O Universo está acelerando?… Não tão depressa…

UNIVERSIDADE DO ARIZONA

Traduzido de: “Accelerating Universe? Not so fast”.

Certos tipos de supernovas, ou estrelas que passam por uma explosão, são mais diferentes do que se pensava, foi o que uma equipe de astrônomos da Univesidade do Arizona descobriu. Os resultados, relatados em dois artigos no Astrophysical Journal, têm implicações sobre importantes questões cosmológicas, tais como o quão rápido o universo vem se expandindo desde o Big Bang.

Mais importante ainda, as descobertas sugerem a possibilidade de que a aceleração da expansão do universo pode não ser tão grande quanto os livros texto dizem.

A equipe, liderada pelo astrônomo Peter A. Milne da UA, descobriu que as supernovas tipo Ia que eram consideradas tão uniformes que os cosmologistas as usavam como “faróis cósmicos” para medir as profundidades do universo, na verdade constituem duas populações diferentes. As descobertas são análogas a examinar uma seleção de lâmpadas de 100 W de uma loja de ferragens e descobrir que as luminosidades das mesmas variam.

“Descobrimos que as diferenças não são aleatórias, mas levam a separar as supernovas tipo Ia em dois grupos, onde o grupo que é minoria em nossas proximidades, é maioria nas grandes distâncias – e portanto quando o universo era mais jovem”, diz Milne, astrônomo associado do Departamento de Astronomia da UA e do Observatório Steward. “Existem populações diferentes lá fora e isso não era reconhecido. A suposição geral era que, perto ou longe, as supernovas tipo Ia eram as mesmas. Não parece ser esse o caso”.

A descoberta lança uma nova luz sobre a ideia atualmente aceita de que o universo está se expandindo cada vez mais rápido, esgarçado por uma força pouco entendida, batizada de energia escura. Esta ideia se baseia em observações que resultaram no Prêmio Nobel de Física de 2011, concedido aa três cientistas, entre os quais o ex-aluno da UA Brian P. Schmidt.

Os laureados com o Nobel descobriram independentemente que várias supernovas aparentavam ser mais tênues do que o previsto porque tinham se movido mais para longe da Terra do que deveriam, se o universo estivesse se expandindo em uma taxa constante. Isso indicava que a taxa com a qual as estrelas e galáxias estão se separando umas das outras estaria aumentando; em outras palavras, algo estava esgarçando o universo cada vez mais rápido.

“A ideia subjacente a este raciocínio” explica Milne, “é que as supernovas tipo Ia têm sempre a mesma luminosidade — todas elas acabam de modo bem semelhante quando explodem. Assim que souberam o motivo, passaram a usar essas estrelas como marcos quilométricos para medir o universo distante”.

“As supernovas muito distantes deveriam ser iguais às próximas porque se pareciam com elas, mas, porque elas são menos brilhantes do que se esperaria, isto levou à conclusão de que elas estão mais longe do que se pensava, o que, por sua vez, levou à conclusão de que o universo está se expandindo mais depressa do que no passado”.

Milne e seus coautores — Ryan J. Foley da Universidade do Illinois em Urbana-Champaign, Peter J. Brown da Universidade Texas A&M  e Gautham Narayan do Observatório Astronômico Ótico Nacional (National Optical Astronomy Observatory = or NOAO) em Tucson — observaram uma grande amostra de supernovas tipo Ia em ultravioleta e luz visível. Para este estudo, eles combinaram observações feitas com o Telescópio Espacial Hubble com as feitas pelo satélite Swift da NASA.

Os dados coletados pelo Swift foram cruciais porque as diferenças entre as populações — pequenos desvios para o vermelho ou para o azul — são sutis na luz visível que tinha sido utilizada para detectar as supernovas tipo Ia anteriormente, mas só ficaram óbvias com as observações posteriores com o Swift na faixa do ultravioleta.

“Estes são grandes resultados”, comentou Neil Gehrels, principal investigador do satélite Swift, coautor do primeiro artigo. “Estou encantado que o Swift tenha proporcionado observações tão importantes, relacionadas com uma meta totalmente independente de sua missão primária. Isto demonstra a flexibilidade de nosso satélite em responder prontamente a novos fenômenos”.

“A percepção de que existiam dois grupos de supernovas tipo Ia começou com os dados do Swift”, diz Milne. “Então analisamos outros conjuntos de dados para ver se víamos o mesmo. E descobrimos que a tendência estava presente em todos os conjuntos de dados”.

“À medida em que se volta atrás no tempo, vemos uma mudança na população de supernovas”, acrescenta ele. “A explosão tem algo de diferente, algo que não salta aos olhos na faixa de luz visível, mas visível no ultravioleta”.

“Como ninguém tinha percebido isto antes, todas essas supernovas eram enfiadas no mesmo saco. No entanto, se você olhar para 10 delas nas proximidades, elas estarão mais “avermelhadas” do que outra amostra de 10 supernovas mais distantes”.

Os autores concluem que alguns relatos de aceleração da expansão do universo podem ser explicados por diferenças na coloração entre os dois grupos de supernovas, o que daria uma aceleração menor do que a inicialmente calculada. Isto, por sua vez, levaria a menos energia escura do que se calcula correntemente.  .

“Nossa proposta é que nossos dados sugerem que pode haver menos energia escura do que dizem os atuais livros texto, no entanto não conseguimos traduzir isto em números”, disse Milne. “Até nosso artigo, as duas populações de supernovas eram tratadas como sendo da mesma população. Para obter a resposta final, será necessário realizar todo o trabalho de novo, separadamente para as populações azul e vermelha”.

 

###

O artigo da pesquisa está disponível online em http://iopscience.iop.org/0004-637X/803/1/20/.

Esta semana no EurekAlert

ESO

Descoberto o primeiro planeta orbitando uma “gêmea” do Sol em um aglomerado estelar

 IMAGEM: Concepção artística de um dos três novos exoplanetas descobertos no aglomerado estelar Messier 67.

Clique aqui para mais informações.

O Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, anunciou a descoberta de três planetas no aglomerado estelar Messier 67, um dos quais orbita uma estrela “gêmea” de nosso Sol.

Embora já se saiba que exoplanetas são comuns, pouquíssimos deles foram encontrados em aglomerados estelares, o que é até um pouco estranho, se considerarmos que a maioria das estrelas nasce dentro desses aglomerados..

Anna Brucalassi (do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, na Alemanha), principal autora do estudo diz: “No aglomerado Messier 67, as estrelas são todas da mesma idade e composição de nosso Sol. Isso faz desse aglomerado um laboratório perfeito para estudar quantos planetas podem se formar em um ambiente tão populoso e se eles tendem a se formar em torno de estrelas mais ou menos massivas”.

A equipe empregou o instrumento HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher = Buscador de Planetas [por meio da medição da] Velocidade Angular de Alta Precisão), montado no telescópio de 3,6m no Observatório La Silla, cujos resultados foram cotejados com vários outros dados de observatórios pelo mundo inteiro.

O aglomerado fica a cerca de 2500 anos-luz de distância, na direção da constelação de Câncer, e contem cerca de 500 estrelas. Muitas das estrelas do aglomerado são mais tênues do que aquelas onde usualmente se procura por exoplanetas, o que levou as capacidades do HARPS ao limite. Os três planetas descobertos – dois deles orbitando estrelas similares ao Sol e um que orbita uma mais massiva que já evoluiu para o estágio de gigante vermelha – os dois primeiros tem uma massa de cerca de um terço da massa de Júpiter e orbitam sua estrela-mãe em períodos de sete e cinco dias, respectivamente. O terceiro leva 122 dias para orbitar a estrela-mãe e é mais massivo do que Júpiter.

Links

Artigo que relata a pesquisa: “Three planetary companions around M67 stars”, por A. Brucalassi et al., a ser publicado em Astronomy & Astrophysics
(pré-publicação online: – http://www.eso.org/public/archives/releases/sciencepapers/eso1402/eso1402a.pdf

Fotos do telescópio de 3,6m do ESO – http://www.eso.org/public/images/archive/search/?adv=&subject_name=3.6

 


California Institute of Technology

Himiko e a aurora do cosmo

 IMAGE: A composite color image of Himiko based on Hubble, Subaru, and Spitzer data. On the left is a Hubble image with the position of Himiko marked with a square. Top…Click here for more information.

Um dos mais fascinantes objetos descobertos pelo Telescópio Subaru – o telescópio de 8,2m operado pelo Observatório Astronômico Nacional do Japão, localizado no monte Mauna Kea no Hawaii – é uma “bolha espacial”, batizada de Himiko (uma lendária rainha do Japão antigo). Himiko apresenta três “bolhas” visíveis e foi identificada como uma enorme galáxia com um halo gasoso que cobre mais de 55.000 anos-luz. Himiko não só é enorme, como é muito distante e a imagem que vemos é de uma época cerca de 800 milhões de anos após o Big Bang, quando o universo tinha apenas 6% de seu tamanho atual e as estrelas e galáxias estavam apenas começando a se formar.

Em busca da resposta para como uma galáxia tão primeva poderia ter energia suficiente para aquecer uma nuvem de gás tão grande, uma equipe de astrofísicos da CalTech, da Universidade de Tóquio e do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica combinou os resiltados de observações do Telescópio Espacial Hubble e do novo rádio-telescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array). E, junto com a resposta à pergunta inicial, obtiveram mais uma surpresa.

As imagens do Hubble – que detecta luz visível e utra-violeta – mostravam três aglomerados estelares que cobriam um espaço de 20.000 anos-luz cada; portanto, três galáxias típicas da época de Himiko, em processo de fusão, todas elas com intensa formação de estrelas que, somadas, equivalem a uma centena de massas solares por ano – o que é mais do que suficiente para explicar Himiko e seu halo gasoso. A tripla fusão de galáxias é, por si só, um evento raro.

A surpresa apareceu com os dados do ALMA. Embora Himiko estivesse brilhando nas faixas da luz visível e no ultra-violeta, nas faixas que o ALMA observa – submilimétrica e rádio-frequência – ela era quase apagada. Normalmente, regiões de intensa formação de estrelas criam nuvens compostas de carbono, oxigênio e silício (no jargão dos astrônomos, tudo mais massivo que hidrogênio e hélio é um “metal”) e essas nuvens quando aquecidas, reemitem a radiação ultra-violeta na faixa de rádio-frequência. Isso sugeria uma baixa “metalicidade” de Himiko.

A conclusão dos pesquisadores é que Himiko é tão antiga que é composta quase que exclusivamente por hidrogênio e hélio, elementos formados no próprio Big Bang. E antes de chegarem a esta conclusão, os cientistas tiveram que cuidadosamente descartar outras possibilidades, tais como a aparência de Himiko ser causada por um efeito tal como o de lente gravitacional ou por um gigantesco buraco negro no seu centro.

O artigo com os resultados é intitulado “An Intensely Star-Forming Galaxy at Z ~ 7 with Low Dust and Metal Content Revealed by Deep ALMA and HST Observations”, publicado na edição de 1/12/2013 do Astrophysical Journal

Cometa, asteróide… que raios é isso?!…


ESA/Hubble Information Centre

Quando um cometa não é um cometa?

Astrônomos do Hubble observam um esquisito asteroide com 6 caudas

 IMAGEM: Imagens do objeto espacial P/2013 P5 no cinturão de asteroides.

Clique aqui para mais informações.

Os astrônomos que trabalham com o Telescópio Espacial Hubble (cooperação NASA/ESA) observaram um objeto ímpar e intrigante no cinturão de asteroides que se parece com um esguicho giratório de jardim ou uma peteca de badminton. Embora este objeto siga uma órbita de asteroide, se parece com um cometa e está ejetando caudas de poeira para o espaço.

Asteroides normais são vistos como pequenos pontos luminosos. Mas este asteroide, designado como P/2013 P5, tem seis caudas semelhantes à de um cometa se irradiando dele como os raios de uma roda de bicicleta. Ele foi detectado pela primeira vez em agosto deste ano como um objeto particularmente nebuloso pelos astrônomos do Telescópio Pan-STARRS 1 no Hawaii [1].

Como jamais coisa semelhante tinha sido observada, os astrônomos estão coçando suas cabeças na tentativa de encontrar uma explicação adequada para sua aparência misteriosa.

As múltiplas caudas foram encontradas nas imagens do Hubble tiradas em 10 de setembro de 2013. Quando o Hubble voltou ao asteroide em 23 de setembro, sua aparência estava totalmente diferente. Parecia que toda sua estrutura tinha sido girada.

“Nós ficamos literalmente embasbacados com o que vimos”, diz o principal investigador David Jewitt da Universidade da Califórnia em Los Angeles. “O que é mais estranho ainda é que a estrutura de suas caudas mudaram dramaticamente em apenas 13 dias enquanto ele arrotava poeira. Isto também nos pegou de surpresa. É difícil acreditar que estamos olhando para um asteroide”.

Uma explicação para a aparência estranha é que a rotação do asteroide tenha aumentado ao ponto que sua superfície está se destroçando, emitindo poeira em erupções episódicas que só começaram na última primavera [NT: primavera do Hemisfério Norte]. A equipe descartou a possibilidade de um impacto de outro asteroide porque, neste caso, uma grande bola de poeira teria sido emitida para o espaço de uma só vez, enquanto que o P5 tem emitido poeira de maneira intermitente ao longo de, pelo menos, 5 meses. [2].

Uma modelagem cuidadosamente realizada pela membro da equipe Jessica Agarwal do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar em Lindau, Alemanha, mostrou que as caudas podem ter sido formadas por uma série de eventos de ejeção impulsiva de poeira [3]. A pressão da radiação solar expele esses “borrões” de poeira. “Dados nossas observações e modelagens, inferimos que o P/2013 P5 pode estar perdendo poeira por girar em alta velocidade”, argumenta Agarwal. “Então o mesmo Sol arrasta esta poeira na forma das diversas caudas que vemos”.

O asteroide pode ter sido posto a girar a uma alta velocidade, na medida em que a pressão da luz solar exerceu um torque em seu corpo. Se a rotação aumentar o bastante, diz Jewitt, a fraca gravidade do asteroide não será mais capaz de mantê-lo coeso. A poeira pode cair em avalanche na direção do equador, onde pode esmigalhar tudo e ejetar, eventualmente formando uma longa cauda no espaço. Até agora, somente uma pequena parte da massa – algo entre 100 e 1000 toneladas de poeira – se perderam. O asteroide é milhares de vezes mais massivo, com um raio de quase 240 metros.

Observações subsequentes podem mostrar se a poeria sai do asteroide pelo plano equatorial, o que seria um indício muito forte de uma disrupção rotacional. Os astrônomos também tentarão medir a real taxa de rotação do asteroide.

A interpretação de Jewitt implica em que a disrupção rotacional pode ser um fenômeno comum no cinturão de asteroides; pode mesmo ser a principal maneira pela qual os pequenos asteroides “morrem” [4]. “Na astronomia, quando você encontra algo, normalmente vai encontrar muitos mais”, lembra Jewitt. “Este é um objeto muito interessante para nós e quase que com certeza o primeiro de muitos outros”.

O artigo da equipe de Jewitt será publicado na edição online de 7 de novembro de The Astrophysical Journal Letters.

 

###

Notas

[1] O cometa foi descoberto por Micheli et al. em 27 de agosto de 2013. Ele foi localizado por observações feitas em 18 de agosto de 2013. A descoberta foi anunciada em uma Circular Eletrônica de Minor Planet.

[2] Agarwal calculou que o primeiro evento de ejeção ocorreu em 15 de abril e o último em 4 de setembro de 2013. Outras erupções aconteceram em 18 de julho, 24 de julho, 8 de agosto e 26 de agosto de 2013.

[3] Uma opção menos provável é que a emissão resulte da sublimação de gelo. O gelo pode sobreviver dentro do cinturão de asteroides, muito embora apenas se estiver nas bordas ou enterrado bem dentro de um asteroide suficientemente grande, de forma a estar protegido, No entanto o P5 é feito de rochas metamórficas, o que o torna incapaz de manter o gelo da mesma forma que os cometas o fazem. Isto, juntamente com a órbita de P5 e seu tamanho muito pequeno, tornam muito improvável que a perda de massa seja por sublimação do gelo.

[4] Esta não é a primeira vez que o Hubble observou um asteroide estranho. Em 2010, o Hubble observou um estranho asteroide em forma de X (heic1016 – http://www.spacetelescope.org/news/heic1016/). No entanto, diferentemente do P/2013 P5, acredita-se que este outro se tenha formado por uma colisão. Mais tarde naquele mesmo ano os astrônomos observaram o asteroide (596) Scheila, um objeto com uma cauda, cercada por uma nuvem de poeira em forma de “C” (opo1113a –http://www.spacetelescope.org/images/opo1113a/). Igualmente, acredita-se que esse asteroide seja o resultado de uma colisão entre Scheila e outro corpo muito menor – foi apenas a segunda vez que um tal evento foi encontrado.

 

O Telescópio Espacial Hubble  é um projeto de uma cooperação internacional da ESA e da NASA.

A equipe internacional de astrônomos do estudo do Hubble consiste de D. Jewitt (UCLA, EUA), J. Agarwal (Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar, Alemanha), H. Weaver (Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, EUA), M. Mutchler (STScI, EUA) e S. Larson (Universidade de Arizona, EUA). O artigo. intitulado “The Extraordinary Multi-Tailed Main-Belt Comet P/2013 P5”, será publicado em The Astrophysical Journal Letters.

Links

“Efeito borboleta” na Via Láctea


ESA/Hubble Information Centre

Um alinhamento bizarro de nebulosas planetárias

 IMAGEM: Exemplo de nebulosa bipolar: Hubble 12 na constelação de Cassiopeia.

Clique aqui para mais informações.

Os astrônomos usaram o Telescópio Espacial Hubble da NASA e o Telescópio “New Technology” (NTT) do ESO para explorar mais de 100 nebulosas planetárias no bulbo central da nossa galáxia. E eles descobriram que os membros dessa família cósmica, aqueles com o formato de borboleta, tendem a ser misteriosamente alinhados — um resultado surpreendente, dadas suas diferentes histórias e variadas propriedades.

Nos estágios finais da vida de uma estrela como nosso Sol, elas dispersam suas camadas externas pelo espaço circundante, formando os objetos conhecidos como nebulosas planetárias, os quais assumem vários formatos belos e surpreendentes. Um dos tipos dessas nebulosas planetárias, conhecido como nebulosa planetária bipolar, cria formatos fantasmagóricos de ampulhetas ou borboletas em torno de suas estrelas mães.

