ISNS: Depois do Haiti, temores de outros grandes terremotos

Photobucket


Traduzido de: After Haiti, Worries About Other Big Quakes

Pesquisadores tentam identificar regiões em risco mas não podem prever onde será o próximo “big one”

15 de janeiro de 2010

Por Devin Powell
Inside Science News Service


Caribbean Tectonic Plate

Imagem ampliada

A Placa Tectônica do Caribe fica espremida entre quatro placas circunvizinhas.

Crédito: ISNS

WASHINGTON
(ISNS) — Nos últimos dias, enquanto as atenções do mundo se voltam para o drama humano do terremoto de terça-feira no Haiti,
os cientistas começaram a examinar o drama geológico do terremoto. Quais são os perigos para outras populações que vivem próximas de outras linhas de falha no Caribe – eles se perguntam – e quais outras áreas do mundo correm risco?

Os sismologistas apenas começaram o longo processo de analise das reverberações geológicas do terremoto de magnitude 7,0. Eles estão preocupados que o desastre desta semana possa aumentar as chances de outro tremor no Haiti, embora seus modelos de computador possam acalmá-los depois que todos os dados estiverem digeridos.

“O que mais nos preocupa é a Península Haitiana, a área a Oeste dessa ruptura da falha”, declarou a sismologista Carol Prentice oo U.S.
Geological Survey
(USGS – Serviço Geológico dos EUA) em Menlo Park, Califórnia, que estuda o Caribe.

Ainda dependendo de uma análise mais detalhada – que levará semanas e pode ser prejudicada pela falta de equipamentos de coleta de dados no Haiti – Prentice diz que o terremoto no Haiti pode ter aumentado as chances de um terremoto futuro na vizinha República Dominicana também. No entanto, ela acrescentou que a probabilidade desse evento repercutir em outras nações do Caribe, tais como a Jamaica, Cuba e Porto Rico é extremamente baixa.

“Jamaica, Cuba e toda a área precisam se preocupar com terremotos por outras razões”, diz Prentice. “Mas este terremoto em particular provavelmente não mudou o estresse nas falhas tão longe”.

Um histórico de violência

Por todo o mundo, são relatados terremotos de magnitude 7,0 e mais intensos cerca de 18 vezes a cada ano e ao menos uma dúzia deles ocorreram no Caribe nos últimos 500 anos. Em 1946 um terremoto de magnitude 7,6 na República Dominicana deixou 20.000 desabrigados e o terremoto de 1843 nas Ilhas de Sotavento matou cerca de 5.000.

Conectadas entre si por baixo do oceano, essas nações insulares estão todas sobre um grande pedaço da crosta terrestre chamado de Placa do Caribe. Esta placa tectônica está escorregando lentamente na direção Leste, com relação à vizinha Placa da América do Norte. Mas as bordas das duas placas não deslizam suavemente de encontro à outra; ao invés, elas se travam e grudam, formando rachaduras ou “falhas” nas quais o estresse se acumula. Quando a tensão fica grande demais, as rochas de ambos os lados da falha escorregam subitamente e, em casos extremos, produzem um grande terremoto. Duas dessas falhas correm ao longo do Haiti e da República Dominicana.

Em
2008 uma equipe de geólogos calculou quanta tensão tinha se acumulado na falha do sul, responsável pelo terremoto desta semana, a Falha Enriquillo-Plantain Garden, que vai da Jamaica no Oeste, através do Haiti até a República Dominicana. Usando dispositivos de rastreamento com GPS, eles calcularam que as placas tinham se movido cerca de 1,80m em relação com a outra, desde o último grande terremoto de 1751, e previram que a falah tinha acumulado tensão suficiente para produzir um terremoto de magnitude 7,2.

Cálculos semelhantes revelaram outras regiões do mundo onde falhas apresentam riscos.

A antiga cidade turca de Istanbul, lar de 12 milhões de pessoas, pode estar na lista para um grande terremoto na próxima década. Ela fica a apenas 20 km da falha do Norte da Anatólia, que não teve rupturas desde 1766 e acumulou ainda mais tensão do que a falha que causou o terremoto do Haiti.

“Podemos esperar um terremoto ainda aior que este do Haiti – o cenário da pior hipótese chega aos 7,6 graus”, declarou o sismologista Oliver Heidbach
do Helmholtz Centre Potsdam na Alemanha, cuja pesquisa será publicada neste domingo em Nature Geoscience.

A parte Sul da falha de San Andreas perto de Los Angeles, quieta a 300 anos atualmente, também tem acumulado tensão suficiente para produzir um “big
one” de magnitude 7,0 ou mais, de acordo com o sismologista da Univesidade da Califórnia em San Diego Yuri Fialko.

