Tadinho do Papai Noel…
29 de Setembro de 2005
Em uma tendência de derretimento, menos gelo disponível no Ártico
Por ANDREW C. REVKIN
A camada flutuante de gelo marinho no Oceano Ártico encolheu, neste verão, ao que provavelmente foi seu menor tamanho em pelo menos um século de registros feitos, continuando a apresentar uma tendência na direção de menos gelo no verão, conforme relatou ontem uma equipe de “experts”.
Esta mudança é algo difícil de explicar sem atribuí-la, em parte, ao aquecimento global por interferência do homem, disseram os membros da equipe e outros “experts” sobre a região.
A mudança parece, também, estar inclinada a se tornar auto-sustentável: a maior superfície de águas abertas absorve mais energia solar que, de outra forma, teria sido refletida de volta ao espaço pelo brilhante gelo branco, disse Ted A. Scambos – um cientista do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo em Boulder, Colorado – que compilou os dados juntamente com a NASA.
“Os ‘feedbacks’ no sistema estão começando a tomar conta”, disse o Dr. Scambos.
Os dados foram disponibilizados no site do Centro: www.nsidc.org.
As descobertas são consistentes com as recentes simulações computadorizadas que mostram que um acúmulo de emissões de gases associados ao efeito-estufa provenientes de chaminés e canos de escape, poderia levar a um Ártico profundamente transformado, lá para o final deste século, quando grande parte do Oceano que era preso na banquisa de gelo, vai se tranformar em águas abertas durante os verões.
As áreas de águas abertas no verão podem ser um benefício para as baleias e os bacalhaus e o recesso do gelo poderia criar atalhos nas rotas de navegação entre o Atlântico e o Pacífico.
Mas uma hoste de problemas está, também, pela frente. Uma das conseqüências mais significativas do aquecimento do Ártico serão fluxos aumentados de águas derretidas e icebergs, das geleiras e banquisas, e, com isso, um aumento acelerado nos níveis dos mares, ameaçando as áreas costeiras. A perda do gelo marinho também pode ser danosa para os ursos polares e os caçadores de focas Esquimós.
A calota de gelo do Ártico sempre cresce no inverno e encolhe no verão. A área média do mínimo, desde 1979 quando começou o preciso mapeamento por satélite, até 2.000 era de 2,69 milhões de milhas quadradas, um tamanho semelhante ao território dos Estados Unidos, sem o Alaska. A nova mínima de verão, medida em 19 de setembro, ficou 20% abaixo disso.
Antes de 1979, os cientistas estimavam o tamanho da calota de gelo com base em realtórios feitos por navios e aviões.
A diferença entre a área média de gelo e a área registrada neste verão foi de cerca de 500 mil milhas quadradas, uma área cerca de duas vezes o estado do Texas, disseram os cientistas.
Este verão foi o quarto de uma série em que a área da calota de gelo ficou bem abaixo da média histórica – disse Mark C. Serreze, um cientista sênior e professor na Universidade de Colorado em Boulder.
O Dr. Scambos disse que as sucessivas reduções da calota de gelo “tornam bastante certo que um declínio de longo prazo está em andamento”.
Segundo o Dr. Serreze, o ciclo natural na atmosfera polar, chamado de “Oscilação Ártica” que contribuiram para redução do gelo ártico no passado, não parece ter sido um fator presente nos muitos últimos anos.
Ele disse que o papel da acumulação das emissões de gases associados ao efeito-estufa tem se tornado mais e mais aparente, com temperaturas crescentes no ar e no mar. Ainda assim, muitos cientistas dizem que não é possível estabelecer que parte das mudanças no Ártico são causados pelos níveis de dióxido de carbono e outras emissões de fontes humanas, e o quanto são as oscilações climáticas usuais.
O Dr. Serreze e outros cientistas dizem que maiores instabilidades podem estar pela frente e que a área da calota de gelo pode até aumentar em alguns anos. Mas os cientistas acharam poucos indícios de que outros fatores, tais como um aumento na nebulosidade no Ártico, em um mundo em processo de aquecimento, possa reverter a tendência.
“Com toda essa água escura aberta, você começa a ver um aumento na armazenagem de calor no Oceano Ártico”, disse o Dr. Serreze. “Quando chega o outono e o inverno, isso torna mais difícil o crescimento do gelo e, na próxima primavera, você acaba com uma calota menor e mais fina. E fica mais fácil perder mais ainda no ano seguinte”.
O resultado, disse ele, é que o Ártico está “se tornando um lugar profundamente diferente do lugar que nós nos acostumamos a pensar”.
Outros “experts” em gelo e clima árticos discordaram de detalhes. Por exemplo, Ignatius G. Rigor da Universidade de Washington, disse que a mudança estava provavelmente ligada a uma mistura de fatores, inclusive as influências do ciclo atmosférico.
Porém ele concordou com o Dr. Serreze em que a influência dos gases associados ao efeito-estufa têm que estar envolvidos.
“A idéia do aquecimento global tem que ter um papel importante nesse cenário”, disse o Dr, Rigor. “Eu penso que nós temos um estado climático diferente no Ártico agora. Todos esses ‘feedbacks’ estão começando a influenciar diretamente e realmente estão sumindo com o gelo no fim do verão”.
Outros “experts” expressaram alguma cautela. Claire L. Parkinson, uma “expert” em gelo oceânico no Centro Goddard de Vôos Espaciais (da NASA) em Greenbelt, Mariland, dise que uma pletora de de mudanças no Ártico – inclusive temperaturas mais altas, derretimento dos gelos perenes e a reução da calota de gelo marinho – são consistentes com o aquecimento de origem humana. Mas ela enfatizou que o complexo sistema está, ainda, longe de ser completamente compreendido.
William L. Chapman, um pesquisador de gelo marinho na Universidade de Illinois Urbana-Chamapaign, disse que é importante ter em mente que o tamanho da calota de gelo pode variar tremendamente, em parte por causa das mudanças nos padrões de ventos, que podem fazer com que a calota de gelo se acumule de um lado do litoral ártico ou se afaste do outro.
Perceberam?… Diversos especialistas estão dizendo “é o efeito-estufa!” Os outros dizem: “é possível que seja o efeito-estufa…” O curioso é que os que dizem que é só “possível” são os dos Órgãos do Governo, como a especialista da NASA.
