Eleição, Voz, Vitória e Pornografia

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Muitos podem pensar que eleição é um comportamento muito recente, e sendo assim, não tendo nada a ver com a evolução do comportamento humano, certo? Pois é, mas a dimensão cultural humana não é tão facilmente separável da dimensão biológica assim como podemos intuir. A Biologia do comportamento humano oferece importantes contribuições e implicações para pensarmos eleições, candidatos e resultados. Não estou dizendo que existia eleições democráticas com urna eletrônica e tudo mais no nosso ambiente ancestral, mas sim que aspectos básicos da nossa cognição social primata estão em cena no nosso moderno cenário eleitoral. Veremos como nossas propensões psicológicas influenciam e são influenciadas pelas eleições, como a presidencial que acabamos de ter no Brasil.

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A primeira coisa que temos que entender é que o modo como nós concebemos eleições, como uma vitória democrática histórica e uma construção social moderna não são como nossa mente primata a percebe. Para nossa mente eleição nos remete à velha tarefa de escolher e aliar-se a coalizões de poder, algo que, durante o período evolutivo, foram favorecidas decisões que poderiam influenciar positivamente sua aptidão e também a sobrevivência e reprodução de seus parentes. Então se quisermos concretizar todas as implicações dos ideais de eleições democráticas modernas temos que entender melhor as nossas propensões psicológicas que influenciam a velha tarefa de escolher e aliar-se a coalizões de poder.

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Escolher um representante de coalizão é uma difícil tarefa que muitas vezes tem implicações bem próximas a você e com conseqüências prolongadas. Até para aqueles que não se deixam influenciar pelo assédio ou compra de votos, não imitam a escolha de alguém importante (seja líder religioso, artístico, acadêmico ou familiar) e nem tentam seguir a maioria mostrada nas pesquisas eleitorais, existem muitas outras influências internas enviesando tal escolha. Em 2002, Stanford Gregory Jr. e Timothy Gallagher da Kant State University publicaram o estudo “Spectral analysis of candidate’s nonverbal vocal communication: Predicting U.S. presidential election outcomes”. 

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Eles analisaram o tom da voz de candidatos a presidência dos EUA em debates desde 1960 e obtiveram que tons de voz mais graves induziam percepções de maior dominância social, o que previa a quantidade de votos recebido em todas as 8 eleições analisadas. Parece que em nossas deisões eleitorais ainda estamos nos guiando por pistas de dominância social que, como diferentes estudos apontam, se relacionam com níveis de testosterona, força física e resistência a parasitas.
Tais parâmetros são os mesmos acessados na busca por parceiros amorosos, pois sabemos que a sobrevivência é só um meio para se chegar à própria reprodução e a de parentes. Então as disputas entre coalizões podem ser entendidas como sendo parte da competição intra-sexual por poder sobre recursos, sendo o acesso sexual um dos mais relevantes evolutivamente. 

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Em muitas espécies quando um macho vence o macho alfa dominante ele mata todos os filhotes induzindo as fêmeas a pararem de investir nos filhos do outro macho para investir em se reproduzir novamente, com ele dessa vez. Visto isso seria esperado que a coalizão vencedora estivesse mais motivada sexualmente, apresentando alto apetite sexual do que a coalizão perdedora. Pois bem, acaba ser publicado no número de novembro do Journal Evolution and Human Behavior uma pesquisa que testa exatamente essa hipótese com relação a eleições.

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Patrick Markey da Villanova University e Charlotte Markey da Rutgers University publicaram o estudo intitulado “Changes in pornography-seeking behaviors followingpolitical elections: an examination of the challenge hypothesis”. Nele eles investigaram se aqueles que se aliaram ao partido vencedor acessam mais freqüentemente pornografia online do que os perdedores. Ele analisaram por estado a proporção das palavra-se chaves colocadas no Google nos períodos das eleições presidencias dos EUA de 2004, 2006 e 2008 comparando uma semana antes e um semana após as eleições. 
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Eles encontraram que nos estados em que a maioria votou no partido vencedor as pessoas usaram mais palavras no Google em busca de pornografia do que nos estados em que a maioria votou para o partido perdedor. Pois é parece que ainda lidamos com as eleições de formas semelhantes como os outros mamíferos lidam com das disputas de poder onde o acesso sexual é um dos prêmios finais.

