“Comunicação” entre vegetais

Para não dizer que eu só pesco maluquices no EurekAlert, vai essa outra, bem “fringe” também:
University of Missouri-Columbia

Plantas fêmeas “comunicam” rejeição ou aceitação dos machos

Pesquisador da MU identifica proteínas no pólen que dão uma nova visão do processo de fertilização

COLUMBIA, Missouri. — Sem ter olhos ou ouvidos, as plantas têm que depender da interação de moléculas para reconhecer os parceiros apropriados e evitar misturas de espécies. Em um novo estudo, pesquisadores da  Universidade do Missouri identificaram proteínas do pólen que podem contribuir para os processos de sinalização que determina se uma planta aceita ou rejeita grãos de pólen individuais para a reprodução.

Tal como para as pessoas, o jogo de acasalamento não é sempre fácil para as plantas. As plantas dependem de fatores externos, tais como o vento e animais para lhes trazer os parceiros em potencial na forma de grãos de pólen.  Quando os grãos de pólen chegam, acontece uma “apresentação formal” por meio de uma “conversa” entre os grãos de pólen (a parte macha da flor) e o pistilo (a parte fêmea da flor). Nesta “conversa”, moléculas tomam o lugar das palavras e permitem que o pólen se identifique para o pistilo. Bisbilhotar essa “conversa” molecular pode fornecer meios para controlar o alastramento de transgenes de plantas geneticamente modificadas para seus parentes selvagens, oferecer maneiras melhores para controlar a fertilização entre espécies cruzadas e levar a uma maneira mais eficiente de cultivar árvores frutíferas.

“De forma diferente dos aspectos visuais relativos à seleção de parceiros, o reconhecimento dos parceiros para uma planta se dá em um nível molecular”, explica Bruce McClure, diretor associado do Centro de Ciências da Vida Christopher S. Bond e pesquisador da Divisão de Bioquímica e do Grupo Interdisciplinar para Plantas. “O pólen tem que, de alguma forma, anunciar sua identidade para o pistilo e o pistilo tem que poder interpretar essa identidade. Para fazer isso, proteínas do pólen e proteínas do pistilo interagem; isto determina a aceitação ou rejeição dos grãos de pólen individuais”.

Nesse estudo, os pesquisadores usaram duas proteínas específicas do pistilo, NaTTS e 120K, como “isca” para ver quais proteínas do pólen se ligariam a elas. Essas duas proteínas do pistilo foram usadas porque elas influenciam diretamente o acesso do pólen pistilo abaixo, até o ovário onde a fertilização acontece.

Três proteínas, a proteína de ligação S-RNase (SBP1), a proteína NaPCCP e uma enzima, se grudaram nas proteínas do pistilo. Esta ação sugere que essas proteínas provavelmente contribuem para o processo de sinalização que afeta o sucesso da condução do pólen.

“Nossa experiência foi assim como colocar um lado de uma fita de Velcro em duas proteínas do pistilo e confrontá-las com uma coleção de proteínas do pólen para ver quais tinham a outra metade da fita de Velcro para grudarem”, declarou McClure. “Se elas grudassem, seria um bom indício de que as proteínas do pólen trabalham em conjunto com as proteínas do pistilo para estabelecer o sucesso da reprodução”.

Em estudos anteirores, McClure demonstrou que a S-RNase, uma proteína do pistilo, causava a rejeição de pólen de parentes próximos, atuando como uma citotoxina, ou seja, uma substância tóxica, no tubo de pólen.

Para seu estudo, a equipe da MU usou a Nicotiana alata, uma espécie relativamente comum em jardins domésticos, conhecida como “tabaco florescente”. O estudo, “Pollen Proteins Bind to the C-Terminal Domain of Nicotiana Alata Pistil Arabinogalactan Proteins”, foi publicado no Journal of Biological Chemistry e teve como co-autores McClure; Kirby N. Swatek, estudante de pós-graduação em bioquímica; e Christopher B. Lee, pesquisador pór-doutoral no Centro Bond de Ciências da Vida.

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Professores de seis Faculdades da MU realizam pesquisas interdisciplinares no Centro Christopher S. Bond de Ciências da Vida, com a intenção de se tornar um centro de excelência científica de reconhecimento mundial em ciências da vida e de liderança em pesquisas, inovações e ensino de ciências da vida. O Centro integra os potenciais de várias disciplinas, frequentemente dispares, para promover descobertas que possam melhorar a produção e a qualidade dos alimentos, melhoar a saúde de pessoas e animais e melhorias na qualidade do meio ambiente. O Centro enriquece o Estado de Missouri e seu povo gerando novos negócios e empregos, alimentando a economia através da criação e disseminação de novos conhecimentos, e do treinamento de jovens para a solução de problemas interdisciplinários complexos.

Discussão - 2 comentários

  1. Luiz Bento disse:

    Muito bom. Acho que não é de hoje que esse papo de comunicação com as plantas faz sucesso. Lembra do livro "A vida secreta das plantas" ? Foi um best seller na época.
    Falando em esquisitices e plantas, você viu a reportagem que saiu alguns dias atrás em vários jornais?
    "Com ajuda de sensores, planta 'escreve'(sic) blog no japão". Acho que nem precisava das aspas em "escreve" 🙂
    http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL830625-6174,00-COM+AJUDA+DE+SENSORES+PLANTA+ESCREVE+BLOG+NO+JAPAO.html
    Abraços.

  2. João Carlos disse:

    Não, eu não tinha visto esse artigo... E me lembro vagamente desse livro (minha mãe que era muito mais esotérica do que eu, tinha ele...)
    O que eu me lembro bem foi de umas reportagens da TV em que alguém captou esses impulsos elétricos emitidos pelas plantas e os "traduziu" em sinais de áudio.

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