Quando um governo embraca em pseudo-ciência

Li no Pharyngula uma notícia de que o jornalista Ben Goldacre que escreve a coluna semanal “Bad Science” no The Guardian, tinha se livrado da restrição judicial a ele imposta e tornado público o “capítulo omitido” de seu livro (“Bad Science”… que outro título teria?…)

Para minha surpresa, o tal capítulo está lá, inteirinho, no post de 9 de abril do blog “Bad Science”, com o sugestivo título: “Matthias Rath — roubem este capítulo”.

Goldacre pede explicitamente a seus leitores que ajudem a divulgar o conteúdo do capítulo proibido… Tentação demais, né?… Eu traduzi…

Veja, a seguir, como um governo pode ser induzido por espertalhões a embarcar em pseudo-ciência e o estrago que isso pode causar a uma população.


Aqui vai:


Isto é um extrato do livro
BAD SCIENCE por Ben Goldacre
Publicado por Harper Perennial 2009.

Você tem a liberdade de copiar, colar, cozinhar,
reimprimir, ler em voz alta, contanto que não modifique o conteúdo –
inclusive esta parte – de forma que as pessoas saibam onde podem
encontrar mais idéias de graça em www.badscience.net

.

O Doutor Vai Processá-lo Agora

[Nota do tradutor: trocadilho intraduzível. A manjadíssima expressão “O doutor vai vê-lo agora” (“The doctor will see you now”), muda completamente de significado com a mudança de apenas uma vogal: “The doctor will sue you now”]

Este capítulo não apareceu na edição original deste livro, porque,
por quinze meses que duraram até setembro de 2008, o empresário produtor
de pílulas de vitamina Matthias Rath estava processando a mim,
pessoalmente, e ao jornal The Guardian, por difamação. Essa
estratégia conseguiu apenas sucesso parcial. Por mais que os
nutricionistas possam fantasiar em público que qualquer crítico é, de
alguma forma, um peão da grande indústria farmacêutica, em privado eles
fariam bem em se lembrar que, como muitos da minha idade que trabalham
no setor público, eu não sou dono de um apartamento. O The Guardian
pagou generosamente os advogados e, em setembro de 2008, Rath desistiu
da causa cuja defesa custou para mais de £500.000. Rath já pagou
£220,000 e o resto, espero, virá a seguir. O que ninguém jamais vai me
pagar são as reuniões sem fim, o tempo de trabalho perdido, ou os dias
gastos suando em cima de mesas cheias de documentos legais cheios de
remissões mútuas.

Sobre esse último ponto, no entanto, há um pequeno consolo que eu
vou enunciar: agora eu conheço mais sobre Matthias
Rath do que quase todas as outras pessoas vivas. Minhas notas, referências e
declarações de testemunhas, tudo em caixotes na sala em que estou agora,
dão uma pilha tão grande quanto o próprio sujeito e o que vou escrever
aqui é somente uma pequena parte do relato mais completo que espera
para ser contado sobre ele. Este capítulo, eu também devo mencionar,
está disponível de graça online para qualquer um que queira vê-lo.

Matthias Rath nos leva rudemente a abandonar o distanciamento
contido, quase acadêmico, deste livro. Pela maior parte dele nos
interessamos pelas consequências intelectuais e culturais da má
ciência, os fatos forjados nos jornais nacionais, práticas acadêmicas
duvidosas nas universidades, algumas propagandas de supostas panacéias
e coisas assim. Mas o que acontece se pegarmos esses truques de
prestidigitação, essas técnicas de marketing de pílulas milagrosas e as
transplantarmos para fora de nosso decadente contexto ocidental para
uma situação onde as coisas sejam realmente importantes?

Em um mundo ideal isso seria apenas um experimento
mental. O caso da AIDS é o oposto de uma anedota. Vinte e cinco milhões
de pessoas já morreram dela,
três milhões destas somente no último ano, e 500.000 desses mortos eram
crianças. Na África do Sul ela mata 300.000 pessoas a cada ano: ou
seja, oitocentas pessoas a cada dia, ou uma a cada dois minutos. Este
país tem 6,3 milhões de pessoas HIV positivas, inclusive 30% de todas
as mulheres grávidas. Existem 1,2 milhões de órfãos da AIDS abaixo dos
17 anos. O mais terrificante de tudo é que esse desastre apareceu
subitamente e debaixo de nossas vistas: em 1990, só 1% dos adultos na
África do Sul eram HIV positivos. Dez anos depois, o número tinha
subido para 25%.

É difícil ter uma resposta emocional a partir de números frios, mas em uma
coisa eu creio que vamos concordar. Se você tivesse que entrar em uma
situação com tanta morte, miséria e doenças, você seria muito cuidadoso
em se certificar de que você saberia do que estava falando. Pelas
razões que você está prestes a ler, eu suspeito que Matthias Rath não
tomou esse cuidado.

Esse homem, devemos dizer com clareza, é responsabilidade nossa.
Nascido e criado na Alemanha, Rath foi o chefe da Pesquisa
Cardiovascular no Instituto Linus
Pauling em Palo Alto na Califórnia e já nessa época ele tinha uma
tendência para os atitudes grandilouquentes, tendo publicado um artigo no Journal of Orthomolecular Medicine, em
1992,
intitulado “Uma Teoria Unificada das Doenças Cardiovasculares Humanas
que Conduz à Abolição dessa Doença como uma Causa para a Mortalidade
Humana“ (“A Unified Theory of Human Cardiovascular Disease Leading
the Way to the Abolition of this Disease as a Cause for Human
Mortality”). A teoria unificada consistia de altas doses de vitaminas.

Ele primeiramente desenvolveu uma base de poder com vendas na
Europa, vendendo suas pílulas com táticas que ficarão bem familiares
para o leitor ao longo deste livro, embora um pouco mais agressivas. No
Reino Unido, seus reclames afirmavam que “90 por cento dos pacientes
que recebem quimioterapia para câncer, morreriam dentro de poucos meses
a partir do início do tratamento” e sugeriam que três milhões de vidas
poderiam ser salvas se os pacientes com câncer parassem de ser tratados
pela medicina convencional. A indústria farmacêutica estava
deliberadamente deixando as pessoas morrerem para obter lucros
financeiros, ele explicava. Tratamentos contra o câncer eram “compostos
venenosos” sem “sequer um tratamento eficaz”.

A decisão de embarcar em um tratamento contra o câncer pode ser uma
das decisões mais difíceis que uma pessoa ou uma família terá jamais
que tomar, porque é um equilíbrio delicado entre benefícios bem
documentados e efeitos colaterais igualmente bem documentados. Anúncios
como esses podem ter um forte efeito sobre sua consciência, se sua mãe
tiver perdido todo o cabelo para uma quimioterapia, por exemplo, na
esperança de permanecer viva apenas o suficiente para ver seu filho
aprender a falar.

Houve algumas respostas das autoridades reguladoras na Europa, mas elas
foram geralmente tímidas, tais como as que foram dadas a outros personagens
neste livro. A Advertising Standards Authority criticou um de
seus reclames no Reino Unido, mas isso era essencialmente tudo que eles
podiam fazer. Rath foi intimado por um tribunal em Berlim a parar de
anunciar que suas vitaminas podiam curar o câncer, ou pagar uma multa
de €250.000.

Mas as vendas andavam bem e Matthias Rath ainda tinha muitos
simpatizantes na Europa, como já veremos. Ele foi para a África do Sul
com toda a fanfarra, auto-confiança e riqueza que ele tinha amealhado
como um empresário produtor de pílulas de vitamina na Europa e América
e começou a publicar anúncios de página inteira nos jornais.

“A resposta para a epidemia de AIDS está aqui”, ele proclamava. As
drogas anti-retrovirais eram venenosas e uma conspiração para matar
pacientes e ganhar dinheiro. “Parem com o Genocídio da AIDS do Cartel
das Drogas”, dizia uma manchete. “Por que os Sul-Africanos deveriam
continuar a ser envenenados com AZT? Existe uma resposta natural para a
AIDS”.  A resposta vinha na forma de pílulas de vitamina. “O tratamento
multivitamínico é mais eficaz do que qualquer droga tóxica contra a
AIDS. As multivitaminas cortam o risco de desenvolver a AIDS pela
metade”.

A companhia de Rath operava clínicas que refletiam essas idéias e,
em 2005, ele decidiu realizar um teste de suas vitaminas em uma
cidadezinha perto da Cidade do Cabo, chamada Khayelitsha, dando sua
própria fórmula, VitaCell, para pessoas em estágio adiantado de AIDS.
Em 2008 esse teste foi declarado ilegal pela Alta Corte do Cabo da
África do Sul. Embora Rath diga que nenhum de seus participantes
tivesse recebido drogas anti-retrovirais, alguns parentes prestaram
declarações dizendo que eles estavam recebendo e tinham sido ativamente
recomendados para pararem de usá-las.

Tragicamente, Matthias Rath tinha levado essas idéias ao local
precisamente exato. Thabo Mbeki, o então Presidente da África do Sul,
era bem conhecido como sendo um “dissidente da AIDS” e, para o horror internacional, enquanto as pessoas morriam na taxa de uma a cada dois
minutos em seu país, ele deu crédito e apoio às alegações de um pequeno
bando de ativistas que sustentavam diversas coisas diferentes: que a
AIDS não existia, que não era causada pelo HIV, que a medicação
anti-retroviral fazia mais mal do que bem, e por aí afora.