Todas essas nebulosas se formaram em locais diferentes e têm diferentes características. Nem cada nebulosa, nem a estrela que a formou, interagem com qualquer outra nebulosa planetária. No entanto, um novo estudo realizado pelos astrônomos da Universidade deManchester, Reino Unido, mostra similaridades surpreendentes entre algumas dessas nebulosas: muitas delas seguem o mesmo alinhamento nos céus [1].

“Esta é uma descoberta realmente surpreendente e, caso confirmada, uma muito importante”, explica Bryan Rees da Universidade de Manchester, um dos dois autores do artigo. “Muitas destas borboletas fantasmagóricas parecem ter seus eixos maiores alinhados com o plano da galáxia. Usando imagens tanto do Hubble como do NTT, pudemos obter uma visão realmente boa desses objetos, de forma que pudemos estudá-los bem detalhadamente”.

Os astrônomos examinaram 130 nebulosas planetárias no bulbo central da Via Láctea. Eles identificaram três tipos diferentes e esmiuçaram suas características e aparência [2].

“Muito embora duas dessas populações estivessem alinhadas de modo totalmente aleatório nos céus, tal como esperado, descobrimos que a terceira – as nebulosas bipolares – exibiam uma surpreendente preferência por um alinhamento em particular”, diz o segundo autor do artigo, Albert Zijlstra, também da Universidade de Manchester. “Embora qualquer tipo de alinhamento seja uma surpresa, encontrá-lo na superlotada região central de galáxia é mais inesperado ainda”.

Acredita-se que as nebulosas planetárias sejam esculpidas pela rotação do sistema estelar do qual são formadas. Isto depende das propriedades de cada sistema – por exemplo, se se trata de um sistema binário [3], ou se tem alguns planetas em órbita, duas coisas que podem influenciar grandemente o formato da bolha de material expelido. Os formatos das nebulosas bipolares são alguns dos mais extremos e acredita-se que isto seja decorrente da formação de jatos perpendiculares ao plano orbital do sistema estelar que sopram o material expelido para fora.

“O alinhamento que observamos nessas nebulosas bipolares indica algo estranho acerca dos sistemas estelares dentro do bulbo central”, explica Rees. “Para que eles se alinhem da maneira que observamos, os sistemas estelares que formaram essas nebulosas teriam que estar girando perpendicularmente com relação às nuvens interestelares a partir das quais se formaram, e isto é muito estranho”.

Não obstante as propriedades das estrelas mães serem um fator preponderante para o formato assumido por essas nebulosas, esta nova descoberta indica um novo fator ainda mais misterioso. Juntamente com as complexas características dos sistemas estelares, entram em conta as de nossa Via Láctea; todo o bulbo central gira em torno do centro da galáxia. Este bulbo pode ter uma influência maior do que se pensava sobre toda a galáxia – por meio de seus campos magnéticos. Os astrônomos sugerem que este comportamento ordeiro das nebulosas planetárias pode ter sido causado pela presença de fortes campos magnéticos quando da formação do bulbo.

Como o mesmo tipo de nebulosas mais próximos da Terra não se alinham da mesma forma ordenada, esses campos teriam que ter sido várias vezes mais fortes do que são hoje em dia na nossa vizinhança [4].

“Podemos aprender muito ao estudar esses objetos”, conclui Zijlstra. “Se eles realmente se comportam dessa forma inesperada, isto tem implicações não só para o passado de cada estrela, mas para o passado de toda nossa galáxia”.

 

###

Notas

[1] O “eixo longo” de uma nebulosa planetária bipolar corta as “asas” da “borboleta”, enquanto o “eixo curto” corta seu “corpo”.

[2] Os formatos das nebulosas planetárias foram classificados em três tipos, segundo as convenções: elíptico, com ou sem uma estrutura interna alinhada, e bipolar.

[3] Um sistema binário consiste de duas estrelas que giram em torno de um centro de gravidade comum.

[4] Pouco se sabe acerca da origem e das características dos campos magnéticos que estiveram presentes em nossa galáxia quando ela era jovem, de forma que é pouco claro como eles possam ter evoluído ao longo do tempo.

Outras Notas

O Telescópio Espacial Hubble é um projeto de cooperação internacional entre ESA e NASA.

A pesquisa é apresentada em uma artigo intitulado “Alignment of the Angular Momentum Vectors of Planetary Nebulae in the Galactic Bulge”, a ser publicado em Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

A equipe de astrônomos foi composta por B. Rees (Universidade de Manchester, RU) e A. A. Zijlstra (Universidade de Manchester, RU). Bryan Rees só veio a pesquisar astronomia recentemente – ele decidiu por um curso de PhD após sua aposentadoria precoce e este trabalho fez parte de sua tese.

Mais informações

Crédito da imagem: NASA (http://www.nasa.gov/) , ESA (http://www.spacetelescope.org/) , A. Zijlstra

Agradecimento: Josh Barrington

Links

Novo tipo de estrela “nova”: “kilonova”

3 de agosto de 2013
Por: J.D. Harrington – NASA Headquarters, Washington

GRB 130603B. 13 de junho de 2013. Crédito: HubbleSite, NASA.

O Telescópio Espacial Hubble da NASA apresentou recentemente os mais fortes indícios até agora de que erupções de raios gama de curta duração são produzidas pela fusão de dois objetos estelares pequenos e super-densos.

Os indícios residem na detecção de um novo tipo de explosão estelar, batizado de “kilonova”, que resulta da energia liberada quando um par de objetos compactos se espatifam mutuamente. O Hubble observou, no último mês, a cada vez menos brilhante bola de fogo que se seguiu a uma curta erupção de raios gama (gamma ray burst = GRB) em uma galáxia a quase 4 bilhões de anos-luz da Terra. Era previsto que o fenômeno de uma kilonova acompanhasse uma GRB de curta duração, mas isto ainda não tinha sido visto.

“Esta observação finalmente resolve o mistério da origem das erupções de raios gama de curta duração”, afirmou Nial Tanvir da Universidade de Leicester no Reino Unido. Tanvir liderou uma equipe de pesquisadores que usaram o Hubble para estudar a recente GRB de curta duração. “Vários astrônomos, inclusive nosso grupo, já tinham apresentado muitos indícios de que as erupções de raios gama de longa duração (aqueles que duram mais que dois segundos) são produzidos pelo colapso de estrelas extremamente massivas. Mas só tínhamos fracos indícios circunstanciais de que as erupções curtas fossem produzidas pela fusão de objetos compactos. Este resultado parece dar a prova definitiva que apoia este cenário”.

Os resultados da equipe estão publicados na edição especial online de hoje da Nature.

Uma kilonova é cerca de 1.000 vezes mais brilhante do que uma nova, que é causada pela erupção de uma anã branca. A auto-detonação de uma estrela massiva, uma supernova, pode ser até 100 mais brilhante do que uma kilonova. As erupções de raios gama são misteriosos flashes de intensa radiação de alta energia que aparecem de direções aleatórias no espaço. Erupções de curta duração duram no máximo alguns segundos, no entanto, algumas vezes, produzem tênues rastros luminosos em luz visível e infravermelha que persiste por várias horas e mesmo dias. Esses rastros luminosos ajudaram aos astrônomos a estabelecer que as GRBs vêm de galáxias distantes.

Concepção artística da fusão de duas estrelas de nêutrons. Crédito: HubbleSite NASA.

Os astrofísicos predisseram que as GRBs de curta duração seriam criados quando um par de estrelas de nêutrons super-densas em um sistema binário espiralassem até colidir. Enquanto este evento está acontecendo, o sistema emite radiação gravitacional que cria pequenas ondas na tessitura do espaço-tempo. A energia dissipada pelas ondas faz com que as duas estrelas se aproximem ainda mais. Nos milissegundos finais, antes da explosão, as duas estrelas se fundem em uma espiral mortal que expele material altamente radioativo. Esse material se aquece e se expande, emitindo um jato de luz.

Em um recente artigo científico Jennifer Barnes e Daniel Kasen da Universidade da California em Berkeley e do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley apresentaram novos cálculos predizendo como as kilonovas deveriam parecer. Eles predisseram que o mesmo plasma quente que produz a radiação, também bloquearia a luz visível, fazendo com que o jorro de energia da kilonova exsudasse na forma de infravermelho próximo por vários dias.

Uma inesperada oportunidade para testar este modelo apareceu em 3 de junho, quando o Telescópio Espacial Swift da NASA captou a erupção de raios gama extremamente brilhante, catalogada como GRB 130603B.  Embora o clarão inicial de raios gama tenha durado apenas um décimo de segundo, ele era aproximadamente 100 bilhões de vezes mais brilhante que o subsequente flash da kilonova.

Desde 12-13 de junho, o Hubble varreu o local da erupção inicial, localizando um tênue objeto avermelhado. Uma análise independente dos dados de outra equipe de pesquisas confirmou a detecção. As observações subsequentes do Hubble em 3 de julho revelaram que a fonte tinha se apagado, comprovando assim que o brilho em infravermelho era de uma explosão causada pela fusão de dois objetos.

Para imagens e mais informações sobre a kilonova, visite:

http://hubblesite.org/news/2013/29

Para mais informações sobre o Telescópio Espacial Hubble, visite:

http://www.nasa.gov/hubble

Galáxias apagadas


ESA/Hubble Information Centre

Quando as galáxias desligam

A prospecção COSMOS do Hubble resolve o mistério das galáxias “exauridas”

 IMAGEM: Esta imagem mostra 20 das galáxias exauridas — galáxias que não estão mais formando estrelas — observadas pela COSMOS do Hubble.

Clique aqui para mais informações.

Algumas galáxias chegam a um ponto de suas vidas onde a formação de estrelas acaba e elas se tornam “exauridas”. Galáxias exauridas no passado distante parecem ser bem menores do que as galáxias exauridas no universo atual. Isto sempre intrigou os astrônomos – como podem essas galáxias crescer se elas não estão mais formando estrelas? Agora uma equipe de astrônomos usou um grande conjunto de dados de observações do Hubble para dar uma resposta surpreendentemente simples para este enigma cósmico que resistiu tanto tempo.

Até hoje se pensava que essas pequenas galáxias mortas cresciam e se tornavam as galáxias exauridas maiores que vemos em nossas proximidades.

Como essas galáxias não estão mais formando novas estrelas, se pensava que elas cresciam mediante colisões e fusões com outras pequenas galáxias exauridas, de umas cinco a dez vezes menos massivas do que elas. Entretanto, para que essas fusões acontecessem, deveria haver várias dessas galáxias menores por aí para servir de alimento para a população exaurida – só que não vemos isso.

Até recentemente, não era possível explorar um número suficiente de galáxias exauridas, porém agora uma equipe de astrônomos usou os dados de observações da Hubble COSMOS survey para identificar e contar essas galáxias “apagadas” ao longo dos últimos oito bilhões da história cósmica.

“O aparente inchaço de galáxias exauridas tem sido um dos maiores mistérios acerca da evolução das galáxias por muitos anos”, diz Marcella Carollo do ETH Zurique, Suíça, uma dos principais autores de um novo artigo que explora essas galáxias. “Nenhuma coleção de imagens era grande o suficiente para nos permitir estudar o enorme número dessas galáxias de uma mesma maneira – até a COSMOS do Hubble”, acrescenta do co-autor Nick Scoville da Caltech, EUA.

A equipe usou o grande conjunto de imagens da COSMOS [1], em conjunto com observações adicionais do Telescópio Canadá-França-Hawaii e do Telescópio Subaru, ambos no Hawaii, EUA, para bisbilhotar quando o universo tinha menos de metade de sua idade atual. Estas observações mapearam uma área nos céus nove vezes o tamanho de uma Lua cheia.

As galáxias exauridas vistas nesses tempos são pequenas e compactas – e, surpreendentemente, parecem continuar assim. Em lugar de se exaurirem e crescerem através de fusões ao longo do tempo, essas pequenas galáxias, em sua maioria, normalmente mantém o tamanho que alcançaram quando sua formação de estrelas foi desligada [2]. Então, por que vemos essas galáxias aparentemente crescendo ao longo do tempo?

“Descobrimos que um grande número de galáxias maiores apenas desligou mais tarde, juntando-se a suas irmãs exauridas e dando a falsa impressão de uma galáxia individual crescendo ao longo do tempo”, diz o co-autor Simon Lilly, também do ETH Zurique. “É algo como afirmar que o aumento do tamanho médio dos apartamentos em uma cidade não é devido à adição de novos cômodos aos edifícios velhos, mas sim à construção de novos apartamentos maiores”, acrescenta o co-autor Alvio Renzini do Observatório de Padua do INAF da Itália.

