Resenha de Livro: “A África, Explicada para Meus Filhos”
Já era para eu ter publicado esta resenha… O livro de Alberto da Costa e Silva, veterano Diplomata (foi Embaixador do Brasil na Nigéria e no Benim) e autor de outros livros que eu pretendo ler, sobre o continente-berço da humanidade, é dirigido ao público infanto-juvenil, portanto é apresentado sem uma ordem histórico-cronológica formal — um pouco ao estilo de Lobato, em “Os Serões de Dona Benta”. Mas a abordagem menos acadêmica é até uma vantagem, porque parte exatamente dos “todo o mundo sabe que” deturpados pela visão eurocentrista com que se estuda a história nos colégios.
E, ao mesmo tempo, cuidadosamente desmistifica a “África Ancestral” popularizada pelos descendentes dos escravos que vieram para o Brasil, estudando as profundas diferenças étnico-culturais da África Sub-Sahariana, seu modo de vida e explicando de maneira clara e sem “ornamentos” de pieguice o real significado da colonização européia (e da muito anterior interação com o mundo muçulmano) e seu impacto sobre as diferentes culturas.
Em suma: um livro bem escrito (por falar nisso, o autor é membro da Academia Brasileira de Letras), em linguagem acessível e que, sem grandilouqüências, dá um pano de fundo bastante acurado, uma análise desapaixonada e isenta de ideologias dos processos de interação das sociedades africanas com as civilizações muçulmana e cristã, e permite uma melhor compreensão do atual quadro caótico predominante no continente.
Eu recomendo enfaticamente esse livro, tanto para o público-alvo infanto-juvenil, quanto para nós, mais velhos, que aprendemos uma história deturpada pelo eurocentrismo, onde a África era apenas “um lugar de onde vinham os escravos negros”, como antes tinha sido apenas “um empecilho a contornar para atingir as Índias” na época das “Grandes Navegações” (e não é de estanhar que uma caipira do Alasca ignorasse que a África é um Continente… eu me arrisco a dizer que a maioria de nossos afro-descendentes brasileiros têm uma impressão igualmente nebulosa sobre a “Mãe África”, misturando os mitos dos Orixás e Nkisis livremente, e fantasiando uma “liberdade” absoluta, onde o que havia era sociedade extremamente tribal com “fronteiras” fluidas, fortemente ditadas por uma geografia de grandes contrastes).
Ficha Técnica:
Silva, Alberto da Costa e, 1931- . A África explicada a meus filhos. Rio de Janeiro, Agir (do Grupo Ediouro), 2008 (1ª Edição) (Sexto livro da coleção “Explicado a meus filhos”) 160 pp.
O exemplar foi uma cortesia da Editora.
“Por Dentro da Ciência” do Instituto Americano de Física (17/12/08)
Relatório Sobre Armamento Nuclear Pede que os EUA Retomem a Liderança Mundial
Pelo ISNS
Washington, DC — Um grupo de organizações líderes da ciência por todo o país divulgou um relatório que recomenda políticas sobre armamentos nucleares para o futuro presidente, a fim de fornecer ao mesmo um “mapa dos caminhos” [N.T: “road map”, no original] baseado em ciência sólida [N.T: “solid science”, no original].
“Existe muita incompreensão e discordância acerca é a política nuclear com respeito a nossos adversários, nossos aliados, nosso arsenal e a infraestrutura necessária para cuidar dele”, declarou John Browne, antigo diretor do Los Alamos National Laboratory e membro do “grupo de trabalho” que escreveu o relatório. “Até entre as Forças Militares estão divididas sobre o quão importantes essas armas são”.
O relatório, Nuclear Weapons in 21st Century U.S. National Security (Armas Nucleares na Segurança Nacional no Século XXI), aborda essas e outras questões que têm sido o âmago do debate sobre armas nucleares, e propõe opções sobre o que o governo Obama deve e o que não deve fazer. Um dos temas recorrentes no relatório é a redução no total do inventário de armas nucleares nos arsenais de todas as potências nucleares, inclusive os EUA. Porém, realça o relatório, essas reduções só podem ser ocorrer se houver um renovado esforço por parte dos EUA em usar a diplomacia e a negociação para limitar os arsenais nucleares. Outro ponto chave para a redução do arsenal nuclear dos EUA é uma política que continue a “recuperar e atualizar o arsenal nuclear americano existente, conforme o necessário, sem criar novas capacidades de emprego de armas nucleares.”
O relatório está sendo divulgado pela Sociedade Americana de Física (American Physical Society), a Associação Americana para o Progresso da Ciência (American Association for the Advancement of Science) e o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (Center for Strategic and International Studies).
“O propósito desse relatório é informar a próxima administração para a tomada de decisões, pelo governo dos EUA, sobre a estratégia, política, postura e questões relativas à proliferação e controle das armas”, diz o relatório. “Qualquer decisão que os EUA tomem com respeito a seu próprio arsenal nuclear e sua infraestrutura, tem que considerar também como essas decisões podem afetar os esforços dos EUA para impedir a proliferação das armas nucleares e buscar uma diminuição dos arsenais nucleares mundiais.”
Reduções em casa e no estrangeiro
Os autores do relatório observam que existem três “questões nucleares realmente urgentes” que vão precisar da imediata atenção de Obama:
- Impedir a disseminação de armas nucleares por mais países, o que inclui as ameaças de proliferação geradas por Coréia do Norte e Iran.
- Tornar seguros e reduzir os estoques mundiais de armas e materiais nucleares para impedir que estes caiam nas mãos de terroristas.
- Reverter a aparentemente crescente confiança da Rússia em armamentos nucleares em sua política de segurança, através de um engajamento estratégico na tentativa de tanto impedir o surgimento de uma nova ameaça nuclear para o século XXI, como para obter a concordância da Rússia para diminuir significativamente os arsenais Russos e Americanos.
O relatório pede que a administração Obama siga uma política nuclear com duas linhas mestras: uma com o foco em restabelecer a liderança global dos EUA “em não proliferação nuclear, controle das armas e assuntos sobre desarmamento”, e outra com o foco em recuperar e atualizar o arsenal dos EUA e sua infraestrutura “sem criar novas capacidades de emprego de novas armas nucleares”.
As duas linhas mestras são relacionadas, observa o relatório, porque “se [o presidente] tiver confiança em um arsenal bem menor [de armas nucleares] para os EUA”, ele estará em uma posição política mais forte para negociar grandes reduções nos arsenais dos EUA e da Rússia.
Os EUA têm mais de 5.000 ogivas nucleares, a maior parte delas feita décadas atrás, durante a Guerra-Fria com a então União Soviética. As ogivas nucleares são, em sua maioria, armas de alta potência que são manutenidas através do que é conhecido como o programa de direção do arsenal. Alguns experts em segurança sustentam que os EUA precisam modernizar seu arsenal com ogivas de design atualizado para fazer frente às ameaças do século XXI, enquanto outros acreditam que os tipos existentes de armas, se adequadamente manutenidos, fornecem uma segurança nuclear mais do que suficiente.
O relatório é fora do usual, uma vez que reuniu experts representantes de quase todos os pontos de vista, inclusive aqueles considerados de extrema direita e de extrema esquerda, para o debate. Os autores consideraram as posições de diferentes “campos” políticos, desde aqueles que acreditam que as armas atômicas mantém a importância que tiveram durante a Guerra-Fria, àqueles que acreditam na eliminação de todas as armas nucleares tão rápido quanto possível. Os autores observam que a posição “centrista” do relatório — trabalhar em termos globais para a obtenção de tratados para a redução do número de armas, enquanto que, ao mesmo tempo, se mantém uma capacidade nuclear persuasiva — reflete a posição detalhada por Obama durante a campanha presidencial.
Ratificar o Tratado de Banimento de Testes
Talvez a recomendação contida no relatório que vá causar a maior controvérsia política é a de que os EUA aceitem o Tratado de Banimento de Testes Nucleares (Comprehensive Test Ban Treaty , CTBT), que foi rejeitado pelo Senado em 1999, sob a alegação de que não havia maneira confiável de detectar sua violação por outras nações. Embora os EUA não tenham testado uma arma nuclear desde a cessação dos testes subterrâneos em 1992, a rejeição do CTBT diminuiu a liderança internacional dos EUA em questões nucleares.
Porém, desde essa rejeição, a expansão global de sensores sísmicos e de outras naturezas, inclusive o Sistema de Monitoramento Internacional, criado especificamente para monitorar o cumprimento do Tratado de Banimento dos Testes, significa que “violar as regras vai ser muito difícil de esconder e vai ser pouco provável que isso resulte em um avanço tecnológico capaz de alterar o equilíbrio entre os EUA e as demais potências”, afirma o relatório. “É do interesse dos EUA congelar a tecnologia de armas nucleares e o CTBT prejudicaria muito o desenvolvimento de inovações em armamentos nucleares”.