Em várias ocasiões, durante o pico da epidemia da AIDS na África do
Sul, o governo daquele país argumentou que o HIV não era a causa da
AIDS e que as drogas anti-retrovirais não eram úteis para os pacientes.
Eles se recusaram a desenvolver programas de tratamento adequados, se
recusaram a aceitar a doação de remédios e se recusaram a aceitar
dinheiro do Fundo Global para comprar medicamentos. Um estudo estima
que, se o governo sul-africano tivesse usado as drogas anti-retrovirais
para a prevenção e o tratamento na mesma proporção que a Província do
Cabo Ocidental (que desafiou a política nacional nessa questão), em torno
de 171.000 novas infecções por HIV e 343.000 mortes poderiam ter sido
evitadas entre 1999 e 2007. Outro estudo estima que, entre 2000 e 2005,
ocorreram 330.000 mortes desnecessárias, perdeu-se 2,2 milhões de
pessoas por ano e 35.000 bebes nasceram desnecessariamente com HIV
porque o governo falhou em implementar um programa, barato e simples,
de prevenção de transmissão das mães para os filhos. De uma a três
doses de uma droga ARV podem reduzir dramaticamente a transmissão. O
custo é ínfimo. Não estava disponível.

Curiosamente, o colega e empregado de Matthias Rath, um advogado
sul-africano chamado Anthony Brink, reivindica o crédito por ter
apresentado a Thabo Mbeki várias dessas idéias. Brink esbarrou no
material dos “dissidentes da AIDS” em meados da década de 1990 e, após
muita navegação na internet e leitura, se convenceu de que as alegações
deviam estar certas. Em 1999 ele escreveu um artigo sobre o AZT em um
jornal de Johannesburg intitulado “um remédio vindo do inferno”. Isso
levou a uma discussão pública com um dos principais virologistas. Brink
contatou Mbeki, enviando-lhe cópias do debate e foi recebido como um
expert.

Isto é um horripilante testemunho do perigo de dar status a birutas, aceitando o debate com eles. Em sua primeira carta de contato para emprego para
Matthias Rath, Brink se descreveu como “o principal dissidente da AIDS
na África do Sul, mais conhecido pela ruidosa campanha de denúncia da
toxicidade e ineficácia das drogas contra a AIDS, e por meu ativismo
político nesse campo que levou o Presidente Mbeki e a Ministra da
Saúde, Dra
Tshabalala-Msimang a repudiar as drogas em 1999″.

Em 2000, a agora infame Conferência Internacional sobre a AIDS foi
realizada em Durban. O painel, reunido anteriormente para assessorar o
presidente Mbeki, era repleto de “dissidentes da AIDS”, inclusive Peter
Duesberg e David Rasnick. No primeiro dia, Rasnick sugeriu que todos os
exames de HIV fossem banidos por princípio e que a África do Sul
deveria parar de vistoriar lotes de sangue a procura do HIV. “Se eu
tivesse o poder para colocar fora da lei o teste de antígenos para HIV,
eu o faria imediatamente”, ele declarou. Quando médicos africanos
prestaram testemunhos acerca das drásticas mudanças que a AIDS tinha
causado em suas clínicas e hospitais, Rasnick disse que não tinha visto
“qualquer indício” de uma catástrofe relacionada com a AIDS. A imprensa
ficou de fora,
mas um repórter do Village Voice  estava presente. Peter
Duesberg, relatou ele, “fez uma apresentação tão divorciada da
realidade médica africana que deixou vários médicos locais balançando
suas cabeças”. Não era a AIDS quem estava matando esses bebes e
crianças, diziam os dissidentes: era a medicação anti-retroviral.

O Presidente Mbeki enviou uma carta aos líderes mundiais comparando
a luta dos “dissidentes da AIDS” com a luta contra o apartheid. O Washington Post descreveu
a reação na Casa Branca: “Alguns dos funcionários ficaram tão chocados
pelo tom da carta e por sua divulgação durante os preparativos finais
para a conferência em julho em Durban, que pelo menos dois deles, de
acordo com fontes diplomáticas, se sentiram obrigados a verificar se
ela era autêntica”. Centenas de delegados deixaram a sala, desgostosos, durante o
discurso de Mbeki para a conferência, porém muitos mais se descreveram
como chocados e confusos. Mais de 5.000 pesquisadores e ativistas do
mundo inteiro assinaram a Declaração de Durban, um documento dirigido
especificamente contra e que repudiava as alegações e preocupações — ao
menos aquelas mais moderadas — dos “dissidentes da AIDS”.
Especificamente, ela repudiava a alegação de que as pessoas estavam
simplesmente morrendo de pobreza:

A prova de que a AIDS é causada pelo HIV-1 ou o HIV-2 é
clara, exaustiva e sem ambiguidades…  Tal como em qualquer outra
infecção crônica, vários fatores concomitantes têm seu papel no
estabelecimento do risco da doença. Pessoas subnutridas, que já sofrem
de outras infecções ou que sejam mais velhas, tendem a ser mais
suscetíveis ao desenvolvimento da AIDS depois da infecção por HIV.
Entretanto, nenhum desses fatores enfraquece a prova científica de que
o HIV é a única causa da AIDS… A transmissão de mãe para filho pode ser
reduzida pela metade ou mais por curtas aplicações de drogas
antivirais. (…) O que funciona melhor em um país pode não ser
apropriado para outro. Porém, para enfrentar a doença, todos devem
entender primeiro que o inimigo é o HIV. Pesquisas, e não mitos, levarão
ao desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e mais baratos.

Não serviu para coisa alguma. Até 2003 o governo sul-africano se
recusou, por uma questão de princípios, a desenvolver os programas de
medicações anti-retrovirais e, mesmo depois, o processo correu a
meia-força. Essa loucura só foi derrubada depois de uma maciça campanha
movida por organizações populares autônomas, tais como a Campanha de
Ação (pelo) Tratamento (Treatment Action Campaign), porém, mesmo depois
do diretório do partido ANC (African National Congress) ter votado pela
permissão da distribuição dos medicamentos, ainda havia resistência. Em
meados de 2005, ao menos 85% das pessoas HIV-positivas que precisavam
de drogas anti-retrovirais ainda não as recebiam. Isto quer dizer cerca
de um milhão de pessoas.

Esta resistência. é claro, vinha de mais do que uma pessoa; muito
dela vinha da Ministra da Saúde de Mbeki, Manto Tshabalala-Msimang. Uma
crítica ardente dos medicamentos contra o HIV, ela ia alegremente à
televisão para falar, exagerando para cima, de seus perigos e, exagerando
para baixo, de seus benefícios e se mostrando irritada e evasiva quando
perguntada sobre quantos pacientes estavam recebendo um tratamento
efetivo. Ela declarou, em 2005, que “não seria pressionada” a alcançar
a meta de três milhões de pacientes recebendo tratamento por medicação
anti-retroviral, que as pessoas ignoravam a importância da alimentação
e que ela continuaria a alertar os pacientes sobre os efeitos
colaterais dos anti-retrovirais, dizendo: “Nossa ideía sobre isso foi
confirmada. Nós somos o que comemos”.

Essa é uma frase de efeito estranhamente familiar. Há registros de
que Tshabalala-Msimang louvou publicamente o trabalho de Matthias Rath
e se recusou a investigar suas atividades. A mais animada entre eles,
ela é uma ardorosa advogada do tipo de nutricionismo de revista de variedades de
fim-de-semana que deve agora ser muito familiar ao leitor. Os remédios
defendidos por ela contra a AIDS são beterrabas, alho, limões e batatas
africanas. Uma citação bastante típica dessa Ministra da Saúde, de um
país onde 800 pessoas morrem de AIDS todos os dias, é esta: “Alho cru e
a casca de um limão, não só proporcionam uma pele e uma cara boas, mas também
lhe protegem contra doenças”. O estande da África do Sul na Conferência
Mundial sobre a AIDS em Toronto, 2006, era descrito pelos delegados
como o “cantinho da salada”. Consistia de algum alho, algumas
beterrabas, a batata africana e vários outros legumes. Algumas caixas
de medicamentos anti-retrovirais foram acrescentados depois, mas eles
eram sabidamente emprestados de outros delegados à conferência no
último minuto.

Terapeutas alternativos gostam de sugerir que seus tratamentos e
idéias não foram suficientemente pesquisados. Como você sabe agora,
frequentemente isso não é verdade e, no caso das verduras preferidas da
Ministra da Saúde, foram efetivamente realizadas pesquisas cujos
resultados foram longe de promissores. Entrevistada na SABC (South
African Broadcasting Corporation
) acerca disso, Tshabalala-Msimang deu
o tipo de resposta que se espera ouvir em qualquer discussão, daquelas depois do churrasco de domingo, sobre
terapias alternativas por aí.

Primeiro, ela foi questionada sobre um trabalho da Universidade de
Stellenbosch que sugeria que sua planta preferida, a batata africana,
podia ser muito perigosa para pessoas em tratamento com medicamentos
contra AIDS. Um estudo sobre batatas africanas sobre o HIV teve que ser
prematuramente cancelado porque os pacientes que recebiam o extrato da
planta, desenvolveram sérias perdas de medula óssea e uma queda na
contagem de células tipo CD4 — o que é uma má notícia — após oito
semanas. Além disso, quando se deu o extrato dessa mesma planta para
gatos com o Vírus da Imunodeficiência Felina, eles sucumbiram à AIDS
Felina com força total, mais rápido do que o grupo de controle não
tratado. A batata africana não parecia ser uma boa aposta. 