Isso tudo porque o imbecil chapado do W. Bush se recusa a admitir que tem que aderir ao Protocolo de Kioto e os caras querem manter seus empregos públicos…
Tadinho do Papai Noel: daqui a pouco, tudo que vai restar de sua fábica de brinquedos e de sua casa vai ser a piscina…
Mas o que ninguém está falando, com clareza, é das conseqüências do efeito-estufa. Em uma primeira etapa, as calotas polares vão se derretendo. Isso faz com que o nível dos mares suba (e lá se vai minha casa em Araruama, junto com a cidade…) e, também, aumenta a umidade da atmosfera (se vocês acharam as gêmeas Catarina e Katrina interessantes, aguardem o que vem por aí…). No final, o mundo inteiro vai ficar coberto por núvens. Aí começa a segunda etapa. Essas nuvens vão refletir a radiação solar de volta para o espaço e a temperatura geral da Terra vai mergulhar rapidamente. As chuvas vão continuar a cair, cada vez mais fortes e os invernos vão ficar cada vez mais rigorosos. E as geleiras vão se expandir mais uma vez, tornando todas as áreas temperadas da Terra inabitáveis e os Trópicos em uma área fria e seca.
Esse foi o quadro pintado por Louis Agassiz em 1837, assumindo que o efeito-estufa tenha sido causado por um ciclo particularmente violento de vulcanismo, para a Idade do Gelo que, por pouco, não fez perecer uma certa espécie de macaquinhos muito promissores…
Mas eu confio em Mamãe Natureza: ela nunca vai à loucura; vai à forra… O mundo inteiro vai sofrer com isso, mas quem vai para o brejo primeiro são as vacas sagradas… E o Primeiro Mundo vai ficar no dilema da cigarra da fábula: não cantou? Agora dance! (E seus arsenais nucleares podem ser usados como supositório: se usarem, as terras que eles precisam vão ficar inabitáveis, também…)
Quem semeia “Tempestades no Deserto”, colhe furacões na Costa do Golfo…
Estados Unidos: a próxima União Soviética?
Esta entrevista com Emmanuel Todd expõe possíveis implicações profundas do despreparo estadunidense para lidar com o Katrina http://www.truthout.org/docs_2005/091205H.shtml Emmanuel Todd é historiador e demógrafo, na década de setenta publicou artigos prevendo, com precisão, detalhes de como se daria o declínio soviético nas décadas seguintes baseado em análise comparativa de dados demográficos da mortalidade infantil na URSS. Recentemente ele escreveu um livro chamado 'Après l'empire" (depois do império), no qual sugere, apontando evidências demográficas e histórico-econômicas, o porvir de uma condição não-hegemônica dos EUA.
Emmanuel Todd: O Espectro de uma Crise no Estilo Soviético
Por Marie-Laure Germon and Alexis Lacroix
Le Figaro
2ª feira, 12 de Setembro de 2005
De acordo com este demógrafo, o Furacão Katrina revelou o declínio do Sistema Americano.
Engenheiro de pesquisas no Instituto Nacional de Estudos Demográficos, historiador, autor de “Après l’empire” (“Após o Império”), publicado pela Gallimard em 2002 – um ensaio em que ele prevê o “desmoronamento” do sistema americano – Emmanuel Todd faz uma revisão para Le Figaro das sérias falhas reveladas pela tempestade.
Le Figaro – Qual é a primeira lição moral e política que se pode aprender da catástrofe provocada por Katrina? necessidade de uma modificação “global” em nosso relacionamento com a natureza?
Emmanuel Todd – Vamos nos precaver de uma interpretação extrapolada. Não devemos perder de vista o fato de que estamos falando de um furacão de intensidade extraordinária que teria porduzido danos monstruosos em qualquer lugar. Um elemento que surpreendeu a muitos – a erupção da população negra, uma grande maioria neste desastre – não me surpreendeu pessoalmente, já que eu realizei um grande estudo sobre os mecanismos da segregação racial nos Estados Unidos. Eu sabia, há muito tempo, que o mapa da mortalidade infantil nos Estados Unidos é sempre uma cópia exata da densidade das populações negras. Por outro lado, eu fiquei surpreso que os espectadores desta catástrofe subitamente se deram conta de que Condolezza Rice e Colin Powell não são ícones particularmente representativos das condições da América negra. O que realmente fez eco a minha representação dos Estados Unidos – como desenvolvido em Après l’empire – foi que os Estados Unidos ficaram desabilitados e ineficazes. O mito da eficiência e do super-dinamismo da economia americana estão em perigo.
Nós pudemos observar a inadequação dos recursos técnicos, dos engenheiros, das forças militares no local, para confrontar a crise. Isso levantou o véu sobre uma economia americana, percebida como muito dinâmica, beneficiária de uma taxa de desemprego baixa, creditada com uma sólida taxa de crescimento do PIB. Em confronto com os Estados Unidos, a Europa é tida como praticamente patética, esmagada pelo desemprego endêmico e golpeada com um crescimento anêmico. Mas o que as pessoas não queriam ver é que o dinamismo dos Estados Unidos é um dinamismo de consumo.
LF – O consumo doméstico americano é artificialmente estimulado?
ET – A economia americana está no coração de um sistema econômico globalizado e os Estados Unidos funcionam como uma notável bomba de circulação financeira, importando capital em um nível de 700 a 800 bilhões de dólares ao ano. Esses fundos, após a redistribuição, financiam o consumo de mercadorias importadas – um setor realmente dinâmico. O que tem caracterizado os Estados Unidos, por anos, é a tendência de inflar o monstruoso déficit das contas externas, que agora está perto dos 700 bilhões de dólares. A grande fraqueza desse sistema econômico é que ele não se apoia em uma fundação de real capacidade industrial doméstica.
A indústria americana foi sangrada até o fim e é o declínio industrial que, acima de tudo, explica a negligência de uma nação confrontada com uma situação de crise: para gerenciar uma catástrofe natural, você não precisa de técnicas financeiras sofisticadas. ou de advogados especializados na extorsão de fundos em nível global, mas você precisa de material, engenheiros e técnicos, bem como de um sentimento de solidariedade coletiva. Uma catástrofe natural em teritório nacional confronta um país com sua identidade mais profunda, com suas capacidades de resposta tecnológica e social. Agora, se a população da América pode muito bem concordar em consumir juntos – o nível de poupança doméstica é praticamente nulo – em termos de produção de material, de prevenção e planejamento de longo prazo, ela se provou desastrosa. A tempesatade mostrou os limites de uma economia virtual que identifica o mundo com um vasto video-game.
LF – É lícito relacionar o sistema americano de margem de lucro – esse “neo-liberalismo” denunciado pelos comentaristas europeus – e a catástrofe que atingiu Nova Orleans?
ET – A gerência da catástrofe teria sido muito melhor nos Estados Unidos do passado. Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos asseguravam metade da produção dos bens produzidos no planeta. Hoje em dia, os Estados Unidos se mostram com pontas soltas, atolado em um Iraque devastado que eles não conseguem reconstruir. Os americanos levaram um longo tempo para blindar seus veículos, para proteger suas próprias tropas. Eles tiveram que importar munição leve. Que diferença dos Estados Unidos da Segunda Guerra que, ao mesmo tempo, esmagou o exército japonês com sua frota de porta-aviões, organizou os desembarques na Normandia, reequipou o Exército russo com material leve, contribuiu magistralmente para a libertação da Europa e manteve as populações européia e alemã, libertas de Hitler, vivas. Os americanos sabiam como dominar a tempestade nazista com uma maestria de que hoje se mostram incapazes em uma única de suas regiões. A explicação é simples: o capitalismo americano daquela era foi um capitalismo industrial, com base na produção de bens; em resumo, um mundo de engenheiros e técnicos.
LF – Não seria mais pertinente reconhecer que, virtualmente, não há mais desastres puramente naturais, em uma definição rigorosa, em virtude da falta de moderação das atividades humanas? Não seria o caso de que o “American Way of Life” deva se auto-reformar? Por exemplo, aceitando as limitações do Protocolo de Kyoto?
ET – As sociedades e incorporações socias da Europa e dos Estados Unidos são radicalmente diferentes. A Europa é parte de uma economia agrícola muito antiga, acostumada a tirar sua subsistência do solo com dificuldade em um clima relativamente temperado, a salvo das catástrofes naturais. Os Estados Unidos são um tipo de sociedade inteiramente nova que começou trabalhando um solo virgem e fértil no coração de um ambiente natural mais hostil. Seu clima continental, muito mais violento, não constituiu um problema para os Estados Unidos enquanto eles desfrutaram de uma real vantagem econômica, isto é, enquanto eles detinham os meios técnicos para dominar a natureza. No presente, a hipótese de uma dramatização humana da natureza, nem é mais necessária. A simples deterioração da capaciade técnica de uma economia americana, não mais produtiva, criou a ameaça de que a Natureza faça nada mais do que retomar seus direitos (naturais).
Os americanos precisam de mais aquecimento no inverno e mais ar-condicionado no verão. Se nós formos, um dia, confrontados com uma penúria, não mais relativa, mas absoluta, os europeus vão se adaptar a ela melhor porque seu serviço de transporte é muto mais concentrado e econômico. Os Estados Unidos foram concebidos, com respeito ao consumo de energia e espaço, de uma maneira quase caprichosa, não bem pensada.
Não vamos apontar nossos dedos para o agravamento das condições naturais, mas preferencialmente para a deterioração econômica de um sociedade que tem que se confrontar com uma natureza muito mais violenta. Os europeus, como os japoneses, demonstraram sua excelência com respeito à economia de energia, durante os antecedentes “choques do petróleo”. Era de se esperar: as sociedades européia e asiática se desenvolveram gerenciando a escassez e, ao final, várias décadas de abundância de energia vão parecer um breve parênteses em um dia de sua história. Os Estados Unidos foram construídos na abundância e não sabem gerenciar a esacassez. Dessa forma, eles agora são confrontados com o desconhecido. Os passos iniciais dessa adaptação não se mostraram muito promissores: os europeus têm estoques de gasolina, os americanos têm estoques de petróleo cru – eles não construiram uma só refinaria desde 1971.
LF – Então não é só no sistema econômico que você põe a culpa?
ET – Eu não estou fazendo um julgamento moral. Eu focaliso minha análise no apodrecimento de todo o sistema. Après l’impire desenvolve teses que, em seu todo, eram bem moderadas e que eu me sinto tentado a radicalizar hoje. Eu predisse o colapso da do sistema soviético com base no aumento das taxas de mortalidade infantil, durante o período de 1970 a 1974. Agora, os últimos números publicados sobre este tema pelos Estados Unidos – os de 2002 – demonstram um recrudescimento das taxas de mortalidade infantil para todas as, assim chamadas, “raças” americanas. O que se pode deduzir a partir disso? Em primeiro lugar, que devemos evitar o enforque estritamente racial na interpretação da catástrofe do Katrina e trazer tudo à conta do problema dos negros, em particular a desintegração da sociedade local e o problema dos saques. Isso constituiria um problema de esconde-esconde ideológico. O saque dos supermercados é só uma repetição nos escalões mais baixos da sociedade, do sistema predatório que está no coração do sistema social americano de hoje.
LF – O sistema predatório?
ET – Este sistema social não se assenta mais sobre a ética Calvinista dos “Founding Fathers” (“Pais Fundadores”) e seu gosto pela poupança – mas, ao contrário, em um novo ideal (eu não ouso falar em ética ou moral): a busca da maior remuneração em troco do mínimo de esforço. Dinheiro adquirido rapidamente, por especulação e, por que não, por roubo. A gangue de negros desempregados que saqueia um supermercado e o grupo de oligarcas que tentam organizar o seqüestro do século das reservas de hidrocarbonetos do Iraque, têm um princípio de ação em comum: predação. As disfunções em Nova Orleans refletem certos elementos centrais da cultura americana presente.
LF – Você postula que o gerenciamento do Katrina revela uma preocupante fragmentação territorial, acrescida do pouco caso do aparato militar. O que devemos então temer no foturo?
ET – A hipótese do declínio, desenvolvida em Après l’empire, evoca uma possibilidade do simples retorno dos Estados Unidos ao normal, certamente associado a uma queda no padrão de vida de 15 a 20%, porém garantindo para a população um nível de consumo e de energia “padrão” no mundo desenvolvido. Eu só estava atacando o mito da superpotência. Hoje, eu tenho medo de ter sido muito otimístico. A inabilidade dos Estados Unidos em responder a uma competição industrial, seu grande déficit em bens de alta tecnologia, o recrudescimento das taxas de mortalidade infantil, a perda de eficiência (e prática ineficiência) do aparato militar, a persistente negligência das elites, incitam-me a considerar a possibilidade de uma real crise do tipo soviético nos Estados Unidos.
LF – Seria uma tal crise uma conseqüência da política da Administração Bush, que você estigmatiza por seus aspectos paternalísticos e de Darwinismo social? Ou seriam suas causas mais estruturais?
ET – O neo-conservadorismo americano não deve ser culpado sozinho. O que me parece mais chocante é a maneira como esta América que encarna o absoluto oposto da União Soviética, está ao ponto de causar a mesma catástrofe pela caminho oposto. O comunismo, em sua loucura, supôs que a sociedade era tudo e o indivíduo não era nada, uma base ideológica que causou sua própria ruína. Hoje, os Estados Unidos nos asseguram, com uma fé cega tão intensa como a de Stálin, que o indivíduo é tudo, o mercado é o suficiente e que o Estado é odioso. A intensidade da fixação ideológica é totalmente comparável à fixação do delírio comunista. Esta postura individualista e inequalitária desorganiza a sociedade americana para a ação. O mistério real, para mim, reside aí: como pode uma sociedade renunciar ao bom-senso e pragmatismo a um tal ponto, e entrar em um tal processo de auto-destruição ideológica? É um beco-sem saída histórico para o qual eu não tenho resposta e o problema não pode ser abstraído das políticas da atual administração somente. É toda a sociedade americana que parece estar se lançando em uma política de escorpião, um sistema doentio que termina se aplicando seu próprio veneno. Este comportamento não é racional, mas, ao mesmo tempo, ele não contradiz a lógica da história. As gerações pós-guerra perderam a familiaridade com a tragédia e com o espetáculo dos sistemas auto-destrutivos. Mas a realidade empírica da história humana é que isto não é racional.
Apavorante, não?…
Corrupção e desvio de dinheiro público
27 de Setembro de 2005
Ex-Chefe de Distrito Escolar se declara culpado de Grande Roubo
Por PAUL VITELLO
MINEOLA, N.Y., 26 Set – O antigo Superintente das Escolas de Roslyn, uma figura antes reverenciada, cujas credenciais acadêmicas e contatos com os escritórios de Admissão da “Ivy League” (nota do tradutor: as Universidades mais tradicionais do Leste dos EUA) pareciam fazê-lo o guardião ideal para as aspirações das crianças de um distrito rico, declarou-se culpado, na 2ª feira, de roubar US$ 2 milhões do sistema escolar nos últimos seis anos.
Em um tribunal totalmente preenchido por irados pais e presidentes de Associações de Pais e Alunos (“P.T.A.”), vários dos quais vaiaram quando ele entrou na Sala de Audiências, o antigo superintendente, Frank A. Tassone, 58, concordou em cooperar em uma ampla investigação criminal dos roubos no distrito por outros – uma suposta rede de desvio de recursos públicos, descrita pelo “Comptroller” Estadual Alan G. Hevesi como “o maior, mais notável, mais extraordinário roubo” de um sistema escolar da história americana.
Tudo somado, foram roubados cerca de US$ 11 milhões do distrito em um esquema que envolveu alguns dos administradores de mais alto escalão, de acordo com os Promotores. O Dr. Tassone concordou em devolver sua parte, US$ 2 milhões.
O Dr. Tassone é, até agora, o primeiro de cinco indiciados, inclusive seu companheiro Setphen Signorelli, 60, a resolver as acusações criminais contra si.
Em troca de sua cooperação, o Promotor Distrital Denis Dillon prometeu recomendar que o Dr. Tassone, ameaçado de até 25 anos de prisão por acusações de grandes desvios de fundos e fraude, receba, no máximo, uma sentença de 4 a 12 anos. O Dr. Tassone vai restituir o dinheiro de acordo com um calendário de pagamentos ainda a ser acordado com o escritório do Promotor Distrital.
Os residentes de Roslyn, na audiência, criticaram amplamente o acordo de “delação premiada”. Muitos exigiram que o Dr. Tassone cumpra uma pena de 25 anos, não só pelo prejuízo que ele causou às finanças do Distrito, mas pelo impacto que seus crimes tiveram – e continuam a ter, após 16 meses de sua demissão forçada – no senso comunitário de Roslyn.
“Ele causou um grande dano a esta comunidade escolar”, declarou Judi Winters, uma ativista cívica de longa data em Roslyn. “É uma questão moral, não uma questão de dólares”. Tal como outros, ela descreveu uma comunidade dividida sobre a questão sobre o que deve ser um conselho escolar: fiscal da educação ou fiscal das finanças.
“Você fica com a impressão de que há um sentimento de ‘turba irada’ dirigindo a política dos conselhos escolares agora”, disse Chris Messina, uma mãe. “Isso fez com que muitas pessoas se sintam relutantes a se envolver com o assunto”.
Em uma declaração lida em um sussuro diante do Juiz Alan L. Honorof da Corte do Condado de Nassau, o Dr. Tassone pediu desculpas pelos danos que causou, embora muitos presentes na Sala de Audiências tenham reclamado que ele tentou passar a imagem de ser uma das maiores vítimas.
“Durante o último ano e meio”, disse o Dr. Tassone, “eu tenho refletido diariamente sobre os erros que cometi nos últimos anos, após uma brilhante carreira de 35 anos na eduação pública. Esse erros capitais danificaram irreparavelmente, se não destuíram, minha carreira na educação pública. Eu não posso explicar adequadamente a dor que meus erros me causaram”.
“Eu vou restituir o dinheiro às escolas de Roslyn e eu estou arrependido de meu fraco discernimento”, disse ele. “Eu só posso esperar e rezar para que, algum dia, a comunidade de Roslyn se lembre o bem que eu fiz pelo distrito, bem como que achem em seus corações o perdão para mim e meus erros”.
Os US$ 2 milhões que o Dr. Tassone admitiu ter roubado, pagaram férias, refeições, contas de lavandeira, mobília, tratamentos dermatológicos, aluguel de carros, investimentos imobiliários e despesas pessoais em uma média de US$ 20 mil por mês, em alguns anos. Em uma confissão separada, ele dise que apresentou “notas frias” no valor de US$ 219.000 em favor de seu parceiro, o Sr. Signorelli, pela impressão de manuais escolares.
Como parte de seu acordo de cooperação, espera-se que o Dr. Tassone deponha contra o Sr. Signorelli, com quem ele dividiu um apartamento em Manhattan por vários anos.
De acordo com o escritório do Promotor Distrital, o roubo de US$ 11 milhões foi realizado por um pequeno grupo de empregados do distrito de Roslyn, que inclue a Superintendente Assistente de Finanças, Pamela Gluckin, que é acusada de usar o dinheiro das escolas para pagar suas prestações de financiamento habitacional, aluguéis de carros, computadores pessoais e contas de água.
Em quase todos os aspectos, a habilidade do Dr. Tassone em fraudar o sistema escolar, parece ser, em retrospecto, uma faceta de sua habilidade em encantar, cair nas boas graças e forjar laços com conselhos escolares, companheiros da administração e, especialmente, com os pais, disseram os habitantes do distrito.
Ele mantinha sua porta aberta para visitantes não agendados, atendia a pedidos de favores, escrevia uma coluna regular para o jornal semanal local e dirigia um grupo de leitura dedicado às novelas de Charles Dickens, acerca de quem ele escreveu sua tese no Colégio de Professores da Univesidade de Colúmbia.
“Ele tinha todas as credencias corretas, o vocabulário certo”, disse Judy Birnbaum, uma ex-presidente da Associação de Pais e Mestres da Escola Primária de East Hills. “Ele fez tantos favores às pessoas que, se alguém dissesse uma palavra contra ele, aparecia sempre alguém para defendê-lo: ‘Oh, não. Não o Sr. Tassone. Ele não faria isto'”.
Os pais ansiosos por conseguir a aceitação de seu filhos para a escolas da Ivy League eram reassegurados pelo Sr. Tassone, como relataram muitos pais, de que suas cartas de recomendação trariam grande ajuda a seus requerimentos.
Fosse ou não por sua intervenção, os 95% dos estudantes de Roslyn que se graduavam em seus cursos de 2° grau incluiam um grande número dos que eram aceitos pelas melhores Universidades do país.
O escândalo de Roslyn, que até agora implicou a Srta. Gluckin, dois outros antigos funcionários escolares e o diretor de uma firma de auditoria, Andrew Miller, tem um impacto significativo na supervisão estadual sobre os distritos escolares locais.
As auditorias estaduais sobre os distritos foi grandemente descontinuada em 1980, para economizar dinheiro. Porém, desde que a fraude de Roslyn foi revelada, a Secretaria de Finanças foi reinstada a conduir auditorias regulares em todos os 700 distritos escolares do estado fora da cidade de Nova York, cujas auditorias são conduzidas pela Controladoria Municipal.
Em Roslyn, uma comunidade suburbana a 20 milhas de Manhatan Leste, onde advogados, pequenos comerciantes e professores compõem uma parte substancial dos residentes, a raiva sobre o escândalo fica um pouco misturada com a vergonha de terem sido engazopados por pilantras.
“Eu sou uma professora”, disse a Sra. Birnbaum. “Eu estava no comitê que entrevistou ele. Ele causava uma boa impressão. Sim, nós fomos tapeados e traídos”.
Alguns pais começaram a circular uma petição para que o Sr. Tassone receba uma sentença mais dura. Ela será apresentada ao juiz na sessão de sentenciamento do Dr. Tassone, agendada para 29 de novembro.
Outros, entretanto, dizem que a reparação monetária do Dr. Tassone, sua cooperação na investigação que continua, e um mínimo de quatro anos na prisão estadual, parecem um pagamento justo por seu débito para com a comunidade.
“Não importa muito para mim se ele realmente está arrependido, ou só está dizendo que está”, disse Rebecca Katz-White, uma moradora e mãe que assistiu à sessão ontem. “Eu sou uma antiga advogada de defesa criminalística que já esteve em um estabelecimento correcional. Eu acho que quatro anos em uma prisão é um tempo grande, muito grande”.
Faiza Akhtar, em Roslyn, N.Y., contribuiu para este artigo.
Pelo menos, lá a “pizza” leva uns quatro anos para ser digerida… E não exite essa de “réu primário, com bons antecedentes”, respondendo ao processo em liberdade, até que se esgote o último dos trocentos recursos possíveis.
Como se depreende, o problema do Brasil não é a corrupção (que esta existe em todas as partes): é a impunidade!
Sobre furacões e aquecimento global
24 de Setembro de 2005
Então quem está certo no debate sobre as responsabilidades pelo Aquecimento Global?
Por ANDREW C. REVKIN
Com uma cidade americana afogada por um grande furacão e, então, por outro, menos de um mes depois, e com os meteorologistas federais “gaivotando” no fim da lista de 21 nomes anuais em uma prancheta, não é surpesa alguma que o debate sobre as responsabilidades sobre o aquecimento global tenha se inflamado.
Afinal, um dos sinais mais claros de que as ações humanas levaram o recente aquecimento além de seus ciclos naturais, é a medição feita na temperatura dos oceanos da Terra e o calor oceânico é o combustível que alimenta os furacões.
O assunto tem sido abordado de pontos de vista radicalmente diferentes. Por exemplo, o ex-Vice-Presidente Al Gore realizou uma “tournée” de contínuos discursos sobre a necessidade de cortar a emissão de poluentes que causam retenção de calor, enquanto o Senador James M. Inhofe, Republicano do Oklahoma, acusou os ativistas do meio-ambiente de fomentar medos infundados sobre o aquecimento causado pelos seres humanos.
Então, o que tem a dizer a ciência acerca das discussões sobre a mensagem enviada pelos furacões Rita e Katrina?
O que fica claro é que vários “experts” em oceanos e climas concordam que os oceanos tropicais se aqueceram de uma maneira que dificlmente pode ser atribuída a outra coisa diferente de um aquecimento generalizado do clima, causado pelo acúmulo de dióxido de carbono e outras emissões causadoras do efeito-estufa.
Para muitos cientistas meteorológicos e oceanógrafos fica claro, também, que oceanos mais quentes eventualmente aumentarão a intensidade dos ventos e das chuvas dos furacões, não necessariamente sua freqüência.
De fato, dois recentes estudos sobre furacões, feitos por diferentes cientistas, usando processos diferentes, declaram detetar um grande crescimento na intensidade dos furacões por todo o mundo, ao longo das muitas últimas décadas.
Porém os autores de ambas as análises reconheceram que necessitariam de mais dados para confirmar uma ligação entre isso e um aquecimento de origem humana. Essa nebulosidade aparece porque a relação entre o aquecimento de longo prazo do clima e dos mares somente é perceptível no estudo estatístico de dúzias de tempestades, não na origem ou no destino de qualquer tempestade em particular.
O crescimento e a trajetória de qualquer uma das tempestades são moldados pelas grandes variações naturais na atmosfera e nos oceanos, assim como eventos aleatórios, tais como a passagem de ambos os recentes furacões por cima de meandrosas ressurgências de águas incomumente quentes no Golfo do México.
“É uma coincidência de condições ideais”, disse Christopher W. Landsea, um “expert” em furacões do Laboratório Oceanográfico e Meteorológico do Atlântico, do Departamento do Comércio, próximo de Miami.
