Os elétrons são indivisíveis? Talvez…
uma equipe das Universidades de Cambridge e Birmingham demonstrou que os elétrons em fios estreitos pode se dividir em duas novas partículas chamadas spinons e holons.
O “se dividir” é meio que uma licença poética… O que realmente acontece é que em um fio excepcionalmente fino (chamado de “fio quântico”) os elétrons (que têm cargas EM iguais) se repelem mutuamente e criam o que, em física de matéria condensada, se chama de elétron-buraco: uma ausência de um elétron que funciona como se houvesse um posítron no espaço correspondente.
Em 1981 o físico Duncan Haldane conjeturou teoricamente que, nessas condições de limitação de espaço e em temperaturas extremamente baixas, os elétrons iriam se comportar de maneira que seus campos elétrico e magnético assumisse a forma de duas partículas distintas que ele chamou de spinions (de “spin”) e holons (de “hole” = “buraco” em inglês).
O desafio consistia em criar um “fio quântico” que confinasse os elétrons, e trazer esse fio próximo o suficiente de um metal comum, de forma que os elétrons do metal pudessem realizar um “salto quântico” (por meio do “tunelamento quântico”) para dentro do fio. Observando como o ritmo de saltos varia em função de um campo magnético aplicado, a experiência pode revelar como o elétron, ao entrar no fio quântico, se “separa” em spinions e holons.
Isso foi feito mediante a colocação de um pente de fios acima de uma nuvem plana de elétrons em um metal. Assim, os físicos de Cambridge, Yodchay Jompol e Chris Ford, puderam ver distintamente as assinaturas das novas partículas, exatamente como os teóricos, Tim Silk e Andy Schofield, de Birmingham tinham previsto.
O Dr Chris Ford do Laboratório Cavendish da Univesidade de Cambridge descreve:
“Tivemos que desenvolver uma nova tecnologia para fazer passar uma corrente entre um fio e uma folha [metálica] separadas por apenas 30 diâmetros atômicos.”
“As medições tiveram que ser realizadas em temperaturas extremamente baixas: cerca de um décimo de grau acima do zero absoluto.
“Os fios quânticos são largamente empregados para conectar ‘pontos’ quânticos, os quais podem vir a ser no futuro a base de um novo tipo de computador – o chamado computador quântico. Assim, compreender suas propriedades pode ser importante para tais tecnologias quânticas, além de auxiliar no desenvolvimento de teorias mais completas sobre a super-condutividade e a condutividade nos sólidos em geral. Isto pode levar a uma nova revolução nos computadores”.
O Professor Andy
Schofield, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Birmingham, diz:
“O experimento para testar isso se baseia em uma ideia que eu e mais três colegas tivemos, fazem quase dez anos. Naquela época, a tecnologia necessária para realizar o teste ainda estava a anos de distância.”
“O notável nesta nova experiência não é somente a clareza com que se pode observar o spinion e o holon, o que confirma alguns estudos anteriores, mas que o spinion e o holon sejam visíveis bem além da região originalmente imaginada por Duncan Haldane”.
“Nossa capacidade em controlar o comportamento de um único elétron é a responsável pela revolução dos semicondutores que levou a computadores mais baratos, iPods e outros. Se vamos ser capazes de controlar essas novas partículas com o mesmo sucesso dos elétrons isolados, é algo ainda por se descobrir. O que isso revela é que espremer elétrons em um ambiente confinado faz emergir novas propriedades e até novas partículas”.
Notas:
1. O artigo original foi publicado em Science 10.1126/science.1171769 em http://dx.doi.org/10.1126/science.1171769
2.
A experiência foi realizada no Laboratório Cavendish em Cambridge com o apoio teórico da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Birmingham.
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