O USGS mantém mapas de riscos que evidenciam áreas dos Estados Unidos consideradas de maior risco de grandes terremotos. O mais forte terremoto jamais registrado nos EUA – magnitude 9,2 – foi o Grande Terremoto do Alaska em 1964. Atualmente, regiões na Carolina do Sul e no estado de Washington são consideradas de alto risco e uma atenção especial é dada à falha de Nova Madrid – que corre através do Missouri e seis outros estados do Sul e Meio-Oeste. Na última vez que houve uma ruptura nessa falha, em 1811, dizem que as vibrações fizeram os sinos das igrejas tocarem em lugares distantes como Boston.

Terremotos geram terremotos

Durante o terremoto do Haiti, somente entre 40 a 80 km da falha de 600 km sofreu uma ruptura e deslizou. O resto dela ficou emperrado, ainda grudado pela fricção. A área que se rompeu provavelmente aumentou a tensão – e o risco de outro terremoto – nas outras partes da falha, especialmente nas áreas a Oeste de Port-au-Prince.

Isso aconteceu em 2004 na Indonésia, depois de um terremoto de magnitude 9,4 (mais de 3.000 vezes mais forte do que este do Haiti) aconteceu ao largo da costa de Sumatra. Dados de modelos de computadores, publicados na Science, alertavam para que os tremores gigantescos tinham aumentado a tensão sobre duas outras áreas da falha e sobre outra falha no Lesta. Em Março de 2005, a falha a Leste sofreu um terremoto de magnitude 8,7.

O terremoto mais fraco na falha Enriquillo no Haiti não deve ter tais difundidas consequências, mas pode ter afetado a falha Setentrional mais ao Norte que corre através do Haiti e da República Dominicana e que tem estado quieta por mais de 800 anos, de acordo com Prentice, a cientista do USGS.

Para calcular como as tensões em ambas essas falhas foram modificadas nesta semana, os sismologistas – como Ross Stein do USGS – estão analisando medições que mostram onde e com quanta força a Terra tremeu na terça-feira, e alimentando programas de computador com esses dados para modelar como as tensões em outras regiões da falha podem ter mudado. Mas os cientistas
admitem que os modelos não conseguem predizer exatamente o que ocorrerá a seguir.

“Temos que ser realmente humildes como cientistas da Terra”, diz Stein. “Temos um histórico colossal em falhar em predizer [antecipadamente os terremotos]”;

O caso do Haiti pode ser particularmente desafiador porque os sismologistas como Stein normalmente veriificariam os sismógrafos locais à procura de pequenos terremotos “réplicas” nas regiões sob estresse indicadas pelos modelos. No Haiti, isso pode ser impossível porque a ilha tem muito poucos sismógrafos e um catálogo de réplicas, para dizer o mínimo, rudimentar. Mesmo os dados que descrevem o terremoto principal vieram principalmente de isntrumentos distantes nos Estados Unidos.

“Nós teremos um quadro mais pobre de como a falha deslizou do que teríamos se fosse um terremoto nos Estados Unidos ou no Japão, e teremos um quadro bem mais pobre das réplicas que o seguiram”, diz Stein. “Isso nos deixa com uma ou até as duas mãos atadas nas costas”.

Sem tempo

Vai levar semanas antes que os cientistas saibam se esses modelos vão nos dar uma melhor ideia dos novos riscos no Caribe. Mas Stein diz que, mesmo quando os modelos conseguem identificar áreas de risco – seja no Caribe, na Turquia, ou na Califórnia – eles não conseguem prever quando o próximo terremoto vai acontecer.

Para prever quando os terremotos irão acontecer, alguns cientistas examinam o registro histórico de quando e quão frequentemente os terremotos ocorreram no passado. Isto apresenta dificuldades – segundo Stein – porque somente os tremores mais fracos – de magnitudes de 1 a 2 – tendem a ocorrer em intervalos regulares.

“Tem havido algum progresso na previsão a longo prazo de terremotos, onde estimamos a probabilidade em um período de anos a décadas para a ocorrência de um terremoto”, diz Michael Hamburger da Universidade de Indiana em Bloomington. “Mas isso não é a mesma coisa que uma previsão de ocorrência de terremotos de curto prazo  – poder afirmar que um terremoto vai ocorrer nas próximas semanas e que devemos evacuar uma cidade”.


Todo o texto deste artigo está disponível para uso por sua organização de notícias, com a condição de que todo o material produzido pelo Inside Science News Service seja inteiramente creditado a sua fonte original em sua publicação. Para mais detalhes, entre em contato com o ISNS através de InsideScience@aip.org

Discussão - 0 comentários

Participe e envie seu comentário abaixo.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM