Nova partícula observada no LHC


Traduzido de: When Protons Collide: New Particle Observed at Large Hadron Collider

A busca pelo Bóson de Higgs revela uma nova partícula

Illustration of two gamma rays, yellow lines, and red towers measured in eletromagnetic calorimeter.Um evento candidato típico da Experiência CMS (Compact Muon Solenoid) na busca pelo Bóson de Higgs.
Crédito e imagem ampliada

4 de julho de 2012

Os físicos do LHC (Large Hadron Collider) observaram uma nova partícula e futuras análises podem demonstrar que se trata do longamente procurado Bóson de Higgs, a peça que faltava no Modelo Padrão da física de partículas.

Em dezembro último,  os experimentos CMS e ATLAS já haviam anunciado fortíssimos indícios da descoberta de uma nova partícula em sua busca pelo Higgs. Desde então, a quantidade de dados coletados mais do que dobrou, o que levou ao anúncio de hoje (4 de julho). No esforço internacional estão envolvidos mais de 1.700 cientistas, engenheiros, técnicos e estudantes de pós-graduação, somente nas instituições dos EUA, que ajudaram a projetar, construir e operar o acelerador LHC e seus quatro detectores de partículas.

Os cientistas nas experiências no LHC anunciaram seus mais recentes resultados em um seminário na sede do LHC, o laboratório do CERN, na fronteira de França e Suíça. Físico por todos os Estados Unidos se reuniram em seus laboratórios durante a noite para assistir um streaming ao vivo do seminário. Os cientistas ainda fariam uma apresentação mais detalhada na Conferência Internacional de Física de Altas Energias (bi-anual) que este ano se realiza em Melbourne, Australia.

“O que foi anunciado hoje não poderia ter sido conseguido sem a cooperação dos cientistas e das nações por todo o mundo na busca da compreensão das leis fundamentais da natureza”, declarou Ed Seidel, diretor-assistente para as Ciências Físicas e Matemáticas da NSF. “Se a partícula anunciada hoje no CERN for confirmada como sendo o Bóson de Higgs, isto representará uma pedra fundamental em nosso conhecimento das forças elementares e suas partículas que existem em nosso universo”.

Ao longo de mais de quatro décadas de testes experimentais, os pesquisadores descobriram que o Modelo Padrão da física de partículas tinha previsto corretamente e explicado as forças e partículas elementares da natureza. Mas o Modelo Padrão não pode explicar, sem o Bóson de Higgs, como a maioria dessas partículas adquire massa, um ingrediente chave na formação de nosso universo.

Em 1964 os cientistas propuseram a existência de uma nova partícula, agora conhecida como o Bóson de Higgs, cujo acoplamento com outras partículas determinaria suas massas. Diversos experimentos procuraram pelo Bóson de Higgs, mas ele sempre escapou da detecção. Somente agora, após décadas de desenvolvimento nas tecnologias de aceleradores, detectores e computação – isso sem mencionar os avanços na compreensão do restante do Modelo Padrão – os cientistas estão próximos do momento de saber se o Higgs é a solução correta para o problema.

“Até agora a teoria vem nos guiando”, declarou o físico da Universidade da California em Santa Barbara, Joe Incandela, porta-voz da experiência CMS. “Se começarmos a ver algo em nossa experiência, teremos um novo guia. É a natureza. É a coisa real”.

Quando os prótons colidem no Large Hadron Collider, sua energia pode se converter em massa, criando frequentemente partículas de vida breve. Essas partículas decaem rapidamente em partículas mais leves e mais estáveis que os cientistas podem registrar em seus detectores.

Os físicos teóricos previram a taxa de produção do Bóson de Higgs em colisões próton-próton em altas energias no LHC, assim como eles decairiam em certas combinações de partículas observáveis. Os físicos experimentais na ATLAS e CMS estudaram essas colisões e obtiveram indícios da existência de uma nova partícula que decai de modo consistente com as previsões feitas para o Higgs. Eles terão que coletar mais dados e realizar mais análises para estabelecer as propriedades dessa nova partícula.

