Physics News Update n° 869

POR DENTRO DA PESQUISA CIENTÍFICA ― ATUALIZAÇÃO DAS NOTÍCIAS DE FÍSICA

PHYSICS NEWS UPDATE

O Boletim de Notícias de Pesquisas do Instituto Americano de Física, n° 869 de 15 de agosto de 2008, por Philip F. Schewe, James Dawson e Jason S. Bardi

MEDALHA DE BRONZE OLÍMPICA.

A tecnologia mais sofisticada da antiguidade rastreava os Jogos Olímpicos, junto com os demais eventos clestiais. O ciclo de quatro anos entre cada Olimpíada da Era Moderna é baseado no ciclo original de 4 anos dos Jogos na Grécia Antiga.  Uma pesquisa publicada na revista Nature associou, agora, um antigo dispositivo que se sabe que era usado para rastrear e predizer eventos celestiais, à observância do intervalo quadrienal dos Jogos.

Chamado de Máquina de Anticitera, este mecanismo é uma máquina de bronze, construída por volta dos séculos primeiro ou segundo A.C. Possivelmente o mais antigo dispositivo científico, foi pescado do fundo do mar em 1901. Por causa de seu estado de conservação lamentável, o mecanismo não revelou seus segredos facilmente. Mais ou menos do tamanho de uma pequena caixa de sapatos em sua forma original, o dispositivo se desmanchou em vários fragmentos, depois de recuperado. Desde então, foram realizadas simulações em computadores e foram construídos modelos em latão para tentar recriar o mecanismo original.Agora, com a ajuda de sofisticadas técnicas de raios-x,  mais de 2500 caracteres foram lidos.

O mecanismo não é somente um livro de antigos arcanos, como os Manuscritos do Mar Morto. Uma máquina que consiste de vários diáis e engrenagens giratórias, ela é considerada por muitos como o primeiro computador analógico, uma vez que ele aceita entradas de dados e fornece resultados em resposta. Os antigos astrônomos podiam dar entradas das posições atuais das estrelas e planetas, e a Máquina de Anticitera daria predições dos futuros equinócios (quando a duração do dia é igual à da noite) e de Eclipses Solares (quando o Sol é coberto pela sombra da Lua).

Agora, na edição de 31 de julho de 2008 da Nature, uma equipe de pesquisadores relata duas descobertas surpreendentes. A primeira é uma nova interpretação de um dos diáis na máquina como sendo associado aos Jogos Olímpicos, realizados de quatro em quatro anos. Os gregos não precisavam de uma máquina para lhes dizer quando os Jogos deviam ser realizados, mas o dial está lá, de qualquer forma, diz Tony Freeth, membro da equipe, por causa da importância dos Jogos, tão importantes que muitos outros calendários eram associados ao evento, de forma muito parecida com que eventos históricos são associados com os reinados de vários reis.

A outra descoberta intrigante é que os nomes dos meses inscritos nos diáis são de origem coríntia. Corinto é uma cidade na Grécia situada em um istmo estratégico. Pensava-se antes que a máquina fosse originária da extremidade oriental da esfera de influência grega, Talvez da Ilha de Rodes. Porém, a nova interpretação sugere que a máquina foi feita em Corinto ou em uma de suas colônias, que ficam a Oeste, tais como a Sicília. Essas colônias gregas ocidentais são, algumas vezes, chamadas de “América Grega”, uma vez que, tal como as colônias britânicas do outro lado do Atlântico, elas representavam uma reformulação da cultura original, através de um mar na direção Oeste.

Vários dispositivos antigos dedicados a eventos celestiais tinham como função a importante tarefa de coordenar os eventos nos céus com os da Terra, tais como o plantio de colheitas ou a coroação dos reis. Provavelmente, o cálculo astronômico mais importante era a determinação da duração de um ano. Em 1974 um dos diáis da Máquina de Anticitera foi identificado como um calendário “Metônico. Este recebe o nome de um astrônomo ateniense do século V AC, Meton, que formulou um calendário que casava o calendário lunar (o ciclo da Lua tem um pouco mais do que 29 dias) e o calendário solar (o Sol leva cerca de 365 dias e um quarto para voltar ao mesmo lugar no céu). O calendário intermediário de Meton assimilava os ciclos lunar e solar em ciclos de 19 anos.

Mais recentemente, em 2006, a equipe de pesquisas que trabalha com o mecanismo foi capaz de deduzir, a partir de outro dial, um processo para predizer eclipses solares. Que tipo de conjunto de especialistas é necessário para obter este tipo de descoberta? Bem, até agora a equipe incluiu matemáticos, astrônomos, físicos, historiadores e filólogos (os que estudam as palavras).

Freeth declara que, embora o mecanismo tenha sido provavelmente construído bem depois da vida de Arquimedes (cerca de 225 A.C.), é tentador pensar que o dispositivo tenha sido criado em uma oficina da Sicília (conhecidos por seus instrumentos de bronze) influenciados por Arquimedes, visto por muitos como o maior cientista do mundo antigo.

Freeth, que já foi matemático e produtor de televisão e agora é um cientista pesquisador, pretende retornar à produção de TV com um documentário sobre a Máquina de Anticitera.

TALVEZ SEJAMOS ESPECIAIS, DIZ O SISTEMA SOLAR.

Historicamente, os humanos freqüentemente sentiram a necessidade de se sentirem especiais e, tão freqüentemente quanto, ficaram desapontados. A Terra, como se descobriu, não ficava no Centro do Universo. Os humanos são espertos, mas, no fim das contas, eles evoluem, vivem e morrem como todas as outras coisas vivas no planeta.  Pela astronomia, os modelos teóricos prevalecentes de como o Sistema Solar chegou a acontecer, têm que presumir que, com base na experiência passada, o nosso é um sistema estelar/planetário como qualquer outro.

Porém, de acordo com um novo estudo dos astrônomos da Universidade Northwestern que observaram 300 planetas que orbitam outras estrelas, nós podemos ser realmente especiais. “Nós agora sabemos que os outros sistemas planetários não se parecem nem um pouco com o Sistema Solar”, disse Frederic Rasio, astrônomo da Northwestern, em Chicago. Simulações em computador da equipe de Rasio mostraram que o nascimento de um sistema planetário é um negócio muito violento: o disco de gases que dá origem aos planetas os empurra na direção da estrela central, onde eles freqüentemente se apinham e acabam engolidos. Os “cabos de guerra” gravitacionais entres os planetas em fase de crescimento acabam por arremessar alguns para dentro do sistema planetário, outros para o espaço profundo. “Uma história turbulenta como essa parece deixar pouca margem para um sistema quieto como nosso Sistema Solar, e nossas simulações mostram exatamente isto”, afirma Rasio em um noticiário da Universidade Northwestern. Nosso Sistema Solar “teria que ter nascido sob as condições exatamente corretas para se tornar o lugar tranqüilo que vemos”, argumenta ele.  “A grande maioria dos outros sistemas planetários não tiveram essas propriedades especiais no seu nascimento e se tornaram algo muito diferente”.

O ODÕMETRO DO HUBBLE ESTÁ PERTO DOS 3 BILHÕES DE MILHAS.

O Telescópio Espacial Hubble, visto por muitos cientistas como o mais importante instrumento científico jamais construído, está perto de completar sua 100.000ª órbita da Terra, o que trará sua “milhagem” (em português se diria “quilometragem”) para cerca de 2,72 bilhões de milhas (cerca de 4,38 bilhões de quilômetros) . O Hubble foi lançado em 24 de abril de 1990 e tem viajado através do espaço a cerca de 600 km acima e a uma velocidade pouco menor do que 9 km/seg, desde então. Em celebração da marca de 100.000 órbitas, que aconteceu às 5:42h (hora de Brasília)  de 11de agosto, o Instituto do Telescópio Espacial em Baltimore calculou que esta distância equivale a 5.700 viagens de ida e volta à Lua.  Corresponde, também, à quilometragem total de todos os veículos nos Estados Unidos a cada três horas. O Hubble, observam eles, usa gravidade, não combustível, para se mover através do espaço.

MARATONA DOS RATOS.

Enquanto que “ganhar massa” com esteróides é uma prática bem conhecida entre alguns atletas, uma nova droga, desenvolvida para tratar uma doença metabólica, também deu a ratos praticantes de exercícios a capacidade de correr por mais uma hora, o que é um bocado em “tempo de rato”.  “Quando demos aos ratos uma pequena dose de exercícios diários, com ou sem a presença da droga, todos mostraram uma capacidade de correr aumentada”, disse Ronald Evans, um pesquisador do Instituto Salk.

Quando os ratos estavam treinados, Evans deu a alguns deles a droga, conhecida como GW1516, e descobriu que os ratos drogados continuavam correndo. No que Evans chamou de experiência do “couch potato” (gíria americana para um sujeito que passa o dia todo tirando uma soneca no sofá), os pesquisadores também descobriram que tratar os ratos com uma outra droga dava até aos ratos não exercitados uma maior resistência (“endurance”) quando eles entravam na pista.  “É como se enganássemos os músculos, fazendo-os “acreditar” que eles se exercitavam diariamente”, disse ele.  “Isto prova que se pode ter um fármaco equivalente ao exercício”. Ele observou que as drogas podem ser uma benção para pessoas que não podem fazer exercícios devido a problemas de saúde, mas que também têm um “alto potencial para abusos” por parte de atletas.

DEGUSTAÇÃO ELETRÔNICA DE VINHOS.

Cientistas na Espanha desenvolveram uma “língua eletrônica” para distinguir entre um bom Pinot Noir de um reles Chablis. A “e-língua” é projetada para o controle de qualidade no campo e é baseada em pequenas membranas sintéticas em um chip de silício. O dispositivo, desenvolvido no Instituto de Microeletrônica de Barcelona, pode distinguir entre quatro variedades de uvas e seus criadores estão trabalhando para ampliar sua capacidade.  Cecilia Jimenez-Jorquera declarou que o dispositivo é similar à língua humana, no sentido de que ela é sensível a cinco diferentes gostos: doce, salgado, amargo, ácido e “umami” (saboroso). A “e-língua” pode determinar a idade e a variedade do vinho, e, eventualmente, pode ser capaz de “detectar  fraudes cometidas com respeito ao ano da safra do vinho, ou das variedades de uvas usadas”.

CORREÇÕES.

No Boletim nº 868 nos referimos à MRI como “medical resonance imaging” (“imageamento médico por ressonância”) atribuindo a técnica à ciência médica. O acrônimo significa, na verdade, “Magnetic Resonance Imaging” (“Imageamento por Ressonância Magnética”) o que, por sua vez, é um eufemismo para o imageamento baseado na ressonância magnética nuclear. Da mesma forma, na história sobre ursos polares, onde se lê 20 kiloHertz, leia-se 20 Hertz.

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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

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