As águas-vivas fazem bem mais do que boiar ao sabor das ondas
[ Jellyfish: Far from Passive Drifters-in-the-Currents ]
“Biomistura” feita pelos animais flutuantes “bate” as águas dos oceanos, mares e lagos
A cientista Kakani Young do Caltech usa um novo sistema de captura de imagens nas águas-vivas no Lago das Águas-vivas em Palau. |
8 de maio de 2009
Se você fosse mergulhar logo antes da aurora no popular Lago das Águas-vivas em Palau, você teria muitas companhias: milhões de águas-vivas douradas, conhecidas pelos cientistas como Mastigias papua, perambulam pela metade Oeste do lago, esperando o nascer do Sol.
Com os primeiros raios de Sol, o Lago das Águas-vivas, localizado a pouco mais de 1.000 km das Filipinas no arquipélago-nação de Palau, ganha vida. Quando o Sol aumenta no Leste, as águas-vivas douradas se viram e nadam na direção dos raios de Sol.
As águas-vivas precisam da luz solar para sustentar as zooxantelas dentro de seus tecidos; as zooxantelas, por sua vez, sustentam as águas-vivas.
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Uma vista do Lago das Águas-vivas, com as águas-vivas douradas seguindo o Sol através de uma superfície encarpelada pelo vento. |
Por várias horas as águas-vivas nadam, com as contrações de suas barrigas jamais cessando, até que se aproximam do lado Leste do lago.
Seguindo o Sol nascente, as águas vivas são detidas, não pela margem do lago, mas pelas sombras lançadas pelas árvores ciliares – que elas evitam meticulosamente.
Milhões de águas-vivas que sairam do Oeste, agora estão densamente concentradas em torno da borda leste do lago. Por algumas horas por volta do meio dia, elas ficam estáticas, tomando banho de Sol.
Depois, à tarde, o ciclo do Sol – e o ciclo das águas-vivas – reverte e as águas-vivas nadam para o Oeste. As águas-vivas todo dia perfazem uma viagem de ida e volta, do Oeste ao Leste, entre o nascer e o por do Sol.
Os cientistas marinhos Michael Dawson da Universidade da Califórnia em Merced e John Dabiri do Instituo de Tecnologia da Califórnia chamam esses movimentos das águas-vivas de “biomistura” – à medida em que nadam, elas vão misturando e misturando as águas e os nutrientes do lago.
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Foto de uma (entre milhões de) água-viva nas águas azul-turquesa do Lago. |
Dawson e Dabri descobriram que as águas-vivas tais como a Mastigias papua e a Aurelia aurita (Medusa-da-Lua)
usam seus movimentos corporais para gerar um fluxo de água que traz pequenos copépodes até seu alcance. “Está aberta a discussão sobre o papel dessa ‘turbulência submarina’ criada pelas águas-vivas no ‘orçamento energético’ dos oceanos”, diz Dabiri.
Ele e Dawson estão investigando se a biomistura pode ser responsável por uma importante parte de como as águas dos oceanos, mares e lagos formam redemoinhos, ou correntes em forma de anel, que trazem nitrogênio, carbono e outros elementos de uma parte de um corpo d’água para outra.
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O Lago das Águas-vivas é um entre os 70 lagos de água salgada nas ilhas do Pacífico.. |
Através desse processo, águas- vivas e outros zooplânctons – onde eles são abundantes, como no Lago das Águas-vivas – podem, de alguma maneira, afetar o clima da Terra.
Dawson sugere: “A biomistura pode ser uma forma de ‘engenharia de ecossistema” das águas-vivas e uma peça importante para o sequestro de carbono, especialmente nas águas costeiras semi-fechadas”.
Com financiamento da Divisão de Ciências Oceânicas da Fundação Nacional de Ciências (NSF), Dawson e Dabiri estão analisando a biomistura. Entre outros instrumentos, eles usam o SCUVA – Self-Contained
Underwater Velocimetry Apparatus (Aparelho de Velocietria Submarina Autônomo) – para medir o fluxo de água em volta das águas-vivas.
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Uma estação meteorológica monitora as condições no Lago das Águas-vivas. |
O diretor do Programa de Oceanografia Biológica da NSF, David Garrison, diz: “A aplicação de novas tecnologias nos permite ver como os processos realmente ocorrem na natureza. Os resultados deste estudo podem mudar alguns de nossos conceitos mais arraigados sobre os processos de misturas nos oceanos”.
A visão das águas-vivas como bichos passivos que seguem as correntes, pode precisar ser revista, diz Cynthia
Suchman do Programa de Oceanografia Biológica da NSF.
O Lago das Águas-vivas, que os papuanos chamam de Ongeim’l Tketau
(que quer dizer, “quinto lago”, por motivos desconhecidos), é um dos mais de 70 lagos de água salgada nas ilhas do Pacífico. O lago, atualmente, está completamente separado do mar, mas, no passado distante, tinha um canal de comunicação com o oceano.
A abertura se fechou eventualmente e a população de águas-vivas ficou isolada, alcançando os milhões.
De noite, as águas-vivas descem para uma camada inferior de sulfeto de hidrogênio. Embora o mergulho em águas superficiais do lago seja permitido, o mergulho com SCUBA é proibido para evitar perturbar as águas-vivas e reduzir o risco de envenenamento por sulfeto de hidrogênio.
Em dezembro de 1998, a população de águs-vivas Mastigias papua do lago, que usualmente andava pela casa dos 10 milhões, desapareceu completamente. A temperatura do lago aumentou vários graus depois do El Niño de 1997-98.
Então, em 2001, o lago esfriou, uma nova geração de águas-vivas proliferou e, desde então, não tem acontecido qualquer aumento de temperatura – nem falta de águas-vivas.
Enquanto os cientistas procuram as respostas, as águas-vivas douradas continuam sua tradicional migração de Oeste para Leste e de volta, sempre buscando o Sol.
“A questão real”, diz Dawson, “é se é o lago que mantém as águas-vivas vivas… ou se as águas-vivas mantém o lago”.
Cheryl Dybas, NSF
Discussão - 2 comentários
Ah, adorei saber disso. Deu saudade tb... 🙂
aguas vivas pode ter um grande risco para as pessoas serem queimadas mas nos precisamos delas porque acredito que cada um dos animais tem sua inporatncia