Sonda MESSENGER descobre um Mercúrio mais ativo que o esperado
[MESSENGER Spacecraft Reveals a Very Dynamic Planet Mercury]
WASHINGTON
— Uma sonda da NASA que sobrevoou a superfície de Mercúrio, revelou que a atmosfera do planeta, a interação de seu campo magnético com o vento solar e seu passado geológico mostram um nível de atividade muito maior do que os cientistas suspeitavam até agora. A mesma sonda descobriu também uma grande cratera de impacto, até então desconhecida, com cerca de 690 km de diâmetro — a mesma distância de Washington a Boston.
As análises dessas novas descobertas e mais, são relatadas em quatro artigos publicados na edição de 1 de maio da revista Science. Os dados vêm da espaçonave MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry and Ranging = MESSENGER (Superfície, Ambiente Espacial, Geoquímica e Plotagem de Mercúrio). Em 6 de outubro de 2008, a sonda sobrevoou Mercúrio pela segunda vez, captando mais de 1.200 imagens coloridas em alta definição do planeta. A sonda revelou outros 30% da superfície do planeta que nunca tinham sido avistados por qualquer espaçonave anterior, coletando dados essenciais para o planejamento do restante da missão.
Sean Solomon, da Instituição Carnegie de Washington, o principal investigador dessa missão, disse: “Este segundo sobrevoo de Mercúrio nos proporcionou uma série de descobertas. Uma das maiores surpresas foi a variação da dinâmica da interação do campo magnético do planta com o vento solar, comaparada à observada no primeiro sobrevoo de Mercúrio em janeiro de 2008. A descoberta de uma bacia de impacto grande e surpreendentemente bem conservada mostra uma atividade vulcânica concentrada e atividade tectônica”.
A espaçonave também detectou, pela primeira vez, a presença de magnésio na fina atmosfera de Mercúrio, conhecida como uma exosfera. Esta observação e outros dados confirmam que o magnésio é um componente importante dos materiais da superfície de Mercúrio.
O instrumento Espectrômetro de Composição da Atmosfera e Superfície de Mercúrio na sonda, detectou o magnésio. A descoberta de magnésio não foi surpreendente para os cientistas, mas a quantidade e a distribuição eram bem maiores que o esperado. O mesmo instrumento também mediu outros componentes da exosfera, inclusive cálcio e sódio.
“Isto é um exemplo do tipo de descobertas individuais que a equipe de ciências vai reunir para nos dar um novo quadro sobre como o planeta se formou e evoluiu”, declarou William McClintock, co-investigador e autor principal de um dos quatro artigos. McClintock, que é do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial da Universidade de Colorado em Boulder, suspeita que outros elementos metálicos da superfície, incluindo alumínio, ferro e silício, também contribuem para a exosfera.
A variabilidade que a espaçonave observou na magnetosfera de Mercúrio, o volume de espaço dominado pelo campo magnético do planeta, até agora apoia a hipótese de que as grandes mudanças diárias na atmosfera de Mercúrio podem ser resultantes de modificações na blindagem proporcionada pela magnetosfera.
“A espaçonave observou uma magnetosfera radicalmente diferente em Mercúrio durante o segundo sobrevoo, em comparação com o prévio encontro em 14 de janeiro”, declarou James Slavin do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt,
Maryland. Slavin é também um co-investigador na missão e autor principal de um dos artigos. “Durante o primeiro sobrevoo, foram realizadas importantes descobertas, porém os cientistas não detectaram quaisquer características dinâmicas. O segundo sobrevoo testemunhou uma situação completamente diferente”.
A descoberta da bacia de impacto, chamada de Rembrandt, marca a primeira vez que os cientistas observam o solo bem exposto em uma grande bacia de impacto em Mercúrio. As formações do solo, tais como essas reveladas no chão de Rembrandt, usualmente ficam cobertas por fluxos vulcânicos.
“Essa bacia se formou a cerca de 3,9 bilhões de anos, perto do fim do período de bombardeamento pesado no sistema solar interior”, explicou Thomas
Watters do Instituto Smithsonian em Washington, um dos cientistas participantes e autor principal de um dos artigos. “Embora antiga, a bacia Rembrandt é mais jovem do que a maioria das outras bacias de impacto conhecidas em Mercúrio”.
Metade de Mercúrio era desconhecida até pouco mais de um ano atrás. Os globos que representavam o planeta ficavam com um lado em branco. As imagens colhidas por espaço- naves permitiram que os cientistas vissem 90% da superfície do planeta em alta definição. A nova cobertura por imagens da superfície, após esse segundo sobrevoo, permite aos cientistas uma nova compreensão de como a crosta do planeta se formou.
“Depois de mapear a superfície, vemos que aproximadamente 40% é coberta por planícies suaves”, disse Brett Denevi da Universidade do Estado do Arizona em Tempe, membro da equipe e autor principal de um dos artigos. “Muitas dessas planícies suaves são tidas como sendo de origem vulcânica e ficam distribuídas por todo o planeta. Grande parte da crosta de Mercúrio pode ter-se formado através de repetidas erupções vulcânicas de modo muito mais semelhante à crosta de Marte do que à da Lua”.
Os cientistas continuam a examinar os dados dos dois primeiros sobrevoos e estão se preparando para recolher mais informações de um terceiro sobrevoo em 29 de setembro.
“O terceiro sobrevoo de Mercúrio é o ensaio geral final para o principal ato de nossa missão: a colocação da sonda na órbita de Mercúrio no entorno de março de 2011”, disse Solomon. “A fase orbital será como se realizássemos dois sobrevoos por dia e permitirá a coleta contínua de informações acerca do planeta e seu ambiente por um ano. Mercúrio tem-se mos- trado tímido em revelar seus segredos até agora, mas em menos de dois anos o planeta mais interior terá se tornado um velho conhecido”.
O projeto MESSENGER é o sétimo do Programa Discovery da NASA de missões científicas de baixo custo. O Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, Maryland., projetou, construiu e opera a espaçonave e gerencia a missão para o Diretório de Missões Científicas da NASA em Washington. Os instrumentos científicos fo- ram construídos pelo Laboratório de Física Aplicada; Centro Goddard; Universidade de Michigan em Ann Arbor;e Universidade do Colorado em Boulder. GenCorp Aerojet de Sacramento, Califórnia e Composite Optics Inc. de San Diego forneceram o sistema de propulsão e a estrutura composta.
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