Physics News Update nº 790


O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 790, de 30 de agosto de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update
SISTEMA SOLAR REDEFINIDO. Tal como na Bíblia, Adão conseguiu o domínio sobre as coisas na Terra, nomeando-as, os cientistas estabelecem um domínio humano parcial sobre o cosmos, nomeando ou classificando todas as coisas animais, vegetais e minerais. Na reunião da União Astronômica Internacional, na semana passada, em Praga, o sistema de nomeação de planetas foi revisado, e nem todos sairam satisfeitos. De agora em diante, declararam eles, existirão oito planetas propriamente ditos e ao menos três (provavelmente muitos mais) planetas-anões. Para ser classificado como um planeta, um objeto deve orbitar o Sol, ser esférico e grande o suficiente para arrebanhar todo o material em sua zona orbital. Como Plutão não atende o terceiro quesito, foi rebaixado a planeta-anão, juntando-se nessa categoria a dois outros objetos, Ceres e Xena (cujo nome oficial ainda é 2003UB).
REVESTIMENTOS SENSORES DE GRANDES ÁREAS E MICROFONES podem possivelmente ser feitos com transistores flexíveis, feitos de uma barata espuma de embalagem de ferroeletreto. Tal como em materiais ferromagnéticos os pequenos dipolos magnéticos se tornam permanentemente polarizados na presença de um campo magnético aplicado, nos materiais ferroelétricos os dipolos elétricos se tornam permanentemente polarizados pela aplicação de um campo elétrico. Ferroeletretos, uma nova classe de materiais eletroativos baseados em baratas espumas de polímeros, são freqüentemente usados como material de embalagem e isolamento térmico. Porém, agora, os físicos na Univesidade Johannes Kepler (em Linz, Áustria) e na Universidade de Princeton (EUA) mostraram que filmes de ferroeletreto podem acumular campos elétricos grandes o suficiente para disparar (comutar) um transistor de efeito de campo (Field Effect Transistor – FET). Desta forma, muitas das coisas para as quais os transistores são adequados, podem ser construídas com o uso de materiais de ferroeletreto, baratos e flexíveis, como blocos de construção. Os pesquisadores já demonstraram no laboratório versões funcionais de sensores ao toque flexíveis e microfones. Ingrid Graz, diz que sua nova forma de dispositivos eletrônicos macios podem ser úteis para produzir teclados com a espessura de uma folha de papel e microfones flexíveis para telefones celulares, dispositivos ativos de controle de ruído, brinquedos, aparelhos para surdez e sistemas de som ambiente (“surround”). (Graz et al., Applied Physics Letters, 14 de agosto de 2006)
ÁGUA METÁLICA, uma forma de água eletrocondutora, pode existir sob condições ideais de temperatura e pressão em planetas gigantes gasosos, como Júpiter, ou em gigantes gelados, como Netuno. O gelo, na Terra, existe em diversas formas – o gelo normal hexagonal (que aparece como gelo cristalino ou em flocos de neve com seis lados), gelo cúbico (que é raro; ele pode se formar como pequenos cristalitos nas altas camadas atmosféricas) e outros tipos que variam de acordo com as condições de pressão. Um novo estudo teórico, feito pelos físicos no Labratório Nacional Sandia, mostra que uma fase condutora de água pode acontecer em uma temperatura de 4.000°K e uma pressão de 100 gigapascals, o que é muito mais provável de ocorrer do que o anteriormente previsto – 7.000°K e 250 GPa, respectivamente – e que, se pensa, pode ocorrer dentro de Júpiter e Netuno (para um desenho dessa água metálica, ver www.aip.org/png ). Além disso, o novo trabalho mostra, inesperadamente, que, em um diagrama pressão-vs-temperatura, a fase condutora da água pode estar logo ao lado do gelo isolante elétrico, também chamado de gelo “superiônico”, já que neste caso os dois átomos de hidrogênio ficam livres para se mover por aí, enquanto os átomos de oxigênio permanecem congelados em seus lugares. De acordo com Thomas Mattsson, um dos pesquisadores do Sandia, um dos objetivos de seu estudo de água de alta densidade energética (com densidades maiores do que duas vezes a densidade usual de 1g/cm³) é compreender o ambiente fluido de curta duração, em alta temperatura e alta pressão, existente na Máquina Z Sandia, o dispositivo onde uma enome carga elétrica (armazenada em bancos de capacitores imersos em óleo) é enviada, de uma só vez, através de fios, produzindo uma enorme emissão de raios-X suaves (ver http://www.aip.org/pnu/2004/split/702-1.html). (Mattsson and Desjarlais, Physical Review Letters, 7 de julho de 2006)
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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.
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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

Depois, nós, os Macumbeiros, é que somos malucos…

Lembram da 1ª eleição do W. Bush (2000) e de toda aquela confusão sobre a contagem dos votos na Flórida? Lembram que a decisão sobre a validade dos votos foi delegada a uma senhora chamada Katherine Harris (que acabou por determinar a vitória de W. Bush)?
O Mark Trodden, do Blog Cosmic Variance, lembra, e publicou esta matéria. Eu só vou traduzir duas citações de citações da antiga Secretária de Governo do Estado da Flórida (Governo Jeff Bush, irmão de adivinhem quem), hoje Deputada pelo Estado da Flórida e pré-candidata ao Senado americano:

A Deputada Katherine Harris (R-Fla.) declarou, nesta semana que Deus não queria que os Estados Unidos fossem uma “nação de leis seculares” e que a separação entre Igreja e Estado era “uma mentira que contaram para nós” para manter os religiosos fora da politica.
“Se você não votar nos Cristãos, então, em essência, você estará legislando o pecado”, disse Harris aos entrevistadores da “Testemunha Batista da Flórida”, o semanário da Convenção Batista do Estado da Flórida. Ela citou o aborto e o casamento homossexual como exemplos desse pecado.

E tem mais:

Harris, uma candidata nas primárias de 5 de setembro do Partido Republicano para o Senado dos EUA, disse que suas convicções religiosas “animavam” tudo o que ela faz, inclusive seus votos no Congresso.