“Se o Bóson de Higgs for descoberto, a atenção se voltará para uma nova série de questões importantes”, diz o físico da Universidade da California em Irvine, Andy Lankford, porta-voz auxiliar da ATLAS. “Esta nova partícula é o Higgs do Modelo Padrão, ou é uma variante que indica uma nova física e outras novas partículas?”

A descoberta do Higgs – ou uma outra nova partícula – representaria apenas um novo primeiro passo para um novo reino da compreensão do mundo que nos cerca.

-NSF-

Físicos detectam uma nova partícula pesada

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Um evento de colisão próton-próton na experiência CMS, produzindo dois fótons de alta energia (os traços grossos em vermelho). Isso é o que se pode esperar do decaimento de um Bóson de Higgs, mas também é consistente com outros processos físicos mais comuns.
Crédito da Imagem: CERN. © CERN 2012

A assinatura se parece com o longamente procurado Bóson de Higgs.

4 de julho de 2012
Por: Virat Markandeya, Contribuidor do ISNS

(ISNS) — Cientistas de duas experiências no Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider = LHC) na Eurpoa confirmaram a existência de uma nova partícula pesada, muito provavelmente a longamente procurado Bóson de Higgs, graças aos dados de colisões de partículas que resultaram em uma certeza a nível de descoberta, após análise. Os resultados, anunciados em uma importante conferência sobre física de partículas em Melbourne, Australia, marcam o ápice de uma busca por uma partícula pesada que, se acredita, é quem dá a massa a outras partículas elementares tais como elétrons e quarks.

O anúncio representa a mais recente proeza do acelerador de partículas de 9 bilhões de dólares na fronteira franco-suíça, que esmaga partículas subatômicas – mais exatamente prótons – em energias extremamente altas para recriar as condições que se pensa ter existido nas frações de segundo que se seguiram ao Big Bang.

“Para mim, a coisa mais incrível é que tenha acontecido durante minha vida”, declarou Peter Higgs, o teórico britânico de quem a partícula tem o nome e que estava presente na conferência e por vezes parecia sufocado pela emoção. As ideias estavam no ar quando Higgs escreveu um breve artigo de duas páginas em 1964 que fez com que a partícula fosse apelidada de “Bóson de Higgs”. O Higgs era a última partícula ainda não descoberta prevista pelo Modelo Padrão, a teoria básica das partículas e forças da natureza, e que guarda a promessa da revelação de novos fenômenos físicos.

Foi a realização para uma geração de cientistas. “Lágrimas me vieram aos olhos quando o número 5-Sigma apareceu”, diz Howard Gordon do Laboratório Nacional de Brookhaven, que é o Gerente Assistente de Programa da experiência ATLAS para os EUA no LHC. O contingente americano da ATLAS, baseado em Brookhaven e constituído por mais de 700 pessoas de 44 instituições, auxiliou a construir vários de seus detectores e maneja cerca de 20% do esforço mundial de computação envolvido na simulação e análise dos dados do ATLAS.

As duas experiências, CMS e ATLAS, analisaram dados de decaimento de partículas de aproximadamente 500 trilhões de colisões.  Joe Incandela, porta-voz da experiência CMS, explica que, se você imaginar cada colisão como um grão de areia, você teria areia bastante para encher uma piscina olímpica. No entanto, as colisões relacionadas com o Higgs são tão raras que os grãos de areia só cobririam a ponta de um dedo.

Na conferência ICHEP2012 nesta manhã, ambos os grupos relataram “bumps” em seus dados de colisões que indicam a presença de uma partícula com uma massa no entorno de 125-126 bilhões de elétrons-volt (abreviadamente, GeV). Isso é uma massa mais de cem vezes maior do que a do próton, o núcleo de um átomo de hidrogênio que tem apenas cerca de 1 GeV.

Cada uma das experiências do LHC confirmou esses resultados até cerca de 5-sigmas de certeza, o que indica que há uma probabilidade menor do que uma em um milhão de que esses dados sejam meras coincidências, resultantes de algo diferente da presença de uma nova partícula.