Porém a ratificação pelo Senado do CTBT requer uma “supermaioria” de 67 senadores que votem a favor. Os autores do relatório dizem que, caso produa um pacote de medidas na área nuclear “que possam atrair apoio interno e externo”, a administração Obama pode ser capaz de conseguir os votos necessários para fazer aprovar o CTBT e começar a levar a política de armas nucleares dos EUA para a frente.
Manter a Expertise
O relatório também aborda as preocupações de todos os lados do debate sobre os armamentos: manter a força de trabalho nuclear americana. “A capacidade dos EUA em se engajar em atividades de manutenção adequada do arsenal e atividades contra a proliferação repousa (. . .) na experiência da atual força de trabalho nos laboratórios nacionais”, afirma o relatório. Muitos dos experts em armamentos com a maior experiência devem se aposentar nos próximos cinco a dez anos, diz o relatório, de forma que “o recruitamento da nova geração de trabalhadores (. . .) é um ponto crítico para o sucesso contínuo do programa de manutenção do arsenal”.
O relatório urge que o Departamento de Energia, que supervisiona os laboratórios de armas, ralize um maior esforço para envolver os laboratórios em “amplos e interconectados programas de pesquisa e desenvolvimento relativos e não-relativos a energia nuclear”, com ênfase na pesquisa e desenvolvimento de energia. A pesquisa sobre energia é considerada uma questão de segurança pela administração e o relatório diz que “tal atividade de P&D vai atrair e engajar cientistas com a expertise adequada para os laboratórios e complementar diretamente as habilidades técnicas para manter o arsenal nuclear”.
Browne declarou que o relatório, baseado em encontros com “cientistas, diplomatas, generais e almirantes”, tem como objetivo “dar à próxima administração a oportunidade de trilhar o melhor caminho [N.T: no original: to take the high road] em âmbito internacional e, mesmo assim, tomar passos na política interna que satisfaça, as pessoas neste país e no Congresso que estão hesitantes acerca de o quão longe devemos ir em abandonar nossas armas nucleares”.
Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.
Como os Estados Unidos se transformaram em um Império
O trecho a seguir é a primeira parte de um documento intitulado “A PROPOSTA DA BOLSA DE PETRÓLEO IRANIANA“, por Krassimir Petrov, PhD, Macro Economista/Estrategista de Investmentos
Comissionado por: J. Douglas Bowey and Associates, datado de 20 de janeiro de 2006
A Economia dos Impérios
Um Estado-Nação cobra impostos de seus próprios cidadãos, enquanto que um Império cobra impostos de outros Estados-Nações. A história dos impérios, dos Grego e Romano, ao Otomano e Britânico, ensina que o fundamento econômico da cada um desses impérios é a taxação de outras nações e seus cidadãos. A capacidade imperial em taxar sempre repousou em uma economia melhor ou mais forte e, como conseqüência, Forças Armadas melhores e mais fortes que impunham pacifica ou militarmente os impostos. Uma parte desses impostos ia para melhorar os padrões de vida do império e outra parte ia para reforçar o domínio militar necessário para impor estes impostos.
Historicamente, a cobrança de impostos sobre o Estado Vassalo tomou diversas formas, usualmente em ouro e prata, onde estes eram considerados dinheiro, mas também na forma de escravos, soldados, colheitas, gado, ou outros recursos agrícolas ou naturais, quaisquer valores econômicos que o império precisasse e o estado vassalo pudesse fornecer. Historicamente, a taxação sempre foi direta: o estado vassalo entregava o dinheiro (ouro/prata) ou as mercadorias diretamente ao império.
Pela primeira vez na história, no Século XX, a América foi capaz de taxar o mundo de maneira indireta — não por forçar o pagamento direto de impostos, como todos os impérios predecessores fizeram, porém por distribuir sua moeda, o dólar americano, para outras nações em troca de mercadorias e serviços, com a idéia subjacente de desvalorizar, ao longo do tempo, esses dólares e pagar de volta, mais tarde, cada dólar com menos mercadorias e serviços. A diferença entre o valor do dólar na época da compra inicial e o dólar desvalorizado na hora do pagamento, é a Taxa Imperial dos EUA. Isto aconteceu assim.
No início do século XX, a economia dos EUA começou a dominar a economia mundial. Naquela ocasião, o dólar americano (US$) era atrelado ao ouro, de forma que seu valor nem aumentava, nem diminuía, porque era sempre conversível na mesma quantidade de ouro. A Grande Depressão, com sua antecedente inflação de 1921 a 1929, aumentou significativamente a quantidade de moeda-papel em circulação, sem que houvesse um correpondente aumento na quantidade de ouro. Isso tornou o lastro do US$ em ouro impossível. Como consqüência, o Presidente Franklin Delano Roosvelt desatrelou o US$ do ouro em 1932. Até esse ponto, os EUA podiam estar no domínio da economia mundial, mas não eram, tecnicamente, um império. O valor fixo do US$ em ouro não permitia aos americanos auferir benefícios econômicos de outos países, fornecendo a estes US$ com valor lastreado em ouro.
No que diz respeito à economia, o Império Americano começou com o sistema de Bretton Woods em 1945. O US$ foi tornado apenas parcialmente conversível em ouro — a conversão para ouro ficou disponível para governos estrangeiros, mas não para instituições privadas. Nesta ocasião, o US$ foi tornado a moeda padrão para reservas internacionais. Isso foi possível porque, durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA haviam suprido seus aliados com alimentos e material bélico, aceitando pagamentos em ouro e, com isso, adquirindo uma signiicativa parcela das reservas mundiais de ouro.
Um Império econômico não teria sido possível se o US$ tivesse permanecido lastreado inteiramente em ouro, isto é, se o volume de US$ em circulação tivesse sido mantido dentro dos limites da disponibilidade de ouro, de forma que se pudesse trocar de volta os US$ em ouro, na taxa anteriormente pré-estabelecida. Entretanto, a quantidade de US$ foi, na verdade, rapidamente aumentada, bem além de seu lastro em ouro e distribuída aos estrangeiros em troca de bens econômicos. Não havia qualquer perspectiva de comprar esses US$ de volta pelo mesmo valor — a quantidade de ouro não era suficiente para resgatar esses US$, na medida em que a quantidade desses US$ aumentava continuamente, de forma que o US$ se depreciava constantemente. A constante depreciação das reservas em dólares mantidas pelos estrangeiros, através dos constantes déficits da balança comercial americana, era o equivalente a um imposto — um imposto de inflação.
Quando, em 1971, estrangeiros pediram o pagamento de seus US$ em ouro, o governo dos EUA declarou uma moratória em 15 de agosto. A explicação pública sobre essa moratória foi que “a ligação entre o US$ e o ouro foi interrompida”. A interpretação correta é que o governo dos EUA estava falido, tal como se pode decretar a falência de qualquer banco comercial.
Entretanto, ao fazer isto, os EUA se declararam um Império. Eles tinham extraído uma enorme quantidade de bens econômicos do resto do mundo, sem qualquer intenção ou capacidade de pagar por esses bens. O mundo foi, efetivamente, taxado e não havia qualquer coisa que se pudesse fazer quanto a isto: não se podia decretar a falência dos EUA e tomar posse de seu ouro e outros bens para executar a dívida, nem se podia tomar “na marra” o que era devido por meio de uma declaração de guerra (que teria que ser vencida…) Essencialmente, os EUA impuseram um “Imposto de Inflação” sobre o mundo e coletaram uma “enfiteuse”.
A partir daí, para sustentar o Império Americano e continuar a taxar o resto do mundo através da inflação, os EUA tinham que forçar o mundo a continuar a aceitar seu US$ inflacionado em troca de bens econômicos e fazer com que o mundo tivesse mais e mais desses US$ inflacionados. Eles tinham que dar ao mundo uma razão econômica para manter reservas em US$ e esta razão foi o petróleo.
Em 1971, quando se tornou claro que o governo dos EUA não seria capaz de recomprar seus US$ em ouro, ele preparou um dispositivo alternativo para manter o mundo como refém do US$ inflacionado: durante 1972-73, estabeleceu um acordo a sete chaves com a Arábia Saudita — apoiar a Casa de Saud em troca de só aceitarem US$ em pagamento pelo petróleo saudita. Ao impor o US$ sobre o país líder da OPEP, o US$ foi imposto sobre toda a OPEP. Como o mundo tinha que comprar petróleo dos países árabes produtores de petróleo, ficava com uma razão para manter suas reservas de US$. E porque o mundo precisava de cada vez mais petróleo (e este a preços sempre crescentes) a demanda mundial por US$ somente poderia aumentar. Mesmo que os US$ não pudessem mais ser trocados por ouro, agora, eles podiam ser trocados por petróleo. A essência econômica desse conchavo foi que o US$ passou a ser lastreado em petróleo (com uma diferença: o ouro se encontra em Fort Knox e o petróleo, em sua maior parte, está fora do território dos EUA).
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Só traduzi até aqui… Mas isso dá uma boa noção das reais motivações dos EUA para mover guerras no Afeganistão, Golfo Pérsico e por que eles implicam tanto com governos esquerdistas nos países latino-americanos da OPEP.
Detalhe: isso não é nenhuma “Teoria da Conspiração”, nem uma “Campanha pela preservação do meio ambiente”. É uma fria e clara análise da situação da economia americana (e, por conseqüência, mundial).
Mais um pouquinho sobre “Bad Science Blogging”
Um dado particularmente sinistro é:
O World Food Programme (WFP) calculou que o preço do milho, na Etiópia, aumentou 100% e o trigo, 40% desde o fim do ano passado, e os preços tendem a subir mais ainda.
Junte isto com a constatação nos Editoriais do New York Times, também de hoje, sob o título “Colheitando dinheiro em um Mundo Faminto, de que:
Mais de um quinto da safra americana de milho está, agora, destinada ao etanol. Para encurtar a história: a era da comida barata, tal como a era da gasolina barata, pode estar quase no fim.
E, aí, você percebe todo o cinismo arrogante por trás da afirmativa: “pode deixar o ar condicionado ligado…”
Claro que pode! Seu “rastro de carbono” não aumenta grande coisa… e se meia dúzia de etíopes morrem de fome para encher o tanque de sua SUV, melhor ainda: menos impostos para o governo americano para financiar a alimentação dessa “gentalha”…
E esta pústula do Tierney ainda posa como “jornalista de ciências”… E o pior: tem gente que vai ler essas “pérolas” e vai acreditar… Afinal, “deu no New York Times”…
Pantanal e outras áreas úmidas
Nesta sexta feira, 25 de julho, encerrou-se a 8ª INTECOL, Conferência Internacional de Áreas Úmidas, realizada em Cuiabá, sob os auspícios da UFMT e do Centro de Pesquisa do Pantanal. Uma das preocupações dos 28 países participantes é o avanço das fronteiras agrícolas sobre áreas úmidas que vão desde o Pantanal aos manguezais e deltas de rios.
O evento mereceu destaque no EurekAlert, na notícia “Rising energy, food prices major threats to wetlands as farmers eye new areas for crops” (“Crescentes preços de energia e alimentos são grandes ameaças para as áreas alagadas, na medida em que os agricultores procuram novas áreas de plantio”).
Desta 8ª INTECOL saiu a “Carta de Cuiabá”, que é um documento digno de nota.
Eu que vivi por cinco anos na área do Pantanal (quando servi na Base Fluvial de Ladário, MS) conheço razoavelmente bem a região e sei o quanto ela já sofreu apenas com uma pecuária rudimentar (a atividade, assim chamada, “plantar boi”…) e a caça e pesca desregulamentadas. Na hora em que o tão decantado “agronegócio” resolver avançar sobre a região (como os americanos fizeram com os “Everglades” da Flórida), vai ser mais uma catástrofe ambiental.
E não dá para confiar muito em um governo (federal) que acha que uma termoelétrica a carvão não vai produzir grandes problemas ambientais (vejam esta matéria do Ciência e Idéias). Muito menos em tipos como o Governador Blairo Maggi…
Começo a achar que a Isis tem razão quando diz que Desenvolvimento sustentável não existe…
Como alimentar o mundo
Traduzido da matéria de capa da Newsweek da semana passada:
Como alimentar o mundo
Abaixo, oito líderes na luta contra a fome oferecem planos de ação para a crise dos alimentos e idéias de longo prazo para erradicar a fome e alavancar a agricultura.
NEWSWEEK – Atualizado em: 12:49 PM ET May 10, 2008
Gordon Brown
Primeiro Ministro, Reino Unido
Todo dia, 25.000 pessoas morrem de causas relacionadas com a fome. E, quando os gastos com comida respondem por mais da metade dos gastos de uma família pobre, as altas de preços podem ser realmente devastadoras para milhões de pessoas que vivem no limite.
Para encontrar soluções para os problemas de curto e longo prazo que essas famílias enfrentam, eu recentemente realizei um encontro de notórios experts, cientistas, produtores de alimentos e revendedores em Downing Street.
O Reino Unido já prometeu £30 milhões em auxílio imediato para os países mais duramente atingidos pela inflação dos preços dos alimentos, bem como outros £25 milhões para aumentar rendas.
Mas o que o mundo realmente precisa é uma ação totalmente coordenada e comprometida da comunidade internacional — uma resposta mundialmente abrangente para responder a esta catástrofe que se desdobra. No mês passado, o Secretário Geral Ban Ki–moon anunciou a criação de uma força-tarefa para resolver isto no mais alto nível das Nações Unidas e o Banco Mundial também prometeu seu apoio. Estes são passos importantes. E eu escrevi ao Presidente do G8, o Primeiro Ministro Yasuo Fukuda do Japão, pedindo a ele para trabalhar em conjunto com o Banco Mundial, o FMI e a ONU para produzir um planejamento.
Nós precisamos uma revolução agricultural para alavancar a produção nos países mais pobres. E novas pesquisas e apoio para culturas de grande rendimento e resistência às condições climáticas, assim como uma revisão sobre os bio-combustíveis para nos auxiliar a entender seus impactos nos preços dos alimentos e no meio ambiente.
Nós precisamos assegurar um auxílio rápido do FMI e do Banco Mundial para ajudar os países que sofrem com o custo da importação de alimentos.
E, por ocasião do G8 em julho, nós devemos chegar a um acordo de comércio que abra os mercados dos países ricos e corte subsídios, para incrementar a produção de alimentos nos países pobres.
Nós estamos próximos de um acordo, mas será necessária uma real liderança do G8, da ONU, a União Européia, o Banco Mundial e o FMI, nas semanas seguintes, para assegurar o mesmo.
Robert Zoellick
Presidente, Banco Mundial
Para mais de 2 bilhões de pessoas, hoje, os altos preços dos alimentos são uma questão de luta, sacrifício e sobrevivência diária. Nós estimamos que a atual crise de alimentos pode afundar 100 milhões de pessoas mais ainda na pobreza, Isto poderia significar sete anos perdidos em nossos esforços para vencer a pobreza mundial. Além dos números, isto significa vidas roubadas e futuros abortados.
Os doadores devem agir agora para apoiar o pedido do Programa de Alimentos para o Mundo com cerca de $755 milhões para as ações de emergência. Sem este dinheiro, alguns vão passar fome; haverão mais motins causados pela fome e instabilidade política. Para essas pessoas, o sistema internacional terá falhado.
Mas existe aqui um desafio maior: vencer a fome e a desnutrição, a causa principal da morte de 3,5 milhões de crianças a cada ano.
Ministros de mais de 150 países agora endossaram uma Nova Política (no original “New Deal“) para a Política de Alimentos Global. Nós precisamos transformar estas palavras em ação. Uma Nova Política necessita ações de curto, médio e longo prazos: apoio a redes de segurança tais como merenda escolar, alimentos por trabalho e programas de distribuição de dinheiro condicionais; uma produção maior de alimentos; uma melhor compreensão do impacto dos bio-combustíveis e a ação na frente comercial para reduzir os subsídios, declarados ou disfarçados, que causam distorções, proibições de exportações e barreiras alfandegárias.
De nossa parte, o Grupo do Banco Mundial está dobrando o valor dos empréstimos para agricultura na África para $800 milhões neste ano, criando um linha de crédito rápida para das apoio a países pobres e especialmente frágeis, e procurando como podemos usar o seguro para auxiliar os fazendeiros a gerenciar riscos tais como as secas. Junto com parceiros, estamos trabalhando para criar uma “revolução verde” para a África Sub–Saariana, ajudando os países a aumentar a produtividade e tirar os pequenos produtores do ciclo de pobreza.
Esta são todas questões críticas para a ação internacional. Mas, antes de mais nada, os doadores devem agir agora para levantar cerca de $755 milhões. O mundo pode pagar por isso. Os pobres e famintos não.
Jeffrey Sachs
Diretor do “Earth Institute” (Instituto da Terra), Columbia University
No cerne do desafio, está produzir mais alimentos para atender a crescente demanda mundial e assegurar que os pobres e vulneráveis tenham acesso a esses alimentos.
Em primeiro lugar, o mundo tem que, urgentemente, estabelecer um fundo especial para auxiliar os fazendeiros mais pobres do mundo, especialmente na África, a ter acesso a fertilizantes, sementes e irrigação em pequena escala. Em muitos dos lugares famintos e empobrecidos, a produção de alimentos pode ser dobrada ou triplicada em um par de safras. Todas as “revoluções verdes”, tais como a da Índia nos anos 1960, começaram com auxílio especial para os agricultores empobrecidos.
Em segundo lugar, os Estados Unidos deveriam deixar de subsidiar o desvio de nosso milho para produção de etanol. Da mesma forma, a Europa deveria parar de subsidiar a mudança de plantações de alimentos para culturas de oleaginosas, tais com a canola, para uso em bio–diesel.
Em terceiro lugar, os governos pelo mundo afora deveriam auxiliar seus agricultores a tornar suas colheitas mais resistentes a choques climáticos, inclusive pela adoção de novas técnicas de irrigação “suplementar” em regiões que dependem das chuvas. Também deve ser promovida a criação de um seguro contra quebras nas safras.
Em quarto lugar, os orçamentos globais para pesquisas para a produção de alimentos, especialmente para as regiões tropicais e de terras áridas, deve ser aumentado. Existem grandes esperanças no desenvolvimento de variedades resistentes à seca em vários tipos de culturas.
Em quinto lugar, os países exportadores de alimentos devem evitar ou reverter as proibições de exportações de alimentos que exacerbam gravemente as crises nos países importadores de alimentos.
Em sexto lugar, a UNICEF e o Programa Mundial de Alimentos deveriam ser apoiados de forma a poderem aumentar a alimentação básica para os extremamente pobres, refugiados, os velhos e doentes, através de programas emergenciais, programas de alimentação escolar e de suplementação alimentar.
Joachim Von Braun
Diretor Geral, Instituto de Pesquisa de Políticas Alimentares Internacional, Washington, D.C.
Uma família em Bangladesh que tenha um gasto diário típico de $5, tipicamente gasta $3 em comida. O recente aumento nos custos de alimentos básicos — alguns dos quais subiram 50 % — retiram $1.50 de seu poder aquisitivo. A conseqüência é a sub-nutrição.
Oitocentos milhões de pessoas no mundo apresentavam um déficit em sua alimentação antes da crise. Agora, são muitos mais. Sua reação é a frustração. Pessoas em mais de 30 países protestaram nas ruas.
Um programa de tripla ação é agora necessário. A curto prazo, os governos de países em desenvolvimento devem expandir programas de transferência de renda e alimentos, e programas de suplementação alimentar para a infância para as pessoas mais pobres — tanto nas áreas urbanas como rurais. Países que não têm estes programas, devem começar a implementar programas de trabalho para os pobres. Os países doadores deveriam expandir o auxílio para o desenvolvimento relacionado com alimentos.
O mundo precisa de uma reserva de grãos para acalmar os mercados. As reformas na política de comércio internacional já passaram da hora de estabelecer um campo de jogo nivelado para os agricultores dos países em desenvolvimento. As proibições de exportações deveriam ser paradas. Elas estão ferindo outros países que dependem da importação de alimentos. Bio-combustíveis produzidos a partir de cereais distorcem o mercado mundial de alimentos. A produção de bio-combustíveis que competem com a produção de alimentos deve ser parada.
O investimento na agricultura deve ser direcionado para o problema da baixa disponibilidade. Os governos dos países desenvolvidos deveriam aumentar seus investimentos em pequisas que se relevante para a produtividade em pequenas propriedades. Os países em desenvolvimento deveriam aumentar seus investimentos em infraestrutura rural e no acesso a sementes e fertilizantes para os agricultores. O montante de dinheiro necessário para esses investimentos é grande, porque esses investimentos foram negligenciados por muito tempo.
Esta é uma crise global. Ela precisa de uma resposta coordenada pelos países do G8, em conjunto com os grandes países, especialmente China, Índia e Brasil, e as Nações Unidas.
Muhammad Yunus
Diretor-Gerente, Grameen Bank
Todos os indícios mostram que a corrente crise não será temporária. A menos que sejam tomadas, imediatamente, ações firmes em escala internacional, a crise vai se aprofundar e se expandir em outras direções.
O aumento dos preços do petróleo a níveis sem precedentes, as mudanças climáticas que intensificam as secas, inundações e ciclones, a crescente popularidade dos bio-combustíveis e o esgotamento das reservas globais de alimentos, todos estes fatores se combinaram para causar a corrente escassez de alimentos e o inflacionamento dos preços. Um declínio na pobreza global em países grandes como a China, Índia, Indonésia e Bangladesh, que perfazem quase metade da população mundial, levou a um aumento do consumo de grãos em meio a essas pessoas com melhoria de renda, o que também fez com que os preços subissem. Isto atingiu os pobres e, particularmente, as crianças pobres , muito duramente.
Um plano de ação global deve ser posto em prática para assegurar o abastecimento de alimentos e financiamento para os países necessitados. A idéia da criação de um banco mundial de alimentos pode ser também explorada seriamente. O Secretário-Geral da ONU deveria liderar este esforço. Agências da ONU, tais como WFP, FAO, IFAD e UNICEF, bancos de desenvolvimento multilaterais, grupos de pesquisa como o CGIAR e companhias privadas do setor de produção de alimentos e grãos devem ser chamados a auxiliarem no preparo e implementação do plano. As metas comuns devem ser definidas de forma a que todos possam se mover rapidamente na direção correta.
Devem ser previstos financiamentos a maiores prazos para encorajar avanços tecnológicos do tipo “revolução-verde” na agricultura. Já é tempo, também, dos países ricos tomarem a frente, dando fim aos subsídios que distorcem o comércio.
A elevação dos preços do petróleo contribuiu significativamente para o aumento do preço dos alimentos. E vai continuar a fazê-lo. Nós precisamos de uma solução para a crise que seja conectada com os preços do petróleo. A conta do petróleo para cada país está ficando cada vez maior e, com esse aumento de preços, cada vez há menos dinheiro disponível para a importação de alimentos.
Dado que os preços mais altos do petróleo são uma grande parte do problema , eu proponho que cada país exportador de petróleo crie um fundo para a pobreza e agricultura, contribuindo com uma quantia fixa (digamos, $ 10) por barril de petróleo exportado. Isto seria uma pequena fração dos enormes lucros obtidos com a elevação dos preços do petróleo. Este fundo seria gerenciado pela nação contribuinte e seria devotado a vencer a pobreza, ampliar a pesquisa agrícola, apoiar empreendimentos sociais e melhorias em outras áreas, tais como saúde, emprego, melhoria das condições das mulheres, água potável de qualidade, tecnologia da informação, qualidade do solo e educação.
Josette Sheeran
Diretora Executiva, Programa Mundial de Alimentos da ONU (United Nations World Food Program)
A fome e a subnutrição estão avançando, impelidas pelos preços dos alimentos que sobrem agressivamente. Muitos consumidores sentem a “mordida”, mas para aqueles que vivem com menos de um dólar por dia, isto significa uma catástrofe. Do Burundi ao Haiti e ao Afeganistão, os mais pobres dentre os pobres estão comendo bolos de lama e farinha que está azul de bolor, ou deixando de fazer refeições, algumas vezes por dias a fio. Mesmo antes desta crise, existiam mais pessoas famintas e subnutridas do que jamais houve — 850 milhões. Porém, agora, por volta de outros 100 milhões estão se juntando a suas fileiras.
O WFP é a força de linha de frente contra a fome, ajudando a proteger até 90 milhões de pessoas por ano da devastação da fome. Ele é tão eficiente quanto eficaz — nós nos orgulhamos de nosso padrão de 7% de custos administrativos. Mas, logo quando o mundo mais precisa mais de nós, nossas operações foram prejudicadas: as contribuições compram 40 % menos alimentos hoje do que há apenas 10 meses atrás. Em março, eu lancei um apelo emergencial para os líderes mundiais para que cobrissem essas perdas — agora estabelecidas em $755 milhões — de forma a que pudéssemos manter as rações para os milhões de famintos que conseguimos alcançar. Nós igualmente precisamos aumentar nosso orçamento para a operação de bases de $3.5 bilhões.
O mundo está se movimentando largamente para ajudar os países a quebrar o ciclo da fome em suas raízes. Muitos países, tais como o Malawi, Senegal e Ghana, tiveram grandes vitórias contra a fome e a subnutrição. Nós somos gratos aos generosos donativos que estão chegando, mas ainda temos caminho pela frente.
Também há urgentes chamados para ajudar milhões de pobres agricultores que estão plantando muito menos este ano porque não conseguem arcar com os custos recordes de fertilizantes e combustível. Quando o tsunami de 2004 devastou muitos milhões, o mundo deu $12 bilhões em ajuda rapidamente. Eu chamei esta crise de “tsunami silencioso” que não conhece fronteiras.
Ninguém quer ser dependente: nós precisamos ajudar os famintos a se ajudarem a si próprios. O WFP revolucionou o auxílio de alimentos, criando uma capacidade local, através de medidas como fazer 80 % de nossas aquisições de alimentos de agricultores no mundo em desenvolvimento. Nós podemos ajudar a levar alimentos àqueles que precisam deles, como fizemos recentemente em Myanmar — usando a rede do WFP de aviões, navios, helicópteros e, onde necessário, burros, camelos e elefantes. Mas também devemos tomar isto como um toque de alarme para que despertemos para agir agora para derrotar a praga da fome de uma vez e para sempre.