Depois, quem arria despacho na encruzilhada é que é maluco e perigoso… Mas eu nunca vi um macumbeiro que fosse, pregando uma Guerra Santa…

Ah!… Eu já sabia!…

Há! Há! Há!… Plutão não é mais planeta! Plutão não é mais planeta! (Ouça-se isto dito naquela cantilena de criança gozando a cara de alguém)
Eu não tenho nada contra Plutão, Sedna, Xena ou qualquer outro objeto no Sistema Solar. Eu estou gozando a cara dos Astrólogos.
Como místico incorrigível que sou, eu cheguei a estudar Astrologia, fazer Cartas Natais, etc. Pode parcer incrível, mas encontrei muitas “coincidências” que me levam a crer que os astrólogos podem até estar certos, pelos motivos errados.
Mas uma coisa jamais me desceu pela goela. Quando descobriram Plutão, os astrólogos resolveram – para não parecerem “anti-científicos” – incluir Plutão nos seus cálculos, contrariando toda uma tradição milenar. Eu não conseguia engolir isto porque, ou eles estavam passando um atestado de que os astrólogos antigos faziam previsões erradas (e, portanto, a astrologia era tão “ciência” como qualquer outro método de adivinhação e não devia ser levada a sério), ou estariam adimitindo que uma porcaria de pedrisco, lá nos confins do sistema solar podia ter a mesma influência sobre as pessoas do que os “astros” mais próximos; então, por que não considerar Ceres, Titan, os asteróides razantes e outros “corpos celestiais” mais próximos, maiores e com influência mais direta sobre a gravidade e o magnetismo terrestre?). Eu já achava duvidosa a suposta influência de Urano e Netuno, quanto mais a de Plutão.
Agora, eu quero ver como os astrólogos vão se sair dessa!…
Em tempo: quando eu disse que os astrólogos poderiam estar certos pelos motivos errados, o que eu quiz dizer é que as datas e horas de nascimento de uma pessoa podem ter influência sobre sua personalidade. E as “coincidências” que eu encontrei, em diversas experiências, me levaram à convicção de que alguma coisa pode ser aproveitada da astrologia (como, de resto, da quiromancia). Algo assim como a Física e a Química atuais terem se originado da “Filosofia Natural” e da “Alquimia” que, em muitas coisas, estavam certas, pelos motivos errados.
Eu acho profundamente estúpido descartar um ramo do conhecimento humano, simplesmente rotulando de “misticismo”. Sir Fred Hoyle quebrou suas lanças contra o “Big-Bang”, exatamente por achá-lo uma hipotese “criacionista”, notadamente pela contribuição do Padre Lemaître à teoria.
É mais honesto (e “científico”) dizer que não existem indícios que comprovem ou “desprovem” um determinado “fato” (que, na maioria das vezes, nem “fato” é…), do que ridicularizar os crentes sonhadores.
Isaac Asimov disse que os cientistas não se sentem na obrigação de explicar tudo; os místicos é que têm “resposta” para tudo.
Eu que sou – ao mesmo tempo – místico para consumo próprio e cético, quando se trata de ciência, adoro ver quando um radical “quebra a cara” (e cientistas “quebram a cara”, também… isso só é vergonha se for provado que os dados da pesquisa foram forjados ou manipulados em favor de sua teoria). Da mesma forma, adoro ver os pseudo-cientistas em apuros quando, logo após terem feito uma “adaptação” de um “fato” de suas pseudo-ciências para parecerem “científicos”, a ciência muda de rumo e eles ficam com mais uma “explicação” furada nas mãos…

Sobre Golfinhos, Cientistas e Jornalistas

Na recente matéria “Duas Notícias Interessantes“, eu desanquei o cientista sul-africano Paul Manger, por conta de uma matéria da Reuters, publicada em “O Globo on Line”, por conta das declarações que ele teria prestado ao jornalista.
Sabiamente, Caio de Gaia, me chamou a atenção para o fato de que eu não deveria desancar um cientista, baseado unicamente em uma notícia de jornal. Com a prestimosidade dos lusitanos, não só correu a ler o paper original, como me enviou um exemplar do dito.
Sou forçado a admitir que, na publicação científica, o Dr. Manger não diz algo tal como “os golfinhos são tão idiotas que nem tentam fugir de suas prisões”, embora possa tê-lo dito (ou não) en passant ao jornalista.
O trabalho do Dr. Manger é extenso (48 folhas), contém diversos dados estatísticos bem fundamentados e traça correlações significativas entre tamanho do corpo e tamanho do cérebro entre diversos tipos de mamíferos (bem como das curvas evolutivas das espécies, obtidas a partir de fósseis). Eu não sou biólogo, nem estatístico, mas o artigo do Dr. Manger foi recebido pela Cambridge Philosophical Society em 05/10/2004 e só foi aceito em 26/01/2006, após cuidadosa revisão. O que me leva a crer que os dados são significativos e corretos. (Embora a frase, atribuída por Mark Twain a Benjamin Disraeli, me venha à cabeça: “Há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísitcas”).
Um ponto que também me chamou a atenção é que o Dr. Manger se empenha em contradizer os trabalhos de P. L. Tyler (2000), J. C. Lilly (1962), B. Würsig (2002), S. Budiansky (1998), P. H. Forestell (2002), H. J. Jerison (1978)… e a lista é mais longa – estes são apenas os que ele cita na primeira página.
Bem, para resumir, a relação entre neurônios e glia pode ser siginifcativa, mas o nosso Dr. Manger, quando lhe convém, generaliza “cetáceos” (principalmente nas correlações tamanho do cérebro vs. tamanho do animal) e, somente quando os dados convém a sua hipótese, particulariza sobre esta ou aquela espécie de golfinho (notadamente quando se trata da necessidade de manter o cérebro aquecido durante o período de “sono” dos animais).
E nada como uma declaração bombástica a um jornalista, para atrair a atenção sobre um artigo que passou dois anos “na gaveta”…
Caio de Gaia tem razão: não se deve julgar o mérito de um trabalho científico apenas com base no sensacionalismo de um repórter. Mas a impressão que a notícia me deixou sobre a pessoa do Dr. Manger, apenas foi confirmada pelo artigo. Um “iconoclasta” à procura de notoriedade. E seu país natal apenas reforça minhas suspeitas.
Mas pode muito bem ser que eu esteja sendo preconceituoso…
Em todo caso, se eu tivesse pedido uma ilustração para o problema de comunicação entre os cientistas e o público desinformado, não teria uma melhor…
Atualizando em 24/08/06: minha amiga Veridiana Canas transcreve em seu Blog, uma reportagem, publicada na Revista “Veja” sobre recentes estudos sobre a linguagem dos golfinhos que, caso verídica, torna o caso do Dr. Manger mais perdido ainda. Quem quiser ler a transcrição, veja aqui.

Physics News Update nº 789

PHYSICS NEWS UPDATE
O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 789, de 22 de agosto de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update
AS MENORES PIRÂMIDES NO UNIVERSO. Físicos franceses acreditam poder resolver o mistério oculto atrás de dúzias de experiências nucleares realizadas há muitos anos. As experiências, realizadas com vários detectores, energias e espécimes nucleares em colisão, deixaram intrigantes resultados, tão intrigantes e difíceis de interpretar que muitas das experiências voltaram sua atenção para o estudo de núcleos alatmente giratórios, um tema bastante atrativo, na época. Agora, Jerzy Dudek da Universidade Louis Pasteur (Strasbourg) e seus colegas na Universidade de Varsóvia e na Universidade Autônoma de Madrid, alegam que os velhos resultados podem ser explicados, argumentando-se que alguns núcleos, formados nas condições tempetuosas de uma colisão de energia suficientemente alta, podem existir na forma de um tetraedro ou de octaedro. Da mesma forma que uma molécula de metano (CH4) em forma de pirâmide é mantida em posição pela força eletromagnética, um núcleo piramidal consistiria de prótons e nêutrons mantidos em posição pela força nuclear forte. Uma tal molécula nuclear – com efeito, a menor pirâmide no univesro – teria somente poucos fermis (10-15m) em uma face e seria milhões de vezes menor, em volume, do que uma molécula de metano. Da mesma forma como existem os, assim chamados, núcleos “mágicos” com o número exato de nêutrons e prótons que prontamente formam núcleos esféricos estáveis, assim se espera que possam existir números “mágicos” para a formação de núcleos piramidais, também. “Estável”, neste caso, significa que o estado persista de 1012 a 1014 vezes mais tempo do que o intervalo de tempo típico para reações nucleares – mais precisamente 10-21 segundos.
Dudek diz que o Gadolínio-156 e o Ytérbio-160 são núcleos muito condutivos que podem manter uma configuração piramidal estável. Podem existir núcleos que sejam igualmente estáveis em configuração de octaedro (“diamante”), também. Esses núcleos todos possuiriam uma propriedade quântica não observada antes em núcleos: no processo de preenchimento de um diagrama de níveis de energia para o núcleo, quatro núcleons do mesmo tipo (nêutrons ou prótons) poderiam partilhar um único nível energético, em lugar dos costumeiros um ou dois núcleons permitidos. Esta regra-de-quatro inibiria os padrões, usualmente observados, nos quais núcleos não esféricos expulsam energia, usualmente pela emissão de raios Gama. De fato, no caso dos núcleos piramidais, é de se esperar que isto resulte em novas regras de decaimento, sem precedentes. Esta inibição explicaria os resultados intrigantes das experiências anteriores. Dudek e seus colaboradores planejam testar estas idéias em experiências brevemente. (Dudek et al., Physical Review Letters, 18 de Agosto de 2006)
FONTE DE RAIOS GAMA DE ALTO FLUXO E CURTO JATO. Jatos de raios Gama (a forma mais energética de luz) podem ser podem ser criados pelo espalhamento de luz laser de um feixe de elétrons. Os exemplos atuais – inclusive a máquina SPring 8 no Japão e em Brookhaven nos EUA – fornecem pulsos Gama relativamente longos (mais de 100 picossegundos de duração) com uma luminosidade relativamente baixa (uma vazão de cerca de um milhão de Gama por segundo). Uma nova proposta mostra como uma fonte Gama com pulsos tão curtos como 100 femtossegundos e tão intensos como um bilhão por segundo, pode ser construída. Uma das coisas mais importantes que se pode fazer com um brilhante feixe de Gamas é passá-lo através de um fino alvo, onde os Gama podem gerar pares elétron-posítron. A partir desse processo, os posítrons podem ser “raspados” e, devido a sua habilidade em sondar certos processos dentro de materiais que não podem ser sondados com raios X, podem ser usados para estudar coisas tais como defeitos em materiais maciços. Basicamente, os posítrons fornecem valiosas pistas sobre uma amostra de material (estruturais e magnéticas), ocupando posições por toda a amostra, onde os posítrons encontram e se aniquilam com elétrons, criando uma radiação observável. Um dos pesquisadores, Yuelin Lin, diz que, porque os jatos de posítrons são tão curtos (da ordem de um trilhonésimo de segundo), eles podem ser usados para fazer filmes em câmera-lenta de atividades efêmeras e difíceis de observar, tais como o derretimento de metais em altas temperaturas. (Li et al.[sic], Applied Physics Letters, 10 de julho de 2006)
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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.
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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

Duas notícias interessantes:


Publicadas na Seção de Ciência de “O Globo on line”. (Eu vou deixar os links, mas o site exige inscrição – por isso vou transcrever parte dos textos)
A primeira é Identificados genes determinantes para evolução humana, e começa assim:

