Essa escapou do “Improbable”…

Via EurekAlert, uma notícia que merecia (ou será que não?…) estar nos Anais da Pesquisa Improvável.
Cientistas da Caltech descobrem porque moscas são tão difíceis de apanhar

PASADENA, Calif.  — Nas duas últimas décadas, Michael Dickinson tem sido entrevistado por centenas de repórteres acerca de sua pesquisa sobre a biomecânica do vôo dos insetos. Uma pergunta da imprensa sempre embatucou ele: Por que as moscas são tão difíceis de pegar?

“Agora eu posso finalmente responder”, diz Dickinson, o Esther M. and Abe M. Zarem Professor de Bioengenharia no Instituto de Tecnologia da Califórnia (California Institute of Technology – Caltech).

Usando imageamento digital de alta velocidade e alta resolução de moscas de fruta (Drosophila melanogaster) confrontadas com um mata-moscas em posição ameaçadora, Dickinson e a estudante de pós-graduação Gwyneth Card descobriram o segredo da manobra evasiva da mosca. Muito antes da mosca decolar, seu pequeno cérebro calcula a posição da ameaça iminente, traça um plano de fuga e posiciona suas pernas em uma posição otimizada para saltar para fora de seu curso, na direção oposta. Toda esta ação ocorre em cerca de 100 milissegunods desde que a mosca percebe o mata-moscas.

“Isto ilustra o quão rápido o cérebro da mosca pode processar as informações sensoriais em uma resposta motora apropriada”, declara Dickinson.

Por exemplo, os vídeos mostraram que o mata-moscas descendente — na verdade um disco preto com 14 cm de diâmetro, caindo em um ângulo de  50° na direção de uma mosca colocada no centro de uma pequena plataforma — vem da frente da mosca, a mosca move suas pernas do meio para a frente e se inclina para trás, então se ergue e estende suas pernas para saltar para trás. Entretanto, quando a ameaça vem de trás, a mosca (que tem um campo de visão próximo de 360° e pode ver atrás de si) move suas pernas do meio um pouco para trás. Com uma ameaça lateral, a mosca mantém suas pernas do meio estacionárias, mas inclina todo seu corpo na direção oposta, antes de saltar.

“Também descobrimos que, quando a mosca traça os movimentos que antecedem a decolagem, ela leva em conta a posição de seu próprio corpo na hora em que percebe a ameaça”, diz Dickinson. “Assim que ela percebe uma ameaça se aproximar, o corpo da mosca pode estar em qualquer postura, dependendo do que ela estiver fazendo na hora: se esfregando, comendo, andando ou fazendo corte. Nossas experiências mostraram que a mosca, de alguma forma, ‘sabe’ se precisa adotar mudanças de postura grandes ou pequenas para chegar à posição ideal para a decolagem. Isto significa que a mosca tem que integrar a informação visual que vem de seus olhos e diz de onde vem a ameaça, com a informação sensório-mecânica vinda de suas pernas, que diz como se mover para alcançar a posição de decolagem ideal”.

Os resultados fornecem um novo enfoque sobre o sistema nervoso da mosca e sugere que, dentro do cérebro da mosca, existe um mapa onde a posição da ameaça iminente “é transformada em um padrão apropriado de posicionamento das pernas e corpo antes da decolagem”, afirma Dickinson. “Esta é uma transformação sensório-para-motor razoavelmente sofisticada e a pesquisa prossegue para descobrir em que parte do cérebro onde isso acontece”, diz ele.

A pesquisa de Dickinson também sugere que existe um processo ideal para realmente pegar uma mosca. “è melhor não apontar para a posição inicial da mosca; melhor apontar um pouco à frente para antecipar para onde a mosca vai saltar quando perceber seu mata-moscas”. diz ele.

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O artigo, “Visually Mediated Motor Planning in the Escape Response of Drosophila“, será publicado em 28 de agosto no periódico Current Biology.

A pesquisa foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde e a Fundação Nacional de Ciências.

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Observação do tradutor: e macacos me mordam se o Pentágono não está por trás disso…

Atualizando em 31/08/2008:

Traduttore, traditore… Os termos usados no original são “swat” e “fly-swatter”. “Swat” é “esmagar com um golpe” (grande demais e eu não encontrei um verbo em português que transmitisse a idéia original… aceito sugestões).

E, após uma noite de sono, me lembrei que as pesquisas de Dickinson poderiam ter sido grandemente abreviadas se ele conhecese o trabalho empírico de dois amigos de juventude meus (que – não por coincidência – se pós-graduaram na  primeira turma de Biofísica da UFRJ…), Arnaldo e Paulo Paes de Andrade. A abordagem deles era simples: se aproximar da mosca com as duas mãos, igualmente espaçadas, pelas laterais, e bater palmas pouco acima do lugar onde a mosca estava pousada. Infalível…

Estudos Médicos: quem, realmente, os escreve?…

Via Improbable Research, aparece esta questão muito oportuna: quem, realmente, escreve os artigos sobre pesquisas médicas que são publicados? Segundo um recente estudo, a resposta não é o que aparece…

A condição de autor em publicações biomédicas, ao mesmo tempo que promove o reconhecimento, estabelece responsabilidades. Um recente litígio, relacionado com a droga rofecoxib (mais conhecido como Vioxx) estabeleceu uma oportunidade única para examinar o papel de autores convidados e o “ghostwriting“, práticas que se suspeitava ocorrer nas publicações biomédicas, mas sobre as quais havia pouca documentação….
A presente revisão do caso em estudo sobre documentos produzidos por indústrias, demonstra que os manuscritos sobre testes clínicos relacionados ao rofecoxib foram assinados por empregados da indústria patrocinadora, porém, freqüentemente, a autoria principal era atribuída a pesquisadores acadêmicos, cujo apoio financeiro, feito pela empresa, nem sempre era claramente exposto.
Guest Authorship and Ghostwriting in Publications Related to Rofecoxib: A Case Study of Industry Documents From Rofecoxib Litigation,” Joseph S. Ross, MD, MHS; Kevin P. Hill, MD, MHS; David S. Egilman, MD, MPH; Harlan M. Krumholz, MD, SM JAMA Vol. 299 No. 15, April 16, 2008

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Perguntinha inocente: será que só lá que isso acontece?…

Certo, mas pelos motivos errados…

Eu não aprendo nunca!… Eu insisto em denunciar as segundas intenções escondidas em diversas medidas governamentais “para a defesa do cidadão”, mas ninguém me leva a sério.  E, como sempre, me vem com estatísticas… Esquecem que “existem mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”.

A troco de que eu estou resmungando?… Pelos seguinte: a Ana Cláudia Bessa postou uma excelente matéria no Futuro do Presente, incentivando as pessoas a usarem mesmo o cinto de segurança dos carros. É claro que ela está certa! As benditas estatísticas – realizadas pelas maiores interessadas: as Seguradoras – comprovam que a maioria dos acidentes com vítimas ocorre próximo da residência, do local de trabalho, do mercado, enfim: de um local que o  motorista conhece “como a palma da mão” e por isso relaxa na atenção. Esses acidentes, normalmente ocorrem a baixas velocidades, inferiores a 60 km/h. Nessas velocidades, o cinto de segurança é eficaz. Acima disso, já é recomendável um air-bag

Pois é… Eu caí na asneira de comentar que a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança é uma legislação (nem isso é: o CONTRAN não é “Poder Legislativo”…) hipócrita, safada e beneficia, principalmente, as Seguradoras e a “indústria de multas”. Choveu pedra!… 🙁

Caso seguinte: existem diversos casos de transeuntes inocentes que são atingidos por “balas perdidas”. Vamos tornar obrigatório o uso de coletes a prova de balas?… Todos os dias, pessoas são feridas por objetos que caem de prédios: vamos tornar obrigatório o uso de capacetes de proteção?…

Recentemente, realizaram um plebiscito para decidir se proibiam ou não a comercialização de armas de fogo. Muita gente lamentou o resultado negativo, atribuindo a “culpa” à ausência do poder público na proteção do cidadão. É mesmo?… Então, se mirem no exemplo de um país onde nem a polícia anda armada.

Esse negócio de “eu não gosto, portanto você não pode”, está começando a virar desculpa para falta de educação e grosseria, disfarçada de “política-ou-ecológicamente correto”. Eu que sou gordo e tabagista, tenho ouvido as maiores grosserias de gente “bem-intencionada, que está falando para seu bem”… Não adianta eu só fumar em ambiente aberto e longe das pessoas: sempre aparece alguém, de passagem, e reclama… Alguns vão mais longe e começam a me avisar: “olha o enfarte!…” (e eu abro a camisa e mostro a cicatriz da operação das 4 pontes…) Cara!… Cigarro mata! Eu sei! Mas aporrinhação mata também!… (Antes que alguém lembre: eu controlo meus pulmões e eles vão muito bem, obrigado!… podiam estar melhores, mas eu sou tabagista há 44 anos).

Mas, voltando à vaca fria, o bendito cinto de segurança… Eu me pergunto: se há toda essa preocupação com a segurança das pessoas em geral, por que se permite que passageiros andem em pé nos transportes coletivos?… Ônibus, trem, metrô, bate e freia bruscamente, também… Só que o Zé Mané que anda neles não tem seguro! Então, pode… Mas, se o passageiro de um carro soltar o cinto para apanhar alguma coisa perigosa que caiu no assoalho do carro e “seu guardinha” notar, tome uma multa! (Até me interpelaram: “você solta o cinto com o carro em movimento?”… Solto, sim!… e também ando em pé em ônibus… o perigo é o mesmo, se não for menor). Pombas!… Também é proibido andar com o carro sem pneu sobressalente… Aí, seu pneu fura; você troca. Até você chegar a uma borracharia e consertar o pneu furado, está “fora da lei”! Legal, né?… Se “seu guardinha” te pegar na “blitz”, não é obrigado a acreditar que você está mesmo indo a uma borracharia (e dou minha cara a tapa se todo o mundo vai direto para uma, assim que troca um pneu…) E vai ser mais “engraçado”, ainda, se o pneu tiver furado por causa de um buraco na rua…

Usar o cinto de segurança é correto?… Depende… Você tem air-bags no seu carro?… Se tem, explica isso para “seu guardinha”… Não vai adiantar nada: o uso do cinto é obrigatório. Você está no meio de um enorme engarrafamento, parado como uma lesma reumática, mas devidamente atrelado pelos arreios obrigatórios. (não atenda o celular!… Se “seu guardinha” vir você com o celular na mão – mesmo que seja para andar aqueles 15 cm a cada 15 min – tome uma multa!… Se você tem um bluetooth, tudo bem… celular com bluetooth não “distrai” o motorista…)

E, para por a cereja em cima do “sundae”, ainda me aparecem com a bendita “Lei Seca”!… “O número de acidentes diminuiu sensivelmente!…” Claro! Por causa da cervejinha que você não tomou?… Ou foi porque tiraram os bafômetros do armário e passaram a fiscalizar?… Não é estranho como brotou bafômetro do nada, quando apareceu a oportunidade de arrecadar mais umas multinhas?…

Se você ainda não se convenceu, me resta pedir para ler esta minha tradução: “Por que pessoas espertas defendem más idéias“… e, já que foi até lá, aproveite e leia também “Pitbulls e outras generalizações erradas“.

Recapitulando: eu sou a favor do uso de cintos de segurança (sempre usei, antes mesmo de ser equipamento obrigatório no carro), mas sou contra a obrigatoriedade. Se as Seguradoras quiserem, ponham uma cláusula no contrato que torne o seguro nulo se as pessoas não estiverem usando o cinto, na hora do “sinistro”. Elas têm dinheiro de sobra (te vendem teu carro de novo, a cada três anos…) e advogados, peritos e, se bobear, até “testemunhas” para isso… E sou totalmente contra a “Lei Seca”: fiscalizar o excesso de álcool já era obrigação das “otoridades” de trânsito. Mas chamar um choppinho de “excesso” é que é excesso.

Physics News Update n° 870

POR DENTRO DA PESQUISA CIENTÍFICA ― ATUALIZAÇÃO DAS NOTÍCIAS DE FÍSICA

PHYSICS NEWS UPDATE

O Boletim de Notícias de Pesquisas do Instituto Americano de Física, n° 870 de 26 de agosto de 2008, por Philip F. Schewe, James Dawson e Jason S. Bardi

CRISTAIS NAS NUVENS.

A mais precisa medição jamais realizada dos cristais de gelo nas nuvens ajudará a melhorar as previsões de mudanças climáticas. Os cientistas criaram um instrumento feito para auxiliar a estabelecer os formatos e os tamanhos dos pequenos cristais de gelo, do tipo que se encontra em nuvens de grande altitude, até o nível de mícrons, comparáveis às menores células do corpo humano.

Entre as centenas de fatores que os climatologistas têm que levar em conta, a natureza das nuvens é um dos mais importantes e o menos compreendido.  O melhor que os pesquisadores do passado podiam fazer era tentar registrar imagens desses cristais, porém, para cristais abaixo de 25 mícrons, as imagens não tinham nitidez suficiente para permitir que se determinasse com exatidão o formato do cristal.