Kerry Emanuel, o autor de um dos recentes estudos que mostram a crescente intensidade, fez eco a vários colegas ao dizer que o impacto do aquecimento global provavelmente não iria se manifestar de maneira “preto-sobre-o-branco” que serviria como toque de rebate para os que buscam eliminar as emissões. Ao contrário, disse o Dr. Emanuel, um cientista atmosférico no “Massachussets Institute of Techniology”, isso vai emergir como se alguem tivesse sutil, porém progressivamente, viciado um par de dados.
E enquanto os “experts” continuam debatendo sobre se a cabeça da vaca causa o rabo, ou se a vaca é causada pela convergência do rabo com a cabeça, a dita cuja vai pro brejo…
E o mais triste é constatar que cientistas do calibre de um Luboš Motl classificam o Protocolo de Kioto como lixo científico (“junk science”). Para que gastar dinheiro com essas “frescuras”, em lugar de construir um acelerador de partículas mais poderoso?
O FMI e o desequilíbrio econômico mundial
Salve, Pessoal! Mais uma matéria interessante do New York Times na seção de economia sobre os desequilíbrios no consumo mundial. Lá vai a tradução:
22 de setembro de 2005
FMI Alerta para Desequilíbrio no Consumo Mundial
por EDMUND L. ANDREWS
WASHINGTON, 21 Set – Os Estados Unidos provavelmente experimentarão um crescimento econômico mais lento no ano que vem e sua dívida externa, rapidamente crescente, está no coração de perigosos desequilíbrios globais, disse o Fundo Monetário Internacional na 4ª feira.
O Fundo disse que o crescimento econômico global se tornou muito dependente de um punhado de países, liderados pelos Estados Unidos, que consomem muito mais do que produzem. Este desequilíbrio, alerta o Relatório Semestral sobre a Economia Mundial, pode levar a uma correção violenta.
Em uma evidente referência aos Estados Unidos, com seus grandes déficits orçamentários e desenfreados gastos em consumo, o FMI alertou para que o consumo mundial está “sendo alimentado por crescentes estímulos fiscais insustentáveis, bem como preços de moradia que estão ignorando a Lei da Gravidade”.
Mas o FMI também criticou abertamente a União Européia, dizendo que ela continuará a crescer em um passo anêmico, por não flexibilizar suas rígidas legislações trabalhistas e puxar as rédeas dos gastos com subsídios sociais.
“Os cidadãos Eurpeus não parecem estar convencidos de que o remédio amargo de reformas estruturais continuadas possam curar a parálise que aflige grande parte do continente”, disse Raghuram Rajan, Diretor de Pesquisas do Fundo. “É uma falha da política que as pessoas não cheguem a ver que, quanto mais eles quiserem manter o atraente estilo de vida Europeu, mais a maneira pela qual eles trabalham terá que mudar”.
No geral, o relatório prediz que o crescimento econômico americano vai diminuir para 3,3% em 2006, dos 3,5% deste ano. As economias das 12 nações que usam o Euro como moeda comum, vai se expandir apenas 1,8% no próximo ano, prediz o relatório, mais, porém, do que os 1,2% em 2005.
O Japão, que teve um crescimento real muito pequeno ao longo da última década, foi uma das poucas nações industrializadas cujas previsões de crescimento foram revistas para cima. Com sinais de que a longa batalha do Japão contra a deflação está quase no fim e o consumo, subindo, o Fundo diz que a economia japonesa deve crescer cerca de 2% no ano que vem. Seis meses atrás, a previsão era de crescimento zero para o Japão.
Os economistas do FMI indicaram que eles não esperam que os efeitos do Furacão Katrina deixem marcas profundas na economia americana, reduzindo o crescimento, segundo suas estimativas, em um décimo de ponto percentual.
Mas eles expresaram uma preocupação considerável quanto ao impacto dos altos preços do petróleo, que subiu mais de US$ 20 por barril este ano e tem estado acima de US$ 60 desde o início de Agosto (o petróleo fechou em Nova York, na 4ª, a US$ 66,80). Na verdade, o Fundo alertou para que outra alta nos preços do petróleo, talvez até US$ 80, continuava sendo possível.
No relatório, divulgado em antecipação das reuniões anuais das Diretorias do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, o fundo alardeou seus alertas anteriores acerca dos desequilíbrios globais.
O défcit nos balanços das contas de comércio exterior dos Estados Unidos é estimado em cerca de US$ 700 bilhões e ficar em torno de 6% do PIB. Dito de outra forma, os Estados Unidos estão absorvendo uma porção recorde do dinehiro das poupanças e investimentos mundiais. Tal como no passado, o Fundo diz que o desequilíbrio financeiro americano tem sido agravado pelos grandes déficits orçamentários.
Mesmo sem os grandes gastos do tesouro americano esperados para a reconstrução das áreas atingidas pelos furacões, disse o FMI, a meta da administração Bush para a redução do déficit permaneceu “desambicioso”.
O Presidente Bush e os Republicanos no Congresso começaram a propor cortes nos gastos para compensar parte dos gastos com o furacão e as enchentes. Mas as autoridades da administração continuavam, na 4ª feira, a sustentar que os cortes de impostos do Sr. Bush se tornassem permanentes, o que custaria, ao menos, US$ 1,4 trilhões em um prazo de dez anos, e se recusam a retardar o início do programa de distribuição de medicamentos (“Medicare”) que se estima que vá custas cerca de US$ 45 bilhões por ano.
“Nós queremos estar certos de que a maneira pela qual nós vamos tratar dos desequilíbrios, maximize o crescimento”, declarou Timothy D. Adams, sub-secretário do Tesouro para Assuntos Internacionais. “É uma resposabilidade partilhada”.
O relatório do FMI concorda com isso, ao menos em parte. Ele atribui grande parte do aumento do desequlíbrio global aos países europeus e asiáticos, observando que a demanda doméstica na Europa permanece fraca, deixando os Estados Unidos como a locomotiva mundial para o crescimento do consumo. E alerta para que esta fraqueza européia a torna mais vulnerável a choques oriundos dos preços do petróleo ou uma grande mudança nas taxas de câmbio.
Até que, enfim, alguém reparou no fato de que qualquer nação não pode gastar mais do que ganha, inclusive os países do “Primeiro Mundo”.
Ou eu sou muito paranóico, ou a China está preparando um golpe de mestre: vão acabar deixando os EUA (e todos os panacas que forem na onda dos americanos) pendurados na broxa, enquanto levam a escada embora. Eles estão absorvendo toda a tecnologia de ponta e, de uma hora para outra, podem fechar a fronteira de novo. Afinal, um quinto da humanidade é chinesa. Dos outros quatro quintos, uns três são de fudidos terceiro-mundistas que podem, perfeitamente, mudar o padrão de moeda de dólar para yuan rapidinho…
Os americanos são cada vez menos “donos” da própria economia. Eu não espero estar vivo para ver, mas vocês, mais jovens, deveriam começar a aprender Mandarim…
A Amazônia é um lugar de “altos e baixos”…
Alô, Pessoal! Uma curiosidade sobre nosso país foi publicada no Boletim Physics News Update n° 746 de 21 de setembro de 2005. Lá vai a tradução:
A PESAGEM DO RIO AMAZONAS foi conseguida através da medição da subida e descida da crosta terrestre com uma unidade de GPS (Global Positioning Service). ao longo de vários anos, à medida em que o Rio enche e vaza durante seus ciclos sazonais. O sistema GPS, através de sua rede de satélites e sinais cuidadosamente sincronizados, graças à extrema precisão de seus relógios atômicos, pode fornecr informações sobre o posicionamento na superfície da Terra com uma incerteza horizontal de cerca de 1 mm e uma incerteza vertical de cerca de 9 mm. Medições repetidas, feitas ao longo de vários anos, dão medições de deslocamentos para qualquer ponto com uma precisão de cerca de 1 mm/ano. Ao redor do vasto mundo, a movimentação típica para baixo ou para cima é, em média de 2 a 10 mm/ano. Mas em grandes áreas de drenagem tropicais, com grandes volumes de água comprimindo o talvegue de um rio e as áreas alagáveis, a oscilação pode ser maior. De fato, a amplitude entre os picos relatados, nesta medição em particular, chega a uma variação de 50 a 70 mm/ano. Quando o Rio está cheio, a terra afunda. Mais tarde, quando o nível do Rio baixa, a terra “desamassa”. Os cientistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) (ambos do Brasil), em conjunto com a Universidade Estadual de Ohio, da Universidade de Menphis e da Universidade do Hawaii (todos dos EUA), registraram o maior deslocamento em Manaus, AM. Um dos pesquisadores, Michael Bevis, da Universidade Estadual de Ohio, declarou sua surpresa com a magnitude da oscilação (Bevis et al., Geophisical Research Letters, de 15 de setembro de 2005)
Pode parecer um dado apenas curioso, mas essa grande oscilação na superfície da crosta terrestre provavelmente deve ter alguma influência sobre os movimentos das Placas Tectônicas da América do Sul, o que seria um dado a mais para a análise dos raríssimos movimentos sísmicos na Placa Continental Brasileira. E, em matéria de terremotos, já nos basta os produzidos em Brasília…
Não fui eu quem disse. Foi o London Times:
Alô, pessoal! Para quem acha que a violência no Brasil está fora de controle, que estamos a beira de uma guerra civil, e, principalmente, para os que advogam a proibição da comercialização das armas de fogo, como se isso fosse resolver os problemas da violência no Brasil, eu tive a paciência de traduzir esse pequeno artigo do The London Times:
19 de setembro de 2005
A Escócia no topo da lista dos países mais violentos do mundo
Por Katrina Tweedie
Um relatório da ONU rotulou a Escócia como o país mais violento do mundo desenvolvido, onde a probabilidade das pessoas serem atacadas é três vezes maior do que na América.
A Inglaterra e País de Gales registraram o segundo maior número de assaltos violentos, enquanto a Irlanda do Norte registrou o menor.
O estudo, baseado em entrevistas pelo telefone com vítimas de crimes de 21 países, descobriu que mais de 2.000 escoceses são atacados a cada semana, quase dez vezes mais do que os números oficiais da polícia. Isto inclui crimes não-sexuais de violência e ataques graves.
O crime violento dobrou na Escócia nos últimos 20 anos e os níveis, em termos de densidade demográfica, são comparáveis aos de cidades como Rio de Janeiro, Johannesburg e Tbilisi. (o grifo é do tradutor)
Os ataques têm sido alimentados por uma cultura de “bebida e lâminas” (N.T: no original: “booze and blades”) no Oeste da Escócia, que tirou mais de 160 vidas nos últimos cinco anos. Desde Janeiro, ocorreram 13 assassinatos, 145 tentativas de assassinato e 1.100 ataques graves, envolvendo facas no Oeste da Escócia. O problema é agravado pela violência do tipo sectário, com os hospitais relatando um número maior de atendimentos depois de partidas da “Old Firm”. (N.T: os clubes de futebol “Rangers” e “Celtic”).
David Ritchie, um consultor de acidentes e emergências na “Victoria Infirmary” de Glasgow, disse que esses números são uma desgraça nacional. “Eu fico embaraçado, como escocês, de que estejamos vendo este nível de violência. Os políticos têm que fazer algo a respeito deste problema. Isto é uma séria questão de saúde pública. A violência é um câncer nesta parte do mundo”, declarou ele.
O Superintendente Detetive-Chefe John Carnochan, chefe da unidade de redução da violência da Polícia de Strathclyde, disse que o problema era crônico e que a redução do acesso a bebidas e a limitação da venda de facas, ao menos reduziriam o problema.(o grifo é do tradutor)
O estudo, realizado pelo instituto de pesquisas criminais da ONU, descobriu que 3% dos escoceses foram vítimas de ataques, comparados aos 1,2% na América e aos somente 0,1% no Japão, 02,% na Itália e 0,8% na Áustria. Na Inglaterra e no País de Gales os números são de 2,8%.
A Escócia ocupa a oitava posição no total de crimes, 13ª em crimes contra o patrimônio, 12ª em roubos e 14ª em ataques sexuais. A Nova Zelândia foi a primeira em crimes contra o patrimônio e ataques sexuais, enquanto a Polônia é a 1ª em roubos.
O Condestável-Chefe Peter Wilson, presidente da Associação dos Chefes de Polícias da Escócia, questionou os números. “Deve ser quase impossível comparar o número de ataques, de um país para outro, com base em entrevistas por telefone”, disse ele.
“Nós temos realizado extensas pesquisas sobre o crime violento na Escócia, há alguns anos, e isso mostrou que, na vasta maioria dos casos, as vítimas de crimes violentos se conhecem. Nós aceitamos, entretanto, que, a despeito de suas chances de ser vítima de um ataque na Escócia sejam baixas, existe um real problema”.
Ora, ora… quem diria… quer dizer que miséria, falta de educação, de condições de cidadania, enfim, não são os únicos motivos para a violência urbana, afinal!…
E que quem não tem arma de fogo, usa arma branca, mesmo… (afinal, a vítima, no máximo, tem outra faca…)
Como eu já disse alhures: “todo problema complexo tem uma solução simples, elegante e errada!