Reuters
LONDRES. Eles podem ser os elos perdidos da nossa evolução, áreas do DNA humano que se alteraram dramaticamente depois da separação evolutiva em relação aos chimpanzés, mas que haviam permanecido praticamente inalterados durante os milênios anteriores. Cientistas dos Estados Unidos, da Bélgica e da França identificaram 49 “regiões humanas aceleradas” (HAR, na sigla em inglês) onde há grande atividade genética.
Na mais ativa delas, chamada HAR1, eles descobriram que 18 dos 118 nucleotídeos haviam mudado desde a separação dos humanos e dos chimpanzés, há cerca de 6 milhões de anos, enquanto apenas 2 nucleotídeos haviam se alterado durante os 310 milhões de anos transcorridos desde a separação das linhas evolutivas de chimpanzés e galinhas.
“Agora temos evidências muito sugestivas de que [esses genes] podem ter se envolvido em um passo critico no desenvolvimento cerebral, mas ainda precisamos provar que realmente fez diferença” – disse o chefe da equipe, David Haussler, do Instituto Médico Howard Hughes e da Universidade da Califómia (Santa Cruz).
Os outros participantes da equipe são ligados à Universidade de Bruxelas e à Universidade CIaude Bemard, da França.
“É muito excitante usar a evolução para olhar regiões do nosso genoma que não exploramos ainda”, disse Haussler. É extremamente improvàvel que a evolução de apenas uma região do genoma tenha feito a diferença entre o nosso cérebro e os cérebros de primatas não-humanos. É muito mais provável que seja uma série de muitlssimas pequenas mudanças, cada uma muito importante, mas nenhuma fazendo todo o trabalho por si só. [o artigo prossegue…]

A outra é Cientista contesta inteligênica dos golfinhos, que começa assim:

Reuters
JOANESBURGO – Tamanho não é documento. É O que sugere um artigo recém-publicado na revista “Biological Reviews of the Cambridge Philosophical Society”. Segundo o neurologista sul-africano Paul Manger, apesar de terem cérebros super-desenvolvidos, os golfinhos seriam tão intelectualmente capazes quanto ratos de laboratório. Ou até menos.
– “Coloque um animal qualquer dentro de uma caixa e a primeira coisa que ele fará será tentar escalar a parede para sair dali. Esqueça de tampar o aquário e o seu peixinbo dourado certamente pulará, na tentativa de expandir o ambiente em que vive (…) Um golfinho jamais fará isso. Repare. Nos parques aquáticos, as paredes dos tanques que separam este animais dos demais são baixas o suficiente para que eles pulem. Mas eles não o fazem” – aponta o cientista.
A explicação para este comportamento, segundo Manger, é simples. A idéia sequer passa pela mente pouco desenvolvida do animal.[o artigo prossegue]

Uma observação, mais adiante, diz: “O cérebro dos golfinhos é pobre em neurônios e rico em neuróglias, que são células e fibras do sistema nervoso central que sustentam e preenchem os espaços entre os neurônios e produzem calor. Ele não é feito para processar informações complexas, mas para combater as alterações térmicas a que o organismo do animal – um mamífero – é submetido a baixas temperaturas.”
Notem a diferença de tom das duas notícias. A primeira apresenta, em tom de esperança, uma descoberta que pode levar a uma melhor compreensão dos mistérios da evolução. A segunda, tem um tom sombrio de “viu só?… a gente tinha razão…”
A primeira, vale só como divulgação. Mas a segunda merece um comentário. Tinha que ser um cientista sul-africano… Eu fiz questão de transcrever a “explicação científica” (a coisa dos neurônios e neuróglias) que pode ter fundamento. Mas o raciocínio apresentado pelo eminente doutor, quanto à reação de luta-ou-fuga, é de uma cretinice apavorante. Qualquer imbecil sabe que os golfinhos são uma espécie que interage tranqüilamente com os humanos. Eles não se sentem ameaçados por nós! (Isso pode ser mesmo um indício de que não são inteligentes…) Aliás, qualquer espécie que não conheça o potencial destrutivo dos humanos interage assim (vide exemplos citados em “Montanha dos Gorilas” e “Caninos Brancos”). Será que ocorreu ao distinto cientista que os golfinhos podem ser tão inteligentes que percebem que não há futuro em “escalar as paredes da caixa”? Que eles sabem que não adianta pular para fora da piscina, sair rebolando pelos corredores e pegar um ônibus para a praia mais próxima?
Este tipo de raciocínio primário me lembra aquele – divulgado com certo estardalhaço pela “mídia” – de um médico (americano, se não me engano…) que, ao constatar que mulheres que engravidavam após os 40 anos, eram particularmente saudáveis, “deduziu” que “engravidar após os 40, fazia bem à saúde das mulheres”.
Para mim isto mostra que, não importa o quão competente você possa ser em um determinado ramo do conhecimento científico, você pode continuar sendo um imbecil. Muitas vezes, chi fá, non sá, não porque lhe faltem os conhecimentos, mas porque lhe falta o discernimento.
Atualizando (Obrigado pelo link Caio de Gaia!):
O antropólogo John Hawks também comenta esta notícia sobre os golfinhos. Eu destaco a seguinte parte:

Mas, então, eu pensei com meus botões: “Ora, não é que o cérebro de Einstein tinha um número de glia incomumente alto?” Sim, é certo, mas apenas em uma única área do córtex, o que foi atribuído a uma resposta a uma desusadamente alta demanda metabólica da atividade neurônica.
Alta demanda metabólica neurônica. Hmm… Bom, pensando que seus grandes cérebros só são úteis para suas vidas aquáticas, não haveria quaisquer golfinhos com cérebros pequenos, certo? O que funciona perfeitamente, exceto para golfinhos de rios…

Divulgação científica: o ponto de vista do “usuário final”


Este Blog não nasceu com a idéia de fazer “divulgação científica”, mesmo porque eu não sou um cientista. A idéia era apenas tornar pública minha indignação contra tudo que anda errado, todo o mundo sabe quais são as soluções, só que ninguém faz… O próprio nome do Blog traduz bem a minha quase desesperança, acumulada nesses quase 56 anos de vida.