Tshabalala-Msimang discordou: os pesquisadores deveriam voltar para
a bancada de trabalho e “investigar de maneira adequada”. Por que?
Porque pessoas HIV-positivas que usaram a batata africana tinham
mostrado melhoras e elas próprias tinham dito isto. Ela disse que queria saber se quando uma pessoa diz
que ele ou ela se sente melhor, isso deve ser discutido, simplesmente porque não tinha sido cientificamente provado?
“Quando uma pessoa disser que ele ou ela está se sentindo melhor, eu
devo dizer “Não, eu acho que você não está se sentindo melhor”? Eu
devo, em vez disso, insistir e fazer ciência com você?” Perguntada se
deveria haver uma base científica para suas opiniões, ela respondeu: “A
ciência de quem?”

E aí, talvez, está uma pista, se não for uma justificativa. Esse é
um continente que foi brutalmente explorado pelo mundo desenvolvido,
primeiro pelo imperialismo, depois pelo capital globalizado. Teorias de
conspiração sobre a AIDS e a medicina ocidental não são inteiramente
absurdas nesse contexto. A indústria farmacêutica já foi realmente
flagrada realizando testes de drogas na África que teriam sido
impossíveis em qualquer lugar do mundo desenvolvido. Muitos acham
suspeito que os negros africanos sejam as maiores vítimas da AIDS e
apontam para os programas de guerra biológica preparados pelos governos
do apartheid; também existem suspeitas de que o discurso científico
sobre HIV/AIDS possa ser uma “armação”, um cavalo de Tróia para a
promoção de agendas políticas e econômicas ainda mais exploradoras pelo
ocidente, usando como pretexto um problema que é simplesmente oriundo
da pobreza.

E essas são nações novas, para as quais a independência e a
auto-gestão são coisas recentes, que estão lutando para tomar pé no
mundo comercial e encontrar sua verdadeira identidade cultural, após
séculos de colonização. A medicina tradicional representa um laço
importante com um passado autônomo; além do que os medicamentos
anti-retrovirais eram desnecessaria, ofensiva e absurdamente caros, e,
até que medidas para desafiar essa situação tivessem obtido sucesso,
muitos africanos tiveram negado o acesso ao tratamento médico como
resultado disso.

É muito fácil para nós nos sentirmos confortavelmente superiores e esquecer que
todos nós temos nossas estranhas idiossincrasias culturais que nos
impedem de adotar programas sensatos de saúde pública. Por exemplo, nem
temos que olhar tão longe como o caso da (vacina) MMR. Existem bons
indícios de que os programas de substituição de agulhas reduzem o
alastramento do HIV, mas esta estratégia tem sido seguidamente
rejeitada em favor do “Simplesmente, diga não”. Movimentos de
assistência financiados por grupos cristãos dos EUA se recusam a se
envolver com controle de natalidade e qualquer sugestão de aborto,
mesmo em países onde ter o controle sobre sua própria fertilidade pode
significar a diferença entre o sucesso ou o fracasso na vida, é
encarada com um olhar frio e “piedoso”. Esses princípios morais pouco
práticos estão tão profundamente arraigados que o Pepfar, o Programa
Presidencial dos EUA para Alívio da AIDS, insiste que cada recebedor de
dinheiro de ajuda internacional deve assinar uma declaração onde
promete expressamente não ter qualquer envolvimento com profissionais
do sexo.

Não devemos parecer insensíveis ao sistema de valores cristãos, mas
me parece que o envolvimento dos profissionais do sexo é a pedra
fundamental de qualquer política de combate a AIDS eficiente: o sexo
comercial é frequentemente o “vetor de transmissão” e os profissionais
do sexo são uma população de alto risco; porém existem outras questões
em causa. Se assegurarmos o direito legais das prostitutas de serem
livres da violência e da discriminação, se dá a elas o poder de exigir
o uso universal de preservativos e, dessa forma, se pode impedir que o
HIV se espalhe por toda a comunidade. É nesse ponto que a ciência se
encontra com a cultura. Mas pode ser que até para seus amigos e
vizinhos, seja em qual for o condomínio dos sonhos onde você tem sua
casa, o princípio moral de se abster de sexo e drogas seja mais
importante do que as pessoas morrerem de AIDS; e talvez, então, eles
não sejam menos irracionais do que Thabo Mbeki.

