Cooperação forçada
Um artigo, bem a propósito, apareceu na edição de hoje do The New York Times. Fala sobre cooperativismo e o poder de coerção. Sem mais comentários, ei-lo:
Estudo liga Punição com Capacidade de Tirar Proveito
Por BENEDICT CAREY
Publicado em: 7 de Abril de 2006.
Os sociólogos sabem, há muito tempo, que comunidades e outros grupos cooperativos, usualmente entram em colapso por conta de questiúnculas e debandam, a menos que tenham métodos claros para punir os membros que se tornem egoistas ou exploradores.
Agora, uma experiência conduzida por um grupo de economistas alemães, descobriu uma razão porque a punição é tão importante: grupos que permitem punições podem ser mais proveitosos do que os que não permitem.
Permitida a opção, a maior parte das pessoas que jogavam um jogo de investimentos, criado pelos pesquisadores, incialmente se decidiu por se unir a um grupo que não penalizava seus membros. Mas quase todos rapidamente mudaram-se para uma comunidade punitiva, quando viram que a mudança poderia ser pessoalmente proveitosa.
O estudo, publicado hoje na “Science”, sugere que grupos com poucas regras atraem muitas pessoas exploradoras que rapidamente minam a cooperação. Em contraste, comunidades que permitem punições e nas quais o poder é distribuído eqüanimemente, atraem mais pessoas que, mesmo com sacrifício próprio, têm a disposição de confrontar os delinqüentes.
Uma expert não envolvida no estudo, Elinor Ostrom, co-diretora do Workshop de Teoria Política e Análise de Políticas na Universidade de Indiana, disse que isto ajudava a clarear as condições nas quais as pessoas penalizarão as outras, a fim de promover a cooperação.
«Eu estou muito contente em ver essa experiência realizada e seus resiltados publicados com tanta proeminência», disse a Dra. Ostrom, «porque ainda temos muitos quebra-cabeças a resolver, quando se trata do efeito das punições sobre o comportamento.»
A Dra. Ostrom realizou trabalhos de campo com cooperativas por todo o mundo e disse que, freqüentemente, perguntava a outros pesquisadores e estudantes se eles conheciam algum grupo comunitário longevo que não empregasse um sistema de punições. «Ninguém conseguiu me dar um único exemplo», disse ela.
Na experiência, os pesquisadores na Universidade de Erfurt (Alemanha) recrutaram 84 estudantes para o jogo de investimento e deram a cada um 20 “moedas” para cada, para iniciar. A cada rodada do jogo, cada participante decidia se ia manter as “moedas” ou investir algumas em um fundo cujo retorno garantido era distribuído igualmente por todos os membros do grupo, inclusive os “caronas” que ficassem sentados em cima de seu dinheiro. Como o lucro era determinado a partir de um múltiplo das “moedas” investidas, cada participante que tivesse contribuído para o fundo, receberia um retorno menor do que seria, se os “caronas” também tivessem contribuído.
As “moedas” poderiam ser trocadas por dinheiro de verdade no fim da experiência.
Cerca de dois terços dos estudantes escolheram, inicialmente, jogar no grupo que não permitia punições. No outro grupo, os estudantes tinham a opção de, a cada rodada, penalizar os outros jogadores; custava uma “moeda” para multar um outro jogador em três “moedas”. Todos os participantes podiam ver quem estava contribuíndo com quanto, à medida em que o jogo progredia, e podiam mudar de grupo antes de cada rodada.
Na altura da quinta rodada, cerca de metade dos que começaram o estudo no grupo sem penalidades, tinham mudado para o grupo com punições. Um número menor de estudantes emigrou na outra direção, mas, na altura da 20ª rodada, a maioria tinha voltado e a comunidade sem punições tinha virado, virtualmente, uma cidade-fantasma.
«O “ponto final” da publicação é que, quando você tem pessoas com padrões compartilhados e alguns com a coragem moral para sancionar os outros, informalmente, então esse tipo de sociedade obtém muito sucesso», disse a autora-sênior do estudo, Bettina Rockenbach, a quem se juntaram na pesquisa Bernd Irlenbusch, agora na Escola de Economia de Londres, e Ozgur Gurek.
As mudanças de grupos freqüentemente causavam memoráveis mudanças de atitude nos estudantes. Muitos dos que tinham sido “caronas” no grupo laissez-faire, começaram avidamente a penalizar outros jogadores egoístas, quando da mudança. A Dra. Rockenbach compara essas pessoas a tabagistas que insistem em seu direito de fumar, até que deixam de fumar. «Aí, elas se tornam os anti-fumantes mais militantes», disse ela.
Ser explorado pareceu causar profunda frustração e raiva na maior parte dos estudantes, disse ela.
Outros experts disseram que os resultados são uma importante demonstração de como o interesse próprio pode vencer a aversão das pessoas a normas punitivas, pelo menos no laboratório. No mundo de fora, disseram eles, usualmente não é tão claro ver quem está “tomando carona”, nem mesmo ver se um dado grupo está encorajando um comportamento cooperativo para a maioria das pessoas.
«O mistério, se é que há algum, é como essas instituições começam a se desenvolver», disse por e-mail Duncan J. Watts, um sociólogo em Colúmbia, «isto é, antes que se torne aparente a qualquer um que se pode resolver o problema de cooperação.»
Atribuem a Napoleão Buonaparte a frase: «Uma pessoa lutará com mais entusiasmo por seus interesses do que por seus direitos».
Se ele não disse, deveria ter dito…
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