Os olhos da cara
O Daniel Doro Ferrante publicou no Blog dele, It’s Equal but it’s different um link para um artigo no Boletim Eurekalert, da Associação Americana para o Progresso da Ciência. Como eu não consigo me conter, lá vai a tradução:
Cientistas descobrem porque a córnea é transparente e livre de vasos sanguíneos, permitindo a visão
Os resultados são promissores para o tratamento de doenças dos olhos e do câncer
Boston, MA – Cientistas do Instituto Schepens de Pesquisa dos Olhos e da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets (MEEI), do Departamento de Oftalmologia de Harvard são os primeiros a aprender por que a córnea, a clara janela do olho, é livre de vasos sanguíneos – um fenômeno único que torna a visão possível. A chave, dizem os pesquisadores, é a inesperada presença de grandes quantidades da proteína VEGFR-3 (vascular endothelial growth factor receptor-3) no topo da camada epitelial das córneas normalmente saudáveis. De acordo com as descobertas, a VEGFR-3 para a angiogênese (crescimento dos vasos sanguíneos), atuando como um “ralo” para juntar ou neutralizar os fatores de crescimento enviados pelo corpo para estimular o crescimento dos vasos sanguíneos. A córnea era, há muito tempo, conhecida por não ter vasos sanguíneos, mas os motivos exatos para isso permaneciam desconhecidos.
Estes resultados, publicados na edição de 25 de julho de 2006 em “Proceedings of the National Academy of Sciences” e em edição online em 17 de julho, não só resolvem um profundo mistério científico, como também traz grandes promessas para a prevenção e cura de doenças dos olhos e males como o câncer, nos quais os vasos sanguíneos crescem de maneira anormal e incontrolável, uma vez que esse fenômeno, presente normalmente na córnea, pode ter emprego terapêutico em outros tecidos.
«Esta é uma descoberta muito significativa» dir o Dr. Reza Dana, Cientista Sênior do Instituto Schepens de Pesquisa dos Olhos, chefe do Serviço de Córneas da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets e Professor Associado da Escola de Medicina de Harvard, também autor sênior e principal investigador do estudo. «Uma córnea clara é essencial para a visão. Sem a capacidade de manter uma córnea sem vasos sanguíneos, nossa visão seria significativamente prejudicada», diz ele, acrescentando que córneas claras e sem vascularização são vitais para qualquer animal que precise de um alto grau de acuidade visual para sobreviver.
.
A córnea, um dos poucos tecidos do corpo que se mantêm ativamente desvascularizados (o outro é a cartilagem), é o fino tecido transparente que cobre a frente do olho. É a clareza da córnea que permite que a luz passe para a retina e, dela, para o cérebro, para interpretação. Quando a córnea é embaçada por ferimentos, infecção ou crescimento anormal de vasos sanguíneos, a visão é seriamente prejudicada, se não for destruída.
Os cientistas têm lutado com o mistério da “claridade” por muitas décadas. E, embora alguns estudos anteriores tenham dado pequenas pistas, nenhum apontou um mecanismo principal, até o presente estudo.
Na maior parte dos tecidos do corpo, o crescimento dos vasos sanguíneos ou angiogênese, ocorre em resposta a uma necessidade pelo aumento do fluxo de sangue para curar uma área ferida ou infeccionada. O sistema imunológico envia para lá fatores de crescimento, tais como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) para se ligar a uma proteína receptora, chamada VEGFR-2, nos vasos sanguíneos, para ativar o crescimento dos vasos. Três tipos de VEGF
– A, C e D – se ligam a este receptor. Dois deles – C e D – também se ligam com a VEGFR-3, que é usualmente encontrada nas células que revestem os vasos linfáticos, para estimular o crescimento dos vasos linfáticos.