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Vimos apenas dois exemplos de como a Psicologia Evolucionista pode contribuir para entendermos e, posteriormente, aprimorarmos nosso processo eleitoral. Mais pesquisas precisam ser pensadas a esse respeito em países diferentes para vermos se esse resultados se mantém. E claro como estamos a menos de uma semana após as eleições presidenciais brasileiras fique com um eslogam eleitoral evolucionista: “Dê privacidade ao computador para os que votaram no partido vencedor”.

Dicas de livros em Medicina e Psiquiatria Evolucionista

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Inspirado pelo comentário do Karl resolvi escrever um singelo post dando dicas de livros em Medicina Evolucionista e também em Psiquiatria Evolucionista. Espero que ajude a catalisar a curiosidade sobre o assunto no Brasil.
Segundo Randolph Nesse, a Medicina Darwinista ou Evolucionista (como tem sido chamada mais recentemente) nada mais do que faz uso da Biologia Evolutiva para entender, prevenir e tratar doenças. Ela não é radical, não propõe métodos de tratar pacientes e nem é oposta à medicina convencional. Basicamente existem atualmente 4 pontes interligando Bio Evolutiva e Medicina: 1) Pelos métodos estabelecidos da genética populacional; 2) Pelos métodos filogenéticos comparativos e estudos das migrações humanas; 3) Pelo estudo da dinâmica evolutiva das doenças infecciosas, não apenas a resistência aos antibióticos, mas os modelos evolutivos visando diminuir a virulência dos patógenos; e 4) mais recentemente, Pelo entendimento de como a evolução deixou nossos corpos e mentes vulneráveis por não serem tão bem projetados, ainda mais quando não estamos vivendo em grande parte no modo de vida em que evoluímos, algo que o Nesse tem enfatizado mais.

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Sobre a dinâmica evolutiva das doenças infecciosas gostaria de salientar as semelhanças a ecologia da agricultura. Qualquer vestibulando sabe que a dinâmica agrotóxico-praga é a mesma entre antibióticos-patógenos e que ambas nunca tem fim. Quanto mais forte e mais for usado o agrotóxico ou o antibiótico mais resistentes serão as novas gerações de pragas e patógenos. E já que o produto químico não co-evolui naturalmente com as infestações que sempre têm um ciclo de vida muito mais rápido do que as novidades que a indústria de agrotóxico e farmacêutica são capazes de produzir, sempre estaremos perdendo. Assim como o controle biológico, que introduz uma praga da praga pra combatê-la, é a solução óbvia, inclusive pelos prejuízos ambientais, a fagoterapia criada da antiga união soviética também seria a saída óbvia para a Medicina, inclusive por evitar muitos efeitos colaterais. Vírus projetados para infectar nosso patógenos podem coevoluir com eles eser mais bem sucedidos a longo prazo já que por terem ciclo de vida menor estarão sempre na frente. Mas assim como o controle biológico teve vários casos de descontrole, a Medicina precisaria estar bem ciente dos potenciais prejuizos da fagoterapia. É claro que a indústria de agrotóxico e farmacêutica não gostam nada dessas soluções, mas isso vai acontecer uma hora ou outra independente dos interesses delas.

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Em suma estamos apenas no começo dessa interessante fase de intercâmbio de conhecimentos nas áreas da saúde, inclusive só numa busca rápida pelo google achei mais de dez livros só sobre Medicina Evolucionista e dois deles já estão na segunda edição. Achei também 4 livros sobre Psiquiatria Evolucionista. Descobri também que o próprio Nesse veio ao Brasil dar uma palestra ano passado em 10 de maio na 29ª Semana Científica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Então estou colocando essa gravação feita por WistarLabRat abaixo após um outro vídeo do Randolph Nesse sobre sociedade e saúde também do ano passado. Cnheci ele no Congresso Internacional de Psicologia em Berlin em 2008.
Mas ainda hoje, infelizmente, os evolucionistas entendem pouco de Medicina e os médicos pouco de evolução. Então para diminuir essa distância aí vão as dicas de livros e vídeos do MARCO EVOLUTIVO. Aproveitem!!!
Medicina Evolucionista
clique nos títulos dos livros para ler partes dos livros

