Que raio de Deus é esse?

Uma curiosa coincidência me tirou da toca, hoje. De um lado, o acinte praticado pelos corruptos do Distrito Federal, orando em agradecimento por uma rapinagem bem sucedida. O assunto é bem esmiuçado no post Da Religião como símbolo político do Hermenauta (via itens compartilhados da Lucia Malla).

Como se fora de encomenda, o EurekAlert traz uma notícia – com o sugestivo título “As inferências dos crentes sobre as intenções de Deus são incrivelmente egocêntricas” – sobre o resultado de um estudo, publicado hoje em  Proceedings of the National Academy of Sciences, liderado por Nicholas Epley, professor de ciências do comportamento na Escola Booth de Administração da Universidade de Chicago, que também é assunto do Not Exactly Rocket Science, do Scibling Ed Yong, com o título “Criando Deus segundo a própria imagem”.

Em resumo, o estudo revela que as pessoas tendem a acreditar que Deus pensa como elas. Ou, posto de uma forma menos eufemística, que as pessoas acreditam que Deus tem que perguntar para elas como gerir o universo. Não é de estranhar, portanto, que o tema “Deus” cause tantas discussões e desavenças…

Last, but not least, uma outra notícia no EurekAlert coloca a pergunta: “Existe um gene do placebo?”, sobre os estudos de Matthias Breidert e Karl Hofbauer, publicados em Deutsches Ärzteblatt International, onde se discute uma predisposição genética dos pacientes mais suscetíveis ao Efeito-Placebo (eles afirmam que as variáveis são tantas que nada se pode afirmar, com segurança…) (um muggle-gene?…)

Bom… Se Dawkins pode postular um “gene egoísta”, eu posso postular um “gene estúpido”.

Crédulo do jeito que eu sou, não consigo imaginar um Criador para um universo do tamanho deste que aí está, que se envolva com o sucesso ou insucesso de indivíduos, notadamente quando esse Super-Ser supostamente impõe um código de ética com 10 cláusulas-pétreas (e uma 11ª implícita: “Jamais sejais apanhados violando qualquer uma das anteriores”) que “servem para os outros, não para mim”…

No entanto, a esmagadora maioria daqueles que se dizem religiosos pensa exatamente assim. O tal “Deus” é o fiador de toda a sorte de cretinice, safadeza, preconceito, violência gratuita, discriminação… enfim, de todo procedimento escandalosamente anti-social por parte daqueles que dizem se preocupar com o futuro da humanidade.

Eu cá não consigo conciliar essa contradição. Talvez porque eu seja portador do “gene estúpido”… mas a impressão que eu tenho é exatamente o contrário.

 


“Por dentro da ciência” do Instituto Americano de Física (20/11/09)

Gran Prix Subatômico

O mais caro dos experimentos científicos está ficando pronto para realizar colisões

20 de novembro de 2009
Por Phillip F. Schewe
Inside Science News Service
 
WASHINGTON (ISNS) — Dentro dos próximos dias, feixes de prótons serão disparados através dos 27 km de tubos que constituem o núcleo do Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron
Collider, ou simplesmente LHC).
 
O LHC, o enorme experimento de física bem abaixo do subsolo de Genebra, Suíça, deveria ter estreado no ano passado, mas um acidente abortou os planos de começar a fazer colidir poderosos feixes de prótons. Com os reparos agora completos, os cientistas do LHC estão próximos de alcançar sua meta que é fazer colidir prótons acelerados (os prótons são aquelas pequenas partículas que, normalmente, ficam no núcleo dos átomos) a fim de observar fenômenos jamais observados antes.
 
Nas últimas semanas os engenheiros estiveram se preparando para colisões completas, realizando alguns testes. Estes incluíram o envio de um feixe de prótons por parte do caminho em redor do anel e deixá-lo colidir com um alvo fixo. Os prótons produziram o que, na gíria dos físicos, se chama “splash events”, uma cascata de partículas que atingem os detectores próximos, a fim de se assegurar que tudo estará em ordem para o experimento oficial, esperado para uma data em torno de 1 de dezembro. 
 