Isso nos diz um bocado sobre como as galáxias evoluíram nos últimos oito bilhões de anos da história do universo. Já se sabia que as galáxias com formação ativa de estrelas eram menores no universo primordial, o que explica porque as galáxias eram menores quando se exauriram naqueles tempos.

“A COSMOS nos deu simplesmente o melhor conjunto de observações para este tipo de trabalho – ela nos permite estudar um grande número de galáxias exatamente da mesma maneira, o que não era possível antes”, acrescenta o co-autor Peter Capak, também do Caltech. “Nosso estudo oferece uma explicação surpreendentemente simples e óbvia para esse enigma. E sempre que vemos simplicidade na natureza em meio a uma aparente complexidade, isso é muito gratificante”, conclui Carollo.

 

###

Notas

[1] Ao realizar a prospecção COSMOS, o Hubble fotografou 575 quadros do universo que se sobrepõem ligeiramente, com a Advanced Camera for Surveys (ACS) nele embarcada. Isto levou quase 1000 horas de observação e foi o maior projeto conduzido com o Hubble. Esta prospecção se provou de um valor incomensurável; ela ajudou a mapear a matéria escura em 3D, a compreender melhor o efeito de lentes gravitacionais, e a caracterizar a expansão do universo.

[2] Ainda existe a possibilidade de crescimento através de fusões para esta população, mas não de sua maior parte, como se pensava antes.

[3] O Telescópio Espacial Hubble é uma cooperação internacional entre ESA e NASA.

[4] A pesquisa foi apresentada  em um artigo intitulado “Newly-quenched galaxies as the cause for the apparent evolution in average size of the population”, a ser publicado em The Astrophysical Journal.

[5] A equipe internacional de astrônomos deste estudo consiste de C. M. Carollo (ETH Zurique), T. J. Bschorr (ETH Zurique), A. Renzini (Observatório de Padova, Itália), S. J. Lilly (ETH Zurique), P. Capak (Centro de Ciência Spitzer, CalTech, EUA), A. Cibinel (ETH Zurique), O. Ilbert (Laboratoire d’Astrophysique de Marseille, França), M. Onodera (ETH Zurique), N. Scoville (CalTech, EUA), E. Cameron (ETH Zurique), B. Mobasher (Universidade da California, EUA), D. Sanders (Universidade do Hawaii, EUA), Y. Taniguchi (Universidade Ehime, Japão).

Outras informações

Crédito da imagem: NASA, ESA, M. Carollo (ETH Zurich)

Links

Artigo da pesquisa: http://www.spacetelescope.org/static/archives/releases/science_papers/heic1313a.pdf

Prospecção COSMOS: http://cosmos.astro.caltech.edu/

Imagens do Hubble:  http://www.spacetelescope.org/images/archive/category/spacecraft/

Estrelas de gerações diferentes andam por caminhos diferentes

O TELESCÓPIO HUBBLE DA NASA MOSTRA UMA LIGAÇÃO ENTRE AS IDADES DAS ESTRELAS E SUAS ÓRBITAS

Original escrito por: 

J.D. Harrington, Quartel-General da NASA, Washington 
Donna Weaver / Ray Villard do Instituto de Ciências do Telescópio Espacial, Baltimore, Maryland 

Globular Cluster 47 Tucanae
Source: Hubblesite.org

Aglomerado globular 47 Tucanae

Astrônomos empregando o Telescópio Espacial Hubble da NASA conseguiram, pela primeira vez, estabelecer uma ligação entre duas populações distintas de um velho aglomerado globular e suas diferentes dinâmicas orbitais, o que fornece uma boa prova de que as estrelas não nasceram na mesma data.

A análise do aglomerado globular 47 Tucanae mostra que as duas populações são separadas por menos de 100 milhões de anos. O glomerado fica aproximadamente a 16.700 anos-luz de distância na direção da constelação do Tucano, visível nos céus do Sul.

Os pesquisadores, liderados por Harvey Richer da Universidade da Colúmbia Britânica em Vancouver, combinaram observações recentes do Hubble com oito anos de dados dos arquivos do telescópio para estabelecer os movimentos das estrelas neste aglomerado.

Estudos espectroscópicos anteriores revelaram que muitos aglomerados globulares contêm estrelas de composições químicas variadas, o que sugere vários episódios de nascimento de estrelas. Esta análise dos dados do Hubble, entretanto, vai um passo adiante, adicionando os movimentos orbitais das estrelas à análise.

“Quando se analisa os movimentos das estrelas, quanto mais longo for o período de observações, mais precisamente se pode medir seus movimentos”, explica Richer. “Estes dados são tão bons que relamente podemos ver, pela primeira vez, os movimentos individuais das estrelas dentro do aglomerado. Os dados fornecem indícios detalhados que nos permitem compreender com as várias populações de estrelas se formaram no aglomerado”.

Evolution of 47 Tuc Stellar Populations
Source: Hubblesite.org

Evolução das populações estelares de 47 Tuc

Os aglomerados globulares da Via Láctea são as relíquias sobreviventes da época da formação de nossa galáxia. Eles oferecem um vislumbre do início da história de nossa galáxia. O aglomerado 47 Tucanae tem 10,5 bilhões de anos de idade e é um dos mais brilhantes dentre os mais de 150 aglomerados globulares dela. O aglomerado mede cerca de 120 anos-luz de diâmetro.

Richer e sua equipe usaram a Câmera Avançada para Pesquisas do Hubble em 2010 para observar o aglomerado. Eles combinaram estas observações com 754 imagens do arquivo para medir com precisão as mudanças de posição de mais de 30.000 estrelas. De posse destes dados, eles puderam discernir a rapidez do movimento das estrelas. E a equipe também mediu as luminosidades das estrelas, assim como suas temperaturas.

Esta arqueologia estelar identificou as duas populações distintas de estrelas. A primeira é composta por estrelas mais avermelhadas que são mais velhas, com menor riqueza de elementos químicos e descrevem órbitas aleatórias mais circulares. A segunda população é composta de estrelas mais azuladas que são mais jovens, com maior riqueza de elementos químicos e descrevem órbitas mais elípticas.

“A geração avermelhada, que é deficiente em elementos mais pesados, reflete os movimentos iniciais que formaram o aglomerado”, diz Richer. “Essas estrela retiveram a memória de sua movimentação inicial”.