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  • Evolutionary medicine 1999.jpgEvolutionary medicine (Wenda Trevathan, Euclid O. Smith, James Joseph McKenna, Oxford University Press US, 1999)
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Psiquiatria Evolucionista
clique nos títulos dos livros para ler partes dos livros
Assita aqui uma palestra do R. Nesse sobre Depressão

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George C. Williams (1926 – 2010) Grande Evolucionista

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Morreu no dia 08, semana passada, do mal de Alzheimer aos 83 anos George C. Williams (1926 – 2010), um dos mais importantes evolucionistas da atualidade. Professor emérito da Biologia na State University of New York em Stony Brook nos EUA, foi visionário e pioneiro que contribuiu enormemente para nosso entendimento evolutivo sobre o envelhecimento, menopausa, a reprodução sexuada, o adaptacionismo, os níveis de seleção e a medicina e doenças.
Para Niles Eldredge, George C. Williams foi um pensador profundo e cuidadoso, muito tímido e bem legal. Stephen Jay Gould o achava um cavalheiro quieto com uma enorme influência na teoria evolucionista que sempre esteve avançado em relação ao seu tempo quanto à sua clareza teórica. Para Richard Dawkins, ele foi um cientista maravilhoso e um grande cavalheiro de uma sabedoria lendária. Para Steven Pinker ele é um dos mais famosos escritores na história da ciência. Para Daniel Dennett, ele mostrou pela primeira vez como é difícil ser um bom evolucionista e como é fácil cometer erros simples. Para Martin Daly, George William faleceu sendo o maior biólogo evolucionista de seu tempo que influenciou tanto a ecologia comportamental quanto a psicologia evolucionista. Para Michael Ruse, ele foi parte do grupo de biólogos que mudou completamente a natureza da teoria da evolução a meio século atrás. Para Randolph Nesse, ele foi o mais importante biólogo do século XX que com uma abordagem consistente e um pensamento metódico perseguiu questões importantes e destilou suas conclusões em prosa límpida.

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Em seu primeiro livro e um dos mais importantes da área Adaptation and Natural Selection: A Critique of Some Current Evolutionary Thought (1966) ele influenciou gerações de evolucionistas com um adaptacionismo mais rigoroso e desbancando de vez o selecionismo de grupo ingênuo, que infelizmente, ainda vemos muito na narração de documentários sobre animais, algo do tipo “tudo para o bem da espécie”. Ele mostrou que a adaptação é um conceito oneroso e que teve ser criticamente testado segundo vários critérios antes de aceitá-lo finalmente como conclusão.

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Em Sex and Evolution (1975), Natural Selection: Domains, Levels, and Challenges (1992), ele atualizou e expandiu suas idéias anteriores, introduziu a idéia de seleção de clado e foi fundo na questão dos níveis de seleção. Ele fez um distinção muito importante para evitarmos muitos mal entendidos em biologia evolutiva. Temos que reconhecer que existem dois domínios distintos em biologia evolutiva: um é o da matéria, no qual gene significa cadeia de DNA, o outro é o da informação, no qual gene significa pacote de informação, mensagem, receita. Então para entender os níveis de seleção não se pode incorrer no erro de misturar os dois domínios como indivíduo (material) e gene (pacote de informação), pois os diferentes domínios não são correspondentes, deve-se ter a clareza de comparar níveis dentro de um mesmo domínio.

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Mais tarde em seu livro Why We Get Sick (1995) (Por que Adoecemos. A nova ciência da medicina darwinista (1997) da Editora Campus na tradução brasileira) em coautoria com Randolph Nesse, introduz o campo da Medicina Darwinista. Ambos trazem todo o poder da teoria evolutiva em dar sentido, amarrar e guias novas perguntas mas toda a área médica. 