Calcula-se que o custo do LHC fique na casa dos US$ 10 bilhões. O instrumento científico maior e mais caro tem características sem precedentes:
  • O MAIOR SISTEMA DE VÁCUO DO MUNDO exaure quase todo o ar de dentro da máquina. O tubo de feixes, por onde os prótons voam em torno do anel, tem algo como um décimo de trilionésimo da densidade da atmosfera da Terra. Isto é assim para que os prótons não desperdicem sua energia em enervantes colisões com moléculas de ar perdidas no caminho e guardem-na para as colisões de frente com outros prótons.
  • O MAIOR SISTEMA CRIOGÊNICO DO MUNDO resfria os magnetos do LHC  a uma temperatura próxima do zero absoluto para que as correntes elétricas fluam pelos fios sem perder energia na forma de calos. Esse estado super-condutor não só economiza na conta de energia, como também aumenta as forças magnéticas usadas para guiar os feixes de prótons ao longo de seu caminho.
  • O LUGAR EXTENSO MAIS FRIO DO UNIVERSO é um modo razoável de descrever as 37.000 toneladas de metal que compõem a parte super-condutora do LHC.
  • MAIS DE 120 MILHÕES DE WATTS de eletricidade são necessários para acionar o LHC; os detectores puxam outros 16 milhões de Watts. A energia total – 136
    megawatts – é a mesma que a de uma cidade de porte médio, ou cerca de 100.000 residências. 
  • O MAIOR MAGNETO JAMAIS PRODUZIDO – O magneto principal do detector ATLAS 
    (um dos dois grandes experimentos de colisão) puxa sozinho 21.000 amperes.
  • O MAIOR ACELERADOR EM FUNCIONAMENTO – Os prótons são enviados repetidamente em torno de um túnel de 27 km no LHC de forma a terem uma chance melhor de colidirem com os prótons do outro feixe que vem em sentido contrário. Poderosos magnetos são empregados para dirigir os prótons nessa trajetória. No entanto, prótons que se movem próximos da velocidade da luz só podem ser defletidos bem pouco de cada vez, de forma que é necessário um espaço enorme para que os prótons consigam fazer a curva.
  • UM PETABYTE DE DADOS, o que é igual a cerca de 100 vezes toda a informação impressa existente na Biblioteca do Congresso em Washington, DC, serão armazenados a cada ano por ambos os principais detectores do LHC.  Os dados gerados no pico do funcionamento (e nem todos eles são gravados) e que seguem para a superfície por fibras óticas, equivalem, em um dado momento, a cerca de 100 milhões de chamadas por telefone celular, ou a cerca de 1% do fluxo de dados digitais do mundo. Os dados vindos das profundezas das cavernas do LHC são imediatamente enviados para os cientistas e seus computadores em dúzias de países..
  • NA ENERGIA MÁXIMA, os prótons no LHC vão viajar a 99,999999 % da velocidade da luz. Não é tanto a velocidade que conta, mas a energia incorporada nesse movimento. É essa energia que é convertida – no instante em que dois prótons batem de frente – para a criação de novas partículas, algumas das quais podem representar toda uma nova física.
  • A ENERGIA ARMAZENADA NO FEIXE DE PRÓTONS, se fossem direcionados a colidir em uma pilha de metal, iria derreter cerca de 500 kg de cobre.
  • O FLUXO DE PARTÍCULAS na extremidade anterior do detector CMS (a parte de aparelhagem mais próxima do tubo de feixes) é equivalente ao nível de radiação no marco-zero da bomba de Hiroshima.
  • 8.000 CIENTISTAS que trabalham no LHC, foram necessários para projetar, construir e tripular o imenso programa experimentas no local. Eles vem de 60 países, fazendo do LHC as Nações Unidas da física.


Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência.
Contatos: InsideScience@aip.org.

Agora os pássaros “veem” o campo geomagnético

Pássaros “Veem” o Campo Magnético da Terra

Novos indícios experimentais sugerem que os pássaros “veem” o campo magnético da Terra quando migram

16 de novembro de 2009

Por Jason Socrates Bardi
Inside Science News Service

European Robin

Imagem em tamanho real
Piscos de peito ruivo com lesões que prejudiquem uma parte do cérebro especializada no processamento de luz, são incapazes de se orientar usando o campo magnético da Terra.
field.

Crédito: Stefan Willoughby

Informações sobre os direitos da imagem

WASHINGTON
(ISNS) — Quando os pássaros migram ao longo de grandes distâncias – por vezes milhares de quilômetros – eles habitualmente acabam chegando exatamente ao mesmo ponto todos os anos. Essas proezas de precisão na navegação, realizadas por milhões de pássaros a cada ano, por muito tempo deixaram os cientistas intrigados sobre como eles fazem isto. Agora, um grupo de cientistas da Alemanha obteve indícios experimentais que revelam uma parte importante do segredo do sucesso da navegação dos pássaros.

Os pássaros navegam, em parte, se orientando pelo Sol e seguindo pontos notáveis em terra. Porém essas duas estratégi, por si sós, não bastam. Os pássaros tem que ser capazes de navegar em dias nebulosos e descobrir o caminho através de grandes massas oceânicas, onde não há pontos notáveis reconhecíveis. Os cientistas suspeitaram anos a fio que os pássaros deviam ter uma capacidade nata de sentir o campo magnético da Terra e ajustar seus percursos de acordo com ele, mas ainda não sabiam como.

Alguns dos cientistas apresentaram a hipótese de que o mecanismo tinha como base o bico dos pássaros, onde minerais ferrosos atuariam como sensores magnéticos que detectariam a atitude do pássaro e alimentariam o cérebro com essa informação através de um nervo especial. Outros cientistas discordavam disso, propondo que os sensores magnéticos ficariam na verdade nos olhos dos pássaros, onde receptores de luz sensíveis a campos magnéticos enviariam os dados ao cérebro através do nervo óptico.

Henrik Mouritsen e seus colegas na Universidade de Oldenburg na Alemanha acabam de descobrir um forte argumento em favor dos olhos. Eles relataram na Nature que piscos de peito ruivo com lesões que inutilizavam uma parte do cérebro especializada no processamento da luz, ficavam incapacitados de se orientar usando o campo magnético da Terra. Pássaros com lesões que inutilizam o nervo que conecta o bico ao cérebro não tem o mesmo problema.

Isso sugere enfaticamente que os pássaros podem “ver” o campo magnético da Terra e se orientar por ele.


Comentário do tradutor:

Não é bem assim… Existem indícios de que os nervos olfativos também participam desse “sexto sentido” geomagnético das aves migratórias.

Como eu já comentei alhures: não é algo tão simples assim…

Problemas com ácido úrico? É porque você não tem sangue de barata

[ Livremente traduzido de: With Help from a Bacterium, Cockroaches Develop Way to Store Excess Uric Acid ]

Com o auxílio de uma bactéria, as baratas desenvolveram uma maneira de armazenar o excesso de ácido úrico, o que pode levar a novas conhecimentos sobre essa substância presente em várias doenças que atingem pessoas, principalmente nos rins

Photo showing cockroaches.

Baratas, a maldição dos ralos das banheiras, têm um modo incomum de aproveitar dejetos.
Créditos e imagem ampliada

5 de novembro de 2009

Qual forma de vida consegue usar como nutrientes matérias que nós e a maior parte dos demais animais consideram dejetos?

Nenhuma outra senão as enormes baratas que infestam os esgotos e brotam dos ralos das banheiras para o horror das pessoas – segundo os cientistas Nancy Moran e Zakee Sabree da Universidade do Arizona, e Srinivas Kambhampati da Universidade do Estado de Kansas.

Os resultados obtidos por esses pesquisadores foram publicados em Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

O ácido úrico e a uréia são dejetos nitrogenados, inúteis como fonte de alimento para os animais. Porém, em consórcio com uma bactéria, as baratas conseguem empregá-los como fonte para a fabricação de suas próprias proteínas.

The American cockroach may point the way to a new understanding of uric acid metabolism.

A barata americana pode indicar o caminho para uma nova compreensão do metabolismo do ácido úrico.
Créditos e imagem ampliada

“Este é um exemplo de simbiose”, observa Moran, “que permite um modo de vida inteiramente novo”.

Algum dia, isso pode nos levar a uma melhor compreensão de como os animais armazenam com êxito o excesso de ácido úrico, um problema nas doenças renais e outras em seres humanos.

Os insetos são os animais mais abundantes e diversificados na face da Terra, diz Matt Kane, diretor de
programa na Divisão de Biologia Ambiental da Fundação Nacional de Ciências (NSF), que financiou a pesquisa.

“Através do sequenciamento de genomas, tais como os usados neste estudo, cada vez mais frequentemente descobrimos que esse sucesso pode ser atribuído ao relacionamento que os insetos forjaram com microorganismos”, acrescenta Kane.

As baratas são um dos insetos mais difundidos. Moran observa: “Embora a reação comum à menção dessas criaturas seja a repulsa, sua má reputação é devida amplamente aos hábitos de umas poucas espécies de baratas”. Menos de um por cento das espécies conhecidas de baratas tem qualquer associação com a espécie humana.

A Barata americana (Periplaneta americana), entretanto, é uma praga comum que alegremente mora nas sombras da sociedade humana.

Tal como muitas baratas, a P. americana
é basicamente herbívora e se alimenta de matéria vegetal em decomposição. Mas ela também pode ser um carnívoro oportunista que se alimenta de animais mortos e dejetos animais.

“Obter suficiente nitrogênio em suas dietas é uma necessidade básica para as baratas”, explica Moran. “Enquanto que vários insetos excretam o excesso de nitrogênio na forma de ácido úrico, as baratas o armazenam internamente nessa forma”.

As baratas podem se aproveitar de súbitas abundâncias de nitrogênio, armazenando-o como ácido úrico e usando essas reservas quando houver carência de fontes de nitrogênio.

Os cientistas observaram o ácido úrico armazenado nos corpos de baratas. Também foi encontrada uma bactéria endosimbionte – um parceiro – que reside em células especializadas, chamadas de bacteriócitos, nas baratas.

A microscope photograph shows the bacterium in cockroaches that helps them store uric acid.

Uma fotografia de microscópio das bactérias existentes nas baratas que as auxiliam a armazenar ácido úrico.
Créditos e imagem ampliada

Com o nome de Blattabacterium, esta bactéria endosimbionte foi encontrada não somente na Barata americana, como também em várias outras espécies de baratas.

“Estimamos que elas estejam associadas com as baratas por mais de 140 milhões de anos”, diz Sabree. “Elas desempenham um papel duplo: fornecer nutrientes e, dado a sua grande proximidade com o ácido úrico no corpo do inseto hospedeiro, a degradação do ácido úrico para que os níveis dessa substância não fiquem altos demais e matem as baratas”.

Moran, Sabree e seus colegas sequenciaram o genoma da espécie de Blattabacterium
associada à P. americana, na esperança de compreender melhor a natureza do relacionamento entre a bactéria e o inseto. Eles descobriram que a bactéria é capaz de produzir todos os aminoácidos essenciais, muitos aminoácidos não essenciais e várias vitaminas.

Surpreendentemente, nenhum dos genes que se conhece, capazes de codificar enzimas envolvidas na degradação do ácido úrico, foram encontrados no genoma das bactérias, no entanto ela é capaz de usar tanto uréia como amônia, ambos produtos da degradação do ácido úrico, para gerar nutrientes.

A Blattabacterium é capaz de reciclar os dejetos de nitrogênio, “porém ainda não está claro qual é o papel exato que lhe cabe na degradação do ácido úrico”, diz Moran.

“Entretanto”, prossegue ela, “por eras ela provavelmente permitiu às baratas a subsistência em dietas pobres em nitrogênio e a aproveitar dejetos nitrogenados, capacidades cruciais no nicho ecológico e na distribuição global das espécies de baratas”. 

Cheryl Dybas, NSF


Raios cósmicos e a vida das estrelas

[ Traduzido livremente de: Cosmic Rays And Star Longevity ]

Os Raios Cósmicos e a Longevidade das Estrelas

Novas imagens auxiliam a determinar a origem dos raios cósmicos.

2 de novembro de 2009

Por Devin Powell
Inside Science News Service

Large Magellanic Cloud NASA

WASHINGTON— A atmosfera da Terra é constantemente bombardeada por pequeninas partículas que chovem do espaço. Embora os astrônomos tenham batizado esses pedacinhos de radiação de “raios cósmicos”, a mais de 80 anos, eles não foram capazes de comprovar de onde vinham esses invasores do espaço.

Novas imagens, obtidas em terra pelo Sistema Telescópico de Imageamento de Radiação de Energia Muito Alta e, em órbita, pelo Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi, podem auxiliar a resolver esse enigma renitente. Imagens de galáxias distantes, apresentadas no Simpósio do Fermi de 2009 em 2 de novembro em Washington, apoiam a ideia da maioria de que alguns dos raios cósmicos que atingem a Terra todos os dias sejam os remanescentes de estrelas mortas que explodiram violentamente a milhões de anos.

Os raios cósmicos podem interferir nas comunicações por satélite e oferecer um risco de saúde para as pessoas durante longos voos espaciais. Eles também auxiliam aos cosmologistas entenderem a estrutura do universo e serviram de inspiração para a imaginação de muitos autores de quadrinhos que os usam como “fonte” para os super-poderes de seus coloridos heróis.

“Esta é a primeira vez que conseguimos ver raios cósmicos em outras galáxias”, declarou o membro da equipe do Fermi, Keith Bechto, do Laboratório Nacional SLAC (sigla originária de Stanford Linear Accelerator Center) em Menlo Park, Califórnia.

O estudo dos raios cósmicos em nossa própria galáxia se provou uma tarefa difícil.

É como tentar visualizar uma floresta a partir de dentro dela, cercado por árvores, disse outro membro da equipe Fermi, Charles Dermer do Laboratório Naval de Pesquisas em Washington. Em lugar disso, os cientistas podem fazer uso de poderosos telescópios para olhar para galáxias tão distantes que sua luz demora milhões de anos para chegar à Terra.

Dessa distância, esses telescópios não podem detectar diretamente raios cósmicos, que tendem a ficar presos dentro das galáxias onde são criados, “como um líquido encerrado em uma garrafa”, descreve Jürgen Knödlseder do Centro para Estudos de Radiações do Espaço em Toulouse, França. Mas eles podem enxergar raios gama, um tipo de luz que pode ter um trilhão de vezes mais energia do que a luz visível. Acredita-se que os raios gama sejam criados quando raios cósmicos colidam com partículas de gás ou poeira, e eles podem ser rastreados através de vastas regiões do espaço intergalático até o local onde ocorreram as colisões.

O consórcio VERITAS detectou raios gama de alta energia irradiados a partir da galáxia starburst M 82 [antes que me corrijam: esse termo é empregado pelo Observatório Nacional assim, em inglês mesmo], uma fábrica de estrelas que engendra novas estrelas 10 vezes mais rápido do que nossa galáxia. Pelos padrões cósmicos, as estrelas nessa galáxia são, tipicamente, jovens, em torno de 5 a 10 milhões de anos de idade, e grandes, cerca de 20 vezes maiores que o Sol. Tais estrelas tem uma vida veloz e furiosa e morrem, ainda jovens, em uma grandiosa explosão, chamada de “supernova”. Acredita-se que os raios cósmicos galáticos sejam gerados ou por supernovas que liberam uma enorme onda de maré de partículas de alta energia, ou pelos ventos criados pelas estrelas grandes quando perdem massa.

A equipe do Fermi descobriu raios gama de menor energia vindos da M82 e de uma segunda galáxia starburst chamada NGC 252. Eles também deram uma espiadela mais detida na galáxia mais próxima de nossa Via Láctea – a Grande Nuvem de Magalhães – e rastrearam os raios gama até a Nebulosa da Tarântula, uma pequena área dentro da Grande Nuvem de Magalhães onde as estrelas novas nascem e, eventualmente, morrem.

“Isso mostra uma clara conexão entre os raios gama e a formação de estrelas”, declarou Niklas Karlssen so  Planetário Adler em Chicag e membro da equipe do VERITAS, que publicou suas descobertas na última edição da Nature.


Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência.
Contatos: InsideScience@aip.org.

Enxergando células antes invisíveis







 
[Livremente traduzido de: Seeing Previously Invisible Molecules for the First Time ]

Uma nova técnica de microscopia revela moléculas, antes invisíveis, em cores

Image of individual red blood cells lined up within a single capillary in a mouse's ear.

Imagens de células sanguíneas individuais dentro de um vaso capilar na orelha de um rato.
Crédito e imagem ampliada

22 de outubro de 2009

Uma equipe de quimi­cos de Harvard, lide­rada por X. Sunney Xie, de­sen­vol­veu uma nova técnica de mi­cros­copia para vi­sua­li­zar, em cores, mo­lé­cu­las com fluorescência indetec­tável. O processo, de temperatura ambiente, permite aos pesquisa­dores identificar moléculas que antes não podiam ser vistas, em organismos vivos e pode ter vastas aplicações em imageamento diagnóstico e pesquisas biomédicas. 

Os resultados obstidos pelos cientistas foram publicados na edição de 22 de outubro da Nature. A pesquisa foi parcialmente financiada pela Fundação Nacional de Ciências (NSF).

A fluorescência é o fenômeno onde um elétron que faz parte de uma molécula, absorve a energia da luz e passa para um nível quântico acima – fica em estado excitado – sendo esse quantum de energia igual à da partícula portadora da energia eletromagnética, o fóton. Após uma breve permanência nesse estado excitado, o elétron volta a seu nível de energia anterior, ou estado fundamental, emitindo um novo fóton. A energia do fóton liberado está na faixa de comprimento de onda da luz visível, durando apenas uns poucos bilionésimos de segundo.

Image of the delivery of toluidine blue O to the outer most layer of skin in a mouse ear.

Imagem do envio de “azul de toluidina” até a camada mais externa da pele da orelha de um rato
Crédito e imagem ampliada

Muitas moléculas coloridas e biologicamente importantes, tais como a hemoglobina – uma proteína portadora de oxigênio nos glóbulos vermelhos do sangue – absorvem a luz, porém não ficam fluorescentes. Em lugar disso, elas liberam a energia transitória em comprimentos de onda não visíveis (calor).

Como diz Xie: “Já que essas moléculas não ficam fluorescentes, elas foram literalmente ignoradas pelos modernos microscópios ópticos”.

Então, para detectar essas moléculas não fluorescentes nos sistemas biológicos, Xie e sua equipe desenvolveram uma nova técnica de microscopia com base na emissão estimulada.

A emissão estimulada foi primeiramente descrita por Albert Einstein em 1917 e é a base dos lasers atuais. Em resumo, é um processo pelo qual um elétron em estado excitado, perturbado por um fóton com a energia adequada, decai para seu estado fundamentas produzindo um fóton adicional.

A nova técnica de microscopia de Xie gera e grava um sinal de emissão estimulada mediante o uso de dois pulsos, cuidadosamente escalonados, um de excitação e outro de estimulação. Cada pulso tem uma duração incrivelmente curta de aproximadamente 200 femtossegundos e uma frequência de 76 MHz. Um femtossegundo é um bilionésimo de um milionésimo, ou 10-15, de segundo. Um modulador comuta a intensidade dos pulsos de excitação, ligando e desligando a cinco MHz. Essa modulação cria um sinal de emissão estimulada na mesma frequência. O sinal produzido pelas moléculas não fluorescentes fornece uma imagem de alta sensibilidade das moléculas antes “invisíveis”.

Uma dentre várias possíveis aplicações da invenção dos cientistas é o mapeamento a cores do suprimento de drogas não fluorescentes às células-alvo. Outro possível emprego é o imageamento de pequeninas estruturas, tais como vasos sanguíneos, até de células vermelhas sanguíneas individuais e capilares singelos (vide imagens).

A estrutura e a dinâmica da hemoglobina nos vasos sanguíneos têm um improtante papel em vários processos biomédicos. Dois exemplos desses processos são a transição de estado de tumores, de latente para maligno, e a oxigenação no cérebro.

As técnicas atualmente estabelecidas de imageamento, tais como ressonância magnética e tomografia computadorizada, ou não têm a definição necessária para identificar capilares individualmente, ou precisam de agentes de contraste externos.

Agentes de realce, tais como a proteína fluorescente verde (green fluorescent protein = GFP), vêm sendo extensivamente empregados para observar a atividade de biomoléculas e para distinguir as moléculas-alvo em uma célula. A técnica de realce com GFP fornece imagens com boa definição, porém a proteína, por ter uma molécula demasiadamente grande, pode perturbar os delicados caminhos bilógicos, especialmente quando ela é maior do que a biomolécula que está realçando.

Image of the delivery of toluidine blue O to the deepest layer of skin in a mouse ear.

Imagem do envio de “azul de toluidina” à camada mais externa da pele da orelha de um rato.
Crédito e imagem ampliada

A equipe de Xie mapeou a entrega de uma molécula de droga não fluorescente e imageou vasos sanguíneos sem o uso de agentes de realce fluorescentes. A nova técnica é também capaz de imagear proteínas não fluorescentes em células de bactérias Escherichia coli  vivas.

Zeev Rosenzweig, diretor de programa na Divisão de Química da NSF, diz: “Enquanto estudos anteriores fizeram uso de experimentos de sondagem por injeção de energia para obter imagens de moléculas fluorescentes com uma resolução espacial comparável à da microscopia de fluorescência confocal e alta resolução temporal, este estudo usa, pela primeira vez, microscopia de emissão estimulada para obter imagens de moléculas não fluorescentes”. 

Embora os potenciais danos causados pela forte luz e a complexidade e o custo do sistema ainda sejam objeto de futuros aperfeiçoamentos para que a técnica obtenha ampla aplicabilidade, “não há dúvida de que o estudo indica um caminho ímpar para imagear uma ampla gama de moléculas, atualmente inacessível aos atuais microscópios de ponta”, como observa Rosenzweig.

“Isso é apenas o começo”, acrescenta Xie. “Muitas aplicações interessantes dessa nova modalidade de imageamento estão por vir”.

Os demais autores do artigo na Nature incluem Wei Min, Sijia Lu, Shasha Chong, Rahul Roy e Gary R.
Holtom. Min e Roy  são doutores; Lu e Chong são estudantes de pós-graduação; e Holtom é cientista pesquisador, todos membros do grupo de pesquisas de Xie.


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