Os pesquisadores precisavam conhecer os formatos e os tamanhos desses cristais, porque seus formatos e tamanhos influenciam no quanto da luz que vem do Sol é absorvida pela atmosfera e quanto é refletido de volta para o espaço. Isto, por sua vez, pode ter um enorme impacto na magnitude de um possível aquecimento por efeito estufa.

Agora, cientistas da Universidade de Hertfordshire e da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, e na Universidade do Estado do Colorado, nos Estados Unidos, desenvolveram um instrumento de espalhamento óptico que pode avaliar o tamanho dos cristais de maneira diferente. Usando este instrumento, os pesquisadores foram capazes de determinar os tamanhos e os formatos dos cristais de gelo do tipo encontrado nas nuvens, até os menores níveis de mícrons.

(Veja a figura¹ dos cristais das nuvens; os cristais que já estão sendo medidos são muito menores do que esses). A equipe de pesquisa já construiu duas versões do instrumento: uma projetada para funcionar em uma câmera de simulação de nuvens, com base em terra ou para funcionar na fuselagem de aviões de pesquisa; a outra, uma versão aerodinâmica que se adapta por baixo da asa do avião e mede as partículas da nuvem diretamente, enquanto o avião voa através da nuvem (ver a figura). Nenhum dos instrumentos tenta obter uma imagem completa do cristal de gelo, uma vez que isso sofreria as mesmas limitações de resolução dos instrumentos existentes. Em lugar disto eles registram o detalhado padrão de luz difusa vindo de cada cristal e, então, interpretam esses padrões, usando tanto modelos teóricos, como a comparação com padrões registrados de cristais de formatos conhecidos. A partir desses dados, se pode realizar um censo de cristais de variados tamanhos e formatos.

“O novo instrumento deve auxiliar no mapeamento de uma compreensão mais completa dos complexos formatos dos cristais encontrados nas nuvens da atmosfera, especialmente nuvens do tipo cirrus que, em qualquer dia, podem cobrir mais do que 20% da superfície da Terra”, declara um dos pesquisadores, o cientista de Hertfordshire, Paul Kaye. “Nossas descobertas mostram que este instrumento de difusão óptica pode auxiliar os modeladores de climas a reduzir uma das maiores áreas de incerteza na interpretação das atuais tendências climáticas e a fazer previsões climáticas mais precisas”.

Além disto, recentes relatórios vem examinando o efeito que a poluição e as nuvens causadas pela poluição, têm na redução da radiação solar que chega à superfície, um desdobramento que pode contrabalançar, até certo ponto, o aquecimento global, e esta nova tecnologia pode auxiliar os cientistas a monitorarem e compreenderem melhor esta situação.

Até agora, as medições, relatadas recentemente na publicação Optics Letters, foram feitas somente em laboratório, porém serão em breve realizadas em nuvens de verdade.

ANÉIS DAS ÁRVORES NA ARGÉLIA E NA TUNÍSIA.

Climatologistas procuram por indícios das condições históricas em qualquer lugar em que possam. Os anéis de crescimento anuais nas árvores coníferas na Argélia e na Tunísia, por exemplo, fornecem séculos de dados sobre a umidade. A África Noroeste já foi verdejante, mas agora é seca.  Ramzi Touchan, da Universidade do Arizona, e seus colegas, estudaram metodicamente os dados de anéis anuais das árvores, formados em um período de 500 anos. Esta fatia de informação geológica mostram que as secas ocorrem em padrões irregulares. Mas a pior seca nesse período estudado, a julgar pela pequena espessura dos anéis anuais, foi o recente período de 1999 a 2002.

Por si só, isto não prova que a região africana do Maghreb está se tornando mais árida, diz Touchan, mas fornece um pano de fundo apra pesar futuros desdobramentos climáticos. (Resultados publicados na edição de agosto de 2008 de Geophysical Research Letters)

CARBONO MARROM VINDO DA CHINA.

A modelagem do clima que já temos e do clima que podemos estar criando, é uma importante tarefa que depende crucialmente dos fatores atmosféricos que os pesquisadores levam em conta, especialmente se estes se relacionam com materiais que contribuem para o efeito estufa, absorvendo a luz.  Usualmente, essas partículas carboníferas são percebidas como carbono orgânico, minimamente absorvente (vindo de processos da natureza) e o carbono negro, absorvedor de luz, vindo da queima de combustíveis fósseis, usualmente durante o processo de geração de eletricidade ou queima da biomassa. O tamanho, quantidade e propriedades ópticas deste carbono são regularmente incorporados nas simulações em computador nos estudos climáticos.

Agora os cientistas estão estudando um novo tipo de aerossol de carbono, um de cor marrom. Esta espécie de carbono consiste de esferas muito maiores (até dez vezes maiores) do que a fuligem habitual, e, acreditam os pesquisadores, se forma, não durante a combustão original, porém em uma posterior condensação de carbono nos céus. O novo estudo enfocou amostras de ar colhidas sobre o Mar Amarelo, próximo da China. Peter Crozier e seus colegas argumentam que, uma vez que essas esferas de carbono são bastante abundantes, precisam ser levadas em conta em futuros modelos de aquecimento da atmosfera.  (Os resultados foram publicados na edição de 8 de agosto da Science).

¹ Assim que o site do PNU publicar as figuras, eu ponho os links.

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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

Você sabe mesmo qual peixe está comprando?

Uma matéria no New York Times de hoje, intitulada “Uma história de pescador com um anzol de DNA”,  (assinada por John Schwartz) diz que, provavelmente, não…