A equipe de Dana começou a suspeitar do envolvimento da VEGFR-3 no impedimento do crescimento dos vasos sanguíneos nas córneas, quando perceberam inesperadamente que grandes quantidades da proteína pareciam existir naturalmente no epitélio corneal sadio, um local anteriormente desconhecido para este receptor. Dana e sua equipe já tinham conhecimento, a partir da experiência clínica, que o epitélio provavelmente tinha um papel na supressão do crescimento de vasos sanguíneos, tendo testemunhado o crescimento de vasos sanguíneos em córneas despidas de suas camadas epiteliais.
Eles começaram a aventar a teoria de que grandes quantidades de VEGFR-3, nesta nova e não-vascularizada localização, poderia estar atraíndo e absorvendo todos os fatores de crescimento VEGF C e D, impedindo-os, assim, de se ligarem com o VEGFR-2. E, porque essa ligação ocorria em um ambiente não-vascularizado, os fatores de crescimento eram neutrlizados.
Para verificar sua teoria, a equipe conduziu uma série de experiências.
Usando tecido corneal de ratos, a equipe fez o seguinte.
Eles realizaram análises químicas que demonstraram que a VEGFR-3 e o gene a ela associado, estavam realmente presentes no epitélio corneal. A seguir, em duas experiências separadas, eles compararam córneas com e sem camadas epiteliais que estavam feridas. Eles descobriram que somente as córneas sem a camada epitelial desenvolviam vasos sanguíneos, o que implicava no papel do epitélio na supressão do crescimento dos vasos sanguíneos. Para demonstrar ainda mais sua teoria, eles adicionarm um substituto da VEGFR-3 em córneas despidas de suas camadas epiteliais e descobriram que o crescimento dos vasos continuava suprimido, substituindo o papel anti-angiogênico normal do epitélio. Finalmente, eles expuseram córneas intáctas a um agente bloqueador da VEGFR-3 e descobriram que os vasos sanguíneos começaram a crescer, demonstrando formalmente que o epitélio corneal é a chave para a supressão de vasos sanguíneos e que o mecanismo chave é a presença da VEGFR-3.
.
«Os resultados desta série de testes confirmou nossa crença de que a presença da VEGFR-3 é o principal fator na prevenção da formação de vasos sanguíneos na córnea», diz Dana, que diz que a descoberta terá um impacto de longo alcance no desenvolvimento de novas terapias para os olhos e outras doenças.
«Drogas projetadas para manipular os níveis desta proteína podriam curar córneas que sofreram severos traumatismos ou auxiliar a encolher tumores alimentados por vasos sanguíneos de crescimento rápido e anormal», diz ele. «De fato, o próximo passo de nosso trabalho é exatamente este».
###
Outros autores do estudo incluem: Claus Cursiefen¹ ², Lu Chen¹, Magali Saint-Geniez¹, Pedram Hamrah¹, Yiping Jin¹, Saadia Rashid¹, Bronislaw Pytowky³, Kris Persaud³, Yan Wu³, J. Wayne Streilein¹†, Raza Dana¹.
¹ – Intituto Schepens para Pesquisa de Olhos e a Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets, do Departamento de Oftalmologia, Escola de Medicina de Harvard, Boston, Massachuessets, EUA;
² – Departamento de Oftalmologia, Universidade Friederich-Alexander de Erlanger-Nuremberg, Erlangen, Alemanha;
³ – ImClone Systems, Inc., Nova York;
†Dr. J. Wayne Streilein, falecido em 15 de março de 2004.
Acerca da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets: é um hospital especializado independente e um centro internacional para tratamento e pesquisa, bem como um hospital-escola da Escola de Medicina de Harvard.
O Instituto Schepens para Pesquisa sobre Olhos é afiliado à Escola de Medicina de Harvard e é o maior instituto independente de pesquisa sobre olhos no mundo.