47 Tucanae — Hubble
Source: Hubblesite.org

Aglomerado 47 Tucanae – Hubble


Depois que as estrelas mais massivas dessa população completaram seu ciclo de evolução, expeliram gases enriquecidos com elementos mais pesados de volta ao aglomerado. Estes gases vieram a colidir com outros gases e formaram uma segunda geração, de composição química mais rica, de estrelas concentradas na direção do centro do aglomerado. Lentamente, ao longo do tempo, estas estrela começaram a se mover para fora, o que as colocou em órbitas mais radiais.

Esta não é a primeira descoberta do Hubble que revela várias gerações de estrelas em aglomerados globulares. In 2007, os pesquisadores do Hubble descobriram três gerações de estrelas no aglomerado globular massivo NGC 2808. A equipe de Richer porém conseguiu ligar diferentes dinâmicas estelares às populações diferentes, pela primeira vez. A descoberta de múltiplas gerações estelares em aglomerados globulares tem profundas implicações para a cosmologia. Os astrônomos precisam resolver os futuros enigmas dessas múltiplas gerações, a fim de compreender melhor como as estrelas de formaram nas galáxias distantes no início da existência do universo.

Os resultados da equipe foram publicados na edição de 1 de julho de The Astrophysical Journal Letters.

SOFIA andando de avião para ver estrelas (2)

Starbursts recentes na região central da Via Láctea

SOFIA/FORCAST mid-infrared image of the Milky Way galaxy's nucleus showing the Circumnuclear Ring (CNR) of gas and dust clouds orbiting a central supermassive black hole.

Imagem da câmera SOFIA/FORCAST em infravermelho intermediário do núcleo da Via Láctea, mostrando o Anel Circum Nuclear (ACN) de gás e poeira, orbitando o buraco negro super-massivo central. Os astrônomos acreditam que o objeto brilhante em forma de “Y seja material caindo para dentro do buraco negro que fica no local onde os braços do “Y” se cruzam. (Equipe NASA/SOFIA/FORCAST/Lau et al. ) › Link para a imagem ampliada

Em outro press-release, a NASA informa que os pesquisadores do SOFIA obtiveram novas imagens de um anel de poeira e gás com sete anos-luz de diâmetro que circunda o buraco negro no centro da Via Láctea e de um aglomerado próximo composto por estrelas jovens e extremamente luminosas, inseridas em cascas de poeira interestelar.

As imagens do anel circum-nuclear (ACN) e o adjacente Aglomerado dos Quíntuplos são os assuntos de duas apresentações realizadas nesta semana, durante o encontro da American Astronomical Society em Long Beach, Califórnia. Ryan Lau da Universidade Cornell e seus colaboradores estudaram o ACN. Matt Hankins da Universidade do Arkansas Central em Conway é o principal autor do outro artigo sobre o Aglomerado dos Quíntuplos.

As imagens foram obtidas durante os voos do SOFIA em 2011, com a câmera FORCAST, construída por uma equipe liderada por Terry Herter da Cornell.

 

Hubble Space Telescope/NICMOS near-infrared image showing the same field of view with the same scale and orientation as the image above. At this wavelength, opaque dust in the plane of the Milky Way hides features that are seen in the SOFIA image.

Imagem em infravermelho próximo da câmera Hubble Space Telescope/NICMOS que mostra o mesmo campo de visão com a mesma escala e orientação da imagem anterior. Neste comprimento de onda, a poeira opaca no plano médio da Via Láctea esconde as características vistas na imagem do SOFIA. (NASA/STScI) › Link para a imagem ampliada

A FORCAST permitiu que os astrônomos vissem as regiões do Anel Circum-Nuclear e do Aglomerado dos Quíntuplos em detalhes normalmente obscurecidos pela absorção pelo vapor d’água atmosférico das radiações infravermelhas e da luz visível pelas nuvens de poeira interestelar no plano médio da Via Láctea. Nem os observatórios com base na Terra (por mais altos que sejam os picos onde estão instalados), nem os telescópios espaciais Hubble e Spitzer da NASA estão equipados para observações nesses comprimentos de onda.

As imagens estão disponíveis nestes links:

 http://www.nasa.gov/sofia ou http://www.sofia.usra.edu

Cada uma das imagens é uma combinação de várias exposições nos comprimentos de onda de 20, 32 e 37 microns.

A primeira  figura mostra o Anel Circum-Nuclear e a terceira mostra o Aglomerado dos Quíntuplos. As segunda e quarta fotos, obtidas pela câmera de infravermelho próximo do Hubble, mostram, ou antes, não mostram os detalhes captados pela câmera FORCAST do SOFIA.

 

SOFIA/FORCAST mid-infrared image of a region including the Quintuple Cluster (QC), a group of young stars near the left margin of the frame, located about 35 parsecs (100 light years) from the galaxy's nucleus.

Imagem da SOFIA/FORCAST em infravermelho intermediário da região que inclui o Aglomerado dos Quíntuplos, um grupo de jovens estrelas próximas da margem esquerda do quadro, localizado a 35 parsecs (100 anos-luz) do núcleo da galáxia (NASA/SOFIA/Hankins et al.) › Link para a imagem ampliada

“O foco de nosso estudo foi determinar a estrutura do Anel Circum-Nuclear com uma precisão nunca antes obtida, o que foi tornado possível pelo SOFIA” declarou Lau. “Com esses dados, podemos aprender a respeito dos processos que aceleram e aquecem o anel”.

O núcleo da Via Láctea é habitado por um buraco negro com 4 milhões de vezes a massa do Sol e em torno dele orbita um grande disco de poeira e gás. O anel, mostrado na primeira figura, é a borda interior desse disco. O centro da galáxia também é o endereço de aglomerados estelares excepcionalmente grandes que contém algumas das mais luminosas estrelas jovens da nossa galáxia, um dos quais é o Aglomerado dos Quíntuplos, mostrado nas terceira e quarta fotos. A combinação do telescópio aerotransportado SOFIA com a câmera FORCAST produziu as imagens mais nítidas jamais obtidas nos comprimentos de onda infravermelhos intermediários, o que permitiu discernir novas pistas sobre o que acontece nas proximidades do buraco negro central.

“Algo grande aconteceu no centro da Via Láctea nos últimos 4 a 6 milhões de anos que resultou em vários bursts de formação de estrelas, criando o Aglomerado dos Quíntuplos, o Aglomerado Central e outros aglomerados de estrelas massivas”, diz Hankins, principal autor do artigo sobre os Quíntuplos. “Muitas outras galáxias também têm os assim chamados starbursts em suas regiões centrais, algumas associadas a buracos negros, outras não. O centro da Via Láctea fica muito mais perto do que outras galáxias, o que faz ficar mais fácil para nós explorar as possíveis conexões entre os starbursts e o buraco negro”,

 

Hubble Space Telescope/NICMOS image of the QC region

Imagem da Hubble Space Telescope/NICMOS da região do Aglomerado dos Quíntuplos, coincidente com a imagem da SOFIA/FORCAST na terceira imagem. O Aglomerado dos Quíntuplos é visto na esquerda do quadro. A maior parte das características visíveis na imagem do SOFIA em infravermelho intermediário não são visíveis nesta imagem do Hubble devido a sua baixa temperatura e a poeira estelar interposta. (NASA/STScI) › Link para a imagem ampliada

O Conselheiro Científico chefe do SOFIA, Eric Becklin, que trabalha com o grupo do ACN, determinou a posição do núcleo galático quando era estudante de pós-graduação na década de 1960, laboriosamente escaneando com um detector de infravermelho de um só pixel para mapear a região central.

“A resolução e cobertura espacial dessas imagens é chocante, o que mostra o que esses modernos detectores podem fazer quando associados com o SOFIA”, disse Becklin. “Esperamos utilizar esses dados para avançar substancialmente em nossa compreensão do ambiente no entorno de um buraco negro super massivo”.

Fonte:
SOFIA Spots Recent Starbursts in the Milky Way Galaxy’s Center.

Para mais informações acerca do SOFIA e sua missão científica, visite os seguintes sites (em inglês):

(Começou por este?… Leia o post anterior)

Um proto-exoplaneta muito estranho…


Carnegie Institution

Surpesa na formação de um exoplaneta

 

13 de junho de 2013

Imagens do disco exoplanetário TW Hidra.
Crédito: P R Weinberg, Carnegie Institution.

Washington, D.C.— Uma equipe de pesquisadores descobriu indícios de que um exoplaneta pode estar se formando bem longe de sua estrela — a cerca do dobro da distância de Plutão para nosso Sol. O planeta fica em um disco gasoso e poeirento em torno de uma pequena anã vermelha, TW Hidra, a qual tem apenas cerca de 55% da massa do Sol. Esta descoberta aumenta ainda mais a sempre crescente variedade de sistemas planetários na Via Láctea. A pesquisa foi publicada no Astrophysical Journal.*

Este poeirento disco protoplanetário é o mais próximo de nós, a cerca de 176 anos-luz na direção da constelação de Hidra. Os astrônomos usaram observações do Telescópio Espacial Hubble em uma larga faixa de comprimentos de onda, da luz visível até o infravermelho próximo, para modelar as cores e a estrutura do disco de uma forma até então nunca feita. Eles encontraram uma falta de material no disco, ou falha parcial, a cerca de 80 unidades astronômicas (UA – uma UA é a distância do Sol à Terra). Seus modelos indicam que a depressão tem cerca de 20 UAs de largura, um pouquinho mais larga do que o necessário para uma falha causada pela acreção de um planeta e consistente com um planeta com uma massa entre 6 e 28 vezes a da Terra. Esta característica é vista em todos os comprimentos de onda, o que indica que é uma diferença estrutural e não causada por uma composição local. A equipe acredita que é um forte indício de que a formação de um planeta está causando a falha.

“O sistema TW Hidra tem entre 5 e 10 milhões de anos de idade e deve estar na fase final de formação de planetas, antes que seu disco se dissipe”, observou a co-autora Alycia Weinberger da Carnegie, investigadora principal das observações. “É surpreendente encontrar um planeta com apenas 5 a 10% da massa de Júpiter se formando tão distante, já que os planetas deveriam se formar mais rápida e aproximadamente. Em todos os cenários de processos de formação de planetas, é difícil fazer um planeta de pequena massa tão distante de uma estrela de pequena massa”.

A meta dessas observações era compreender não só se haveria a formação de planetas, como também quais condições podem resultar na formação de planetas e quais as substâncias químicas estão disponíveis para a formação de novos planetas. Os modelos criados pela co-autora Hannah Jang-Condell, um antiga pesquisadora da Carnegie, mostram que o disco era mais brilhante do que o esperado, o que indica que grãos de poeira muito pequenos estão sendo alçados bem acima do plano médio. Isto é surpreendente porque as observações com rádio-telescópios havia mostrado anteriormente que a poeira contida no disco tina se conglomerado em pedriscos.

Weinberger projetou que as observações fossem capazes de detectar grandes grãos de água na camada superficial do disco. Esses grãos não foram encontrados, o que provavelmente significa que eles cresceram e se afundaram no plano médio do disco, onde eles podem se agregar em planetas ricos em água.

A formação de planetas distante de uma estrela mãe pequena não se encaixa com os dogmas vigentes de formação de planetas. Sob o cenário mais aceito, os planetas se formam ao longo de dezenas de milhões de anos a partir da lenta acreção de poeira, rochas e gases. Isto acontece com mais facilidade perto da estrela central, onde as escalas de tempos orbitais são curtos. Mesmo em um cenário de instabilidade do disco, no qual os planetas podem colapsar rapidamente do disco, não está bem claro como um tal planeta de pequena massa pode se formar.

O astrofísico da Carnegie Alan Boss, que trabalha com modelos de instabilidade do disco, disse: “Se a massa desse suposto planeta for pequena como parece ser, isso vai ser um quebra-cabeças. A teoria diz que ele não pode existir!”

O principal autor do estudo, John Debes do Instituto de Ciência Espacial com Telescópios e também um antigo pesquisador da Carnegie, observou: “Tipicamente, são necessários pedriscos antes que um planeta possa se formar. Então, se houver um planeta na falha e não houver poeiras maiores do que um grão de areia mais longe, nós conseguimos um belo desafio para os modelos tradicionais de formação de planetas”.
__________________

*Os autores do estudo são John Debes, Hannah Jang-Condell, Alycia Weinberger, Aki Roberge e Glenn Schneider. O apoio para o trabalho foi dado pela NASA através do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, operado pela Associação de Universidades para Pesquisa em Astronomia, INc. Debes, Jang-Condell e Roberge são todos antigos pesquisadores da Carnegie.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM