“Sputnik”: um vírus que contamina vírus

Notícia espetacular que eu achei no Le Figaro:

«Sputnik», o virus que causa doenças em outros vírus (Por Jean-Michel Bader — 08/08/2008)

Uma esquipe francesa descobriu o primeiro vírus capaz de atacar seus “primos” oito vezes maiores do que ele.

Os pesquisadores franceses da Universidade de Marselha “mataram dois coelhos com uma só cajadada”. Não só descobriram uma nova cepa de vírus gigantes, como descobriram que eles carregam, dentro de si, um outro vírus minúsculo, ambos até agora desconhecidos. O mais incrível é que este vírus-anão, batizado de “Sputnik”, tem a capacidade de infectar o vírus grande, batizado de “Mama”, a ponto de impedir sua reprodução.

O Mama pertence à classe dos Mimivírus, descobertos em 2003 na mesma universidade pela equipe de Jean-Michel Claverie e Didier Raoult. Quanto ao Sputnik, já se conhecia desde 1915 virus capazes de atacar bactérias, os chamados bacteriófagos (objetos dos Prêmios Nobel de Medicina de 1969 e 1980). Mas esta é a primeira vez que se encontra um “virófago”.

Parasita “obrigatório”

No artigo publicado na Nature, Bernard La Scola, pesquisador do laboratório marselhês, conta como ele e seus colegas “deram à luz” a seu “bebe”: depois de inocular certas amebas, os biólogos constaram que os animais unicelulares foram rapidamente infectados por uma nova cepa de Mimivirus, que eles batizaram de Mama.

Estes têm necessidade de criar, dentro de uma ameba, o que os biólogos chamam uma “usina de virus”, para se multiplicarem. E é nesta “usina” que o “Sputnik” entra como um bom pirata.

Quando observou, pela primeira vez ao microscópio eletrônico, a atividade dentro da “usina” e viu essas pequenas partículas nos virus em formação, Bernard La Scola acreditou que eram apenas fragmentos de ácidos nucleicos (ADN ou ARN), ditos “satélites” (daí o nome “Sputnik”), comumente associados a todos os vírus. Porém, observando mais atentamente, o pesquisador percebeu que se tratava de um verdadeiro vírus, incapaz de se reproduzir sozinho, mas dotado de 21 genes. O “Sputnik” é um verdadeiro “parasita obrigatório” no vírus gigante Mama.

Tal descoberta coloca duas perguntas: o “Sputnik” é um novo sistema de transferência de genes de uma espécie de vírus para outra? É algo razoável, já que três de seus genes descendem de vírus gigantes e um outro dos Archæa (micróbios intermediários entre os eucariotas e as bactérias). O “Sputnik”, portanto, surrupiou material genético daqui e de lá, e poderia fazer o mesmo com outras espécies. A outra questão é sobre o status dos vírus: vivos ou não? Jean-Michel Claverie declara, no artigo da Nature que “não resta dúvida de que se trata de um organismo vivo”, a respeito do Mama. “O fato dele poder ficar “doente” é prova suficiente”. Já Bernard La Scola pondera: “É verdade que, deixados à própria sorte, as partículas virais são incapazes de se reproduzir. Mas a questão é um pouco mais evolutiva: deve-se encarar o vírus como um ser que passa por diversas etapas, um pouco como os insetos: de uma larva, a uma ninfa e, daí, a uma borboleta”.

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Hmmm… fica aqui minha sugestão para os Geeks: que tal desenvolver um “Sputnik” para vírus de computador?… Em lugar de apagar um arquivo contaminado (algo assim como amputar uma mão por causa de um fungo na unha), que tal “contaminar o próprio vírus”?… Seria possível?…

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