Inflações secundárias? Pode ser…

Nova teoria de inflação secundária apresenta novas opções para evitar o problema de um excesso de matéria escura

Físicos sugerem que um período menor de expansão inflacionária nos instantes logo após o Big Bang podem explicar a quantidade estimada dessa matéria misteriosa

DOE/BROOKHAVEN NATIONAL LABORATORY

14 de janeiro de 2016 – UPTON, NY — A cosmologia padrão – ou seja, a Teoria do Big Bang, com seu período inicial de expansão exponencial – é o modelo mais aceito para nosso universo, no qual todo o espaço e tempo incharam como um balão, a partir de um ponto muito quente e muito denso, para virar uma vastidão homogênea e sempre em expansão. Essa teoria dá conta de vários fenômenos físicos que observamos. Mas e se isso não for tudo?

Uma nova teoria dos físicos do Laboratório Nacional de Brookhaven, do Laboratório Nacional do Acelerador Fermi e da Universidade Stony Brook, que será publicada online em 18 de janeiro em Physical Review Letters, sugere ter havido um segundo período inflacionário mais curto que pode dar conta da quantidade estimada de matéria escura no cosmos.

“Em geral, uma teoria fundamental da natureza pode explicar certos fenômenos, mas ela pode, no fim, não acabar dando a quantidade certa de matéria escura”, argumenta Hooman Davoudiasl, líder de grupo no Grupo Teórico de Altas Energias do Laboratório Nacional Brookhaven e um dos autores do artigo. “Se você acabar com pouca matéria escura, sempre pode sugerir uma nova fonte para esta, porém matéria escura demais é um problema”.

Medir a quantidade de matéria escura no universo não é uma tarefa fácil. Ao fim e ao cabo ela é escura, de forma que não interage de maneira significativa com a matéria comum. Não obstante, os efeitos gravitacionais da matéria escura dão aos cientistas uma boa ideia de quanto dela existe por aí. As melhores estimativas indicam que ela perfaz cerca de um quarto do total de massa-energia do universo, enquanto que a matéria comum – esta que compõe as estrelas, nosso planeta e nós mesmos – compreende apenas 5%. A matéria escura é a substância dominante no universo, o que levou os físicos a criar teorias e experiências para explorar suas propriedades e entender o que deu origem a ela.

Algumas teorias que apresentam explicações elegantes para certas esqusitices na física que nos deixam perplexos – por exemplo, a pasmante fraqueza da gravidade em comparação com as outras interações fundamentais (eletromagnética, nuclear forte e nuclear fraca) – não podem ser totalmente aceitas porque predizem mais matéria escura do que as observações empíricas podem apoiar.

Esta nova teoria soluciona este problema. Davoudiasl e seus colegas adicionam um novo passo à sequência de eventos comumente aceita na criação do espaço e tempo.

Na cosmologia padrão, a expansão exponencial do universo – chamada de inflação cósmica – teve início provavelmente logo aos 10-35 segundo depois do começo do tempo – isso é zero vírgula 34 zeros, um. Essa expansão explosiva de todo o espaço durou meras frações de uma fração de segundo, o que levou eventualmente a um universo quente, seguido de um período de resfriamento que continua até os presentes dias. Então, quando o universo tinha entre alguns segundos e alguns minutos de idade – ou seja, ficou frio o bastante – começou a formação dos elementos mais leves. Entre esses marcos, podem ter acontecido outros interlúdios inflacionários. argumenta Davoudiasl.

“Eles não teriam sido grandiosos ou tão violentos como o inicial, mas poderiam dar conta de uma diluição da matéria escura”, explica ele.

No começo, quando as temperaturas ultrapassavam bilhões de graus em um volume de espaço relativamente pequeno, as partículas de matéria escura podiam se chocar e se aniquilarem no contato, passando sua energia para os constituíntes da matéria comum – partículas tais como elétrons e quarks. Mas, na medida em que o universo continuou a se expandir e esfriar, as partículas de matéria escura se encontravam cada vez menos vezes e a taxa de aniquilação não conseguia dar conta da taxa de expansão.

“Neste ponto, a abundância de matéria escura foi cozinhada com o resto do bolo”, prossegue Davoudiasl. “Lembrem-se que a matéria escura interage de maneira muito fraca. Dessa forma, não pode continuar a existir uma taxa de aniquilação significativa em temperaturas mais baixas. A auto-aniquilação da matéria escura se torna ineficaz bem cedo e a quantidade de partículas de matéria escura fica congelada”.

No entanto, quanto mais fracas forem as interações da matéria escura – ou seja, quanto menos eficiente for a auto-aniquilação – maior deveria ser a abundância final de partículas de matéria escura. Na medida em que as experiências colocam restrições cada vez maiores na força das interações da matéria escura, algumas teorias correntes acabam por superestimar a quantidade de matéria escura no universo. Para colocar as teorias em alinhamento com as observações, Davoudiasl e colegas sugerem que aconteceu um outro período inflacionário, alimentado por interações em um “setor oculto” da física. Esse segundo período de inflação, mais suave, caracterizado por um rápido crescimento do volume, teria diluído a abundância primordial de partículas, potencialmente deixando o universo com a densidade de matéria escura que observamos atualmente.

“Definitivamente não é a cosmologia padrão, mas temos que aceitar que o universo pode não ser governado pela maneira padrão que pensamos”, disse ele. “Porém, não tivemos que construir alguma coisa complicada. Nós demonstramos que um modelo simples pode obter essa pequena quantidade de inflação no universo primevo e dar conta da quantidade de matéria escura que acreditamos haver por aí”.

Provar a teoria é outra coisa totalmente diferente. Davoudiasl diz que pode haver uma maneira de procurar por, pelo menos, as mais fracas interações entre o setor oculto e a matéria comum.

“Se esse período inflacionário secundário aconteceu, ele pode ser caracterizado por energias dentro do alcance de experiências em aceleradores tais como o Relativistic Heavy Ion Collider (RHIC) e o Large Hadron Collider,” diz ele. Somente o tempo dirá se os sinais de um setor oculto vão aparecer ns colisões dentro desses aceleradores, ou em outras instalações experimentais.

###

Um quasar de pança cheia

EurekAlert

Um quasar quieto aparentemente engoliu tudo o que podia

UNIVERSIDADE DE WASHINGTON

IMAGE

IMAGEM: Concepção artística do quasar que mudou de aparência, tal como ele apareceu pela primeira vez no início de 2015. A região brilhante em azul mostra o restinho de gás sendo engolido pelo Buraco Negro central.

Crédios: DANA BERRY / SKYWORKS DIGITAL, INC.

Os astrônomos da Sloan Digital Sky Survey (SDSS) anunciaram que um quasar distante encheu a pança.

Suas conclusões, relatadas no Encontro da American Astronomical Society, em Kissimmee, Florida, em 8 de janeiro, explicam por que o quasar SDSS J1011+5442 mudou tão dramaticamente nos poucos anos entre as observações.

“Nós estamos acostumados a pensar que os céus são imutáveis”, explica o professor de astronomia da Universidade de Washington Scott Anderson, que é o principal investigador da Pesquisa Espectrocópica de Domínio de Tempo da SDSS. “A SDSS nos proporciona uma grande oportunidade de ver a mudança assim que ela acontece”.

Os quasares são as áreas compactas no centro das grandes galáxias no meio das quais normalmente há um buraco negro massivo. Por exemplo, o buraco negro no centro da J1011+5442 tem uma massa cerca de 50 milhões de vez a de nosso Sol. À medida em que o buraco negro engole o gás superaquecido, ele emite vastas quantidades de ondas de luz e rádiofrequência. Quando os astrônomos da SDSS fizeram suas primeiras observações da J1011+5442 em 2003, eles mediram o espectro do quasar, o que lhes permitiu compreender as propriedades do gás que estava sendo absorvido pelo buraco negro. Em particular, a proeminente linha de “hidrogênio-alpha” no espectro, revelava quanto gás estavga caindo para dentro do buraco negro central.

A SDSS mediu outro espectro desse quasar no início de 2015 e percebeu uma enorme diminuição de 2003 para 2015. A equipe então se valeu de observações adicionais feitas por outros telescópios ao longo desses 12 anos para estreitar o período da mudança.

“A diferença era abaladora e sem precedentes”, disse o estudante de pós-graduação em astronomia da UW John Ruan, membro da equipe. “A emissão de hidrogênio-alpha caiu para algo 50 vezes menor em menos de 12 anos e o quasar agora se parece com uma galáxia normal”.

A mudança foi tão grande que toda a colaboração SDSS e toda a comunidade de astronomia passou a chamá-lo de “quasar que mudou de aparência”. O buraco negro continua lá, é claro, porém nos últimos 10 anos parece ter engolido todo o gás em suas vizinhanças. Com o gás todo absorvido pelo buraco negro, a equipe da SDSS não foi capaz de detectar a assinatura espectroscópica do quasar.

“Esta é a primeira vez que vemos um quasar desligar tão dramática e rapidamente”, diz a principal autora Jessie Runnoe, pesquisadora pós-doutorado na Pennsylvania State University.

Antes de Runnoe, Ruan e seus colegas chegarem a essa conclusão, tinham que eliminar outras duas possibilidades. Uma nuvem de poeira poderia ter-se interposto entre os observadores e a Terra, obscurecendo a visão do burco negro central. Porém, concluíram que de forma alguma qualquer nuvem de poeira pudesse ter-se movido rápido o suficiente para causar uma queda de 50 vezes na luminosidade em apenas dois anos. Outra possibilidade era que o brilhante quasar observado em 2003 fosse apenas um clarão temporário causado pela absorção pelo buraco negro de uma estrela próxima. Embora essa possibilidade tenha sido aventada em casos similares, ela não pode explicar o fato que o quasar que mudou de aparência, tenha brilhado por tantos anos antes de apagar.

A conclusão da equipe é que o quasar gastou todo o gás quente e brilhante em suas vizinhanças, o que levou a um rápido declínio em seu brilho.

“Essencialmente, ele ficou sem comida, pelo menos por enquanto”, diz Runnoe. “Nós fomos felizes em termos flagrado ele antes e depois”.

O quasar que mudou de aparência é a maior descoberta relatada pela Pesquisa Espectrocópica de Domínio de Tempo, um componente da quarta fase da SDSS que vai prosseguir pelos próximos anos.

“Nós descobrimos esse quasar porque voltamos para estudar novamente milhares de quasares já vistos antes”, disse Anderson. “Essa descoberta só foi possível porque a SDSS tem tanta profundidade e continuou por tanto tempo”.

###

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM