Lembranças de uma Estrela Distante
Esta materia foi postada na Comunidade “Astronomia!” do Orkut em 28/04/06, pela personagem Vanessa Love Schrick (não… eu não vou dar o link para a home-page dela… quem quiser que procure).
Lembranças de uma Estrela Distante… 28/04/2006 19:13
Os Dogon, povo tribal da África Ocidental, intrigam os estudiosos pelo conhecimento que têm do universo e pela precisão de suas noções de astronomia.
Como muitas tribos africanas, os Dogon, da República do Mali {antigos Sudão francês}, têm passado obscuro. Sabe-se que se fixaram no planalto Bandiagara, onde vivem até hoje, em alguma época entre os séculos XIII e XVI. Essa região localiza-se a cerca de 500 quilômetros ao sul de Timbuktu e durante a maior parte do ano é desolada e árida. Entre formações rochosas e desfiladeiros, os Dogon construíram seus vilarejos com casa de barro e palha. Seu modo de vida quase não mudou ao longo dos séculos.
Em princípio, não há nada de extraordinário nessa descrição. Para uma tribo “primitiva” e que vive isolada, não deixa de ser espantoso o conhecimento de astronomia. Os Dogon sabem, por exemplo, que Sirius, a estrela mais brilhante do céu, tem uma estrela vizinha, Sirius B, invisível a olho nu {ela está a 11′ da alfa, chamada de Sirius A, e só pode ser observada com auxílio de um telescopio de 320 milimetros}. Contam que é pequena e pesada {sua massa é 36.000 vezes mais densa que a do Sol e 50.000 vezes mais pesada que a da água}. O mais curioso é que os astrônomos nem sequer suspeitavam da existência dessa estrela até meados do século XIX. Uma descrição detalhada de Sirius B só foi feita em 1920 e sua primeira imagem fotográfica data de 1970. E são justamente as informações sobre ela que constituem o fudamento da mitologia dos Dogon. Tal povo cultua Sirius B em seus rituais secretos, representa-a em desenhos na areia, em sua arquitetura sacra, em esculturas e nas estampas dos cobertores, cujos padrões datam de centenas ou talvez de milhares de anos. O mundo ocidental tomou conhecimento da crença dos Dogon por intermédio do trabalho de dois respeitados antropólogos franceses, Marcel Griaule e Germaine Dieterlen. Em 1931, eles decidiram realizar um estudo profundo sobre esse povo. Durante 21 anos conviveram com a tribo.
O trabalho dos dois antrpólogos deixa patente que a crença dos Dogon se baseia num conhecimento profundo de astronomia. Sirius A e os astros e planetas que orbitam em torno dela constituem a referência fundamental de sua cosmovisão. Sirius B, a principal estrela vizinha, é feita de matéria mais pesada que qualquer elemento existente na Terra e seu movimento se dá numa orbita elíptica de cinquenta anos. Os dogons chamam essa estrela de “Po tolo” – referência ao grão de um cereal originário da nascente do rio Níger, cujo peso parece desproporcional a seu tamanho. Já na primeira metade do século XIX, os astrônomos do ocidente verificaram que algo curioso acontecia em torno de Sirius. Notaram, inicialmente, que o movimento da estrela não ocorria em linha reta, mas apresentava oscilações. O fato só poderia ser explicado pela existencia, perto dela, de outra estrela, cujo campo gravitacional atuasse sobre seu movimento. Em 1862, o americano Alvan Graham Clark, ao realizar testes com um novo telescopio, descobriu essa estrela e chamou-a de Sirius B. Após a primeira observação das peculiaridades de Sirius, passaram-se mais de cinqüenta anos até que se chegasse a uma conclusão sobre a estranha capacidade de um corpo tão pequeno exercer atração tão intensa. O responsável pelo esclarecimento foi Arthur Eddington, astrônomo e físico inglês que, na década de 1920, formulou a teoria das estrelas anãs brancas, ou seja, estrelas que no fim da vida, contraem-se e tornam-se superdensas. A descrição do fenômeno coincide com a versão dos Dogon.
“Permanece sem solução o problema de saber como esses homens, sem dispor de nenhum instrumento, podiam conhecer os movimentos e certas características de estrelas virtualmente invisíveis”.