Então, essa era a situação quando o empresário de pílulas de
vitamina Matthias Rath se infiltrou, de modo proeminente e pródigo,
com a riqueza que ele tinha amealhado na Europa e na América,
explorando as ansiedades anti-coloniais sem qualquer senso de ironia,
muito embora ele fosse um homem branco oferecendo pílulas fabricadas no
exterior. Seus reclames e clínicas eram um tremendo sucesso. Ele
começou a exibir alguns pacientes em especial como prova dos benefícios que
podiam advir das pílulas de vitaminas — embora, na verdade, alguns de
suas histórias de sucesso mais famosas tenham morrido de AIDS. Quando
perguntada sobre a morte dos pacientes-estrelas de Rath, a Ministra da
Saúde Tshabalala-Msimang retrucou: “Se eu estiver tomando antibióticos
e morrer, não quer dizer, necessariamente, que eu morri dos
antibióticos”.

Ela não está só: políticos da África do Sul consistentemente tem-se
recusado a tomar posição, enquanto Rath argumenta que tem o apoio do governo e os
funcionários mais graduados do governo se recusam a se por à parte de suas operações
ou criticar suas atividades. Tshabalala-Msimang declarou publicamente
que a Fundação Rath “não está prejudicando a posição do governo. Se
estiver fazendo algo, estará apoiando ela.”

Em 2005, exasperado pela inação do governo, um grupo de 199 médicos
de renome na África do Sul assinou uma carta aberta para as autoridades
de saúde da Província do Cabo Ocidental, pedindo ações contra a Fundação
Rath. “Nossos pacientes estão sendo inundados com propaganda que os
encoraja a parar com a medicação que salva suas vidas”, dizia a carta.
“Muitos de nós tivemos experiências com pacientes infectados pelo HIV que
tiveram sua saúde comprometida pelo cessamento (da administração de
seus medicamentos) anti-retrovirais devido às atividades dessa
fundação”. Os anúncios de Rath continuaram impávidos. Ele até alegou
que suas atividades eram endossadas por grandes listas de
patrocinadores e afiliados que incluíam a Organização Mundial de Saúde,
a UNICEF e a UNAIDS. Todos emitiram comunicados denunciando de pronto
suas alegações e atividades. O sujeito certamente é marrento.

Seus anúncios eram também ricos em alegações científicas detalhadas.
Seria errado que ignorássemos a ciência nessa história, de forma que
vamos analisar essa parte, especificamente aquela que se focalizava em
um estudo realizado pela Universidade de Harvard na Tanzânia. Ele
descrevia essa pesquisa em anúncios de página inteira, alguns dos quais
apareceram no New York Times e no Herald Tribune.
Ele se refere a esses anúncios pagos — devo mencionar — como se fossem
notícias elogiosas publicadas por esses jornais. De qualquer forma,
essa pequisa mostrava que suplementos multivitamínicos poderiam ser
benéficos para uma população do mundo em desenvolvimento com AIDS: não
há qualquer problema com esse resultado e há várias razões para
imaginar que vitaminas podem trazer algum benefício para uma população
doente e frequentemente mal nutrida.

Os pesquisadores alistaram 1.078 mulheres grávidas e HIV-positivas,
e as dividiram aleatoriamente em dois grupos: um que receberia um
suplemento vitamínico e outro que receberia um placebo. Notem mais uma
vez, por favor, que isto é outro teste de grande envergadura, bem conduzido, custeado
por verbas públicas, sobre vitaminas, conduzido por cientistas da linha
tradicional, o que contraria as alegações de nutricionistas de que tais
estudos não existem. As mulheres foram acompanhadas ao longo de vários
anos e, ao fim do estudo, 25% das mulheres do grupo que recebeu
vitaminas, estavam seriamente doentes ou mortas, em comparação com 31% das do
grupo do placebo. Também havia um benefício estatisticamente
significativo quanto à contagem de células CD4 (uma medida da
atividade do HIV) e das cargas virais. Esses resultados não eram de
modo algum dramáticos — e não podem ser comparados aos benefícios
salvadores de vidas dos anti-retrovirais — porém eles demonstram que
uma dieta melhorada, ou pílulas baratas de vitaminas genéricas,
poderiam representar uma maneira simples e relativamente barata de
retardar marginalmente a necessidade de começar a aplicação da
medicação anti-HIV em alguns pacientes.

Nas mãos de Rath, esse estudo se tornou uma prova de que pílulas de
vitamina são superiores a medicamentos no tratamento de HIV/AIDS, que
as terapias anti-retrovirais “causam danos sérios a todas as células no
corpo — inclusive as células brancas do sangue” e — pior — que elas “portanto não estavam melhorando, porém até piorando as
imunodeficiências e expandindo a epidemia de AIDS”. Os pesquisadores da
Escola de Saúde Pública de Harvard ficaram tão horrorizados que
publicaram um press-release afirmando seu apoio à medicação e
declarando preto-no-branco, sem qualquer ambiguidade, que Matthias Rath
tinha interpretado errado suas descobertas.

Para quem está de fora, a história é chocante e aterrorizante. As
Nações Unidas condenaram os anúncios de Rath como “errados e
enganosos”. “Esse cara está matando gente, enganando eles com um
tratamento não reconhecido e sem qualquer fundamento científico”, declarou
Eric Goemaere, diretor para a África do Sul dos Médecins
sans Frontières
(Médicos sem Fronteiras), um homem que foi pioneiro
na terapia anti-retroviral na África do Sul. Rath processou ele.

Não fo só atrás dos MSF que Rath foi: ele também levou aos tribunais
processos consumidores de tempo, de dinheiro, arrastados ou estagnados contra um professor
pesquisador da AIDS, críticos na mídia e outros.

Mas sua campanha mais hedionda foi dirigida contra a Campanha de
Ação (pelo) Tratamento (Treatment Action
Campaign). Por muitos anos essa foi a organização chave pelo acesso à
medicação anti-retroviral na África do Sul e ela tem lutado uma guerra
em quatro frentes. Em primeiro lugar, a TAC faz campanha contra seu
próprio governo, tentando compelí-lo a desenvolver campanhas de
tratamento para a população. Segundo, ela luta contra a indústria
farmacêutica que alega ter que cobrar o preço integral pelos seus
produtos nos países em desenvolvimento para custear as pesquisas e
desenvolvimento de novas drogas — embora, como veremos, dos $550
bilhões de faturamento anual global, a indústria farmacêutica gaste duas
vezes mais em propaganda e administração do que em pesquisa e
desenvolvimento. Terceiro, ela é uma organização não governamental
popular, composta principalmente por mulheres negras de pequenas vilas
que realizam um importante trabalho de prevenção, educação e tratamento
no campo, assegurando que as pessoas saibam os recursos disponíveis e
como se protegerem. Finalmente, ela luta contra pessoas que divulgam o
tipo de informação anunciado por Matthias Rath e sua laia.

Rath tomou a si lançar uma campanha maciça contra esse grupo. Ele
distribui material publicitário contra eles que diz “Os remédios da
Treatment Action Campaign estão matando você” e “Parem com o genocídio
da AIDS
criado pelo cartel dos remédios”, alegando — como você já deve ter
percebido — que há uma conspiração internacional das companhias
farmacêuticas com a intenção de prolongar a crise da AIDS para auferir
lucros, vendendo remédios que fazem as pessoas piorarem. A TAC deve
fazer parte dessa conspiração, prossegue o raciocínio, porque ela
critica Matthias Rath. Tal com eu quando escrevo acerca de Patrick Holford
ou Gillian McKeith, a TAC é perfeitamente a favor de uma boa dieta e
nutrição. Mas, na literatura promocional de Rath, ela é um testa-de-ferro
para a indústria farmacêutica, um “cavalo de Tróia” e um “sabujo”. A
TAC apresentou um completo relatório de seus patrocinadores e
atividades, mostrando que não há tal conexão: Rath não apresentou
qualquer prova em contrário e até perdeu uma questão na justiça sobre
esse assunto, mas não abandonou o bordão. Na verdade, ele apresenta
sua perda na justiça como sendo uma vitória.

O fundador da TAC é um homem chamado Zackie Achmat e ele é a coisa mais próxima de um herói que eu já vi. Ele é sul-africano e coloured,
de acordo com a nomenclatura do sistema de apartheid no qual ele
cresceu. Quando ele tinha 14 anos, tentou por fogo em sua escola e você
poderia ter feito o mesmo em circunstâncias semelhantes. Ele foi preso
e encarcerado sob o regime de ditadura branca, violenta e brutal, com
tudo o que isso acarreta. Ele também é homossexual e HIV-positivo, e se
recusou a tomar medicação anti-retroviral até que ela estivesse
disponível para todos no sistema público de saúde, mesmo quando ele
estava morrendo de AIDS, mesmo quando Nelson Mandela implorou
publicamente que ele salvasse a própria vida, ele próprio (Mandela) um
aliado público da medicação anti-retroviral e do trabalho de Achmat.

E agora. finalmente, chegamos ao ponto mais baixo dessa história
toda, não somente para o movimento de Matthias Rath, mas para todo o
movimento de terapias alternativas em todo o mundo. Em 2007, com um
enorme floreio para o público para conseguir cobertura da mídia, o
antigo empregado de Rath, Anthony Brink, entrou com uma queixa formal
contra Zackie Achmat, o presidente da TAC. Bizarramente, ele apresentou
sua queixa perante a Corte Criminal Internacional em Haia, acusando
Achmat de genocídio por liderar com sucesso uma campanha para obter
acesso para drogas contra o HIV para o povo da África do Sul.