Estados Unidos da Vergonha…
Salve, Pessoal!
Este artigo está no top dos most emailed do New York Times, desde que foi publicado em 3 de setembro. Para quem não tem saco para ler em inglês, o besta aqui fez uma tradução. Os trechos em [itálico] são meus. Lá vai:
3 de setembro de 2005
Estados Unidos da Vergonha
por MAUREEN DOWD
Coisas acontecem.
E, quando você combina um governo limitado com um governo incompetente, coisas letais acontecem.
A América está de novo mergulhada em um poço de serpentes com anarquia, morte, pilhagens, bandos de malfeitores fazendo incursões, inocentes sofrendo, uma infra-estrutura aos pedaços, uma força policial impotente, quantidades de tropas insuficientes e planejamento governamental criminosamente negligente. Mas, desta vez, isto está acontecendo na América.
W. trouxe seu Chevy “corta-orçamentos” para os diques e eles não estavam secos. Bye, bye, vidas americanas [isto é um trocadilho, intraduzível com a letra da música “The day the music has died”]. “Eu não acho que ninguém pensou que os diques pudessem se romper”, disse ele a Diane Sawyer.
Com as mangas arregaçadas, W. finalmente pousou no Inferno, ontem, e falou sorridente de seus dias de bebedeiras na “grande cidade” de “N’Awlins”. Ele estava visivelmente emocionado. “Vocês sabem, eu vou ter que voar para longe daqui em um minuto”, disse ele na pista do Aeroporto Internacional de Nova Orleans, “mas eu quero que vocês saibam que eu não vou esquecer o que eu vi”. Fora do alcance das câmeras, e evitado por W., estava um comboio de milhares de pessoas doentes e à morte, alguns espalhados pelo chão ou empilhados em carrinhos de bagagens em um Hospital de Campanha improvisado [o termo em inglês é “makeshift M*A*S*H*”] dentro do terminal.
Por que será que esse arrogante presidente, tipo “nós podemos”, sempre recai nessas velhas desculpas do tipo “quem podia saber disso”?
Quem na face da Terra poderia saber que Osama bin Laden queria nos atacar, jogando aviões contra edifícios? Qualquer autoridade que tivesse se incomodado de ler e interpretar os relatórios de inteligência antes de 11 de setembro.
Quem na face da Terra poderia saber que uma invasão americana ao Iraque iria levantar uma brutal insurgência, um “boom” de recrutamento de terroristas e uma possível guerra civil? Qualquer autoridade que se desse ao trabalho de ler os relatórios pré-guerra da CIA.
Quem na face da Terra poderia saber que os diques avariados de Nova Orleans corriam risco de não agüentar um forte furacão? Qualquer um que se desse ao trabalho de ler os inúmeros avisos, ao longo dos anos, sobre a situação [em inglês: “the Big Easy’s uneasy fishbowl”].
Em Junho de 2004, Walter Maestri, Chefe da Defesa Civil [“emergency management chief”] da Paróquia [equivalente a uma administração municipal na Louisiana] de Jefferson, se queixava ao Times-Picayune [jornal local] de Nova Orleans: “Parece que o dinheiro desapareceu no Orçamento do Presidente para a Segurança Nacional e a Guerra no Iraque, e eu acho que esse é o preço que temos que pagar. Ninguém, aqui, está feliz com o fato de que os diques não possam ser terminados e estamos fazendo tudo o que podemos para o caso de que isso se torne uma questão de segurança para nós”.
Não somente o dinheiro foi desviado para a loucura de Bush no Iraque; 30 por cento da Guarda Nacional e cerca de metade de seu equipamento estão no Iraque.
Ron Fournier da Associated Press relatou que o Corpo de Engenharia do Exército [nos EUA, a Engenharia do Exército é a responsável por todas as obras em aquavias interiores] pediu US$ 105 milhões para programas para prevenção de furacões ou inundações em Nova Orleans, no ano passado. A Casa Branca reduziu-os a cerca de US$ 40 milhões. Mas o Presidente Bush e o Congresso concordaram com projeto superfaturado de US$ 286,4 bilhões para uma estrada, com 6.000 pequenos projetos, inclusive uma ponte de US$ 231 milhões para uma pequena e desabitada ilha no Alaska.
Ainda no ano passado, as autoridades da Agencia Federal de Controle de Emergências [Federal Emergency Management Agency = FEMA] ensaiaram como responderiam a um furação fictício que causaria inundações e isolaria os moradores de Nova Orleans. Imaginem como seria ridícula a resposta da FEMA à Katrina se eles não tivessem ensaiado.
Michael Brown, o idiota chapado encarregado da FEMA – um cargo para o qual ele se capacitou por dirigir algo chamado Associação Internacional de Cavalos Árabes – admitiu que ele não sabia, até a 5ª feira, que havia 15.000 vítimas da Katrina, desesperadas, desidratadas, famintas, enraivecidas e à morte no Centro de Convenções de Nova Orleans.
Ele foi demitido instantaneamente? Não, nosso presidente, que só escuta o que quer [em inglês: “tone deaf”], elogiou-o em Mobile, Alabama, ontem: “Brownie, você está fazendo um trabalho dananado de bom”.
Seria uma outra coisa se ao Presidente Bush e seu círculo interno — Dick Cheney estava de férias no Wyoming; Condi Rice estava comprando sapatos na Ferragmo da 5ª Avenida e antendeu “Spamalot” antes que os bloggers a caçassem de volta a Washington; e Andy Card estava fora, no Maine — faltasse a empatia, mas pudessem fazer o trabalho. Mas é uma assustadora falta de empatia, combinada com uma espantosa falta de eficiência que poderia fazer esta administração implodir.
Quando o presidente e o vice-presidente rudemente sacudiram nossos aliados e nosso respeito às leis internacionais para perseguir uma guerra constuída sobre mentiras, quando eles sancionaram a tortura, eles abalaram a fé do mundo nos ideais americanos. Quando eles se mostraram surdos por tanto tempo à horrorosa miséria e aos gritos por socorro das vítimas de Nova Orleans — a maioria delas pobres e negras, tais com aquelas enfiadas no final das filas de evacuação ontem, enquanto os 700 hóspedes e empregados do Hotel Hyatt eram embarcados antes nos ônibus — eles abalaram a fé de todos os americanos nos ideais americanos. E nos envergonharam.
Quem somos nós, se não podemos cuidar dos nossos?
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