Cientistas descobrem porque a córnea é transparente e livre de vasos sanguíneos, permitindo a visão
Os resultados são promissores para o tratamento de doenças dos olhos e do câncer
Boston, MA – Cientistas do Instituto Schepens de Pesquisa dos Olhos e da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets (MEEI), do Departamento de Oftalmologia de Harvard são os primeiros a aprender por que a córnea, a clara janela do olho, é livre de vasos sanguíneos – um fenômeno único que torna a visão possível. A chave, dizem os pesquisadores, é a inesperada presença de grandes quantidades da proteína VEGFR-3 (vascular endothelial growth factor receptor-3) no topo da camada epitelial das córneas normalmente saudáveis. De acordo com as descobertas, a VEGFR-3 para a angiogênese (crescimento dos vasos sanguíneos), atuando como um “ralo” para juntar ou neutralizar os fatores de crescimento enviados pelo corpo para estimular o crescimento dos vasos sanguíneos. A córnea era, há muito tempo, conhecida por não ter vasos sanguíneos, mas os motivos exatos para isso permaneciam desconhecidos.
Estes resultados, publicados na edição de 25 de julho de 2006 em “Proceedings of the National Academy of Sciences” e em edição online em 17 de julho, não só resolvem um profundo mistério científico, como também traz grandes promessas para a prevenção e cura de doenças dos olhos e males como o câncer, nos quais os vasos sanguíneos crescem de maneira anormal e incontrolável, uma vez que esse fenômeno, presente normalmente na córnea, pode ter emprego terapêutico em outros tecidos.
«Esta é uma descoberta muito significativa» dir o Dr. Reza Dana, Cientista Sênior do Instituto Schepens de Pesquisa dos Olhos, chefe do Serviço de Córneas da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets e Professor Associado da Escola de Medicina de Harvard, também autor sênior e principal investigador do estudo. «Uma córnea clara é essencial para a visão. Sem a capacidade de manter uma córnea sem vasos sanguíneos, nossa visão seria significativamente prejudicada», diz ele, acrescentando que córneas claras e sem vascularização são vitais para qualquer animal que precise de um alto grau de acuidade visual para sobreviver.
.
A córnea, um dos poucos tecidos do corpo que se mantêm ativamente desvascularizados (o outro é a cartilagem), é o fino tecido transparente que cobre a frente do olho. É a clareza da córnea que permite que a luz passe para a retina e, dela, para o cérebro, para interpretação. Quando a córnea é embaçada por ferimentos, infecção ou crescimento anormal de vasos sanguíneos, a visão é seriamente prejudicada, se não for destruída.
Os cientistas têm lutado com o mistério da “claridade” por muitas décadas. E, embora alguns estudos anteriores tenham dado pequenas pistas, nenhum apontou um mecanismo principal, até o presente estudo.
Na maior parte dos tecidos do corpo, o crescimento dos vasos sanguíneos ou angiogênese, ocorre em resposta a uma necessidade pelo aumento do fluxo de sangue para curar uma área ferida ou infeccionada. O sistema imunológico envia para lá fatores de crescimento, tais como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) para se ligar a uma proteína receptora, chamada VEGFR-2, nos vasos sanguíneos, para ativar o crescimento dos vasos. Três tipos de VEGF
– A, C e D – se ligam a este receptor. Dois deles – C e D – também se ligam com a VEGFR-3, que é usualmente encontrada nas células que revestem os vasos linfáticos, para estimular o crescimento dos vasos linfáticos.
A equipe de Dana começou a suspeitar do envolvimento da VEGFR-3 no impedimento do crescimento dos vasos sanguíneos nas córneas, quando perceberam inesperadamente que grandes quantidades da proteína pareciam existir naturalmente no epitélio corneal sadio, um local anteriormente desconhecido para este receptor. Dana e sua equipe já tinham conhecimento, a partir da experiência clínica, que o epitélio provavelmente tinha um papel na supressão do crescimento de vasos sanguíneos, tendo testemunhado o crescimento de vasos sanguíneos em córneas despidas de suas camadas epiteliais.
