Os Reis Magos eram cientistas?… Hmmm…

Hoje eu vou dar uma de “Dan Brown dos Pobres”. E a motivação não poderia ser mais esdrúxula: a afirmação do Papa Bento que (eles) “eram homens de ciência em um sentido amplo” (segundo a notícia do portal G-1).

Isso me lembrou uma antiga ideia que eu tive para um sci-fi (de quinta) que acabou nunca saindo do domínio do “um-dia-eu-escrevo”.

O cerne da ideia é o seguinte “poderia-ser” (Asimov dizia que um bom sci-fi deve conter apenas um “poderia-ser” e o resto tinha que ser historica e cientificamente plausível): os “antigos” realmente tinham grandes conhecimentos científicos, disfarçados de “religião” para não cairem nas mãos da plebe e dos politiqueiros governantes.

Ah!… Sim… Um pressuposto é que as narrativas da época de Jesus tenham sido distorcidas pela ignorância e o fanatismo “milagreiro”, notadamente na Idade Média, e coisas corriqueiras tenham sido tomadas ao pé da letra, causando grandes confusões na exegese.

Chega de preâmbulos.

A ideia é que os sacerdotes Judaicos, não só tinham conhecimentos (um tanto rudimentares) de engenharia genética, como usaram isso para criar um “Messias”. Infelizmente (para eles), o plano “vazou”… Começou a vazar quando alguns membros da elite sacerdotal – impacientes com o andamento dos estudos e experimentos – começaram a “profetizar” a vinda do  Messias. Um pouco parecido com certos press-releases das academias atuais que, com base em uma experiência bem sucedida em laboratório, anunciam uma revolução tecnológica.

Bom… Uma coisa que até hoje é assim: a ciência ignora solenemente as fronteiras. Supondo que as elites sacerdotais tivessem mesmo conhecimentos “ocultos” de ciência, essa “ciência” jamais estaria restrita à Judéia. Portanto, não seria em nada espantoso que, uma vez publicado o “vellum” (naquele tempo os papers eram bem mais raros…), uma comissão de notáveis estrangeiros viesse fazer uma peer-revision. Entram em cena Gaspar, Melchior e Baltazar que vêm dos confins da Terra (pelo menos segundo a visão bairrista e limitada do povo judaico – no que são seguidos até hoje pelos habitantes dos países que se tornam Mecas científicas: um gari de Cambridge, Massachusetts, pode se achar superior a um colega seu de outra cidade porque varre as ruas do MIT).

Essas suposições “explicam” diversas passagens do Novo Testamento que jamais me convenceram. A primeira é a embaraçosa dupla-árvore-genealógica de Jesus. Não só os Evangelistas discordam na linhagem de Davi até Jesus, como discordam até no número de gerações. E ambas as linhagens levam a José que, segundo os dogmas católicos, não tinha nada a ver com o peixe… A segunda é a (ridícula) “virgindade” de Maria (tá bem!… eu sei que é um erro de tradução!… mas deixe eu delirar…): inseminação artificial!  O processo de manutenção do esperma “perdeu-se, junto com a Biblioteca de Alexandria” (a desculpa favorita…) Mas, pelo menos, tira José da incômoda posição de “Anfitrião” (essa eu vou deixar para vocês procurarem…)

Já existem especulações de que o “ouro, incenso e mirra” que teriam sido ofertados pelos Reis Magos (uma corruptela de “reitor” ou título semelhante…), fossem, na verdade, medicamentos cuja aparência e fragrância causou a confusão nos registros.

Só que os Reis Magos – decerto acostumados a confiarem nos governos de seus locais de origem – cairam na asneira de confiar em Herodes e até de revelar a ele as linhas gerais do experimento, o que teve duas consequências: uma foi o episódio conhecido como “a matança dos inocentes”; outra foi uma mobilização sem par dos conspiradores para fazer a Sagrada Família escapar da Judéia. Eu nunca consegui entender como uma família, descrita como ‘pobre”, conseguiu cruzar o deserto, escapando das patrulhas, e chegar… ora, ora!… ao Egito!…

E essa estadia (longa, concedam…) no Egito não consta de relato evangélico algum… o que dá margem a toda sorte de especulação sobre a educação de Emanuel Bar Josef… Mas, curiosamente, a próxima passagem lembrada dá conta de que o menino foi, certa feita, encontrado por sua preocupada mãe (“onde será que esse menino foi se meter?”…) discutindo teologia com os “Doutores” do Templo. Unmöglich, não é?… Altos Sacerdotes discutindo a Torá com um moleque?… Só se eles soubessem que tinham que ensinar àquele menino.

O resto já foi exaustivamente debatido: como a “criatura” escapou ao controle dos “criadores” e, em lugar de liderar a rebelião libertadora contra os romanos, passou a contestar a elite Sacerdotal; como a elite sacerdotal acabou por se aliar aos opressores para se livrar daquele “subversivo” que ensinava que era melhor orar às escondidas do que oferecer sacrifícios no Templo (tratando de maneira extremamente rude os bons comerciantes que tanto$ $acrifício$ faziam pela administração do Templo), como ele foi preso, torturado (a troco de que, ninguém sabe…) e executado, mas, após dado (oficialmente) como morto, reapareceu e sumiu novamente, sem dar maiores satisfações.

Talvez o Papa esteja correto: os “Reis Magos” talvez fossem mesmo cientistas da época. E – quem sabe?… – a “fé” deles fosse a mesma que a dos atuais cientistas: foram in loco apreciar o experimento…

Se isso for verdade e for do conhecimento (como dizem que é…) dos “Guardiões dos Segredos do Vaticano”, estes devem estar comentando: “Esse Papa Bento!… Mas, será o Benedito?…”


(Pronto! Se o Dan Brown vier com uma estória parecida, eu já posso acusar de plágio!…)

Discussão - 3 comentários

  1. Alessandro disse:

    Ótimo livro João, fiquei até imaginando as cenas para o filme. Só um comentário, tem uma árvore genealógica (da igreja católica) que mostra a ascedência de Maria até Davi, onde Maria e José teria um avô em comum, Matã, pai de Jacó (que é Pai de José) e Ana (que é Mãe de Maria) (Maria e José eram primos?), e além disso a ascendência de Maria por parte de pai também chega em Davi. Mas enfim, o que me intriga é como uma família descendente de Reis (do próprio Salomão!) era pobre?

  2. Igor Santos disse:

    Sensacional!
    João, eu adoro quando você escreve!

  3. João Carlos disse:

    Concordo com sua reserva. José é sempre caracterizado como um "humilde carpinteiro", mas, para a sociedade da época, um carpinteiro dificilmente seria alguém entre os mais "pobres" de qualquer cidade.
    Eu acredito que isso seja mais um caso de "significado perdido na tradução". Em lugar de "pobre", talvez possamos dizer "um ramo pouco importante da família real".

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