Jacques Diouf
Diretor-geral, Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (United Nations Food and Agriculture Organization)
A FAO pediu uma reunião de cúpula dos líderes mundiais, a ser realizada em Roma, de 3 a 5 de junho, para encontrar soluções para esta crise. Com a maior urgência, precisamos obter sementes e fertilizantes para os países mais vulneráveis, de forma a que eles possam melhorar suas colheitas este ano. Para isso serão necessários $1,7 bilhões.
Olhando mais à frente, precisamos reverter o quadro distorcido das políticas de comércio, ajuda e investimento que atrasaram o crescimento da agricultura em grande parte do mundo em desenvolvimento nas últimas duas décadas. A ocasião é ideal porque os altos preços finalmente tornaram atrativo investir em agricultura.
Nós precisamos encarar esta emergência não somente como uma ameaça às vidas e à subsistência das pessoas, mas como uma oportunidade de começar de novo na agricultura e ajudar mais de um bilhão de pobres agricultores a ter uma vida decente para si e suas famílias.
Isto significa fazer grandes investimentos em estrutura agrícola em países em desenvolvimento — irrigação acima de tudo, porque o controle do uso das águas é essencial. Serão também necessários mais estradas, comunicações e instalações de transporte e armazenagem, porque os agricultores jamais se beneficiarão dos altos preços se não conseguirem trazer seus produtos ao mercado.
É igualmente necessário um esforço continuado para promover pesquisa agrícola.
Não podemos deixar passar a oportunidade que agora temos de ajudar a criar uma renascença agrícola, melhorar a vida de centenas de milhões de agricultores e de planejar para o futuro. Fazer isto tornaria uma nova e potencialmente mais desastrosa crise inevitável nos anos vindouros,
Michael Pollan
Autor de “In Defense of Food: An Eater‘s Manifesto,”(“Em defesa do alimento: o manifesto de um comedor”) e de “The Omnivore‘s Dilemma” (“O dilema do onívoro“); “Knight Professor” de Jornalismo na UC, Berkeley
A crise mundial dos preços dos alimentos é o resultado direto da decisão, feita pela administração Bush em 2006, de começar a alimentar os automóveis americanos com grandes quantidades do milho americano, na forma de etanol. Esta decisão desastrada levou a uma inflação do preço do milho, que, por sua vez, levou os agricultores a plantar mais milho e menos soja e trigo — o que levou ao inflacionamento do preço de todos os grãos. Mas não se enganem: nós criamos uma situação onde os 4×4 esportivos americanos estão competindo com as pessoas que comem na África pelos grãos. Nós podemos ver quem está ganhando.
A maneira mais rápida de aliviar a pressão nos preços mundiais dos alimentos seria cortar os subsídios nos EUA para o etanol e diminuir as tarifas de importação do etanol do Brasil. Mas existem outros passos de longo prazo que ainda temos que dar, também, se quisermos assegurar alimentos para todos. A outra razão para que os preços dos grãos tenha disparado é que os preços do petróleo dispararam e a indústria agrícola se tornou fortemente dependente do combustível fóssil — para fertilizantes, para pesticidas, para processamento e para transporte. Hoje em dia são necessárias 10 calorias de energia de combustíveis fósseis para produzir uma caloria de energia de alimentos. Nós precisamos reduzir a dependência da agricultura moderna do petróleo, uma meta eminentemente atingível — afinal, a agricultura é a “tecnologia solar” original e agricultores que praticam “agricultura sustentável” nos mostraram como por nosso sistema agrícola de volta apoiado em luz solar. Por exemplo, quando você tira o gado de sua típica dieta de ração de grãos e permite que ele coma capim, estes hamburgeres põem menos pressão tanto no preço do petróleo, quanto no dos grãos.
Isto me leva ao terceiro e, provavelmente o mais árduo, fator por trás da inflação mundial dos preços dos grãos: o apetite crescente por carne em lugares como a China e a Índia. A maior parte dos grãos do mundo vai para alimentar animais, não pessoas, e a carne é um uso muito ineficiente desses grãos — são necessários 10 quilos de grãos para produzir 1 quilo de carne. Haveria grãos suficientes para todo o mundo se nós realmente os comêssemos e não usássemos para produzir carne. Reduzir o consumo mundial de carne — ou alimentar nossos animais de maneira diferente — deixaria mais grãos para os famintos no mundo.
Se resume a isto: as terras agricultáveis do mundo são um recurso precioso e finito; nós devíamos estar as usando para plantar comida para pessoas, não para carros ou gado.
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Não há como reproduzir estas opiniões dos “notáveis”, sem aduzir algumas das minhas… (Então, se segura que lá vai chumbo!…)
Bom… O Gordon Brown, por tudo o que ele disse, perdeu uma excelente ocasião de ficar calado e não mostrar a besta quadrada que ele é… O palavrório de politiqueiro barato e provinciano dele pode ser resumido na velha frase-feita que se usava na Marinha: “Estamos agindo no sentido de providenciar para não pegar na hora de safar…” (quer dizer exatamente isso: bulufas!…) E o palavrório “simpático e solidário” dele é uma enorme hipocrisia: ele só está preocupado porque a comida na Grã-Bretanha subiu 30% nos três primeiros meses de 2008; o que significa que os pobres britânicos começaram a passar fome também!… Enquanto eram os pobres da Somália e do Haiti, ele cagou e andou nem percebeu o tamanho da crise…
O Zoelick, do Banco Mundial, parece que pegou os temas de campanha do Lula e xerocou… Só que o Lula, pelo menos, está dizendo a mesma coisa desde que era candidato. Resta saber por que o Banco Mundial só se deu conta disto agora…
O Sachs se resume a listar seis providências de caráter imediato, mas não analisa as causas dos problemas, nem aponta soluções de longo prazo. Parece receita de médico: tome esta meia dúzia de remédios e, se persistirem os problemas, volte para mais alguns exames…
O Von Braun já apresenta uma análise mais aprofundada (apesar do tom piegas…) Só que, como bom “europeu”, se esquece de que as condições da agricultura não são as mesmas em todos os lugares. É muito fácil falar em “rever o impacto dos bio-combustíveis”, e nem levar em consideração que os combustíveis fósseis são um recurso escasso, em poucas (e desonestas) mãos. Quando ele diz: “Os países em desenvolvimento deveriam aumentar seus investimentos em infraestrutura rural e no acesso a sementes e fertilizantes para os agricultores”, parece que nem sabe que os “países em desenvolvimento”, em sua grande maioria, não têm recursos para investir em coisa alguma. Vai falar disso no Haiti…
O Yunus é outra “gracinha”… “A culpa é dos preços do petróleo: vamos taxar a OPEP”… É!… O preço do petróleo não disparou porque os consumidores de petróleo gastam como se não houvesse amanhã e se meteram a “polícia do mundo”, gastando o que não têm para fazer guerras de motivação para lá de duvidosa… A inflação do dólar não tem nada a ver com a crise… Ah!… Para com isso!…
Sheeran é a primeira que diz algo aproveitável. E o que ela diz é um argumento que eu já vi um Comodoro da Guarda Costeira dos EUA apresentar como defesa do seu Orçamento ao Congresso Americano: “Vocês se acostumaram tanto à gente fazer muito com pouco, que estão querendo que a gente faça tudo com nada”. Quem está na linha de frente no combate à fome e à miséria sabe que só falta uma coisa: o dinheiro que se joga fora em armamentos sofisticados e exércitos enormes (que não contribuem em nada para resolver os problemas, mas fazem os otários dos países ricos “se acharem”…)
Diouf é outro que fala com a autoridade de quem está de mangas arregaçadas para resolver os problemas. Seu tom otimista de “encaremos a crise como uma oportunidade de aprimorar o mundo”, pelo menos tem essa virtude.
Por fim, o Pollan que não tem que agradar ninguém, nem está pedindo verbas para políticos que detestam ouvir verdades acerca de sua incompetência, é quem mais fala claro. Pena que ele não decide nada…
A Influência Através da Ignorância
University of Southern California
Informação demais? Estudo mostra a influência da ignorância.
Na corrente edição do “The RAND Journal of Economics”, pesquisadores da USC apresentam um desafio ao modelo econômico clássico de manipulação da informação, no qual saber mais do que todo o mundo é a chave para influenciar.
Em lugar disto, os economistas Isabelle Brocas e Juan D. Carrillo apresentam uma situação – comumente observada na vida real – na qual todos os atores têm acesso à mesma informação, porém um dos atores ainda consegue controlar a opinião pública.
Por exemplo, uma companhia farmacêutica, tal como a Merck, pode ser obrigada a tornar públicos todos os resultados de todos os estudos relacionados a uma nova droga. Testes preliminares podem indicar a ausência de efeitos colaterais a curto prazo e a companhia pode escolher não realizar testes de acompanhamento posterior, antes de lançar o medicamento no mercado.
“Para otimizar o resultado, se deseja fornecer informação suficiente para que os outros atores cheguem a um determinado nível de confiança, mas se deve parar ao atingir esse nível,” explicou Brocas. “De outra forma, pode acontecer que mais informações façam com que o nível de confiança diminua.”
