Divulgação científica: o ponto de vista do “usuário final”


Este Blog não nasceu com a idéia de fazer “divulgação científica”, mesmo porque eu não sou um cientista. A idéia era apenas tornar pública minha indignação contra tudo que anda errado, todo o mundo sabe quais são as soluções, só que ninguém faz… O próprio nome do Blog traduz bem a minha quase desesperança, acumulada nesses quase 56 anos de vida.


Aproveitando minhas habilidades como tradutor técnico (adquiridas por auto-didatismo e necessidade de complementar o régio estipêndio que a nação me pagava – e ainda paga – para ser uma competente máquina de destruição), me dediquei, principalmente, a traduzir artigos publicados em periódicos do exterior sobre diversos temas. Como eu sou um frustrado por não ter seguido minha verdadeira vocação: professor, é apenas natural que a maior parte dos artigos contenha material de divulgação científica. Talvez a “pedra de toque” tenha sido a idéia de traduzir os Boletins Physics News Update da AIP, que apresentam as novidades no campo da física, e divulgar este fato pelos grupos de discussão sobre física no Orkut.
Mas meu enfoque sobre a ciência e a divulgação científica é aquele do (ávido) leitor sobre novidades das ciências. Eu gosto de brincar, chamando o Daniel de “meu professor particular de Física de Altas Energias”, porque não deixa de ser verdade. E tive a “cara-de-pau” de me inscrever no “Roda de Ciência” exatamente para representar os leigos, em meio aos cientistas.
Eu me considero um cara particularmente afortunado, porque minha educação formal é bastante… digamos “sofrível”. Mas minha curiosidade e prazer em aprender me fizeram ter o caradurismo de me dirigir a um dos principais colaboradores do site “Queremos Saber” da Universidade Federal do Ceará e manter uma correspondência pessoal para esclarecer minhas dúvidas, nascidas das imperfeições inerentes à “divulgação científica”. Por mera sorte, o Daniel é daqueles que, se não respondem direta e pacientemente às perguntas, lhe encaminha aos links onde você pode obter informações básicas sobre os assuntos. Uma coisa leva a outra e eu me tornei “sócio atleta” do Blog dele.
Mas chega de falar de mim e voltemos ao assunto: o papel da “divulgação científica”.
Eu compreendo a dificuldade de transmitir informações aos totalmente leigos (como eu) porque o leigo não tem condição de aquilatar da veracidade da informação que lhe é passada por um “doutor”. Recente exemplo disso foi a tradução que fiz de um artigo do The Times, e tive que encher a paciência da Maria Guimarães para que ela comentasse sobre certas passagens do artigo que me pareceram suspeitas.
Mas a única fonte de acesso que a maioria possui é exatamente esta: os “divulgadores”, cujo preparo é – para dizer o mínimo – duvidoso. Como pode o leigo discernir se o que está lendo (escrito com foros de autoridade) procede ou não? Nos grupos de discussão do Orkut, este apedeuta aqui é chamado de “professor” por diversas pessoas.
O que me leva a outra triste constatação: o sistema de ensino parece ser estruturado para fazer com que as pessoas percam a vontade de aprender. Fora os CDF (como eu), todos parecem ter a idéia de que “estudar é chato”. E a maioria deles têm razão. (Eu gostaria de que esse fosse um tema a abordar na Roda). Eu costumo dizer que, em matéria de botânica, de vez em quando, eu consigo distinguir um pinheiro de uma bananeira. Biologia, para mim, sempre foi um ramo extremamente árido e o pouco conhecimento que tenho do assunto que tenho, foi obtido para não me deixar impressionar pelos médicos com seu jargão (até hoje eu me divirto dizendo que “Rota-Virus de etiologia desconhecida” é a maneira do médico dizer “não faço a menor idéia do que possa ser, mas não vou confessar isso a você”).
Eu cresci lendo Isaac Asimov, Heinlein e Clarke. Além dos devaneios sobre “impérios galáticos”, me interessava o conhecimento do universo, de como esta geringonça funciona e – a eterna pergunta – “para que isso serve”? Mas é muito difícil encontrar boa “divulgação científica”. E um problema que pode até parecer menor (e que me perdoe Caio de Gaia) a maior parte dos bons livros sobre o assunto é traduzida em português de Portugal. Agora, experimente ler Hawking (que já escreve muito mal) em um idioma razoavelmente parecido com o seu para lhe confundir mais ainda as idéias, e veja o resultado. Sorte minha que, ao lidar com traduções técnicas, eu aprendi a reverter as traduções para o idioma original e compreender (ao menos em parte) o que o autor queria dizer. (para ser um bom tradutor, não só é imprescindível ter um total domínio sobre a língua original, como de sua própria).
O certo é que – aos trancos e barrancos – eu venho tendo um razoável sucesso nessas traduções (e – é claro – aproveito para expressar minhas próprias opiniões). Pelo menos, até agora, ninguém me corrigiu qualquer erro crasso. E tenho conseguido interessar pessoas sobre o andamento das questões científicas mais atuais.
Só a título de curiosidade: o artigo mais visitado em meu Blog (logo após os Physics News Updates) tem sido a tradução do “Crackpot Index” do John Baez…
Talvez o maior problema com a “divulgação científca” seja a de expressar em termos acessíveis aos leigos, coisas que têm, por trás de sua formulação, todo um arcabouço científico inacessível àqueles que não tem a formação de cientista.
Paciência… Talvez seja essa a virtude maior a ser cultivada por aqueles que optam por fazer “divulgação científica”. Paciência para ouvir asneiras e explicar aos asnos onde está a interpretação errada.
E fica por aqui.
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