Aproveitando minhas habilidades como tradutor técnico (adquiridas por auto-didatismo e necessidade de complementar o régio estipêndio que a nação me pagava – e ainda paga – para ser uma competente máquina de destruição), me dediquei, principalmente, a traduzir artigos publicados em periódicos do exterior sobre diversos temas. Como eu sou um frustrado por não ter seguido minha verdadeira vocação: professor, é apenas natural que a maior parte dos artigos contenha material de divulgação científica. Talvez a “pedra de toque” tenha sido a idéia de traduzir os Boletins Physics News Update da AIP, que apresentam as novidades no campo da física, e divulgar este fato pelos grupos de discussão sobre física no Orkut.
Mas meu enfoque sobre a ciência e a divulgação científica é aquele do (ávido) leitor sobre novidades das ciências. Eu gosto de brincar, chamando o Daniel de “meu professor particular de Física de Altas Energias”, porque não deixa de ser verdade. E tive a “cara-de-pau” de me inscrever no “Roda de Ciência” exatamente para representar os leigos, em meio aos cientistas.
Eu me considero um cara particularmente afortunado, porque minha educação formal é bastante… digamos “sofrível”. Mas minha curiosidade e prazer em aprender me fizeram ter o caradurismo de me dirigir a um dos principais colaboradores do site “Queremos Saber” da Universidade Federal do Ceará e manter uma correspondência pessoal para esclarecer minhas dúvidas, nascidas das imperfeições inerentes à “divulgação científica”. Por mera sorte, o Daniel é daqueles que, se não respondem direta e pacientemente às perguntas, lhe encaminha aos links onde você pode obter informações básicas sobre os assuntos. Uma coisa leva a outra e eu me tornei “sócio atleta” do Blog dele.
Mas chega de falar de mim e voltemos ao assunto: o papel da “divulgação científica”.
Eu compreendo a dificuldade de transmitir informações aos totalmente leigos (como eu) porque o leigo não tem condição de aquilatar da veracidade da informação que lhe é passada por um “doutor”. Recente exemplo disso foi a tradução que fiz de um artigo do The Times, e tive que encher a paciência da Maria Guimarães para que ela comentasse sobre certas passagens do artigo que me pareceram suspeitas.
Mas a única fonte de acesso que a maioria possui é exatamente esta: os “divulgadores”, cujo preparo é – para dizer o mínimo – duvidoso. Como pode o leigo discernir se o que está lendo (escrito com foros de autoridade) procede ou não? Nos grupos de discussão do Orkut, este apedeuta aqui é chamado de “professor” por diversas pessoas.
O que me leva a outra triste constatação: o sistema de ensino parece ser estruturado para fazer com que as pessoas percam a vontade de aprender. Fora os CDF (como eu), todos parecem ter a idéia de que “estudar é chato”. E a maioria deles têm razão. (Eu gostaria de que esse fosse um tema a abordar na Roda). Eu costumo dizer que, em matéria de botânica, de vez em quando, eu consigo distinguir um pinheiro de uma bananeira. Biologia, para mim, sempre foi um ramo extremamente árido e o pouco conhecimento que tenho do assunto que tenho, foi obtido para não me deixar impressionar pelos médicos com seu jargão (até hoje eu me divirto dizendo que “Rota-Virus de etiologia desconhecida” é a maneira do médico dizer “não faço a menor idéia do que possa ser, mas não vou confessar isso a você”).
Eu cresci lendo Isaac Asimov, Heinlein e Clarke. Além dos devaneios sobre “impérios galáticos”, me interessava o conhecimento do universo, de como esta geringonça funciona e – a eterna pergunta – “para que isso serve”? Mas é muito difícil encontrar boa “divulgação científica”. E um problema que pode até parecer menor (e que me perdoe Caio de Gaia) a maior parte dos bons livros sobre o assunto é traduzida em português de Portugal. Agora, experimente ler Hawking (que já escreve muito mal) em um idioma razoavelmente parecido com o seu para lhe confundir mais ainda as idéias, e veja o resultado. Sorte minha que, ao lidar com traduções técnicas, eu aprendi a reverter as traduções para o idioma original e compreender (ao menos em parte) o que o autor queria dizer. (para ser um bom tradutor, não só é imprescindível ter um total domínio sobre a língua original, como de sua própria).
O certo é que – aos trancos e barrancos – eu venho tendo um razoável sucesso nessas traduções (e – é claro – aproveito para expressar minhas próprias opiniões). Pelo menos, até agora, ninguém me corrigiu qualquer erro crasso. E tenho conseguido interessar pessoas sobre o andamento das questões científicas mais atuais.
Só a título de curiosidade: o artigo mais visitado em meu Blog (logo após os Physics News Updates) tem sido a tradução do “Crackpot Index” do John Baez…
Talvez o maior problema com a “divulgação científca” seja a de expressar em termos acessíveis aos leigos, coisas que têm, por trás de sua formulação, todo um arcabouço científico inacessível àqueles que não tem a formação de cientista.
Paciência… Talvez seja essa a virtude maior a ser cultivada por aqueles que optam por fazer “divulgação científica”. Paciência para ouvir asneiras e explicar aos asnos onde está a interpretação errada.
E fica por aqui.
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Physics News Update nº 788

