Crianças + Chocolate = Egoísmo ou Altruísmo?

Você acha que o ser humano é egoísta por natureza ou altruísta por natureza? Essa é uma discussão muito antiga que remonta Rousseau e seu “bom selvagem”, em que o ser humano era tido como bom por natureza e a sociedade o corrompia. Mas como vamos ver o ser humano não é tão simplista assim. Não nascemos equipados só com predisposições cognitivas pró-sociais ou só com anti-sociais, mas sim com ambas predisposições. Somos ricamente equipados com estratégias sociais mistas.

Nossas predisposições cognitivas pró ou anti-sociais são manifestadas segundo características do contexto social em que nos encontramos. Conhecer as pessoas do seu meio social, confiar nelas, reencontrá-las de tempos em tempos são algumas das condições muito importantes para a evolução do altruísmo recíproco, ou seja, a cooperação com não parentes.

Pesquisadores brasileiros de Psicologia Evolucionista investigando essa questão encontraram que outra característica relevante na escolha de atitudes pró ou anti-sociais é o tamanho do grupo social. Em artigo publicado no periódico Evolution and Human Behavior 29 (2008) 42–48, que está disponível junto com outros artigos nacionais no site do Projeto Milênio de Psicologia Evolucionista, Anuska Alencar, José Siqueira e Maria Emilia Yamamoto, investigaram a cooperação em crianças.

Segundo a professora Dra. Emilia Yamamoto, “tentamos entender como é a cooperação do ponto de vista evolutivo, ou seja, quais atitudes das crianças são dirigidas a um benefício comum, e quais revelam certo egoísmo.” E pra fazer isso é só criar um engenhoso jogo envolvendo chocolate em que colocava as crianças em posição de doar algum para que o benefício comum aumente ou não doar nada em prol apenas do benefício individual. Isso em grupos pequenos e grandes de crianças.
Eles encontraram que no grupo pequeno as atitudes pró-sociais foram mais comuns, pois a possibilidade de monitorar indiretamente o comportamento dos colegas era maior. Já no grupo grande as doações diminuíam bastante, segundo ela “revelando que o egoísmo prevalece quando o indivíduo não percebe um ambiente propício para a cooperação”. Entra em jogo então o raciocínio que acaba rapidamente com os recursos naturais: se é de todo mundo então não é de ninguém e se eu não aproveitar muito agora outros o farão já já.
É interessante lembrar que a superpopulação não é um problema só da China, mas sim do planeta Terra. E que as conseqüências prejudiciais da superpopulação não são só ambientais mais também anti-sociais. Os estudiosos da evolução do comportamento humano apontam que o tamanho da tribo humana ancestral girava em torno de 200 pessoas, algo muito longe do tamanho das cidades atuais.
Uma versão resumida escrita e em áudio do presente trabalho pode ser encontrada no novíssimo site de divulgação científica da UNESP: o Toque da Ciência, destinado à divulgação da produção científica brasileira por meio de uma linguagem simples e atraente, com periodicidade diária e contando com um acervo de mais de cem programas. Toque da Ciência têm formato de PODCAST disponibilizando áudios de um minuto e meio de duração, com o relato do processo de pesquisa pelo próprio pesquisador, aproximando público e cientista e tornando eficaz a comunicação e os fins da divulgação científica.
Um bom exemplo de altruísmo com o conhecimento científico e cooperação com a sociedade.

Discussão - 5 comentários

  1. silvio cordeiro disse:

    Solicito a gentileja de ser incluido no rol dos assinantes do
    'MARCO EVOLUTIVO">UMA PRECIOSIDADE.

  2. Caio Maximino disse:

    Fala, Marcao!
    Lembra de mim? Sou o Caio, ex-orientando do Amauri da UNESP/Bauru. Um amigo meu havia de indicado a existencia do lablog, e comentado que tinha um tal de Marco, da UNESP, que tinha um blog... logo imaginei que era vc =)
    Anyway, no momento, passando pra dizer um oi e propor uma troca de links: a URL acima eh do "Principles of Neurobiotaxis", meu blog de neurociencia evolutiva. Dá uma olhada e ve o que tu acha.
    Em relaçao à discussao da pesquisa do PMPE, existem evidencias trans-culturais do mesmo fenomeno? Eu sei que esse tipo de fenomeno é basicamente uma instanciaçao experimental de um constructo de comportamento social, mas acho complicado fazer inferencias adaptativas utilizando dados locais. A adaptaçao é um conceito especial em biologia evolutiva, e deve ser explicitada e testada sempre que possível.
    Ainda assim, acho que a pesquisa aponta dados interessantes; talvez pudesse ser replicado com outras espécies de primatas (o que permitiria um estudo comparativo da história evolutiva do caractere, e medidas de neurormonios como oxitocina e vasopressina), ou em outras culturas - acho que aí poderíamos ter mais confiança na hipótese evolucionista levantada pelos autores...

  3. marcoevolutivo disse:

    Fala Silvio! Valeu pelo elogio!! Vou continuar melhorando!! Para ser assinante do feed do MARCO EVOLUTIVO basta inserir o endereço http://lablogatorios.com.br/marcoevolutivo/feed/ para as atualizações evolutivas!
    Abraço
    Marco

  4. marcoevolutivo disse:

    Beleza Caio!! Lembro de você sim!! Que coincidência termos blogs de ciências sobre comportamento!! Achei o Neurobiotaxis muito legal, parabéns!! E já incluí seu link na lista sobre Neurociências, Cognição, Mente e Filosofia.
    Concordo com você de que muito ainda precisa ser feito para conhecermos alguns aspectos especiais dessa habilidade mental voltada para o social. Dados interculturais e comparados ainda são escassos mais a tendência á aumentar. Também acho que as áreas proximais envolvendo neurormônios e as áreas históricas e transculturais deveriam trabalhar juntas sobre o conceito de adaptação. Bom saber que você ligado também da divulgação científica.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.