Eles começaram a aventar a teoria de que grandes quantidades de VEGFR-3, nesta nova e não-vascularizada localização, poderia estar atraíndo e absorvendo todos os fatores de crescimento VEGF C e D, impedindo-os, assim, de se ligarem com o VEGFR-2. E, porque essa ligação ocorria em um ambiente não-vascularizado, os fatores de crescimento eram neutrlizados.
Para verificar sua teoria, a equipe conduziu uma série de experiências.
Usando tecido corneal de ratos, a equipe fez o seguinte.
Eles realizaram análises químicas que demonstraram que a VEGFR-3 e o gene a ela associado, estavam realmente presentes no epitélio corneal. A seguir, em duas experiências separadas, eles compararam córneas com e sem camadas epiteliais que estavam feridas. Eles descobriram que somente as córneas sem a camada epitelial desenvolviam vasos sanguíneos, o que implicava no papel do epitélio na supressão do crescimento dos vasos sanguíneos. Para demonstrar ainda mais sua teoria, eles adicionarm um substituto da VEGFR-3 em córneas despidas de suas camadas epiteliais e descobriram que o crescimento dos vasos continuava suprimido, substituindo o papel anti-angiogênico normal do epitélio. Finalmente, eles expuseram córneas intáctas a um agente bloqueador da VEGFR-3 e descobriram que os vasos sanguíneos começaram a crescer, demonstrando formalmente que o epitélio corneal é a chave para a supressão de vasos sanguíneos e que o mecanismo chave é a presença da VEGFR-3.
.
«Os resultados desta série de testes confirmou nossa crença de que a presença da VEGFR-3 é o principal fator na prevenção da formação de vasos sanguíneos na córnea», diz Dana, que diz que a descoberta terá um impacto de longo alcance no desenvolvimento de novas terapias para os olhos e outras doenças.
«Drogas projetadas para manipular os níveis desta proteína podriam curar córneas que sofreram severos traumatismos ou auxiliar a encolher tumores alimentados por vasos sanguíneos de crescimento rápido e anormal», diz ele. «De fato, o próximo passo de nosso trabalho é exatamente este».
###
Outros autores do estudo incluem: Claus Cursiefen¹ ², Lu Chen¹, Magali Saint-Geniez¹, Pedram Hamrah¹, Yiping Jin¹, Saadia Rashid¹, Bronislaw Pytowky³, Kris Persaud³, Yan Wu³, J. Wayne Streilein¹†, Raza Dana¹.
¹ – Intituto Schepens para Pesquisa de Olhos e a Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets, do Departamento de Oftalmologia, Escola de Medicina de Harvard, Boston, Massachuessets, EUA;
² – Departamento de Oftalmologia, Universidade Friederich-Alexander de Erlanger-Nuremberg, Erlangen, Alemanha;
³ – ImClone Systems, Inc., Nova York;
†Dr. J. Wayne Streilein, falecido em 15 de março de 2004.
Acerca da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets: é um hospital especializado independente e um centro internacional para tratamento e pesquisa, bem como um hospital-escola da Escola de Medicina de Harvard.
O Instituto Schepens para Pesquisa sobre Olhos é afiliado à Escola de Medicina de Harvard e é o maior instituto independente de pesquisa sobre olhos no mundo.
Discussão - 1 comentário
Bom saber esse lance dos vasos sanguíneos nas córneas... dependendo de como os oftalmologistas trabalharem a partir de agora (17 ou 25 de julho conforme a capacidade de atualização de cada profissional), já vai dar pra ter uma noção se eles estão sendo "legais" de verdade ou se estão simplesmente aplicando tratamentos "tradicionais" e às vezes nem tão "legais" assim pros pacientes!!!...E, basta a gente ver até q ponto nosso Governo vai permitir/obrigar os planos de saúde a cobrirem esse tipo de tratamento não é?...Bjos pra vc João!!!Saudades dos nossos papos!!!