Kate Stoeckle e Louisa Strauss, que concuiram o segundo grau neste ano na Trinity School em Manhattan, realizaram uma pesquisa científica freelance onde checaram 60 amostras de frutos do mar, usando uma técnica simplificada de análise de identificação genética para verificar se os novaiorquinos realmente estão comprando o que pensam que estão comprando.
Elas descobriram que, pelo menos um quarto das amostras de peixe com DNA identificável estavam com rótulos errados. Uma peça de sushi, vendida como a raríssima albacora, se revelou uama tilápia de Moçambique, um peixe muito mais barato e produzida em viveiros. Ovas, supostamente de peixe-voador, era de um peixe comum nos Grandes Lagos (Osmeridae). Diversos outros peixes eram igualmente rotulados erradamente, inclusive contendo peixes de espécies ameaçadas.
O mais impressionante – prossegue o artigo – foi a facilidade com que as estudantes realizaram o estudo. Embora a tecnologia seja de ponta, o fato de que qualquer um pode se valer dela, enviando amostras para um laboratório, significa que essa ferramenta de pesquisa, antes restritas aos PhD e Peritos Criminais, pode passar às mãos de consumidores mais atentos e futuros cientistas, em todos os lugares.
O projeto teve início, bem apropriadamente, depois de um jantar,  há um ano. O pai de Kate, Mark, é um cientista e um dos primeiros a propor o uso da técnica de “código de barras de DNA”, que simplificaria o processo de identificação de espécies. Em lugar de seqüenciar todo o genoma, os “codificadores de barras” examinam um único gene. Apesar de ser um especialista em pássaros, o Dr. Stoeckler admite que costuma falar de trabalho durante as refeições.
Para encurtar a história, elas se valeram da colaboração do estudante de pós-graduação Eugene Wong na Universidade de Guelph em Ontário, onde começou o projeto Fish Barcode of Life (inevitavelmente apelidado de Fish-BOL) que concordou em fazer a análise genética. Ele comparou as amostras enviadas pelas secundaristas com o catálogo global com 30.562 “códigos de barra” que representam perto de 5.500 espécies de peixes (laboratórios comerciais cobrariam uma taxa para realizar os testes).
Trezentos dólares em mercadorias após, as jovens pesquisadoras receberam os resultados da Guelph: 2 dos 4 restaurantes e 6 dos 10 mercados pesquisados tinham vendido peixe com rótulo falso.
Os resultados da pesquisa das senhoritas Strauss e Stoeckle serão publicados na revista Pacific Fishing, dirigida a pescadores profissionais. A quantidade de amostras é pequena demais para servir como indício para uma ação legal contra os comerciantes de peixe de Nova York, mas é pouco provável que os resultados sejam uma mera flutuação estatística.
A experiência serve como um caveat emptor para os consumidores de peixe, principalmente porque as estudantes e seus pais se recusaram a divulgar os nomes dos vendedores, temendo represálias jurídicas. E, como elas mesmo observaram, a falsificação dos rótulos pode ter ocorrido em qualquer parte do processo, desde a pesca, à venda.
O Dr. Stoeckle revelou apenas o nome de um vendedor de peixes, cujos produtos passaram com distinção no teste: Leonards’ Seafood and Prime Meats, na Terceira Avenida. John Leonard, o proprietário, disse não estar surpreso com a aprovação de seus produtos no teste do “código de barras”. “Nós vamos lá e compramos o peixe pessoalmente”, declarou ele. “Nós sabemos o que estamos fazendo”. Quanto à tecnologia, o Sr. Leonard disse:  “é boa para o público”, uma vez que “provavelmente vai deixar os donos de restaurantes e mercados mais ‘na ponta dos pés’ ”.
Nenhuma das duas pretende seguir carreira como cientista. Louisa pretende estudar  História da Arte e Kate está ainda indecisa entre Literatura e Psicologia. Ambas vão iniciar este ano na Universidade Johns Hopkins.
As estudantes trabalharam sob a tutela de Jesse H. Ausubel da Universidade Rockfeller, uma das líderes na técnica de “código de barras de DNA”, que declarou que elas “contribuíram para a ciência global”, adiconando às bases de dados, feitas de uma forma semelhante à WikiPedia, na qual todas as pessoas do mundo podem contribuir. Ele acrescentou que a experiência das estudantes é um retorno à época da curiosidade científica: “Há trezentos anos, a ciência era menos profissionalizada”, comentou ele, e os amadores interessados davam contribuições. “Talvez a roda esteja girando de volta a uma posição onde mais pessoas possam participar”.

Physics News Update n° 869

POR DENTRO DA PESQUISA CIENTÍFICA ― ATUALIZAÇÃO DAS NOTÍCIAS DE FÍSICA

PHYSICS NEWS UPDATE

O Boletim de Notícias de Pesquisas do Instituto Americano de Física, n° 869 de 15 de agosto de 2008, por Philip F. Schewe, James Dawson e Jason S. Bardi

MEDALHA DE BRONZE OLÍMPICA.

A tecnologia mais sofisticada da antiguidade rastreava os Jogos Olímpicos, junto com os demais eventos clestiais. O ciclo de quatro anos entre cada Olimpíada da Era Moderna é baseado no ciclo original de 4 anos dos Jogos na Grécia Antiga.  Uma pesquisa publicada na revista Nature associou, agora, um antigo dispositivo que se sabe que era usado para rastrear e predizer eventos celestiais, à observância do intervalo quadrienal dos Jogos.

Chamado de Máquina de Anticitera, este mecanismo é uma máquina de bronze, construída por volta dos séculos primeiro ou segundo A.C. Possivelmente o mais antigo dispositivo científico, foi pescado do fundo do mar em 1901. Por causa de seu estado de conservação lamentável, o mecanismo não revelou seus segredos facilmente. Mais ou menos do tamanho de uma pequena caixa de sapatos em sua forma original, o dispositivo se desmanchou em vários fragmentos, depois de recuperado. Desde então, foram realizadas simulações em computadores e foram construídos modelos em latão para tentar recriar o mecanismo original.Agora, com a ajuda de sofisticadas técnicas de raios-x,  mais de 2500 caracteres foram lidos.

O mecanismo não é somente um livro de antigos arcanos, como os Manuscritos do Mar Morto. Uma máquina que consiste de vários diáis e engrenagens giratórias, ela é considerada por muitos como o primeiro computador analógico, uma vez que ele aceita entradas de dados e fornece resultados em resposta. Os antigos astrônomos podiam dar entradas das posições atuais das estrelas e planetas, e a Máquina de Anticitera daria predições dos futuros equinócios (quando a duração do dia é igual à da noite) e de Eclipses Solares (quando o Sol é coberto pela sombra da Lua).

Agora, na edição de 31 de julho de 2008 da Nature, uma equipe de pesquisadores relata duas descobertas surpreendentes. A primeira é uma nova interpretação de um dos diáis na máquina como sendo associado aos Jogos Olímpicos, realizados de quatro em quatro anos. Os gregos não precisavam de uma máquina para lhes dizer quando os Jogos deviam ser realizados, mas o dial está lá, de qualquer forma, diz Tony Freeth, membro da equipe, por causa da importância dos Jogos, tão importantes que muitos outros calendários eram associados ao evento, de forma muito parecida com que eventos históricos são associados com os reinados de vários reis.

A outra descoberta intrigante é que os nomes dos meses inscritos nos diáis são de origem coríntia. Corinto é uma cidade na Grécia situada em um istmo estratégico. Pensava-se antes que a máquina fosse originária da extremidade oriental da esfera de influência grega, Talvez da Ilha de Rodes. Porém, a nova interpretação sugere que a máquina foi feita em Corinto ou em uma de suas colônias, que ficam a Oeste, tais como a Sicília. Essas colônias gregas ocidentais são, algumas vezes, chamadas de “América Grega”, uma vez que, tal como as colônias britânicas do outro lado do Atlântico, elas representavam uma reformulação da cultura original, através de um mar na direção Oeste.