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Williams mostrou como é um absurdo a idéia de restaurar a homeostase, ou seja, tudo de incomum manifestado em seu corpo durante a doença deve ser combatido, com um exemplo bem claro: Imagine que você chega na sua casa e dois fatos incomuns estão acontecendo: 1) tem um caminhão vermelho estacionado na frente e vários seres jogando água na sua casa; 2) tem muita fumaça saindo pela sua janela. O que você deve fazer para restaurar a homeostase da sua casa é dar um fim em todos os fatos incomuns, então você se livrar dos seres molhados, guinchar o caminhão vermelho e não deixar fumaça sair pela janela, pronto resolvido!!! Eles mostraram que muitos dos sintomas das doenças são estratégias coordenadas do seu corpo inerentes do processo. Dawkins chegou a sugerir a todos que comprem duas cópias do livro e receitem um para seu médico. Segundo profetizou o próprio Williams:
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“In twenty or thirty years, medical students will be learning about natural selection, about things like balance between unfavorable mutations and selection. They will be learning about the evolution of virulence, of resistance to antib
iotics by microorganisms, they will be learning about human archaeology, about Stone Age life, and the conditions in the Stone Age that essentially put the finishing touches on human nature as we now have it. These same ideas then will be informing the work of practitioners of medicine, and the interactions between doctor and patient. They’ll be guiding the medical research establishment in a fundamental way, which isn’t true today. At the rate things are going, this is inevitable. These ideas ought to reach the people who are in charge — the doctors and the medical researchers — but it’s even more important that they reach college students, especially future medical students, and patients who go to the doctor.”

Não deixe de receitar os seguintes links para seu médico, para seus amigos alunos e professores das áreas médicas. The Skeptical Adaptationist – blog do Randolph Nesse, The Evolution & Medicine Review, Vídeos de Randolph Nesse sobre Medicina e Psiquiatria Darwinista

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Em seu último livro Plan and Purpose in Nature (1996), Williams, rebate claramente os argumentos criacionistas mostrando que se existe um criador e ele é minimamente inteligente nunca faria algo tão mal-adaptado como nosso corpo. Os exemplos vão de peixes ao olho, garganta e muitos outros. Nesse livro fica claro o porquê Randolph Nesse o considera um mal-adaptacionista, já que eles compartilham o fascínio pelos aspectos do corpo e da mente que aparentam não fazer sentido em termos evolutivos.
Sem dúvida George C. Williams foi um marco evolutivo com alcances para além das ciências biológicas. Espero com essa homenagem aumentar o conhecimento sobre ele no Brasil e o ainda mais o alcance de sua contribuição científica.
Fique com uma palestra dada por Randolph Nesse na comemoração sobre o Ano de Darwin 2009 sobre The Great Opportunity: New Evolutionary Applications in Medicine.

The Darwin Debate

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Hoje veremos um debate bem interessante sobre as implicações da teoria da evolução para entendermos a nós mesmos e a sociedade. O The Darwin Debate foi filmado no ano de 2005 em Piccadilly, Londres, na Sciedade Linneana, a mais antiga sociedade biológica, mas só recentemente foi disponibilizado no youtube. Malvyn Bragg é o debatedor e os convidados são Steven Pinker, psicólogo; Meredith Small, antropóloga; Steve Jones, geneticista; e Sir Jonathan Miller, neurologista e artista.

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No primeiro vídeo eles falam basicamente sobre reprodução sexual, sexualidade e formação de casais. No segundo vídeo conversam sobre padrastos e madrastas, homosexualidade, e cultura chimpanzé. No terceiro filme falam de apreciação estética e preferências por paisagens, também se perguntam se a evolução teria parado em nossa espécie. No quarto vídeo, discutem se a evolução está atuando mais fortemente no crescimento de cérebros ou em melhores sistemas imunológicos, falam também de comportamentos maladaptativos por estarmos em ambientes diferentes daquele em que evoluímos. No quinto e último vídeo eles falaram de distúrbios mentais, variação individual, moralidade e altruísmo.
Reserve uma horinha para assistir a esse debate que aborda temas interessantes e pesquisadores com pontos de vista bem variados. Vale apena assistir, aproveite. Se quiser saber mais sobre os convidados e fazer o downoad dos vídeos clique aqui.
 

Extra Extra! Nossos Genes Estão na Música!

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É de longa data a discussão de se a variação individual na nossa habilidade musical tem maiores componentes herdados geneticamente ou do ambiente. Muitos, caindo no erro do determinismo genético de que gene é destino, temem que se descobrirem que alguns genes relacionados a uma facilidade de aprendizado musical isso irá acabar de vez com o ensino de música nas escolas. 
Pois é que os dotados de tais genes deveriam fazer aulas especializadas fora da escola. Ótimo, sendo assim, como devem existir genes facilitando o aprendizado de línguas e de matemática o currículo logo estará livre também dessas disciplinas. Nada mais justo! Vejam como não faz sentido algum temer que se busque fatores genéticos ligados a habilidade musical para proteger que o ensino musical no currículo.

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Estudos em gêmeos apontam que alguns aspectos da musicalidade apresentam um grande componente hereditário influenciando a variação individual. Um estudo (Coon & Carey, 1989) encontrou que de 44% a 90% da variação individual na capacidade musical se deve pelo compartilhamento genômico. Outro (Drayna et al., 2001) encontrou que de 71% a 80% da variação individual na discriminação de tons se deve à herança genética.

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Estudos genéticos já haviam mostrado que há uma associação entre a memória musical e polimorfismos em genes relacionados à vasopressina (Granot et al., 2007). Então o pesquisador Ian Craig do King’s College London coletou amostras de DNA dos 40 cantores profissionais do New London Chamber Choir e de pessoas que se diziam completamente incapazes de cantar ou tocar instrumentos. Ele está analisando se as variações individuais no tamanho e conteúdo das cópias do gene que codifica o receptor 1A para a vasopressina no cérebro e em mais 16 outros marcadores genéticos co-variam com as habilidades musicais individuais. Por enquanto ele só encontrou algumas poucas diferenças, mas a análise ainda não está concluída.

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Então, para atrair a atenção da mídia e do público em geral eles contactaram o compositor Michel Zev Gordon que compôs a música Allele, a primeira música criada a partir das ‘letras’ ou bases nitrogenadas do DNA. (Iniciativas anteriores semelhantes fizeram música a partir da freqüêcia da molécula de DNA). Pois é o DNA tem só 4 letras AGCT, e pra queles que gostam de pop song já sabem que 4 acordes são mais do que suficientes. Então como A= lá, G=sol, C= dó T=ti, ou si em inglês, dá pra criar uma música tranquilamente. Cada músico estava cantando sua voz contendo as notas da própria variante do gene relacionado à habilidade musical. Fenomenal. Veja mais detalhes abaixo no vídeo da NewScientist dessa semana.
Referências
Coon, H., & Carey, G. (1989). Genetic and environmental determinants of musical ability in twins. Behavior Genetics, 19(2), 183-193. 
Drayna, D., Manichaikul, A., Lange, M., Snieder, H., & Spector, T. (2001). Genetic Correlates of Musical Pitch Recognition in Humans. Science, 291 (5510), 1969 – 1972. 
Granot, R., Frankel, Y, Gritsenko, V., Lerer, E., Gritsenko, I., Bachner-Melman, R., Israel, S., & Ebstein, R. (2007). Provisional evidence that the arginine vasopressin 1a receptor gene is associated with musical memory. Evolution and Human Behavior, 28(5), 313-318. 

Quais os benefícios evolutivos e psicológicos da Dança e da Música?

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Quem dança e canta seus males espanta, certo? Tudo bem, mas, evolutivamente, se esses males não forem inimigos, predadores, parasitas e outros competidores e se ainda assim se isso não ajudar na reprodução direta ou na de presentes, então nada feito. As origens evolutivas e efeitos sociais e cognitivos da música e da dança são o tema de uma entrevista muito interessante de Eduard Punset, distinto divulgador de ciência espanhol, com Lawrence Parsons, neurocientista cognitivo da Universidade de Sheffield.

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Punset e Parsons ressaltam que a música e a dança são universais, regidas por processos psicológicos em grande parte inconscientes, feitas espontaneamente em grupo e que apresentam paralelos análogos em comportamentos de outras espécies, principalmente aves. Para Parsons a música e a dança

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 evoluíram como uma primeira forma de comunicação não verbal para promover a coesão social intragrupo, sincronizando e conectando emoções e atividades trazendo vantagens na competição com outros grupos, tribos etc. Parsons segue citando que a dança e a música são bem antigos segundo pinturas rupéstres e fósseis de flautas, e que não há celebração social sem música nem danças populares em todas épocas históricas.

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Ele aponta que os bebês já estão prontos para aprender os ritmos da própria cultura já nos primeiros anos de vida: assim como com a linguagem durante o primeiro ano os bebês respondem brincando igualmente vários modelos rítmicos e de escalas musicais, mas após um ano aproximadamente eles passam a se especializar aos sons musicais ou lingüísticos da própria cultura. Através de brincadeira musical e dançada diferentes sistemas cerebrais se harmonizam eficientemente ao longo do desenvolvimento, segundo Parsons.

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O interessante é que Punset não descarta a influência da seleção sexual tanto é que na edição final ela só é citada nas reportagens entre as partes da entrevista e não na entrevista em si. Os ancestrais que andavam e dançavam de forma mais graciosa eram percebidos como mais saudáveis, criativos e inteligentes levando então a um maior sucesso reprodutivo.

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Eles falaram também dos neurônios espelhos, que estão ativos quando fazemos algo e quando vemos alguém fazer algo, seja dançar, tocar um instrumento ou assistir a uma competição esportiva. Então, seja especialista ou amador mesmo se estivermos praticando os movimentos mentalmente estamos até certo modo realmente aprimorando as conexões envolvidas nos movimentos. Vários sistemas cerebrais estão interagindo de forma complexa, percepção visual e sonora às áreas motoras, quase instantaneamente para gerar os movimentos da dança e isso tudo ligado ao sistema límbico nos dando prazer recompensador e ajudando na memória.

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Eles finalizam trazendo as implicações sociais e educacionais dos novos estudos neurológicos e evolutivos da música e dança. Dizem que as artes deveriam ser ensinadas em todas as escolas, pois melhoram a memória operacional e a capacidade executiva da atenção e controle motor ao lidarmos com tarefas múltiplas. Concluem que a música e a dança são poderosas formas de coesão e sincronização grupal e que em sua prática contribuem numa harmonização de funções cognitivas gerais.
Muito bem produzido, como sempre, o vídeo da entrevista está repleto de imagens e explicações bem interessantes e cativantes, vale a pena assistirmos esse vídeo de 27 min e de quebra treinarmos nosso espanhol.
 

O Rap também é Evolução

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Cansado de ter que ler vários livros tediosos pra aprender evolução e inglês? Preferia ficar ouvindo um rap em alto e bom som? Pois seus problemas se acabaram!! Chegou o The Rap Guide To Evolution!!! Pois é minha gente, depois de ouvirmos músicas sobre Darwin e evolução no post e nos comentários de Cantando Darwin, depois de ouvirmos a versão reggae de cada um dos capítulos do Origem das Espécies, chegou a hora de ouvirmos o que o rap tem a nos dizer sobre evolução.

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Baba Brinkman é um raper canadense fissurado em plantar árvores que lançou seu mais novo álbum “The Rap Guide To Evolution”. Graças às conversas com um amigo biólogo evolucionista e muitas leituras, ele compôs 16 músicas interessntes sobre vários aspectos da evolução. Até a Olivia Judson, a Dra Tatiana do Consultório Sexual para todas as espécies, falou bem dele em sua coluna no The New York Times.
Em suas músicas ele explica a seleção natural, desacredita o criacionismo, explica a seleção artificial, ressalta nossa descendência comum com todos os seres vivos e afirma que todos os seres humanos são africanos. Ele ainda fala sobre Psicologia Evolucionista cita autores como Leda Cosmides e Geoffrey Miller, explica a relação do desconto de futuro com o homicídio comentando o livro de Martin Daly e Margo Wilson. Além disso, ele explica memética, seleção de grupo, seleção sexual, DNA mitocondrial e muito mais. Tudo isso numa liguagem clara, bem humorada e fácil de entender.

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Gostei dele ter dedicado uma música ao ácido universal. Daniel Dennett refere-se a ideia de Darwin como um ácido que corrói tudo a sua volta, pois nenhum modelo instrutivo se sustenta frente ao modelo seletivo (veja o porquê). Ou seja complexidade e inteligência podem sugir de processos simples e burros sem nenhuma instrução mágica, basta performance, feedback e revisão por um longo período de tempo. No site dele vocês podem ouvir e baixar as músicas e ver muito mais.

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No vídeo abaixo veremos Baba Brinkman no Cambridge Darwin Festival ano passado comemorando o Ano de Darwin frente aos famosos evolucionistas. Ele canta o rap em que explica como funciona o modelo seletivo e como usando os mesmo passos da seleção natural: performance, feedback e revisão é possível aprender e aprimorar até o mais fajuto rascunho de letra de rap, porque o rap também é evolução. Divirtam-se cantando e aprendendo.

Dança: um Fértil campo de Pesquisa Evolutiva

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Quem nunca convidou alguém pra dançar uma música lenta? Trata-se de um momento interessantemente tenso e de decisão rápida. Imagine-se num nightclub numa cidade de tamanho médio do oeste francês. Vocês garotas estão com suas amigas e quando começa tocar aquela música lenta romântica você é abordada por um rapaz atraente. Ele diz: “Olá meu nome é Antonie, quer dançar?” O que você faria? Numa fração de segundos você já analisou milhares de aspectos desse desconhecido e toma a decisão: “Não obrigada.” Então ele fala: “Que pena, outro dia talvez.” Mas se você aceitasse ele te diria que você acabou de participar de um experimento naturalístico sobre comportamento 

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social em nightclubs! Em ambos os casos você é logo abordada pela pesquisadora para você responder um questionário. 
Com certeza as mulheres tiveram várias razões pessoais para aceitar ou declinar do convite, mas não podemos esquecer que enquanto bons primatas que somos temos nossas razões biológicas também e na maioria das vezes, ambas andam juntas. 
No estudo Menstrual cycle phase and female receptivity to a courtship solicitation: an evaluation in a nightclub do

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 pesquisador francês Nicolas Guéguem publicado no jornal científico Evolution and Human Behavior em 2009, três rapazes, os quais foram considerados os mais atraentes num estudo prévio, foram os galãs convidando ao todo 211 mulheres pra dançar. Ele descobriu que as mulheres no período fértil aceitaram mais o convite para dançar do que as outras. Pela primeira vez é documentado um efeito do período fértil numa situação de paquera realista.

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O ciclo menstrual tem três principais períodos e ele não se refere apenas aos dias de menstruação. Basicamente uma vez por mês o útero, o corpo e a mente feminina se preparam para uma possível gravidez. O primeiro período vai do primeiro dia de menstruação, que dura até 5 dias, até o dia 8. Do dia 9 ao dia 15 é o período fértil ou folicular, quando a mulher tem muito mais chances de engravidar. Do dia 16 ao 28, se não houver gravidez, segue-se o período luteal. 

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Vários estudos em laboratório já mostraram que durante o período fértil as mulheres que não estão tomando contraceptivo hormonal julgam mais atraentes características físicas nos homens relacionadas a masculinização e simetria. Estes são tidos como indicadores de resistência a doenças, já que a testosterona deprime o sistema imunológico, e de estabilidade no desenvolvimento embrionário. Além disso, elas também têm mais fantasias sexuais inclusive com sexo extraconjugal. Entretanto, poucos são os estudos sobre as mudanças psicológicas do período fértil nas interações sociais do dia a dia em situação realistas.

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O primeiro estudo foi o Ovulatory cycle effects on tip earnings by lap-dancers: Economic evidence for human estrus dos pesquisadores Geoffrey Miller, Joshua M. Tybur Brent Jordan publicado também no Evolution and Human Behavior mas em 2007. Stripers profissionais tomaram nota dos períodos do ciclo menstrual em relação aos turnos de trabalho e gorgetas ganhas durante 60 dias. Eles descobriram

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 que com 5 horas de trabalho na fase fértil as dançarinas eróticas ganharam $335,oo em gorgetas, enquanto que na fase luteal ganharam $260,oo e na fase menstrual apenas $185,oo Esse estudo ganhou o Ig Nobel como pesquisa improvável no campo de economia em 2008.
Em conjunto essas duas pesquisas apontam as influências da seleção sexual na dança. O interessante é que o período fértil influencia tanto a exibição feminina em forma de dança quanto o aceite de convites para dançar aumentando assim as chances de encontrar um parceiro no áuge da probabilidade de concepção. O que dançou nessa história foi a idéia que a ovulação humana é oculta, com certeza ela não está tão descarada quanto nos chimpanzés, mas definitivamente não é tão silenciosa quanto se pensava.

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As mulheres viveram um dilema evolutivo de encontrar um parceiro que ajude a criar seus filhos e que seja sexy, inteligente e másculo. E as estratégias psicológicas femininas para terem o melhor dos dois mundos, mesmo que esteja em corpos diferentes coevoluiram com as estratégias psicológicas masculinas de não criarem filhos de outros homens e esse antagonismo pode ter diminuído os sinais da ovulação e aumentando os períodos do ciclo em que a mulher faz sexo. A confusão da paternidade e a incerteza da paternidade coevoluiram numa dança continua em nossa espécie e muitos desse movimentos ainda estão para serem desvendados.

Symphony of Science

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Sem sombra de dúvida o youtube intensificou as pressões seletivas sobre os memes audiovisuais da nossa espécie. E quando temos forte seleção e muita variabilidade disponível não precisamos de muito tempo para encontrar coisas extraordinárias. Mais um casamento promissor entre ciência e música se faz presente graças às técnicas de edição de vídeos. Hoje veremos o que o Symphony of Science tem a dizer sobre evolução.
O Symphony of Science, produzido por John Boswell, consiste em mais uma forma de trazer conhecimento científico e filosófico para o público em forma de música. Em cada vídeo encontramos vários cientistas famosos, como Attenborough, Dawkins, Hawkins, Goodall, P Z Meyer, Sagan e muitos outros, todos cantando suas palestras e falas de vídeos. O trabalho final soa muito bom, parece que eles realmente estão juntos cantando e a produção das imagens dos vídeos ficaram muito boas, interessantes e instigantes.

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No site do the Symphony of Science encontramos cinco vídeos disponíveis para download, a história do projeto e as letras. Também quem quiser seguir o Symphony of Science no twitter e no youtube, receber notícias no email ou enviar alguma doação monetária encontra como proceder no site. Os clipes em sua maioria falam da astronomia e apenas um de biologia. É interessante que ambas disciplinas estejam presentes, pois o conhecimento científico atinge seu ápice de poder em nossas mentes se nos desvencilharmos do nosso antropocentrismo, tanto em escala planetária (não somos nem o centro do universo, nem nada especialmente diferente de outras galaxias), quanto na escala biológica (não somos nem o ápice da evolução, nem mais especiais do que qualquer outra espécie).

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No vídeo abaixo veremos desde aspectos da origem da vida, da maquinaria celular até a árvore da vida formada pela linha indivisível de parentesco (daí o nome do vídeo “The Unbroken Thread”) que une toda a biodiversidade na Terra ao longo dos 4 bilhões de anos de evolução. Jane Goodall, que nesse 2010 comemora 50 ano do início de suas pesquisa observando o comportamento de chimpanzés em vida livre na África, deixa claro que quanto mais sabemos sobre as capacidades das outras espécies, mais percebemos como éramos e ainda somos arrogantes em sempre tentar nos separar dos outros animais. Pense nisso.
 

Semana de Darwin no Museu de Zoo da USP

Começa amanhã a programação especial do Museu de Zoologia da USP em comemoração do Dia de Darwin. A programação conta com várias atividades interessantes e participação de vários professores. Taí uma ótima oportunidade para visitar o Museu de Zoo e ver a exposição permanente que é muito boa e a temporária “Darwin, Evolução para Todos”.

Confira os detalhes da programação oficial. Agradeço à Dra. Isabel Landin (organizadora) pelas informações em primeira mão da programação do Dia de Darwin no MZ-USP. 
Participem!
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