PHYSICS NEWS UPDATE
O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 788, de 10 de agosto de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update
ÁTOMOS EM UMA ARMADILHA MEDEM A GRAVIDADE ao nível micrométrico. Atualmente, muitas das medições mais sensíveis na ciência, dependem de algum fenômeno quântico que seja muito sutil e possa ser explorado para obter a máxima precisão. Eu uma experiência realizada na Universita di Firenze (Universidade de Florença, Itália) o fenômeno quântico em questão é a chamada Oscilação de Bloch. Este estranho efeito ocorre quando partículas, sujeitadas a um poetêncial periódico (tal como elétrons sentido o efeito regular dos intervalos da força elétrica em uma grade cristalina de átomos), são expostas a uma força estática adicional – por exemplo, uma força elétrica unidirecional – o que ocorre é que os elétrons não se movimentam todos, como seria de esperar, na direção da força, porém ficam oscilando para frente e para trás, no mesmo lugar. Em uma nova experiência, relaizada por Guglielmo Tino e seus colegas de Florença, as partículas são átomos de Estrôncio super-resfriados, mantidos em uma armadilha óptica verticalmente orientada, formada por feixes de laser entrecruzados, enquanto que a força estática é apenas a força da gravidade que puxa os átomos para baixo (ver figura em http://www.aip.org/png/2006/263.htm ).
Quais são as características peculiares a esta experiência? Antes de tudo, embora Oscilações de Bloch tenham sido observadas antes, nunca foram mantidas por um tempo tão longo (10 segundos), como no caso presente. Experiências que misturem gravidade e mecânica quântica são raros. Além disso, embora a núvem de átomos de Sr usados não existam sob a forma de um BEC (Condensado de Bose-Einstein), os átomos absorvem a luz laser que os aprisiona, de maneira coerente; ou seja, eles absorvem a luz em uma maneira estimulada, não aleatória. Eles rapidamente re-emitem a luz e, então, absorvem um novo fóton. O número de fótons por átomo transferidos desta forma – milhares, em vez de dezenas – é o maior para uma experiência de física. Finalmente, a observação próxima das Oscilações de Bloch permite que se meça a intensidade da força estática, a gravidade, com alta precisão – neste caso, medir a gravidade com uma incerteza de uma parte por milhão.
Com os melhoramentos previstos para a aparelhagem, os pesquisadores serão capazes de levar os átomos a alguns microns de uma massa de teste e poderão medir g com uma incerteza de 0,1 partes por milhão. Sob estas condições, podem ser verificadas as teorias que dizem que a gravidade deveria se afastar da norma de Newton, o que talvez signifique a existência de dimensões espaciais desconhecidas. De acordo com Tino, diferentemente das experiências de medição da gravidade por meio de efeitos de equilíbrio de torsão ou cantiléver, o método de Florença mede a gravidade diretamentes e em curtas distâncias. A armadilha para átomos também deve ser capaz de se provar útil para futuros sistemas de direção inercial e relógios ópticos. (Ferrari et al., Physical Review Letters, 11 de agosto de 2006)
O OBJETO MAIS AFIADO JÁ FEITO é uma agulha de Tungstênio, cuja ponta tem a espessura de um único átomo. A agulha, feita pelo pós-graudado Moh’d Rezeq do grupo de Robert Wolkow, na Universidade de Alberta (Canadá) e o Instituto Nacional de Nanotecnologia, no início era bem mais rombuda. Exposta a uma atmosfera de Nitrogênio puro, entretanto, começa um rápido “emagrecimento”. Para começar, o Tungstênio é quimicamente muito reativo e o nitrogênio abrasa a superfície de Tungstênio. Mas na ponta, onde um campo elétrico, criado pela aplicação de uma voltagem ao Tungstênio, está em seu máximo, as moléculas de N2 são afastadas. Este processo atinge uma condição de equilíbrio no qual a ponta é muito afiada. (Para uma figura, veja aqui; para um filme mostrando o porcesso de evaporação durante todo o processo, até a formação de uma ponta com um único átomo, ver o website aqui ). Além disto, todo o N2 presente em torno da ponta auxilia a estabilizar o Tungstênio contra uma degradação química maior. Realmente, a agulha produzida é estável em temperaturas de até 900°C, mesmo após 24 horas de exposição ao ar.
As pontas de sondas usadas em microscópios de varredura por tunelamento (STM), embora possam produzir imagens com resolução ao nível atômico de átomos em repousados na camada superior de um material sólido, não são, eles próprios, da finura de um átomo. Em vez disso, seu raio de curvatura no fundo é tipicamente de 10 nm ou mais. Wolkow diz que uma ponta ainda mais fina possa ser útli na construção de aparelhos STM (junta-se mais pontas em uma pequena área e um aparelho ainda maior pode permitir a filmagem dos movimentos atômicos) a resolução espacial não seria aumentada por isso. O real benefício das finas pontas de Tungstênio, ele acredita, será o de serem soberbos emissores de elétrons. Sendo tão finas, elas emitiriam elétrons em um feixe brilhante, estreito e estável. (Rezeq, Pitters, Wolkow, Journal of Chemical Physics, 28 de maio de 2006)
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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.
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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

Média e Mediana

Eu me meto em cada uma… O Daniel, muito lampeiro, meteu no “It’s Equal but it’s different” um link para um artigo muito interessante. E eu, todo bobo, pensei: vale a pena traduzir!…
Realmente vale… Mas vai ficar cheio de “notas do tradutor” porque é cheio de trocadilhos (a começar pelo título).

Who’s Counting: It’s Mean to Ignore the Median
[e lá vai a primeira N.T: “Who’s counting” pode ser traduzido tanto por “Quem está fazendo as contas?”, como por “Quem se importa?”; “mean” tanto pode ser “média, meio”, como, no sentido implícito no título, “mesquinho”; e “median” pode ser tanto “mediana”, como “medíocre”]
Fazendo a leitura dos números da economia pelos pontos de vista dos Democráticos e dos Republicanos.
6Ago2006 — Acreditem ou não, a maneira diferente com que os Democratas e os Republicanos reagem ao desempenho da economia dos EUA, é esclarecida por uma distinção matemática ensinada no 1º grau. A distinção é entre a média, que é onde os republicanos põem ênfase, enquanto que os democratas preferem a mediana. Antes de passarmos à economia, deixem-me revisar um pouco de matemática de 4ª série.
A Média e a Mediana
A média de um conjunto de valores numéricos é, simplesmente, um valor intermediário e é obtida somando-se todos os valores e dividindo o valor total pela quantidade de valores. A mediana de um conjunto de valores é obtida listando-se os valores em ordem crescente e localizando o valor que fica no meio da lista. O mesmo conjunto de valores pode ter uma média e uma mediana extremamente diferentes.
Um corretor de imóveis, por exemplo, lhe diz que o preço médio de uma casa em um determinado bairro é de $ 500.000, deixando implícito que não existem muitas casas acima desse preço no bairro. Não necessariamente. Se a maior parte das casas valerem entre $ 100.000 e $ 200.000, e existam umas poucas mega-mansões multimilionárias, o preço médio no bairro pode ser $ 500.000, mesmo que a mediana seja, por exemplo, $ 160.000.
Ou se um vendedor lhe disser que a comissão mediana dele, em nove vendas efetuadas nesta semana, foi de $ 80, deixa implícito que ele faturou, portanto, $ 720 nessas vendas. Pode ser, mas ele pode ter faturado milhões, se uma dessas vendas foi enorme, ou ele pode ter faturado pouco mais de $ 400 se quatro das vendas derem uma comissão perto de $ 0 e as outras cinco forem $ 80, ou pouco mais.
A economia
A relevância desta distinção fica aparente nos recém-liberados números sobre a economia dos EUA para 2004, o último ano para os quais existem dados completos. Os republicanos apregoam que a economia cresceu a saudáveis 4,2% (desaqueceu, desde então). Os democratas apontam para os dados do Bureau do Censo [N.T: o IBGE deles] para o mesmo ano (e também nos anteriores), indicando que a renda mediana das famílias caiu e aumentou a pobreza.
Os economistas Thomas Piketty e Emmanuel Saez, que estudaram longamente a distribuição de renda, viram recentemente os dados e calcularam que, durante este período de apenas um ano, os rendimentos reais dos 1% mais ricos (aqueles que ganham caima de US$ 315.000 por ano), cresceu de quase 17%. Mais ainda, este crescimento na renda, não só ultrapassou o das classes baixa e média, mas ultrapassou, e muito, o da alta-classe-média, também.
O aumento da renda destes 5% cujas rendas são maiores do que 95% dos demais americanos, foi quase mínima. Os enormes aumentos de renda foram para aqueles que já tinham rendas enormes. De fato, metade do crescimento da renda desses 1% do topo, foi para o os 0,1% no topo deste 1%!
E o salário mínimo? O menor poder aquisitivo real desde a década de 1950. E a renda do típico recém-formado em curso superior? Caiu em 2004.
Esta dinâmica de ricos-ficam-mais-ricos não é coisa nova. A tendência de crescimento de “surfeiros” de Internet, motoristas de fim de semana, pequenos investidores no mercado, bem como uma pletora de medidas de qualidade-de-vida, sociais e financeiras sugerem um fenômeno generalizado, usualmente descrito como progressões potenciais em matemática.
Ao longo de diversas dimensões sociais, a dinâmica subjacente a essas progressões pode levar ao desenvolvimento de flagrantes deisgualdades, que parecem estar crescendo, não só aqui, mas em todo o mundo. As Nações Unidas emitiram um relatório, poucos anos atrás, dizendo que o valor líquido das três famíliar mais ricas do mundo – as famílias Gates, o Sultão de Brunei e os Waltons da Wal-Mart – superava o PIB das 43 nações mais pobres.
Filosofia e um Pequeno Jogo
Ainda assim, esse desnível não é necessário, nem inevitável, e traz males para a sociedade civil. Há quase 2.400 anos atrás, Aristóteles, ao ver a discordia entre os ricos e pobres da Grécia Antiga, aplicou sua idéia da regra áurea para uma distribuição equitativa (mas não igualitária) da renda. Para trazer estabilidade, ele favorecia o estabelecimento de uma forte classe média e políticas governamentais para auxiliar esse estabelecimento.
Um pequeno jogo do campo do comportamento financeiro ilustra o que é o ressentimento de classe que Aristóteles descrevia. O assim chamado “Jogo do Ultimato” geralmente envolve dois jogadores. A um, o experimentador dá uma certa quantia em dinheiro, digamos $ 100, e ao outro se dá uma espécie de poder de veto. O primeiro jogador pode oferecer qualquer fração diferente de zero dos $ 100 ao segundo jogador. Se ele aceitar, recebe qualquer quantia que o primeiro jogador tenha oferecido e o primeiro fica com o troco. Se ele rejeitar, o experimentador toma o dinheiro de volta.
Em termos racionais de teoria dos jogos, se poderia pensar que é do interesse do segundo jogador aceitar qualquer oferta, uma vez que qualquer soma é melhor do que nada. Não é o que acontece, entretanto. As ofertas costumam variar de 5 a 50% do dinheiro envolvido, porém, quando julgadas muito pequenas, as ofertas costumam ser rejeitadas. Melhor não receber nada, dizem os rejeitantes ressentidos, do que ser humlhado. Noções tais como justiça e eqüidade, bem como raiva e vingança, parecem ter seu papel.
Como se eu tivesse pedido uma ilustração, logo que acabei de escrever este artigo, a Câmara aprovou um modesto salário-mínimo, mas, tipicamente, ligado a um significativo corte no imposto sobre propriedades. Mais uma vez, um para você, dez para mim (parece que a Lei não deve passar no Senado, entretanto).
Então será que Aristóteles era um Democrata de carteirinha? Não. Eu acho que ele só estava expressando um bom senso econômico, cada vez menos comum. É mesquinharia ignorar os medíocres. [no original: “It’s mean to ignore the median.”]
O Professor de Matemática na Universidade Temple, John Allen Paulos é autor de best-sellers tais como “Innumeracy” (N.T: uma possível tradução seria “Analgaritimia”, por semelhança com “analfabetismo”) e “A Mathematician Plays the Stock Market” (“Um matemático joga no mercado de ações”) . Sua coluna “Who’s Counting?” em ABCNEWS.com é publicada no primeiro fim de semana de cada mês.
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E ainda fazem esse escarcéu todo sobre a desigualdade da distribuição de renda no Brasil. Agora, considere que quem ganha entre R$ 1.000 e R$ 1.400 no Brasil, é “classe média” (eu sou um “Marajá”…); daí para cima, são os 10% de “privilegiados” que pagam Imposto de Renda, nas módicas alíquotas de 15 e 27,6% (era para ser 25%, mas ficou “definitivamente provisório”, tal como a maldita CPMF…).
Eu acho muita sacanagem equiparar quem ganha R$ 5.000 e R$ 50.000, principalmente porque certas deduções têm limites ridículos, tais como educação e dependentes. E, em um país onde falta emprego formal, não se poder deduzir integralmente todo o custo de um trabalhador doméstico, enquanto as empresas deduzem os salários como “custo operacional”, já nem é sacanagem: é falta de vergonha na cara, mesmo!
Mas o pior é o “imposto embutido” (porque não é só ICMS e quejandos sobre o produto final que você compra no mercado ou na papelaria… cada vaca e a terra onde ela pasta, pagam impostos; a usina onde o leite é processado, paga impostos e as infames “contribuições sociais”; o transporte do leite paga IPVA, todos os impostos sobre combustíveis e, de vez em quando, um pedágio ou outro; fora os impostos em outros insumos indiretos tais como 33% em cima das contas de energia elétrica, em cada prédio por onde o leite passou, 33% em cima das contas de telefonia, “Alvarás Municipais” para o estabelecimento comercial; PIS, COFINS e CPMF durante todo o trajeto do dinheiro que paga cada etapa; e mais algumas que não me vêm a memória): este xorrilho de impostos acaba batendo no bolso de quem vai comprar uma lata de ervilhas, seja eu, seja o Bill Gates, ou seja o Zé Mané que trabalha de auxiliar de pedreiro, durante o dia, e vigia, durante a noite – sem carteira assinada, é claro (qual é o empregador pobre como o dono de uma quitanda ou síndico de condomínio que pode se dar ao luxo de assinar carteira?…)
Mas nossos Partidos de “esquerda” e “centro-esquerda” acham que arrancar o couro da classe média (enquanto pagam os juros mais altos do mundo para os pobrezinhos dos banqueiros) é “redistribuição de renda”… Nós pagamos impostos, o Valério enche a mala e o Duda Mendonça manda para as Ilhas Virgens (que deve ter um povo paupérrimo, já que os brasileiros não param de mandar dinheiro para lá…)