Os Dogon conservaram uma antiga sabedoria que incluía não só informações sobre Sirius B, mas tambem sobre nosso sistema solar. Diziam que a Lua era “seca e morta”. Desenhavam o planeta Saturno com seus aneis, {há dois outros casos conhecidos de tribos que possuem essa informação}. Sabiam que os planetas giram ao redor do Sol e que a Terra gira em torno de seu próprio eixo. Em sua arquitetura sacra havia gravações dos movimentos de Vênus. Mencionavam as quatros “luas principais” de Júpiter – os quatros satelites descoberto por Galileu Galilei {1564-1642}. Que existe um número infinito de estrelas e que uma força em forma de espiral envolve a via-láctea, à qual a Terra está ligada. No caso particular de Sirius B, no entanto, os argumentos são irrefutaveis. Para simbolizar essa estrela, os dogons escolheram de forma deliberada o menor, embora mais importante, objeto que puderam encontrar: um grão de seu cereal básico. Para dar a ideia do peso do conteudo mineral de Sirius B, eles diziam: “Todos os seres da Terra reunidos não podem erguê-la”. A elipse em forma de ovo poderia ser interpretada como a representação do “ovo da vida”, ou algum outro símbolo desse tipo; porém os dogons insistiram que se tratava de uma orbita – fato astrônomico descoberto pelo alemão Johannes Kepler {1571-1630} no século XVI, mas certamente desconhecido por tribos africanas sem instrução. Além disso, eles situavam Sirius em sua posição exata dentro de órbita, isto é, no ponto focal, próximo à margem da elipse, e não no centro, como seria natural.
Esse povo conhecia realmente astronomia?
O mais curioso como teve acesso a esse conhecimento? Ainda é um misterio….
Na página da WikiPedia em inglês sobre o Povo Dogon encontra-se a seguinte argumentação, refutando o mistério (explorado pelo inglês Robert Temple, em seu livro The Sirius Mystery de 1975):
• O astrônomo Carl Sagan lida com o assunto em seu livro “Broca’s Brain” (1974), onde declara que existem muitos problemas com a hipótese, levantada por Temple (de que os Dogons teriam tido contato com civilizações extraterrestres, no estilo “Deuses/Astronautas”). Como exemplo Sagan menciona que os Dogon não parecem ter conhecimento de um outro planeta, além de Saturno, que tenha anéis, o que significaria que seu conhecimento teria origem européia e não extraterrestre.
• Outro astrônomo, Ian Ridpath, publicou um artigo no “The Skeptical Inquirer (1978), apontando diversos erros no livro de Temple. Ridpath declarou que, embora as informações que os Dogon provavelmente obtiveram de europeus, pareçam muito com os fatos sobre Sirius, o presumível conhecimento dos Dogon sobre o planeta é muito diferente dos fatos.
• James Oberg colecionou diversas alegações referentes à mitologia dos Dogon, no capítulo 6 de seu livro UFO’s and Outer Space Mysteries (1982), em seu capítulo 3. De acordo com Oberg, o conhecimento astronômico dos Dogon parece o conhecimento e as especulações do fim da década de 1920. Os Dogon poderiam ter obtido seus conhecimentos de astronomia de europeus visitantes, antes que sua mitologia fosse pesquisada em 1930. Oberg também observa que os Dogons não eram uma tribo isolada, portanto não era sequer necessário que estrangeiros informassem-nos dobre Sirius: eles poderiam ter obtido essas informações em outros lugares e as repassado a sua tribo, posteriormente. Dessa forma, quando Temple visitou os Dogon nos anos 1970, eles já teriam um grande contato com o mundo ocidental e teriam tido tempo de incorporar Sirius B a sua religião.
Pode ser… O que não fica claro, de maneira nenhuma é:
1 – Por que os Dogon – já que estiveram expostos a outras civilizações (não só a européia, mas os pretensiosos europeus não se lembram de que existem outras civilizações, muitas delas muito mais anitgas do que a porcaria da Europa) e, provavelmente, a uma intensa tentativa de cristianização ou maometização, foram incorporar a sua mitologia um fato obscuro da astronomia da década de 1920.
2 – Por que esse e não outro mito, foi tão prontamente incorporado à mitologia de um povo africano, enquanto diversas outras crenças – para os Dogon igualmente fantasiosas, como, por exemplo, os “canais” e a “moribunda civilização Marciana” (então em plena voga, segundo os devaneios de Schiaparelli) – não levantaram qualquer interesse.
3 – Por que – com seiscentos diabos! – um povo, entre todos os existentes na África Equatorial, foi criar uma mitologia nova em folha na década de 1920 e abandonar sua própria mitologia milenar.
Esse é o “modo europeu” de fazer ciência: se os europeus não sabem, ninguém mais pode saber. E se alguém sabe, foram os europeus que ensinaram…
Não vem ao caso se os “Deuses” eram ou não astronautas: bastou um adepto dessa tese (por falar nisso: européia) usar como exemplo o mistério dos Dogon, que, imediatamente, tratam de varrer o mistério para debaixo do tapete.
Se isso é “ciência”, eu sou um bule de chá…
Atualizando em 07/05/2006
O Mike Britto, da Comunidade “Astronomia!” do Orkut, apresentou uma contra argumentação bastante válida, que reproduzo abaixo:
Não precisa ir longe.
Os erros de conceitos na “crença” dos dogons, não só indicam que o conhecimento veio da europa… como também indicam que veio por meio de fontes não totalmente aprofundadas em física.
Contam que é pequena e pesada {sua massa é 36.000 vezes mais densa que a do Sol e 50.000 vezes mais pesada que a da água}.
“Massa mais densa”? “mais pesada do que qual quantidade de água”? Isso não só tem cara de contato cultural… como tem cara de contato cultural “mal aprendido”.
Tal povo cultua Sirius B em seus rituais secretos, representa-a em desenhos na areia, em sua arquitetura sacra, em esculturas e nas estampas dos cobertores, cujos padrões datam de centenas ou talvez de milhares de anos.
Uma pergunta que uma pessoa de bom senso imediatamente faz: Onde estão essas representações? É centenas ou é milhares de anos? Isso normalmente não é conclusão de uma pessoa experiente em datações. Um datador experiente não fornece uma datação dessas (a precisão é menor que o intervalo).
Isso tá parecendo um belo de um chute sem nenhum rigor, dado talvez, por alguem que estivesse interessado em fabricar uma evidência.
O trabalho dos dois antrpólogos deixa patente que a crença dos Dogon se baseia num conhecimento profundo de astronomia. Quem tem um pouco de afinidade com argumentação lógica, normalmente para de ler o texto nessa frase.
O conhecimento mostrado não é profundo:
• É estagnado: eles misteriosamente passaram centenas de anos com um conhecimento equivalente a especulações da década de 20… e misteriosamente pararam aí. O que foi descoberto depois pela astronomia eles não sabiam.
• É mal aprendido: As confusões de conceitos são muito comuns… “massa mais densa”… “mais pesado que a água”.
Isso é exatamente o que acontece quando um conhecimento é trasmitido e não totalmente assimilado.
Vamos direto ao que é muito claro:
«1 – Por que os Dogon – já que estiveram expostos a outras civilizações e, provavelmente, a uma intensa tentativa de cristianização ou maometização, foram incorporar a sua mitologia um fato obscuro da astronomia da década de 1920.»
«2 – Por que esse e não outro mito, foi tão prontamente incorporado à mitologia de um povo africano, enquanto diversas outras crenças – para os Dogon igualmente fantasiosas, como, por exemplo, os “canais” e a “moribunda civilização Marciana” (então em plena voga, segundo os devaneios de Schiaparelli) – não levantaram qualquer interesse.»
Que os dogons cultuavam Sírius já era sabido. Isso não era nenhuma novidade… nem é nada demais… já que Sírius é a estrela mais brilhante do céu.
Então, eles passam tendo contato com todo tipo de cultura. Num determinado momento, eles têm contato com informações sobre exatamente o simbolo maior da mitologia deles. Alguma dúvida sobre o motivo que os levou a incorporarem essas informações tão rápido?
Isso explica 2 coisas muito importantes:
• o fato de incorporar informações específicamente sobre sírius… e não outras informações culturais com as quais tiveram contato.
• sugerir que a mitologia sobre sírius é antiga… mesmo porque, ela é. Mas na verdade, as evidências que apontam apenas para o conhecimento da estrela em si… e não de detalhes dela.
Se colocarmos os fatos de forma lógica:
• Provar que o culto a sírius é antigo, é completamente diferente de provar que o conhecimento de suas caracteristicas também seja.
• O que se vê na pesquisa de Temple, é uma tentativa falaciosa de usar o fato da Sirius ser objeto antigo de mitologia, como argumento para demonstrar que o conhecimento das caracteriscas de Sírius também sejam antigas.
«3 – Por que – com seiscentos diabos! – um povo, entre todos os existentes na África Equatorial, foi criar uma mitologia nova em folha na década de 1920 e abandonar sua própria mitologia milenar.»
Eles não abandoram.
Se vc prestar atenção a todo o contexto, verá que eles apenas incorporaram informação ao que já estava no topo da mitologia deles.
«Esse é o “modo europeu” de fazer ciência: se os europeus não sabem, ninguém mais pode saber. E se alguém sabe, foram os europeus que ensinaram…»
Falácia. Linguagem preconceituosa.
Isso não é argumento para afirmar que o conhecimento em questão não seja europeu.
Além do mais, o tempo demonstrou claramente que a conhecimento dos Dogons estagnou. Era igual ao europeu, naquela época. O conhecimento deles não deu um passo depois disso.
Agora, responda vc:
Porque diabos a astronomia continuou avançou e a cultura dogon não deu 1 passo sequer??
O conhecimento que os dogons têm hoje, é identico ao que tinham quando foram visitados por Griaule e Dieterlen.
E esse conhecimento, se comparado com a astronomia de hoje, está muito longe de poder receber o adjetivo de “preciso”.
Por que?
Atualizando em 16/5/06:
Os pontos levantados pelo Mike são, obviamente, pertinentes. Existem indícios fortes de que houve uma “contaminação cultural”. O que me deixa “doente” é que, quando Griaule e Dieterlen constatarm esta curiosidade, o fato foi deixado de lado, provavelmente porque a maioria dos antropólogos desconhecia o fato astronômico. E – o que importa o que pensa uma tribo perdida no meio da África sobre uma estrêla que é matéria de suas “superstições pagãs”?.
Foi necessário que outro europeu, com idéias “crackpot” sobre “Deuses Astronautas” chamasse a atenção para o fato, de maneira sensacionalista, para que os luminares da ciência prontamente descartassem qualquer outra possibilidade, que não fosse a “contaminação cultural” e com origem européia.
Às perguntas do Mike, eu respondo o seguinte:
1 – A cultura Dogon não se importava com os aspectos “científicos” da estrêla Sirius – apenas com os aspectos mitológicos associados a ela. Provavelmente, como você observou, por ser ela a estrela mais brilhante do céu. Os Dogons nunca foram “cientistas” e sua tecnologia ainda é bastante primitiva.
2 – Os conhecimentos atuais dos Dogon são identicos àqueles constatados pelos antropólogos. Mas ninguém se lembrou de perguntar, em 1930, de onde vinham e a quanto tempo os Dogons acreditavam nisso. Agora, em 2006, é fácil descartar a hipótese de outra fonte para esse conhecimento. Mas o fato é que, na época, ninguém pesquisou.
3 – O conhecimento está longe de ser “cientificamente rigoroso”, mas, volto a dizer, para os Dogon trata-se de “crença”, de “misticismo”, não de um fato essencial a seu dia-a-dia. Um conhecimento expresso dentro de suas limitações culturais, que, evidentemente, não incluem sequer cálculos de paralaxe.
Eu sempre me reporto a um artigo de Voltaire que relata que os turcos tinham por hábito levar suas crianças para junto dos sobreviventes da varíola e esfregar a pele das crianças nas chagas em processo de seca. E constatava que a varíola era muito menos letal entre os turcos do que em outras etnias. Mas, na época, Pasteur ainda estava longe de nascer e esse fato não tinha qualquer “respaldo científico”, de acordo com o “estado da arte” médica.
Não se deve aplicar a “Navalha de Occam”, antes de estarmos certos de que não foram os “Ídolos de Bacon” que afiaram seu gume.
Discussão - 1 comentário
meu caro amigo deixe-me dar-lhe os meus sinceros parabéns em relaçao ao seu artigo.nomeadamente no que toca em relaçao `_as criticas ao dogmatismo e racionalismo europeus.ja está na hora de evoluirmos de facto. de um modo transparente , assim atingiremos um novo nivel de consciencia. um abraço, rúben gonçalves