Uma gota de determinismo para a física quântica (mas, será mesmo?…)

Gotas causando ondulaçõess. Cortesia Shutterstock

Gotas causando ondulações.

Imagem cortesia de Shutterstock

Uma das coisas mais abracadabrantes para nós leigos é a tal “dualidade onda-partícula“. Um raio de um elétron parece estar em todos os lugares (na verdade não é mesmo “em todos os lugares”; apenas “em qualquer lugar de um determinado volume de espaço-tempo) enquanto ninguém está olhando, se comportando como uma onda (descrita por equações que definem o tal volume definido de espaço-tempo).

Mas basta você observar (entenda-se: “fazer uma medição”) o tal elétron e ele se comporta como um corpúsculo com carga elétrica, momento, momento angular e tal e coisa… Os budistas sustentam que “tudo é ilusão e impermanente”, mas isso já levar as coisas para o lado do misticismo. Além do que, experimente por sua mão em um fio “vivo” e desencapado que os elétrons vão mostrar para você que são bem reais e dolorosos.

No entanto, eu aprendi em meu curso secundário que esta tal dualidade onda-partícula foi uma ideia sugerida pelo físico francês Louis de Broglie e mais tarde, lendo um livro do próprio de Broglie sobre o assunto, ele meio que assume a paternidade deste abracadabra. Só que não é exatamente verdade que de Broglie julgasse que elétrons e outros “bixos” fossem mesmo ora onda, ora partícula. Ele, na verdade, propunha que as partículas andavam à deriva sobre as ondas do campo correspondente (o que implicava na existência de “variáveis ocultas”), algo assim como escolhos à deriva sobre as ondas do mar (é sempre bom lembrar que as ondas do mar são algo bidimensional e as ondas dos campos das forças fundamentais são tri(tetra)dimensionais).

Ao fim de muita discussão, prevaleceu o que se chama de “Interpretação de Copenhagen”, formulada por Niels Bohr e Werner Heisenberg que, em suma, diz que uma partícula é apenas uma probabilidade até que interaja com outra, quando passa por um “colapso da função de onda”. Essa interpretação levou a algumas críticas fortes – a mais conhecida é o “Gato de Schrödinger”, onde o gato está vivo e morto ao mesmo tempo, enquanto não se abrir a caixa – mas uma suposta “prova”, encontrada por John von Neumann, da impossibilidade de existirem “variáveis ocultas”, foi alegremente aceita, sem maiores exames (mais de 30 anos depois, descobriram que von Neumann estava errado, mas azeite, azar, azia…).

Em 1952 o Físico David Bohm ressuscitou a teoria das ondas-piloto, mas a comunidade da física não recebeu muito bem suas propostas. Afinal, a Equação de Schrödinger funciona muito bem e a Mecânica proposta por Bohm pressupõe que o comportamento das partículas é influenciado, ao fim e ao cabo, por todo o universo (o que parece misticismo e, com efeito, foi alegremente recebido por diversos místicos).

A famosa “dupla-fenda”

Experiência da dupla fenda. Imagem de Wikimedia Commons. (por Lookang com agradecimentos a Fu-Kwun Hwang e o autor do Easy Java Simulation = Francisco Esquembre).

Uma famosa “prova” da dualidade onda-partícula é a “dupla fenda“. Um feixe de elétrons é disparado contra uma antepara onde há duas fendas que permitem que alguns elétrons passem e, depois, se choquem contra uma tela sensível. Imediatamente se forma um padrão de interferência, como se ondas se reforçassem ou anulassem mutuamente. Mas, quando se cria um dispositivo para identificar a fenda por onde os elétrons passaram, o padrão de interferência desaparece.

Bom… A “pegadinha” é que se trata de um feixe de elétrons, não de um elétron isolado. A ideia de que “o elétron interfere com ele próprio” é “licença poética”. As ondas dos lugares geométricos, definidos pela equação de onda do elétron é que interferem entre si. Quando se identifica a fenda por onde passa cada elétron, na verdade você está interceptando o feixe e, é óbvio, não há mais “onda” alguma; há partículas.

O mesmo tipo de experimento funciona com fótons (e isso vai causar um probleminha para a novidade descrita a seguir).

Uma gota “quântica”

Agora, pesquisadores em Paris realizaram uma série de experiências fazendo vibrar uma superfície banhada com óleo de silício e descobriram que, em uma frequência particular, uma gotícula começa a saltar pela superfície do óleo. E que a trajetória dessa gotícula é guiada pelo contorno ondulado do banho, gerado pelas ondas causadas pela própria gotícula: uma interação entre onda e partícula muito semelhante àquilo proposto por de Broglie e suas ondas-piloto.

Na interpretação de de Broglie – Bohm, cada elétron passa através de uma única fenda, carregada por uma onda-piloto que – ela sim – passa pelas duas fendas ao mesmo tempo. Tal como uma série de escolhos levados a uma praia pelas ondas do mar que tivessem que, antes de chegar à praia, passar por uma barreira com duas fendas. Cada um dos objetos flutuantes passaria por apenas uma das fendas e iriam se distribuir, depois delas, segundo o padrão de interferência dessas ondas.

Os resultados finais são os mesmos: a Mecânica de Bohm é tão capaz de prever onde cada elétron vai passar como a Mecânica Quântica “Tradicional” (ou seja: não é capaz). A distribuição dos efeitos é sempre uma função estatística.

As gotículas também parecem capazes de reproduzir o “Efeito de Túnel“, formarem “Partículas Compostas“, em órbitas mutuamente estáveis, e exibir comportamentos análogos ao spin quântico e à atração eletromagnética. Quando confinadas a “currais” (áreas circulares cercadas), formam anéis concêntricos muito semelhantes às ondas estacionárias geradas por elétrons confinados em “currais quânticos”.

A coincidência das ondas estacionárias é surpreendente, não é mesmo?

Eu adorei a ideia de poder imaginar as partículas subatômicas como verdadeiras partículas, surfando sobre as ondas do espaço-tempo causadas pelos campos fundamentais.

Só que me dei conta que, no caso do fóton, a própria onda é a “partícula”. E lá se foram pelo ralo todas as lindas analogias…


Fonte: Fluid Tests Hint at Concrete Quantum Reality, Quanta Magazine; também publicado na Wired com o título Have We Been Interpreting Quantum Mechanics Wrong This Whole Time?

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