O estudo, “Influência Através da Ignorância”, é o primeiro a examinar extensamente situações onde o poder se origina em controlar o fluxo de informação para o público, em oposição à posse de informações exclusivas.
Como explicam Brocas e Carrillo, existem segredos – fatos que são deliberadamente omitidos – e existem fatos que não são conhecidos por pessoa alguma.
“Não é necessário ter informações extra,” afirma Brocas. “Você pode induzir as pessoas a fazer o que você quer, apenas por cessar o fluxo de informação ou por fazê-lo continuar. Isto basta.”
Incrivelmente, o ator que manipula o fluxo de informação deve deliberadamente escolher permanecer desinformado, também – o que pode sair pela culatra.
No caso da Merck, um estudo, publicado cinco anos depois que o medicamento foi introduzido no mercado, mostrava que tomar Vioxx aumentava significativamente o risco de ataques cardíacos. A Merck financiou o estudo, que foi realizado para verificar se o analgésico era também eficaz contra pólipos no cólon.
Aí, envolvida em uma pendência judicial de US$4,85 bilhões, a companhia afirma que o Vioxx, estatisticamente, não oferece qualquer risco significativo a longo prazo para o coração, uma vez que sua administração tenha sido suspensa. Esta afirmação é discutível: a Merck parou de monitorar os pacientes depois de apenas um ano, cessando o estudo logo que o medicamento foi retirado do mercado.
Da mesma forma, explicam os pesquisadores, o presidente de um conselho pode encerrar as discussões e a apresentação de novos indícios, digamos, sobre a continuação da procura por armas de destruição em massa. Exigir uma votação enquanto os sentimentos parecem estar com uma certa tendência, efetivamente restringe o quanto todos os membros, inclusive o presidente, sabem acerca do assunto em questão.
No geral, a capacidade de controlar o fluxo de notícias e permanecer publicamente ignorante, dá ao líder algum poder, que é usado para influenciar as ações dos seguidores,” afirmaram os pesquisadores. “Nossos resultados sugerem que um presidente (de qualquer comitê), o Presidente (da República) e a mídia podem influenciar as decisões de um comitê, do eleitorado e do público, por meio de uma restrição estratégica do fluxo de informações.”
Brocas e Carrillo estão realizando um estudo complementar que mede o quanto as pessoas compreendem, de maneira intuitiva, o fenômeno da “influência através da ignorância”: “Estamos interessados em saber se as pessoas entendem sua capacidade de manipular informações e se o fazem de maneira otimizada”, diz Brocas.
O estudo também aborda as implicações de diversas variáveis importantes, tais como o quanto a opinião pública é afetada quando existe mais de uma fonte de informação disponível para todos e que não seja excessivamente custosa para obter (em outras palavras, disponível e acessível para todos).
A competição, provida pela diversidade da mídia e por fontes públicas de verbas para pesquisas, não só faz com que as fontes de informação revelem mais dados, como também faz com que o efeito de “influência através da ignorância” diminua – e, sob certas circunstâncias, desapareça – descobriram os pesquisadores.###
Brocas, Isabelle and Juan D. Carrillo, “Influence Through Ignorance.” The RAND Journal of Economics: 38:4; 931-947.
Comparar com o famoso “De Bonner para Homer”… E tirem suas próprias conclusões…
Mas existe o velhíssimo adágio: “Quem só ouve um sino, só ouve um som”…
“Guerra Contra o Terrosimo”: quem aproveita?
Uma das mais recentes, ele foi buscar no “The Independent”… da Ilha de Malta!…
Uma reflexão interessante sobre essa nova onda de “proteção contra o terrorismo internacional” e a real validade das medidas adotadas:
Re-pensando o contraterrorismo
por Bjørn Lomborg e Todd Sandler
Guardas de fronteira de faces sombrias e duras medidas de segurança em aeroportos internacionais nos dão uma poderosa sensação de segurança em que o mundo desenvolvido está gastando centenas de bilhões de dólares para nos proteger contra o terrorismo. Mas será que isso vale a pena?
Embora cidadãos dos países ricos vejam o terrorismo como uma das maiores ameaças mundiais, os terroristas transnacionais tiram, em média, somente 420 vidas a cada ano. Será que, então, os terroristas obtiveram sucesso em fazer com que o mundo desenvolvido realize investimentos de baixo retorno em contraterrorismo, enquanto problemas mais urgentes, tais como os que envolvem saúde, meio ambiente, conflitos e governabilidade, são ignorados?
Recentemente, o “Consenso de Copenhagen” (“Copenhagen Consensus”), cujo propósito é sopesar os custos e benefícios de diferentes soluções para os maiores problemas do mundo, recomendou novas pesquisas sobre os méritos dos diferentes métodos de combate ao terrorismo. Os resultados são surpreendentes e preocupantes.
Os gastos globais com segurança nacional registraram um aumento de cerca de US$70 bilhões desde 2001. De maneira nada surpreendente, isto se traduziu, inicialmente, em uma queda de 34% nos ataques terroristas transnacionais. O que surpreende é que aconteceram mais 67 mortes, em média, a cada ano.
Este aumento na taxa de mortes é causado pela resposta racional dos terroristas aos maiores riscos, impostos pelas medidas de segurança mais rígidas. Eles passaram a realizar ataques onde podem causar maiores carnificinas, de modo a aumentar o impacto com um número menor de ataques.
As medidas antiterrorismo aumentadas, simplesmente transferiram a atenção dos terroristas para outros lugares. A instalação de detectores de metais nos aeroportos em 1973 diminuiu os seqüestros de aeronaves, mas aumentou o de seqüestros de pessoas; a fortificação das embaixadas americanas reduziu os ataques às embaixadas, mas aumentou o número de assassinatos de diplomatas. Desde que as medidas de contraterrorismo foram aumentadas na Europa, Estados Unidos e Canadá, houve uma clara mudança de alvo para ataques contra os interesses americanos no Oriente Médio e na Ásia.
Gastar importâncias cada vez maiores para tornar os alvos mais “difíceis” é, na verdade, uma má escolha.
O aumento nas medidas defensivas em escala mundial em 25%, custaria ao menos US$75 bilhões em cinco anos. Os terroristas irão, inevitavelmente, se voltar para alvos mais frágeis. No cenário extremamente improvável de que os ataques caíssem os mesmos 25%, o mundo economizaria cerca de US$22 bilhões. Mesmo assim, os custos são três vezes mais altos do que os benefícios.
Dito de outra forma, cada dólar extra gasto no aumento de medidas defensivas obterá – no máximo – um retorno de cerca de 30 cents. Poderíamos salvar cerca de 105 vidas por ano, neste cenário mais otimista. Para colocar isso no devido contexto, 30.000 vidas são perdidas anualmente nas rodovias dos EUA.
Ao contrário do efeito do aumento das medidas defensivas, patrocinar uma maior cooperação internacional para cortar o financiamento dos terroristas seria relativamente mais barato e mais eficaz. Isto envolveria uma maior extradição de terroristas e um aperto nos fundos de ajuda humanitária, tráfico de drogas, mercadorias “piratas”, comércio de “commodities” e atividades ilícitas que lhes permitem continuar com suas atividades.
Embora esta abordagem tenha pouca ou nenhuma eficácia na redução de eventos de pequeno escopo, tais como atentados a bomba “rotineiros” ou assassinatos políticos, ela prejudicaria sensivelmente os ataques espetaculares que envolvem uma grande soma de planejamento e recursos.
O aumento da cooperação internacional que esta abordagem necessita, seria difícil de se conseguir, porque as nações protegem agressivamente sua autonomia sobre questões de polícia e segurança interna. Uma única nação não-cooperativa pode desfazer muito dos esforços das outras.
Entretanto, as vantagens seriam substanciais. Dobrar o orçamento da Interpol e alocar um décimo do orçamento anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a monitoração financeira e capacitação, para rastrear os fundos de financiamento do terrorismo, custariam cerca de US$128 milhões anualmente. Impedir um evento terrorista catastrófico, faria o mundo economizar ao menos US$1 bilhão. Os benefícios seriam 10 vezes maiores do que os custos.
Outra opção é que as nações-alvos pensem com mais largueza em suas abordagens do contraterorismo. Alguns observadores argumentam que os EUA – o alvo chave – poderia fazer mais para projetar uma imagem positiva e negar a propaganda dos terroristas.
Isto poderia ser parcialmente obtido mediante a realocação ou aumento na ajuda externa.
Atualmente, os EUA destinam apenas 0,17% de seu PIB para assistência oficial para o desenvolvimento – a segunda menor parcela de contribuição entre os países da OCDE – e sua ajuda é altamente direcionada para países que apóiam a agenda de política externa americana. Ao estender o auxílio humanitário sem anzóis dentro, os Estados Unidos poderiam fazer mais para lidar com problemas tais como a fome, doenças e miséria, colhendo ao mesmo tempo consideráveis benefícios para sua imagem e diminuindo os riscos de ser alvo do terror.