Vários dispositivos antigos dedicados a eventos celestiais tinham como função a importante tarefa de coordenar os eventos nos céus com os da Terra, tais como o plantio de colheitas ou a coroação dos reis. Provavelmente, o cálculo astronômico mais importante era a determinação da duração de um ano. Em 1974 um dos diáis da Máquina de Anticitera foi identificado como um calendário “Metônico. Este recebe o nome de um astrônomo ateniense do século V AC, Meton, que formulou um calendário que casava o calendário lunar (o ciclo da Lua tem um pouco mais do que 29 dias) e o calendário solar (o Sol leva cerca de 365 dias e um quarto para voltar ao mesmo lugar no céu). O calendário intermediário de Meton assimilava os ciclos lunar e solar em ciclos de 19 anos.

Mais recentemente, em 2006, a equipe de pesquisas que trabalha com o mecanismo foi capaz de deduzir, a partir de outro dial, um processo para predizer eclipses solares. Que tipo de conjunto de especialistas é necessário para obter este tipo de descoberta? Bem, até agora a equipe incluiu matemáticos, astrônomos, físicos, historiadores e filólogos (os que estudam as palavras).

Freeth declara que, embora o mecanismo tenha sido provavelmente construído bem depois da vida de Arquimedes (cerca de 225 A.C.), é tentador pensar que o dispositivo tenha sido criado em uma oficina da Sicília (conhecidos por seus instrumentos de bronze) influenciados por Arquimedes, visto por muitos como o maior cientista do mundo antigo.

Freeth, que já foi matemático e produtor de televisão e agora é um cientista pesquisador, pretende retornar à produção de TV com um documentário sobre a Máquina de Anticitera.

TALVEZ SEJAMOS ESPECIAIS, DIZ O SISTEMA SOLAR.

Historicamente, os humanos freqüentemente sentiram a necessidade de se sentirem especiais e, tão freqüentemente quanto, ficaram desapontados. A Terra, como se descobriu, não ficava no Centro do Universo. Os humanos são espertos, mas, no fim das contas, eles evoluem, vivem e morrem como todas as outras coisas vivas no planeta.  Pela astronomia, os modelos teóricos prevalecentes de como o Sistema Solar chegou a acontecer, têm que presumir que, com base na experiência passada, o nosso é um sistema estelar/planetário como qualquer outro.

Porém, de acordo com um novo estudo dos astrônomos da Universidade Northwestern que observaram 300 planetas que orbitam outras estrelas, nós podemos ser realmente especiais. “Nós agora sabemos que os outros sistemas planetários não se parecem nem um pouco com o Sistema Solar”, disse Frederic Rasio, astrônomo da Northwestern, em Chicago. Simulações em computador da equipe de Rasio mostraram que o nascimento de um sistema planetário é um negócio muito violento: o disco de gases que dá origem aos planetas os empurra na direção da estrela central, onde eles freqüentemente se apinham e acabam engolidos. Os “cabos de guerra” gravitacionais entres os planetas em fase de crescimento acabam por arremessar alguns para dentro do sistema planetário, outros para o espaço profundo. “Uma história turbulenta como essa parece deixar pouca margem para um sistema quieto como nosso Sistema Solar, e nossas simulações mostram exatamente isto”, afirma Rasio em um noticiário da Universidade Northwestern. Nosso Sistema Solar “teria que ter nascido sob as condições exatamente corretas para se tornar o lugar tranqüilo que vemos”, argumenta ele.  “A grande maioria dos outros sistemas planetários não tiveram essas propriedades especiais no seu nascimento e se tornaram algo muito diferente”.

O ODÕMETRO DO HUBBLE ESTÁ PERTO DOS 3 BILHÕES DE MILHAS.

O Telescópio Espacial Hubble, visto por muitos cientistas como o mais importante instrumento científico jamais construído, está perto de completar sua 100.000ª órbita da Terra, o que trará sua “milhagem” (em português se diria “quilometragem”) para cerca de 2,72 bilhões de milhas (cerca de 4,38 bilhões de quilômetros) . O Hubble foi lançado em 24 de abril de 1990 e tem viajado através do espaço a cerca de 600 km acima e a uma velocidade pouco menor do que 9 km/seg, desde então. Em celebração da marca de 100.000 órbitas, que aconteceu às 5:42h (hora de Brasília)  de 11de agosto, o Instituto do Telescópio Espacial em Baltimore calculou que esta distância equivale a 5.700 viagens de ida e volta à Lua.  Corresponde, também, à quilometragem total de todos os veículos nos Estados Unidos a cada três horas. O Hubble, observam eles, usa gravidade, não combustível, para se mover através do espaço.

MARATONA DOS RATOS.

Enquanto que “ganhar massa” com esteróides é uma prática bem conhecida entre alguns atletas, uma nova droga, desenvolvida para tratar uma doença metabólica, também deu a ratos praticantes de exercícios a capacidade de correr por mais uma hora, o que é um bocado em “tempo de rato”.  “Quando demos aos ratos uma pequena dose de exercícios diários, com ou sem a presença da droga, todos mostraram uma capacidade de correr aumentada”, disse Ronald Evans, um pesquisador do Instituto Salk.

Quando os ratos estavam treinados, Evans deu a alguns deles a droga, conhecida como GW1516, e descobriu que os ratos drogados continuavam correndo. No que Evans chamou de experiência do “couch potato” (gíria americana para um sujeito que passa o dia todo tirando uma soneca no sofá), os pesquisadores também descobriram que tratar os ratos com uma outra droga dava até aos ratos não exercitados uma maior resistência (“endurance”) quando eles entravam na pista.  “É como se enganássemos os músculos, fazendo-os “acreditar” que eles se exercitavam diariamente”, disse ele.  “Isto prova que se pode ter um fármaco equivalente ao exercício”. Ele observou que as drogas podem ser uma benção para pessoas que não podem fazer exercícios devido a problemas de saúde, mas que também têm um “alto potencial para abusos” por parte de atletas.

DEGUSTAÇÃO ELETRÔNICA DE VINHOS.

Cientistas na Espanha desenvolveram uma “língua eletrônica” para distinguir entre um bom Pinot Noir de um reles Chablis. A “e-língua” é projetada para o controle de qualidade no campo e é baseada em pequenas membranas sintéticas em um chip de silício. O dispositivo, desenvolvido no Instituto de Microeletrônica de Barcelona, pode distinguir entre quatro variedades de uvas e seus criadores estão trabalhando para ampliar sua capacidade.  Cecilia Jimenez-Jorquera declarou que o dispositivo é similar à língua humana, no sentido de que ela é sensível a cinco diferentes gostos: doce, salgado, amargo, ácido e “umami” (saboroso). A “e-língua” pode determinar a idade e a variedade do vinho, e, eventualmente, pode ser capaz de “detectar  fraudes cometidas com respeito ao ano da safra do vinho, ou das variedades de uvas usadas”.

CORREÇÕES.

No Boletim nº 868 nos referimos à MRI como “medical resonance imaging” (“imageamento médico por ressonância”) atribuindo a técnica à ciência médica. O acrônimo significa, na verdade, “Magnetic Resonance Imaging” (“Imageamento por Ressonância Magnética”) o que, por sua vez, é um eufemismo para o imageamento baseado na ressonância magnética nuclear. Da mesma forma, na história sobre ursos polares, onde se lê 20 kiloHertz, leia-se 20 Hertz.

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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

Como os Estados Unidos se transformaram em um Império

O trecho a seguir é a primeira parte de um documento intitulado “A PROPOSTA DA BOLSA DE PETRÓLEO IRANIANA“, por Krassimir Petrov, PhD, Macro Economista/Estrategista de Investmentos
Comissionado por: J. Douglas Bowey and Associates, datado de 20 de janeiro de 2006

A Economia dos Impérios

Um Estado-Nação cobra impostos de seus próprios cidadãos, enquanto que um Império cobra impostos de outros Estados-Nações. A história dos impérios, dos Grego e Romano, ao Otomano e Britânico, ensina que o fundamento econômico da cada um desses impérios é a taxação de outras nações e seus cidadãos. A capacidade imperial em taxar sempre repousou em uma economia melhor ou mais forte e, como conseqüência, Forças Armadas melhores e mais fortes que impunham pacifica ou militarmente os impostos. Uma parte desses impostos ia para melhorar os padrões de vida do império e outra parte ia para reforçar o domínio militar necessário para impor estes impostos.

Historicamente, a cobrança de impostos sobre o Estado Vassalo tomou diversas formas, usualmente em ouro e prata, onde estes eram considerados dinheiro, mas também na forma de escravos, soldados, colheitas, gado, ou outros recursos agrícolas ou naturais, quaisquer valores econômicos que o império precisasse e o estado vassalo pudesse fornecer. Historicamente, a taxação sempre foi direta: o estado vassalo entregava o dinheiro (ouro/prata) ou as mercadorias diretamente ao império.

Pela primeira vez na história, no Século XX, a América foi capaz de taxar o mundo de maneira indireta — não por forçar o pagamento direto de impostos, como todos os impérios predecessores fizeram, porém por distribuir sua moeda, o dólar americano, para outras nações em troca de mercadorias e serviços, com a idéia subjacente de desvalorizar, ao longo do tempo, esses dólares e pagar de volta, mais tarde, cada dólar com menos mercadorias e serviços. A diferença entre o valor do dólar na época da compra inicial e o dólar desvalorizado na hora do pagamento, é a Taxa Imperial dos EUA. Isto aconteceu assim.

No início do século XX, a economia dos EUA começou a dominar a economia mundial. Naquela ocasião, o dólar americano (US$) era atrelado ao ouro, de forma que seu valor nem aumentava, nem diminuía, porque era sempre conversível na mesma quantidade de ouro. A Grande Depressão, com sua antecedente inflação de 1921 a 1929, aumentou significativamente a quantidade de moeda-papel em circulação, sem que houvesse um correpondente aumento na quantidade de ouro. Isso tornou o lastro do US$ em ouro impossível. Como consqüência, o Presidente Franklin Delano Roosvelt desatrelou o US$ do ouro em 1932. Até esse ponto, os EUA podiam estar no domínio da economia mundial, mas não eram, tecnicamente, um império. O valor fixo do US$ em ouro não permitia aos americanos auferir benefícios econômicos de outos países, fornecendo a estes US$ com valor lastreado em ouro.

No que diz respeito à economia, o Império Americano começou com o sistema de Bretton Woods em 1945. O US$ foi tornado apenas parcialmente conversível em ouro — a conversão para ouro ficou disponível para governos estrangeiros, mas não para instituições privadas. Nesta ocasião, o US$ foi tornado a moeda padrão para reservas internacionais. Isso foi possível porque, durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA haviam suprido seus aliados com alimentos e material bélico, aceitando pagamentos em ouro e, com isso, adquirindo uma signiicativa parcela das reservas mundiais de ouro.

Um Império econômico não teria sido possível se o US$ tivesse permanecido lastreado inteiramente em ouro, isto é, se o volume de US$ em circulação tivesse sido mantido dentro dos limites da disponibilidade de ouro, de forma que se pudesse trocar de volta os US$ em ouro, na taxa anteriormente pré-estabelecida. Entretanto, a quantidade de US$ foi, na verdade, rapidamente aumentada, bem além de seu lastro em ouro e distribuída aos estrangeiros em troca de bens econômicos. Não havia qualquer perspectiva de comprar esses US$ de volta pelo mesmo valor — a quantidade de ouro não era suficiente para resgatar esses US$, na medida em que a quantidade desses US$ aumentava continuamente, de forma que o US$ se depreciava constantemente. A constante depreciação das reservas em dólares mantidas pelos estrangeiros, através dos constantes déficits da balança comercial americana, era o equivalente a um imposto — um imposto de inflação.

Quando, em 1971, estrangeiros pediram o pagamento de seus US$ em ouro, o governo dos EUA declarou uma moratória em 15 de agosto. A explicação pública sobre essa moratória foi que “a ligação entre o US$ e o ouro foi interrompida”. A interpretação correta é que o governo dos EUA estava falido, tal como se pode decretar a falência de qualquer banco comercial.

Entretanto, ao fazer isto, os EUA se declararam um Império. Eles tinham extraído uma enorme quantidade de bens econômicos do resto do mundo, sem qualquer intenção ou capacidade de pagar por esses bens. O mundo foi, efetivamente, taxado e não havia qualquer coisa que se pudesse fazer quanto a isto: não se podia decretar a falência dos EUA e tomar posse de seu ouro e outros bens para executar a dívida, nem se podia tomar “na marra” o que era devido por meio de uma declaração de guerra (que teria que ser vencida…) Essencialmente, os EUA impuseram um “Imposto de Inflação” sobre o mundo e coletaram uma “enfiteuse”.

A partir daí, para sustentar o Império Americano e continuar a taxar o resto do mundo através da inflação, os EUA tinham que forçar o mundo a continuar a aceitar seu US$ inflacionado em troca de bens econômicos e fazer com que o mundo tivesse mais e mais desses US$ inflacionados. Eles tinham que dar ao mundo uma razão econômica para manter reservas em US$ e esta razão foi o petróleo.

Em 1971, quando se tornou claro que o governo dos EUA não seria capaz de recomprar seus US$ em ouro, ele preparou um dispositivo alternativo para manter o mundo como refém do US$ inflacionado: durante 1972-73, estabeleceu um acordo a sete chaves com a Arábia Saudita — apoiar a Casa de Saud em troca de só aceitarem US$ em pagamento pelo petróleo saudita. Ao impor o US$ sobre o país líder da OPEP, o US$ foi imposto sobre toda a OPEP. Como o mundo tinha que comprar petróleo dos países árabes produtores de petróleo, ficava com uma razão para manter suas reservas de US$. E porque o mundo precisava de cada vez mais petróleo (e este a preços sempre crescentes) a demanda mundial por US$ somente poderia aumentar. Mesmo que os US$ não pudessem mais ser trocados por ouro, agora, eles podiam ser trocados por petróleo. A essência econômica desse conchavo foi que o US$ passou a ser lastreado em petróleo (com uma diferença: o ouro se encontra em Fort Knox e o petróleo, em sua maior parte, está fora do território dos EUA).

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Só traduzi até aqui… Mas isso dá uma boa noção das reais motivações dos EUA para mover guerras no Afeganistão, Golfo Pérsico e por que eles implicam tanto com governos esquerdistas nos países latino-americanos da OPEP.

Detalhe: isso não é nenhuma “Teoria da Conspiração”, nem uma “Campanha pela preservação do meio ambiente”. É uma fria e clara análise da situação da economia americana (e, por conseqüência, mundial).

Sobre Desenvolvimento Sustentável

Sabem aquela história de um termo que a gente ouve tanto falar que nem pensa em saber o que quer exatamente dizer?… Para mim, “desenvolvimento sustentável” era um caso desses… E, é claro, eu corri à WikiPedia…

Lá, eu achei na página correspondente dois aspectos interessantes (o início e o fim da página, transcritos abaixo)

Desenvolvimento Sustentável, segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas, é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades.
(…)
A Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, afirma que o Desenvolvimento Sustentável é construído sobre “três pilares interdependentes e mutuamente sustentadores” — desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Esse paradigma reconhece a complexidade e o interrelacionamento de questões críticas como pobreza, desperdício, degradação ambiental, decadência urbana, crescimento populacional, igualdade de gêneros, saúde, conflito e violência aos direitos humanos.
O PII (Projeto de Implementação Internacional) apresenta quatro elementos principais do Desenvolvimento Sustentável — sociedade, ambiente, economia e cultura.

Ambicioso demais, não?…

O grande problema é que todos os modelos conhecidos de “desenvolvimento econômico” sempre se pautaram pelo total desprezo a coisas tais como “proteção do meio ambiente” e, em todos os casos, o “desenvolvimento social” foi uma conseqüência do “desenvolvimento econômico”, não um de seus requisitos e sequer algo levado em consideração. Pode-se até afirmar que o “desenvolvimento econômico” dos países do primeiro mundo se deu às expensas do resto do mundo. Em suma: “desenvolvimento social” é um “luxo” que só países ricos podem se dar… E, mesmo esses, o conseguiram com enorme degradação do meio ambiente (e disso não escapam sequer os países “socialistas”).

É muito fácil para países fortemente industrializados defender a “preservação do meio ambiente” nos países do terceiro mundo (depois que degradaram seus próprios ambientes) e promover “vetos” a “produtos ecologicamente incorretos”. Para o peão que subsiste na beira da Floresta Amazônica, desmatar um pedaço e plantar soja é o meio mais eficaz e rápido de obter “desenvolvimento social”. E, quando os grandes interesses político-econômicos estão em jogo – como no caso do “salvador-da-pátria”, o “Agronegócio” – o meio ambiente que se dane!… A biodiversidade do Cerrado que desapareça, porque plantar soja é preciso, produzir cana é fundamental e bio-combustíveis são o “futuro da nação”… E a perspectiva de encher as prateleiras dos mercados do primeiro mundo com alimentos “Made in Brazil” (bem como faturar uma boa grana fornecendo para os programas assistenciais da ONU), promete um futuro sombrio para os demais ecossitemas – aí inclusos o Pantanal e a grande novidade do momento: A “Amazônia Azul” (que não tarda a se transformar em “Negra” de petróleo vazado…)

Por falar em petróleo, essa praga está por trás até do recente conflito da Ossétia do Sul, como está por trás das Guerras no Iraque e Afeganistão. E tem otário se regozijando do derretimento das Calotas de Gelo do Polo Norte, porque vai dar para prospectar mais petróleo… (Não é de hoje que eu falo no assunto).

Eu tendo a concordar com a Isis: o “desenvolvimento sustentável” é um “lema” muito bonito… Tal como “liberdade, igualdade e fraternidade” (mas vejam como o governo Sarkozy está tratando os “ilegais”… Uns são “mais iguais que os outros”…)

Em matéria de “letra de samba”, eu prefiro “Feitiço da Vila” de Noel Rosa… Deve ser porque eu sou um velho ranzinza e saudosista…

(Por favor. Comentários aqui)

Mais más notícias sobre a Calota Polar Norte

E, quando você pensa que as coisas já vão mal, aparece uma notícia de que é pior ainda do que se pensava…

O The Observer de de domingo passado (10/08/2008) publicou uma que me deixou arrepiado… O Derretimento do Ártico está se acelerando (matéria assinada por Robin McKie, Editor de Ciências).

O subtítulo é assustador: “Cientistas alertam que o Polo Norte pode ficar sem gelo em apenas cinco anos, em lugar de 60”.

O caso é que as imagens de satélite estão mostrando um fenômeno que, até agora, não tinha entrado nos cômputos: as camadas de gelo começaram a se desintegrar “dramaticamente” (é o termo empregado no original) porque tempestades sobre o Mar de Beaufort no Alaska começaram a sugar correntes de ar quente para o Ártico. Um dos resultados possíveis é que a diminuição da Calota Polar Norte supere a do ano passado.

“É uma corrida cabeça-com-cabeça entre 2007 e este ano, na questão de perda de gelo”, declarou Mark Serreze, do US National Snow and Ice Data Centre em Boulder, Colorado.“Nós pensávamos que a Calota Polar do Ártico poderia se recuperar, depois do recorde do ano passado – e, realmente, até o mês passado o quadro não parecia muito ruim. A Calota estava significativamente abaixo do normal, mas, pelo menos, estava maior do que no ano passado”.
“Mas as tempestades no Mar de Beaufort iniciaram um processo de grande derretimento de gelo e, agora, parece que vai ser uma diferença mínima entre se 2007 ou 2008 vai ser o recordista na menor Calota Polar. Só vamos ficar sabendo quando a Calota chegar ao ponto crítico, nos meados de setembro”.

Nem precisa dizer que isso terá enormes impactos sobre o meio ambiente… O editor começa por mencionar as tempestades que devem varrer a Grã-Bretanha, mas prossegue falando das espécies, tais como ursos polares e focas que se servem do gelo para repousar durante suas caçadas. Ele observa que diversas faixas costeiras deixarão de estar protegidas pelo gelo e sofrerão erosão (que, segundo ele, já está acontecendo no Alaska).

E o tom se tona ainda mais sombrio, quando ele lembra que, sem a Calota de gelo sobre o mar para servir de reforço, o gelo “terrestre” – que inclui as geleiras – pode mergulhar no oceano e elevar o nível dos mares, ameaçando muitas áreas de baixa altitude, tais como Bangladesh e vários arquipélagos do Pacífico. E, ainda lembra: “Sem a camada reflexiva de gelo no Ártico, menos radiação solar vai ser mandada de volta ao espaço, o que deve acelerar o processo de aquecimento global”.

A maior preocupação, diz o editor, é o temor que as águas liberadas pela Calota em derretimento, causem alterações na Corrente do Golfo, enquanto que um Ártico sem gelo durante o verão dê novas oportunidades para a exploração de petróleo e gás – e as conseqüentes disputas sobre soberania sobre as novas áreas de prospecção.

O que realmente perturba os cientistas, entretanto, é sua incapacidade de prever precisamente o que está acontecendo no Ártico, a parte do mundo mais vulnerável aos efeitos do aquecimento global. “Quando fizemos os primeiros modelos informáticos dos efeitos das mudanças climáticas, nós pesávamos que a Calota Polar Norte fosse durar até 2070”, declarou o Professor Peter Wadhams da Universidade de Cambridge. “Agora ficou claro que nós não tínhamos entendido o quão fina essa calota tinha ficado – porque a Calota do Ártico está desaparecendo cada vez mais rápido. A cada poucos anos temos que rever nossas estimativas para baixo. Agora, os modelos mais detalhados sugerem que a Calota do Ártico no verão só vai durar mais uns poucos anos – e, pelo que vimos acontecer na semana passada, eu acho que eles provavelmente estão corretos”.
O principal desses estudos sobre a Calota Polar foi realizado a alguns meses atrás pelo Professor Wieslaw Maslowski da Naval Postgraduate School em Monterey, Califórnia. Usando os supercomputadores da marinha americana, esta equipe fez uma previsão que indica que, por volta de 2013 não haverá mais gelo no Ártico – pouco mais do que uns restos em ilhas próximas da Groenlândia e do Canadá – entre meados de julho e meados de setembro.

Maslowski enfatiza que ficou claro que o gelo não está conseguindo se recuperar durante o inverno e teme que a Calota Polar desapareça em cinco anos, com todas as conseqüências que isto acarreta. E Serreze acrescenta que o gelo está derretendo mais depressa do que os cientistas conseguem atualizar seus modelos informáticos, para entender o que está acontecendo.

Parece que todas as previsões sobre o aquecimento global eram demasiadamente otimistas e que o filme “O Dia Depois de Amanhã” não era tão pessimista assim… (Eu só não acredito no happy-ending mostrado, com os sobreviventes do Hemisfério Norte sendo alegremente acolhidos pelos países da Zona Equatorial… De onde vão tirar comida para esse povo todo?…)

“Sputnik”: um vírus que contamina vírus

Notícia espetacular que eu achei no Le Figaro:

«Sputnik», o virus que causa doenças em outros vírus (Por Jean-Michel Bader — 08/08/2008)

Uma esquipe francesa descobriu o primeiro vírus capaz de atacar seus “primos” oito vezes maiores do que ele.

Os pesquisadores franceses da Universidade de Marselha “mataram dois coelhos com uma só cajadada”. Não só descobriram uma nova cepa de vírus gigantes, como descobriram que eles carregam, dentro de si, um outro vírus minúsculo, ambos até agora desconhecidos. O mais incrível é que este vírus-anão, batizado de “Sputnik”, tem a capacidade de infectar o vírus grande, batizado de “Mama”, a ponto de impedir sua reprodução.

O Mama pertence à classe dos Mimivírus, descobertos em 2003 na mesma universidade pela equipe de Jean-Michel Claverie e Didier Raoult. Quanto ao Sputnik, já se conhecia desde 1915 virus capazes de atacar bactérias, os chamados bacteriófagos (objetos dos Prêmios Nobel de Medicina de 1969 e 1980). Mas esta é a primeira vez que se encontra um “virófago”.

Parasita “obrigatório”

No artigo publicado na Nature, Bernard La Scola, pesquisador do laboratório marselhês, conta como ele e seus colegas “deram à luz” a seu “bebe”: depois de inocular certas amebas, os biólogos constaram que os animais unicelulares foram rapidamente infectados por uma nova cepa de Mimivirus, que eles batizaram de Mama.

Estes têm necessidade de criar, dentro de uma ameba, o que os biólogos chamam uma “usina de virus”, para se multiplicarem. E é nesta “usina” que o “Sputnik” entra como um bom pirata.

Quando observou, pela primeira vez ao microscópio eletrônico, a atividade dentro da “usina” e viu essas pequenas partículas nos virus em formação, Bernard La Scola acreditou que eram apenas fragmentos de ácidos nucleicos (ADN ou ARN), ditos “satélites” (daí o nome “Sputnik”), comumente associados a todos os vírus. Porém, observando mais atentamente, o pesquisador percebeu que se tratava de um verdadeiro vírus, incapaz de se reproduzir sozinho, mas dotado de 21 genes. O “Sputnik” é um verdadeiro “parasita obrigatório” no vírus gigante Mama.

Tal descoberta coloca duas perguntas: o “Sputnik” é um novo sistema de transferência de genes de uma espécie de vírus para outra? É algo razoável, já que três de seus genes descendem de vírus gigantes e um outro dos Archæa (micróbios intermediários entre os eucariotas e as bactérias). O “Sputnik”, portanto, surrupiou material genético daqui e de lá, e poderia fazer o mesmo com outras espécies. A outra questão é sobre o status dos vírus: vivos ou não? Jean-Michel Claverie declara, no artigo da Nature que “não resta dúvida de que se trata de um organismo vivo”, a respeito do Mama. “O fato dele poder ficar “doente” é prova suficiente”. Já Bernard La Scola pondera: “É verdade que, deixados à própria sorte, as partículas virais são incapazes de se reproduzir. Mas a questão é um pouco mais evolutiva: deve-se encarar o vírus como um ser que passa por diversas etapas, um pouco como os insetos: de uma larva, a uma ninfa e, daí, a uma borboleta”.

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Hmmm… fica aqui minha sugestão para os Geeks: que tal desenvolver um “Sputnik” para vírus de computador?… Em lugar de apagar um arquivo contaminado (algo assim como amputar uma mão por causa de um fungo na unha), que tal “contaminar o próprio vírus”?… Seria possível?…

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