“Temos uma nova partícula consistente com um Bóson de Higgs”, declarou Rolf-Dieter Heuer, Diretor-Geral do CERN.

A nova partícula foi detectada a partir dos chuveiros de partículas nas quais ela decai. O Modelo Padrão prediz que o Higgs pode decair em pares de cerca de meia dúzia de tipos de partículas, porém outros tipos mais comuns de matéria podem também apresentar decaimentos semelhantes. Assim, os físicos experimentais têm que rastrear os eventos em cada uma das maneiras nas quais o Higgs pode decair e procurar por excessos inesperados nesses eventos. Mal comparando, é como lançar um dado milhares de vezes para saber se ele está viciado.

A experiência CMS estudou cinco canais de decaimento dos quais dois, onde o decaimento é em um par de fótons ou de partículas conhecidas como Bósons Z, são os mais importantes, porque permitem uma medição precisa da massa do Higgs. A significância combinada do sinal em todos os cinco foi de 4,9 sigma.

A experiência ATLAS estudou dois canais principais onde a partícula tipo-Higgs decai em dois fótons ou quatro léptons, uma categoria de partículas como elétrons e múons. Ela encontrou uma assinatura no entorno de 125 GeV com uma significância de 5 sigma, combinando os dados dos dois tipos de evento.

“É muita gentileza do Bóson de Higgs do Modelo Padrão ter uma massa nesse nível”, declarou a porta-voz do ATLAS Fabiola  Gianotti, porque o LHC é bem adequado para o estudo de partículas nessa faixa de massa. “Então, obrigado, natureza”, acrescentou ela.

Esses resultados se seguem a dados anteriores do LHC e do anúncio feito na segunda-feira pelo Fermilab em Illinois dos indícios, extraídos do menos potente e agora aposentado acelerador Tevatron, para a mesma partícula em um nível de 3 sigma.

O mecanismo de Higgs responde a pergunta fundamental: por que a maior parte das partículas elementares têm massa? Sem o Higgs, tudo, de estrelas a átomos, não existiria. Ele era a peça que faltava no Modelo Padrão. Partículas elementares, tais como elétrons e quarks, interagem com o Campo de Higgs e essa interação cria suas massas.

Os resultados de hoje representam “uma conquista maravilhosa, a pedra angular de 400 anos de esforços para explicar o que observamos no universo”, declarou Gordon Kane, um físico teórico da Universidade de Michigan que não trabalhou nos experimentos. Segundo ele, os dados sugerem uma partícula que é notavelmente semelhante ao Bóson de Higgs previsto pelo Modelo Padrão. O tempo dira – ainda segundo ele – se as pequenas discrepâncias que ainda existem entre os dados e as previsões do Modelo Padrão são erros experimentais ou se elas apontam para uma nova física além do Modelo Padrão. Caso confirmadas, até as pequenas discrepâncias do Modelo Padrão podem abrir o caminho para uma nova física e podem ser consistentes com as predições de extensões maiores do Modelo Padrão, tais como a Teoria das Cordas.

Esta última fatia representa apenas um terço dos dados que se espera obter do ATLAS em 2012. Os atuais resultados devem ser publicados no fim de julho. “Ainda há mais por vir…Por favor, especialmente os teóricos, sejam pacientes. Ainda há um longo caminho a percorrer”, admoestou de brincadeira o porta-voz do ATLAS Gianotti.

Os resultados vieram com as últimas séries de experimentos que terminaram cerca de duas semanas atrás. Os anúncios foram recebidos com ovações de pé e um número surpreendentemente pequeno de perguntas ao fim das apresentações científicas.

Um número maior de perguntas veio dos repórteres leigos em uma conferência de imprensa após o seminário. Um repórter perguntou se os resultados teriam qualquer relevância para ele, já que ele era feito de partículas elementares.

“Eu acho que é muito relevante para você”, disse Heuer, o Diretor-Geral do CERN, “porque se isso [o Campo de Higgs] não existisse, você não existiria”.


Virat Markandeya é um escritor contribuinte do Inside Science News Service.

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