Não estamos advogando concessões às reivindicações dos terroristas: em lugar disto, nós recomendamos que a política externa seja mais astuta e mais inspiradora.
Não existe uma panacéia contra o terrorismo. Ele é, por si só, assustador. Entretanto, não devemos deixar que o medo nos desvie de responder a ele da melhor forma. Nem deve o medo nos impedir de salvar mais vidas, por gastar o dinheiro nas questões menos alardeadas que desafiam nosso planeta.
Bjørn Lomborg é o organizador do “Copenhagen Consensus”, professor adjunto na Escola de Administração de Copenhagen e autor de “Cool It: The Skeptical Environmentalist Guide to Global Warming” e “The Skeptical Environmentalist: Measuring the Real State of the World”. Todd Sandler é Professor de Economia e Política Econômica, na Universidade do Texas em Dallas, e recebeu o Prêmio da Academia Nacional de Ciências para Pesquisa de Comportamento Relevante para a Prevenção da Guerra Nuclear.
Copyright (devidamente ignorado): Project Syndicate, 2008.
Esta tradução contou com a inestimável colaboração do “Moderador”. Como a matéria foi traduzida a quatro mãos, eu não vou incluir, por hora, comentários pessoais.
Atualizando em 13/03/2008:
Já que nem meu cúmplice se dignou a comentar, eu vou continuar… Em primeiro lugar, é muito otimismo dos autores acharem que um país que chama seu campeonato nacional de beisebol de “World Series”, vá se importar com uns sujeitinhos que vestem camisolões e “batem cabeça” voltados para uma obscura cidade na Península Arábica onde não há um poço de petróleo sequer…
Aliás, é meio irônico um “Consenso de Copenhagen” se a Dinamarca é o primeiro país insignificante que fica sacaneando os muçulmanos, com as infelizes “charges de Maomé”… Bem “jesuítico”: “faça o que eu digo, não o que eu faço”…
Claro que é muito mais fácil se livrar de terroristas se, em primeiro lugar, eles não tiverem motivos para explodir ninguém!… Elimine a fome, a miséria, os governos corruptos e ditatoriais de Faissal & curriola, Musharraf & patota, e, sobretudo, parem de dar apoio ao Estado Terrorista de Israel e desmontem o KZ de Guantánamo, e dá para começar a conversar…
A velha União Soviética “foi para o vinagre” exatamente porque gastava demais com “Segurança & Repressão”. Espero estar vivo para ver a “balcanização” dos EUA… (Não fui eu quem lançou este vaticínio: foi Robert Anson Heinlein , o mesmo que previu a implosão da União Soviética, desde 1955). Já passou por perto, quando o Furacão Katrina assolou a Costa do Golfo do México, mas o W. Bush estava mais preocupado com o que acontecia no Golfo Pérsico… O “Direito de Secessão” continua na Constituição de lá… E a Governadora Blanco da Louisiana teve que ameaçar exercer esse direito para ter sua Guarda Nacional de volta…
O que me incomoda são as alternativas disponíveis…
Um Americano Intranqüilo
“Nosso País Está em Perigo”
Um ex-caçador de bin Laden explica porque os EUA não venceram a Al Qaeda.
Por John Barry | Newsweek Web Exclusive 13 de fevereiro de 2008
Michael Scheuer é um homem preocupado — e zangado. Ele está preocupado com o que ele vê como o fracasso dos Estados Unidos em traçar uma estratégia de sucesso contra Osama bin Laden e zangado com o que ele vê como uma timidez política por trás desse fracasso. Scheuer tem motivos para ser ouvido. Ele foi um agente da CIA por quase 20 anos. Nos anos 1980 ele esteve envolvido com o fornecimento de armamentos para os mujahedin do Afeganistão contra os Soviéticos. Pela maior parte da década de 1990 ele liderou a equipe que caçou Osama bin Laden. Em 2004 ele deixou a CIA e escreveu um livro, intitulado “Imperial Hubris” (“Arrogância Imperial”), um relato dos anos de fracasso do Ocidente em tratar seriamente a crescente ameaça do terrorismo Islâmico. Agora Scheuer escreveu um novo livro, “Marching Toward Hell: America and Islam After Iraq” (“Caminhando para o Inferno: a América e o Islam depois do Iraque”). Ele falou ao repórter da NEWSWEEK, John Barry, acerca do livro. Extratos:
NEWSWEEK: Por que você escreveu este novo livro?
Michael Scheuer: Porque eu acho que nosso país está em perigo. O inimigo que estamos encarando, Osama bin Laden e o movimento que ele chefia, é muito mais perigoso do que qualquer um acredita. É muito mais esperto, muito mais talentoso e, agora, está recrutando, cada vez mais, uma nova geração que é melhor educada, não somente em termos de escolaridade, mas em termos operacionais e tecnológicos. Nós derrotamos os espadachins. Os Errol Flynns do jihad se foram; eles estão perto de serem julgados em Guantánamo. Agora, nós temos os mocinhos de terno cinza que são calmos, não atraem atenções para si, mas são tremendamente sabidos.
Nós subestimamos Osama bin Laden?
Eu acho que existe um tremendo racismo em nossa resposta a bin Laden. Ele usa uma barba e umas roupas esquisitas e vive em uma caverna. (Eu duvido que isso seja verdade, por falar nisso. Esta a versão feita-para-Hollywood). De forma que desprezamos ele. Mas é incrível tratar seu inimigo como um idiota, especialmente quando você está perdendo duas guerras para ele, e quando seu diretor da Inteligência Nacional está avisando que a Al Qaeda foi reconstruída, reequipada e está mais forte do que nunca.
Nós estamos combatendo bin Laden a mais tempo do que lutamos na Segunda Guerra Mundial. Por que não ganhamos?
Porque nossa elite política não quer se rebaixar a explicar ao povo americano as reais razões porque bin Laden nos odeia e se opõe a nós. Nossos líderes dizem que ele e seus seguidores nos odeiam por causa de quem somos, porque temos primárias antecipadas em Iowa a cada quatro anos e deixamos nossas mulheres trabalharem. Isto é idiotice. Eu não acho que ele queira essas coisas no país dele. Mas não é por isso que ele se opõe a nós. Eu leio os escritos de bin Laden e aceito a palavra dele. Ele e seus seguidores nos odeiam por causa de aspectos específicos de nossa política externa. Bin Laden expõe esses motivos para qualquer um que queira ler. Seis elementos: nosso inqualificável apoio a Israel; nossa presença na península Arábica, cuja terra eles julgam sagrada; nossa presença militar em outros países Islâmicos; nosso apoio a outros estados que oprimem muçulmanos, especialmente Russia, China e India; nossa política de longo prazo de manter os preços do petróleo artificialmente baixos para beneficiar os consumidores ocidentais em detrimento do povo árabe; e nosso apoio às tiranias árabes que concordam com isso.
Você diz que bin Laden explicou tudo isto. Mas não é o que se ouve na corrente campanha presidencial.
Eu cheguei à conclusão de que isto é apenas inconveniente demais para nossa classe política. É muito mais fácil dizer aos americanos que uns malucos estão querendo pegar você e que amanhã sua filha vai ter que ir para a escola usando uma burqa. E nós temos pouquíssimas pessoas, ainda hoje, com conhecimentos sobre o mundo árabe. No mesmo ano do ataque de 11/9, houve três PhDs concedidos sobre assuntos árabes. Três, no país todo. Um foi sobre Arquitetura Islâmica. Um foi sobre a Poesia Islâmica. O terceiro foi sobre a História Islâmica. E as coisas não melhoraram muito desde então. Nós ainda estamos construindo o capital intelectual que precisamos. Na Guerra Fria, será que nós dizíamos: “Nós não precisamos realmente entender o que Marx, Lênin ou Stálin escreveram, porque eles são gangsters, não pessoas brilhantes, são somente niilistas e nós podemos vencer eles porque nós somos ‘os mocinhos'”? Não. Nos construímos, com dinheiro do governo, instituições para estudar a União Soviética. Mas nada comparável a isso está sendo feito agora. O esforço é mínimo. E, cada vez mais, você descobre que os institutos existentes são financiados por dinheiro saudita. O que significa que existem limitações reais sobre o que eles podem dizer. Então eu leio na National Review ou no Weekly Standard acerca de Osama bin Laden ser um gangster ou um idiota, ou ambos. Mas eu tenho que dizer que há um toque de gênio aí. Pegar em seis elementos da política externa americana que são os mais identificados com nossas políticas domésticas é uma grande peça de análise. Porque isso torna o debate franco tão difícil.
E se não tivermos este debate?
Veja, nós temos uma classe política neste país que vive e morre com base em pesquisas. Eles não vão ao banheiro sem ver as pesquisas. Pois bem, as pesquisas nos dizem que, no mundo muçulmano, algo como 75 a 80 % concordam com Osama bin Laden em que a política externa americana é destinada a prejudicar ou destruir o Islam. Bem, pouquíssimos deles vão pegar em uma AK-47. Mas quantos são precisos para causar um problema? Osama bin Laden está, de alguma forma, falando de uma guerra de libertação. E é verdade que por 50 anos nós apoiamos tiranias que oprimiam muçulmanos, tiranias com fortes elementos fascistas. Nós ouvimos um bocado sobre os “Islamofascistas”. Sim, existem muitos deles por aí. E eles estão todos do nosso lado. Eles estão em Riyadh, Amman, Kuwait City, Cairo. Até Bernard Lewis, o santo patrono de nossos “neocons”, escreveu que os governos que dominam os muçulmanos estão praticando basicamente um Facismo Europeu adaptado às areias… Nós podemos manter o atual curso da política externa americana, mas temos que compreender que, com o tempo, isto pode acabar nos envolvendo em enviar tropas para lutar em cada continente, na medida em que novos jovens muçulmanos se alistem na bandeira da Al Qaeda. Os candidatos na campanha presidencial estão falando de ressuscitar empregos e salários, e partir para uma saúde universal. Nada disso vai ser possível se nosso país estiver envolvido. Meu próprio ponto de vista é que é mais sensato enfrentar o fato de que nossa política externa com relação aos árabes é o único aliado indispensável para Osama bin Laden.
© 2008 Newsweek, Inc.
Crise?… Que crise?…
Um amigo (que eu não vou identificar, por motivos óbvios) me mandou essa:
Recessão na América
A economia vulnerável da América
15 de novembro de 2007
Da edição impressa da The Economist
A recessão na América parece cada vez mais provável. Os mercados emergentes em expansão podem salvar a economia mundial?
EM 1929, dias após o “crack” da Bolsa, a Harvard Economic Society reconfortava seus assinantes: “Uma recessão grave está fora dos limites da probabilidade”. Em uma pesquisa, em março de 2001, 95% dos economistas americanos disseram que não haveria uma recessão, embora uma já tivesse começado. Hoje, a maior parte dos economistas não prevêem uma recessão na América, mas o lamentável registro das previsões desses profissionais não dão muito consolo. Nossa última avaliação (ver artigo) sugere que os Estados Unidos podem estar muito bem a caminho de uma recessão.
Certo, o PIB cresceu uns robustos 3,9%, em uma taxa anual, no terceiro quadrimestre. Certo, também, que revisões podem muito bem rever estes números para cima. Mas isso foi o passado. Sinais mais atuais sugerem que a economia pode despencar neste quadrimestre. No começo do próximo ano, a produção e os empregos podem estar encolhendo. A principal causa é a implosão do mercado imobiliário. Os experts disseram que os preços dos imóveis jamais poderiam cair por todo o país. Mas eles caíram, sim, em 5% nos últimos 12 meses. O investimento em moradias entrou em colapso, mas um estoque de casas não vendidas significa ue os preços ainda têm muito o que cair. Os gastos dos americanos devem sofrer um efeito negativo maior da queda dos preços das casas do que o do colapso da Bolsa em 2001. Com o preço das casas menor e condições de crédito mais apertadas como resultado da crise dos empréstimos subprime, as famílias não poderão mais tomar empréstimos contando com ganhos de capital para financiar seus gastos.
O petróleo mais caro deve apertar o orçamento das famílias mais ainda (não obstante a queda desta semana no preço do barril de petróleo bruto). A confiança dos consumidores já caiu vertiginosamente. Não deve demorar muito para que os gastos dos consumidores desabem, o que, por sua vez, vai prejudicar os lucros e os investimentos das firmas. O dólar fraco vai estimular as exportações, mas, consistindo em apenas 12% do PIB, as exportações são pequenas demais para compensar um enfraquecimento dos gastos dos consumidores, que responde por 70%.
Eu quero me libertar
Será que uma recessão na América vai arrastar o resto do mundo para o buraco junto com ela? As economias da Europa e do Japão reagiram fortemente no terceiro quadrimestre, mas parecem fadadas a diminuir o ritmo. Embora ambas possam ser capazes de rastejar por si próprias, nenhuma delas parece ser capaz de estabelecer um ritmo maior. Moedas fortiicadas vão prejudicar os exportadores em ambos os lugares. Mesmo os próprios mercados imobiliários fortes da Europa estão enfraquecendo e alguns de seus bancos sofreram efeitos colaterais das mazelas dos subprime da América.
As maiores esperanças de que o crescimento global possa permanecer firme reside, em lugar destas, nas economias emergentes. Na década passada, a idéia de que tanto pudesse depender desses locais sujeitos a crises seria terrificante. Entretanto, graças (e muitas) a reformas econômicas, suas taxas de crescimento anual subiram para o entorno dos 7%. Neste ano, elas vão contribuir com metade do PIB mundial, medido em taxas de câmbio de mercado, mais de três vezes mais do que a América. No passado, economias emergentes freqüentemente precisaram de ajudas emergenciais do mundo rico. Desta vez elas podem ser as salvadoras.
É claro que uma recessão na América vai reduzir as exportações das economias emergentes, mas elas estão menos vulneráveis do que costumavam ser. A importância da América como a locomotiva do crescimento global foi exagerada. Desde 2000 sua parcela de importações mundiais caiu de 19% para 14%. Seu vasto déficit na conta-corrente começou a diminuir, o que significa que a América não está mais arrastando atrás de si o resto do mundo. Entretanto, o crescimento nas economias emergentes se acelerou, graças, parcialmente, às demandas domésticas. Na primeira metade deste ano, o aumento nos gastos dos consumidores (em termos de dólares atuais) na China e na Índia acrescentaram mais ao crescimento do PIB mundial do que na América.
A maior parte das economias emergentes estão com uma saúde melhor do que nunca (ver artigo). Elas não são mais dependentes financeiramente do resto do mundo, porém têm grandes reservas cambiais externas — nada menos do que três quartos do total global. Embora existam algumas excessões notáveis, a maioria delas têm pequenos déficits orçamentários (outra mudança quanto ao passado), de forma que elas podem alavancar os gastos para contrabalançar as exportações menores, se tiver que ser assim.
Isto não significa que as economias emergentes vão crescer rápido o bastante para compensar toda a queda da produção americana. A maior parte delas vai exibir um desaquecimento no crescimento no ano que vem: por exemplo, a taxa de crescimento da China deve cair para “só” 10%. De forma que o crescimento global vai diminuir —o que, depois de cinco anos de uma média de quase 5%, próxima do maior patamar jamais observado, ele precisa fazer. Mas, graças ao vigor dos novos titãs, vai continuar acima de sua média de 3,5% dos últimos 30 anos.
Uma história de dois preços
A importância crescente dos novos gigantes mundiais não só vai alavancar o crescimento. Também vai afetar os preços relativos, notadamente os do petróleo e do dólar. E as conseqüências serão menos confortáveis para as nações desenvolvidas, especialmente a América.
O preço do petróleo tem subido principalmente por causa da forte demanda nas economias emergentes, que responderam por quatro quintos do aumento total do consumo de petróleo nos últimos cinco anos. Nas recessões americanas do passado, o preço do petróleo usualmente caiu. Desta vez é provável que ele se mantenha. Isto não só vai prejudicar as finanças dos consumidores ocidentais, como pode tornar a tarefa dos seus Presidentes de Bancos Centrais mais difíceis, combinando a pressão inflacionária com desaquecimento econômico.
O dólar enfraquecido — ultimamente na casa de US$1,50 por euro — ficará ainda mais fraco sem as enormes compras feitas pelos bancos centrais das economias emergentes. Este apoio agora está minguando. A China e outros estão colocando uma menor parcela de aumentos de reservas na moeda americana. E os países asiáticos e do oriente médio, cujas moedas são ligadas ao dólar, estão confrontadas com aumentos de inflação, mas a queda nas taxas de juros americanas torna mais difícil apertar sua própria política monetária. Eles podem ter que deixar suas moedas se valorizarem contra o verdinho doente, o que significa que eles vão ter que comprar menos dólares. Mais importante, na medida em que os investidores internacionais acordarem para o enfraquecimento relativo do poder econômico da América, eles seguramente vão se questionar sobre por que eles devem manter a maior parte de sua riqueza em dólares. O declínio do dólar já significa o maior calote da história, tendo varrido muito mais do valor dos investimentos estrangeiros do que qualquer economia emergente jamais conseguiu.
O vigor das economias emergentes é uma boa notícia para a economia mundial: para seu crescimento, ela tem muito menos necessidade de uma América forte. A má notícia para a América e que, por sua vez, isto pode significar que o mundo tenha menos necessidade do dólar.
Com a palavra os experts tupiniquins: e o Brasil que tem rezado tanto pela cartilha do FMI? Vai fazer supositório das enormes reservas cambiais em dólar, ou vai usar esses dólares para desarrochar a economia brasileira?…