Nova “Zona Morta”

O lixo que as superpotências lançam na atmosfera, está voltando para suas praias. Vejam este artigo do New York Times.

Reaparece uma “Zona Morta” ao largo da costa do Oregon
Por CORNELIA DEAN
Publicado em 6 de agosto de 2006
Pelo quinto ano em seguida, padrões incomuns de ventos ao largo da costa do Oregon produziram uma grande “Zona Morta”, uma área com tão pouco oxigênio que os peixes e caranguejos sufocam. A zona ocupa uma área aproximadamente do tamanho de Rhode Island [nota do tradutor: o menor estado dos EUA, com uma superfície de 3.144 km²].
Esta zona morta é diferente daquelas no golfo do México e em outros lugares, resultantes do acúmulo de fertilizantes, esgotos e emissões de cirações de porcos e aves. A zona do Oregon aparece quando o vento gera fortes correntes que levam água rica em nutrientes, mas pobre em oxigênio, do mar profundo para a superfície próxima à costa,um processo chamado de ressurgência.
Os nutrientes estimulam o crescimento de plancton, o qual, eventualmente, morre e desce para o fundo do oceano. Bactérias consomem o plancton, usando oxigênio.
Jane Lubchenco, uma bióloga marinha da Oregon State University, diz que o fenômeno não parce ter ligação com os recorrentes El Niño ou La Niña, ou ciclos de longa duração dos movimentos oceânicos. Isso fez com que a Dra. Lubchenco imaginasse se a mudança climática poderia ser um fator, disse ela, acrescentando: «Não existe outra causa, em tanto quanto podemos determinar».
A zona morta, que aparece no fim da primavera e dura algumas semanas, quadruplicou de tamanho, desde que apareceu em 2002 e, neste ano, cobriu uma área quase tão grande quanto o Estado de Rhode Island, disse a Dra. Lubchenco. A zona se dissipa quando o vento muda.
Não se sabe ainda o efeito que a zona morta possa ter na futura pesca e captura de caranguejos, disse a Dra. Lubchenco. Até agora, disse ela, a zona morta não tem se formado antes que a estação de captura de caranguejos Dungeness [N.T: cancer magister] tenha quase acabado.
Hal Weeks, um ecologista marinho que dirige o Marine Habitat Project para o Departamento de Pesca e Vida Selvagem do Oregon, disse que a formação de áreas com pouca oxigenação, ou hopóxicas, até agora têm causado “disrupções localizadas” na pesca, mas nenhum declínio nas capturas e nenhuma interferência na pesca recreativa.
O Dr. Weeks disse que essas áreas podem ter ocorrido no passado e não terem sido percebidas. Mas ele acrescentou que, quando ele realizou uma reunião entre cientistas e pescadores, cerca de 18 meses atrás, para discutir a questão, os pescadores disseram não se lembrarem de problemas ocorrendo com uma tal regularidade.
«Com base nas lembranças das pessoas», disse o Dr. Weeks, «ele não tinham um padrão ou periodicidade para isso».
Ele e a Dra. Lubchenco disseram que os cientistas levarão um barco de pesquisas para o mar e, na terça-feira, baixarão um veículo-robô para fotografar o fundo do mar para verificar a mortalidade de peixes e caranguejos.
«Você, normalmente, não puxa para cima uma armadilha e acha quaisquer caranguejos mortos nela», disse a Dra. Lubchenco. «E todos os caçadores de caranguejos com quem falei, mencionaram caranguejos mortos».
O Dr. Weeks disse esperar que o cruzeiro de pesquisa ajude a explicar o que está acontecendo. «Eu deveria dar a melhor acessoria técnica a meus superiores», disse ele, «e receio que, agora mesmo, eu não tenha as respostas para eles».
Em 2002, quando a zona morta apareceu pela primeira vez, disse a Dra. Lubchenco, ela e outros pesquisadores deram pouca atenção ao que pensaram ser uma anomalia interessante. «Mas, agora, cinco anos em seguida, nós estamos começando a pensar que houve alguma mudança fundamental nas condições do oceano ao largo da Costa Oeste», disse ela, provavelemente por causa das mudançaas nas “correntes de jato” causadas pelo aquecimento global.

Enquanto isso, ainda há gente (e gente de nomeada) que acha que o “Protocolo de Kioto” é junk science e apoia o indizível presidente arbusto em seus delírios de pascácio ganancioso…

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