Ondas gravitacionais produzidas por estrelas anãs brancas

Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

Anãs brancas encurvam o espaço e produzem ondas gravitacionais

 IMAGEM: Esta é uma concepção artística do sistema J0651, com as ondulações realçadas para mostrar como o par de anãs brancas está emitindo ondas gravitacionais.

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Ondas gravitacionais – de maneira bem parecida com o recém descoberto bóson de Higgs – são notoriamente difíceis de observar. Os cientistas conseguiram detectar pela primeira vez essas ondulações na textura do espaço-tempo de maneira indireta, por meio dos sinais de radio de um sistema binário composto por um pulsar e uma estrela de nêutrons. Essa descoberta – que precisou de uma sincronização extremamente precisa dos sinais de radio – rendeu um Prêmio Nobel à equipe que a realizou. Agora uma equipe de astrônomos detectou o mesmo efeito na faixa de luz visível, na luz de um par de anãs-brancas que se eclipsam alternadamente.

“Este resultado marca uma das detecções mais limpas e fortes do efeito de ondas gravitacionais”, declarou Warren Brown, membro da equipe do Observatório Astrofísico Smithsonian (Smithsonian Astrophysical Observatory = SAO).

A equipe descobriu o par de anãs brancas no ano passado (anãs brancas são os remanescentes dos núcleos de estrelas parecidas com nosso Sol). O sistema, chamado SDSS J065133.338+284423.37 (ou, abreviadamente, J0651), contém duas anãs brancas tão próximas entre si – apenas um terço da distância entre a Terra e a Lua – que completam uma órbita em menos de 13 minutos.

“A cada seis minutos as estrelas do J0651 se eclipsam entre si, tal como visto da Terra, o que as torna um cronômetro sem paralelo e preciso, a uns 3.000 anos-luz de distância”, diz o autor principal do estudo,  J.J. Hermes, um estudante de pós-graduação que trabalha com o Professor Don Winget na Universidade do Texas em Austin.

A Teoria da Relatividade Geral de Einstein prediz que objetos em movimento criam ondulações sutis na tessitura do espaço-tempo, chamadas de ondas gravitacionais. Essas ondas gravitacionais devem ser capazes de transportar energia, fazendo com que as estrelas muito lentamente se aproximem mais ainda e orbitem cada vez mais rápido. A equipe foi capaz de detectar esse efeito no J0651.

“Em comparação com abril de 2011, quando descobrimos este objeto, os eclipses estão agora ocorrendo seis segundos antes do esperado”, declarou o membro da equipe Mukremin Kilic da Universidade de Oklahoma.

“Este é um efeito da relatividade geral que se pode medir com um relógio de pulso”, acrescentou Warren Brown do SAO.

O sistema J0651 vai prover a oportunidade de comparar futuras detecções diretas, com base no espaço, de ondas gravitacionais, com aquelas inferidas a partir do decaimento orbital, o que vai proporcionar importantes benchmarks para nossa compreensão do funcionamento da gravidade.

A equipe espera que o período encurte ainda mais e mais a cada ano, com os eclipses acontecendo mais de 20 segundos antes do (de outra forma) esperado no entorno de maio de 2013. As estrelas vão eventualmente se fundir, em cerca de dois milhões de anos. Observações futuras continuarão a medir o decaimento orbital desse sistema e vão tentar entender como as forças de marés afetam a fusão dessas estrelas.

 

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[Livro]: Os números (não) mentem


Se você é um leitor assíduo dos ScienceBlogsBR, provavelmente já desconfiou de alguns números que a midia costuma divulgar com uma enorme liberalidade. Desde o famoso “Nove entre dez estrelas de cinema usam sabonete Lux”, até algumas “pérolas” da pesquisa “científica”.

Charles Seife – professor de jornalismo na Universidade de Nova York e mestre em matemática pela Universidade Yale – faz um apanhado bem humorado das diversas formas pelas quais os números podem ser usados para dar uma falsa impressão de veracidade a afirmativas disparatadas, desonestidades comerciais, políticas e até jurídicas – é, é claro, pseudo-científicas.

Como nada é perfeito, cabe um caveat: o livro é dirigido primariamente ao público dos Estados Unidos e os exemplos oferecidos são todos tirados daquele país. Sendo assim, o leitor mais impaciente pode se perder nos capítulos 5 e 6 que tratam das maracutaias numéricas que são lugar-comum naquilo que os americanos adoram endeusar como “democracia representativa” (e que você descobre que é tão “coronelista” como qualquer banana-republic). Mas vale o esforço para entender o que é uma “gerrymandra” (e, de tabela, entender por que as “raposas-felpudas” da política tupiniquim se empenham tanto com o tal “voto distrital”) e perceber que o tal “primeiro-mundo” não sabe se valer de tecnologias bastante simples…

Mas isso é um detalhe de menor importância em um livro que nos abre os olhos para o uso indiscriminado de cifras (muitas simplesmente inventadas e que o autor rotula como “Números de Potemkim” – e eu não vou dar um spoiler e explicar o motivo) para fazer soar como convincente uma argumentação sem bases reais.

Depois que você ler esse livro (e eu estou certo de que você vai fazer isso e não vai se arrepender), grande parte das notícias que você vai ler, vão parecer suspeitas… e você vai constatar que são mesmo mentira.

Números, realmente não mentem… assim como armas não matam (se não houver um agente para acioná-las). Mas sempre se pode mentir (e muito!), até mesmo usando números perfeitamente honestos.

Finalmente, tenho que chamar a atenção para a primorosa tradução de Ivan Weisz Kuck que consegue tornar uma obra cheia de expressões idiomáticas intraduzíveis em um texto perfeitamente compreensível em português. (Infelizmente, o título original é um desses casos… Proofiness é um neologismo cabeludo).

Seife, Charles. Os números (não) mentem: como a matemática pode ser usada para enganar você. Tradução de Ivan Weisz Kuck, revisão técnica Samuel Jurkiewicz. Rio de Janeiro, Zahar, 2012. Título original: Proofiness: the dark art of mathematical deception.

 

 

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