!
Mas, será isso verdade? Qualquer inglês que tenha conhecimento do custo da despoluição do Tâmisa, sabe que isso envolve catadupas de dinheiro e tecnologia de ponta. Exatamente o que, cá no hemisfério Sul, faz falta. O articulista do The Economist propõe (usando o exemplo do Canal do Panamá) que os capitalistas do Norte, cujos interesses sejam afetados pelas agressões à natureza no Sul, “façam uma vaquinha” para financiar esses projetos. Uma espécie de “pedágio ecológico”… Bom… Pode ser que, no caso específico do Canal do Panamá, seja fácil mostrar àqueles que se beneficiam da redução nos custos do transporte marítimo, que isso é um investimento com retorno garantido (afinal, fica muito mais caro usar a rota do Estreito de Magalhães…). E quanto aos assuntos menos evidentes? Como é que fica? E o tal Protocolo de Kioto? (se você duvida que alguém duvide, dê uma olhada na página JunkScience…)
Por outro lado, é muito fácil ficar jogando a culpa da degradação do meio-ambiente para cima do Norte rico e persistir em práticas agrícolas superadas, desperdício de recursos naturais (renováveis ou não) e em todas as práticas condenáveis que herdamos, junto com nossa cultura de colônia, dos modelos europeus de nossa cultura.
O que é que nós estamos, realmente, fazendo para preservar os recursos naturais de nosso país? A resposta aparece, de maneira eloquente, quando se olha para o Rio Paraíba do Sul!… Muita falação, muito discurso, muita Lei, muito Decreto, muito Grupo de Trabalho, e xongas de ação! A desculpa é a de sempre: falta dinheiro…
Estão pensando que o caso é novidade? Lêdo engano d’alma… Basta ler Monteiro Lobato (Urupês, Cidades Mortas, Idéias de Jeca Tatu…) e ver que, no início do século passado, algumas pessoas de visão menos estreita já enxergavam o problema! (“Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são…”. Isso é de Macunaíma!)
Então, se falta dinheiro para meio-ambiente, educação, saúde pública, segurança pública, e infraestrutura de transportes (e não é por falta de arrecadação de impostos, que já os temos em demasia!), como é que temos dinheiro para enriquecer os Bancos? (Já imaginou: que beleza se fosse você quem dissesse ao Gerente do seu Banco o quanto você estaria disposto a pagar de juros por seu “cheque especial”? Pois é… A famosa “Taxa SELIC”, que o Banco Central anda mandando para os cornos da Lua, é exatamente isso!)
E é um partido que se intitula de “Partido dos Trabalhadores”, que está promovendo essa lambança!
Enquanto isso, nós, os cidadãos que elegemos esse governo, fazemos como os passageiros do Titanic: cada um por si, que os botes salva-vidas são poucos, enquanto que o governo faz a parte da orquestra do Titanic: toca musiquinhas bonitinhas, enquanto o navio vai a pique…
“Chi pó, non vó…”
Para começar…
Seja bem-vindo! Eu pensava em começar (atendendo aos pedidos insistentes do meu incontável número de leitores), com alguns cometários acerca dos efeitos desastrosos que o deslumbramento pelo poder causam nas pessoas (…é…eu ia dar uma desancada no atual Governo brasileiro…).
Mas, no BLOG do Daniel Doro Ferrante, eu encontrei uma matéria mais adequada ao propósito principal deste BLOG: um link para um site chamado do your best to a better world.
Praticamente qualquer pessoa que se encontre navegando pela Net, atualmente, vai sentir um certo complexo de culpa, por se enquadrar entre os poucos privilegiados do mundo. Aí é que eu começo a questionar a coisa… Eu não acredito que apelar para sentimentos de solidariedade, compaixão e amor-ao-próximo, sejam a abordagem correta para o problema das desigualdades sociais.
Eu me irrito com toda e qualquer forma de assistencialismo, seja uma esmola a um mendigo, seja um “Programa Fome Zero”, passando pelos “Médicos sem fronteiras” e outras ONGs. Entendam bem: eu não sou contrário à atuação dessas entidades assistenciais, nem as acho desnecessárias. Muito ao contrário! Minha irritação vem do fato delas serem necessárias! “Seu doutor uma esmola / para um pobre que é são / ou o mata de vergonha / ou vicia o cidadão”.
Como eu comentei no BLOG do Daniel, a verdadeira vergonha é que, nestes tempos atuais, com as tecnologias que estão aí, ainda haja tantas pessoas miseráveis. Se você reduz seres humanos a condições sub-humanas, é claro que eles vão se comportar mais animalmente. Daí, o instinto de “preservação da espécie” passa a se fundamentar em números: quanto mais filhos, maior a chance de alguns deles chegarem à idade reprodutiva, e assim por diante…
Qualquer argumento que tenha por base diferenças genéticas/raciais, culturais, geográficas, ou qualquer variação de “vontade divina”, “karma”, etc, pode ser usado como supositório por quem pretendia usá-lo, porque é falso! Os seres da espécie homo sapiens são muito mais parecidos entre si, geneticamente, do que quaisquer duas raças de cão doméstico! Se as condições de gestação, parto e primeira infância forem semelhantes, desafio qualquer um a encontrar qualquer diferença entre o potencial para educação de um somali, um sueco, um mulatinho brasileiro, um “chigro” jamaicano, ou qualquer vira-latas racial, oriundo de qualquer parte do mundo. Se o sujeito vai ou não desenvolver esse potencial, vai depender de uma série de fatores ambientais, culturais, sociais, etc, que não vêm ao caso!
Também não estou afirmando que “somos todos iguais”. Não somos e ainda bem que não somos! Somos todos diferentes, únicos, cada qual com suas (in)habilidades e potenciais natos, e as impressões digitais estão aí para demonstrar isso. Eu estou falando de oportunidades. Comparar Stephen Hawking com Ronaldinho não leva a lugar algum. Mas a maior benção da raça humana é exatamente essa diversidade.
Só que essa maravilhosa diversidade está sendo assassinada pela sub-humanização da maior parte da espécie homo sapiens, em nome do desperdício, da ganância, da arrogância e até por motivos religiosos!…
A ameaça imediata de aniquilação da humanidade por meio de um conflito termonuclear, no século passado, levou-nos a esquecer essa outra forma de veneno social. Mas aqueles que acharam que podiam ir dormir tranqüilos depois da queda do Muro de Berlim, podem acordar assustados novamente… Não porque um bin Laden da vida possa tacar um avião na sua cabeça, mas porque a “Aldeia Global” que Marshall MacLuhan falava na década de 1960, está aí. E ela se parece muito com a minha cidade do Rio de Janeiro: linda, marvilhosa, e cheia de favelas miseráveis, onde lobo come lobo e se olha, cheio de ressentimento, para o “asfalto” desmiolado, onde as crianças são criadas em jaulas (cujas grades são o Play-Ground do prédio, o Shopping Center, o colégio e o carro da família, sempre com os vidros fechados e portas trancadas).
O que é necessário para resolver esse estado de coisas, todo o mundo sabe. Mas, como diz o título deste BLOG, “chi vó, non pó…”
P.S: se eu quizesse uma ilustração, não encotrava uma melhor. Vide a notícia “Aprés le tsunami à Aceh, l’aide rongée para la corruption” (Le Figaro, 14/05/05)