É difícil explicar o quanto os “dissidentes da AIDS” são fortes na África do
Sul. Brink é um advogado, um homem com amigos importantes, e suas
acusações foram relatadas na imprensa nacional — e em alguns cantos da
imprensa gay internacional — como uma notícia séria. Eu não creio que
nenhum desses jornalistas que relataram isso, tenham lido a petição de
Brink até o fim.

Eu li.

As primeiras 57 páginas apresentam o familiar material
anti-medicação e “dissidente da AIDS”. Então, na página 58, a petição
subitamente se deteriora para algo mais perigoso e doentio, quando Brink
apresenta o que ele acha que seria uma punição adequada para Zackie.
Uma vez que eu não quero ser acusado de edição seletiva, eu vou
reproduzir para todos a parte final inteira, sem cortes, de forma que
todos possam ver e sentir por si próprios.

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Tradução do documento acima:

Sanção Penal Apropriada

Tendo
em vista a escala e a gravidade do crime de Achmat e sua
responsabilidade criminal direta pelas “mortes de milhares de pessoas”,
para usar suas próprias palavras, respeitosamente propomos à Corte
Criminal Internacional que deve ser imposta ao réu a pior sentença
prevista no Artigo 77.1 (b) do Estatuto de Roma,
especificamente, o confinamento permanente em uma pequena jaula de
concreto e aço, pintada de branco, com uma brilhante luz fluorescente
ligada permanentemente para mantê-lo sob vigilância, com seus
carcereiros pondo-o a trabalhar todos os dias na prisão para cultivar
verduras ricas em nutrientes, inclusive quando estiver chovendo. Para
que ele pague seu débito com a sociedade, que lhe sejam administradas
diariamente as drogas ARV que ele alega tomar, sob supervisão médica,
na totalidade da dosagem prescrita, pela manhã, tarde e noite, sem
interrupção, para impedí-lo de fingir que está seguindo o tratamento,
enfiadas, caso necessário, por sua goela abaixo com os dedos, ou, se
ele morder, chutar e gritar demais, injetadas em seu braço, depois que
ele tenha sido amarrado em uma padiola pelos tornozelos, pulsos e
pescoço, até que ele entregue sua alma, de forma a erradicar este
veneno, o mais desprezível, inescrupuloso e malevolente que já infestou
e envenenou o povo da África do Sul, em sua maioria negros, em sua
maioria pobres, por quase uma década atualmente, desde que sua TAC
entrou em cena.

Assinado na Cidade do Cabo, África do Sul, em 1 de janeiro de 2007

a) Anthony Brink

Este documento foi descrito pela Fundação Rath como “inteiramente válido e já devido há muito tempo”.

Esta história não é sobre Matthias Rath, ou Anthony Brink, ou Zackie
Achmat, ou mesmo sobre a África do Sul. Ela é sobre a noção cultural sobre como
as idéias funcionam e como ela pode deixar de funcionar. Doutores criticam
outros doutores,
acadêmicos criticam acadêmicos, políticos criticam políticos:
isso é normal e saudável, é como as idéias melhoram. Matthias Rath é um
terapeuta alternativo, feito na Europa. Ele é semelhante em cada
pedacinho aos operadores britânicos que vimos neste livro. Ele pertence
ao mundo deles.

Apesar dos extremos deste caso, nem um único terapeuta ou
nutricionista alternativo, em qualquer parte do mundo, se levantou para
criticar um único aspecto das atividades de Matthias Rath e seus
colegas. Na verdade, longe disso: ele continua sendo festejado até
hoje. Eu fiquei perplexo em ver figuras eminentes no movimento de
terapia alternativa no Reino Unido aplaudirem Matthias Rath em uma
conferência pública (eu tenho ela em vídeo, só para o caso de alguém
duvidar). Organizações de saúde natural continuam defendendo Rath. A
propaganda dos homeopatas continua a promover o trabalho dele. A
Associação Britânica de Terapeutas Nutricionais tem sido convidada por
blogueiros a comentar, mas declina. A maior parte, quando interpelada,
responde evasivamente: “Oh!… Eu não sei realmente muito sobre isso”.
Nenhuma pessoa dá um passo à frente e discorda.

O movimento pela terapia alternativa, como um todo, se demonstrou
ser tão perigosamente, sistematicamente incapaz de auto-crítica que não
consegue fazer frente nem a um caso como o de Rath: nesta conta eu
incluo dezenas de milhares de praticantes, escritores, administradores
e outros. É assim que as idéias vão de mal a pior. Na conclusão deste
livro, eu argumento que os piores perigos colocados pelo material
abordado são de natureza cultural e intelectual.

Eu posso estar errado.

/.

Por favor divulguem

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Coloquei uma cópia desta tradução, em formato PDF, no 4Shared. Para dar download, clique aqui.

Discussão - 1 comentário

  1. Paula disse:

    Estou embasbacada... talvez eu volte depois, quando conseguir materializar em palavras a minha indignação.

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