O que há de errado com o ensino?



«When I think back
of all the crap
I’ve learnt in High School,
it’s a wonder that
I can still think att all”

Paul Simon


Eu travei conhecimento com o Daniel (Doro Ferrante) através de um site chamado “Queremos Saber”, na época, restrito ao Instituto de Física da Universidade Federal do Ceará. Apesar desse site, em particular, ter crescido e se tornado muito mais abrangente, eu só gostaria de mencionar uma pergunta, feita por um vestibulando de Direito: «Para que raios eu tenho que saber o “Número de Avogadro”?».

Eu levo a coisa mais adiante: para que servem dois terços das baboseiras que aprendemos nos ensinos fundamental e médio? O que adianta recitar como um papagaio os tempos verbais, se a pessoa não sabe quando e onde usá-los?
De que adianta saber o nome dos afluentes da margem direita do Amazonas, se as próprias ruas da sua cidade lhe são desconhecidas?
Todo o mundo sabe que o Brasil foi descoberto em 1500, certo? Errado! Os índios já tinham descoberto esta terra bem antes.
E tome história pela visão eurocêntrica, tome geografia de decoreba, gerúndios e adjuntos adverbiais de instrumento, mesóclises, e conhecimentos tais como que a ponta dos ossos se chama epífise… Será que é de estranahr que o estudante fique divagando, enquanto espera tocar o sinal do recreio, ou mesmo que “mate aula” para ir se divertir?…
E a matemática, então?… No lugar de se expor a beleza de que tudo que existe tem uma expressão baseada na matemática, não!… Vamos apavorar os meninos com expressões aritméticas de assustar um Gauss. Vamos propor problemas chatos e insossos.
E, sobrtudo, jamais vamos ensinar às crianças a pensar com a própria cabeça! O “conteúdo programático” é mais importante… Ou seja, despeje a matéria sobre as cabeças cheias de imaginação, para soterrar a criatividade. Quanto mais cópia da matéria garatujada a giz em um quadro-negro, melhor!
As “ciências” devem ser apresentadas como uma decoreba dos sistemas do corpo humano, da tabela periódica dos elementos e dos braçais cálculos sobre o “Número de Avogadro” (que, por falar nisso, nem dele é…).
Sabem por que eu sou uma rematada besta em biologia? Porque eu nunca aguentei decorebar o latinório. E, como me faz falta a física de 2º grau, escondida atrás de fórmulas que tinham que ser decorebadas.
Eu devo muito a minha cultura geral a duas professoras de Português do ginásio (ambas pegaram a minha turma como “coroamento”): elas me ensinaram a redigir, a ter carinho pela linguagem como forma de comunicação entre as pessoas, e a buscar o modo mais correto para exprimir meus pensamentos (o que me levou a expandir meu vocabulário, para poder empregar os termos mais exatos possíveis).
Alguns, como eu, nascem curiosos; outros só enxergam as aplicações práticas das coisas. Vá explicar a uma “garota de programa” (que fatura em uma noite mais do que uma professora em muitos meses) que a juventude não é eterna…
E, enquanto isso, a mídia enche nossos sentidos com um “consuma! consuma!” dos mais variados produtos inúteis ou de eficácia duvidosa. E fica o rapaz a se imaginar um famoso jogador de futebol, para ter uma Ferrari, e as meninas sonhando com o status de Maria Chuteiras
Enquanto isso, os professores que acabaram de aprender o mais novo modismo em ténica de ensino (a última notícia que eu tive foi quando as “inteligências múltiplas” perderam seu status de “novidade” para o “construtivismo”), correndo atrás de técnicas de ensino e deixando de lado o mais importante: ensinar as crianças a raciocinar.
O rendimento dos alunos está baixo? Não tem problema: aumente-se a carga horária… (com que professores, eu não sei…)
E não pensem que eu estou falando apenas das mazelas do Brasil. Robert A. Heinlein já denunciava, nos idos de 1960, que a maior parte dos americanos que chegava à academia, era semi-analfabeta. Então, não é só “falta de recursos financeiros”.
Toda a estrutura do ensino precisa passar por uma re-engenharia urgente. Senão, o gap entre os letrados e os analfabetos funcionais só tende a aumentar. E qualquer nação de semi-analfabetos está pronta para cair nas mãos dos caudilhos, sejam do tipo Bush, seja do tipo Chavez, seja do tipo Bin Laden…
Brecht já punha na boca de Galileu: “infeliz do povo que precisa de heróis”. E eu pergunto, como botar na cabeça de um infeliz que nem sabe se expressar direito, noções como “civilidade”, “meio-ambiente” e “cidadania”?
As escolas de hoje estão parecidas com os Comandos na Marinha: o atual sempre dá saudades do anterior…
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