Biólogos, por favor me expliquem

Está sendo veiculada pela mídia em geral (o EurekAlert, por exemplo, tem duas matérias sobre o assunto, ambas da Science: uma originária da Universidade de indiana: Prehistoric pelvis offers clues to human development e outra da National Science Foundation: The ‘hole’ story) sobre a descoberta de que as fêmeas do Homo Erectus desenvolveram um formato de pelve que permitiria o nascimento de crias com cérebros maiores.
Até aí, tudo bem… Mas quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?… Uma mutação no cérebro do Homo Erectus criou indivíduos com cérbros maiores (e, portanto, com maiores habilidades) e a necessidade de parir esses macrocéfalos selecionou as mulheres capazes de parí-los?… Ou a existência de uma mutação na pelve das fêmeas do Homo Erectus proporcionou maiores condições de sobrevivência aos bebês macrocéfalos?…
Digo isto porque, do modo como a notícia está sendo veiculada, parece que a mutação evolutiva teve origem na maior capacidade pélvica das mães, coisa que me soa meio inverossímel já que um canal de parto mais aberto poderia ter resultado em diversas coisas que não crias com cérebros maiores (crias com ombros mais largos, por exemplo).
É muito mais fácil aceitar que a mutação tenha surgido de uma necessidade de ampliação do cérbro da espécie, para acomodar funções neurológicas mais complexas, e que isto tenha favorecido as fêmeas com a pelve mais adequada a dar à luz estas crias.
Me parce indisputável que a combinação de seres com cérebros maiores e mais capazes, com mães capazes de parí-los sem choques congênitos seja uma “vantagem” evolutiva. O que me parece ainda nebuloso é o motivo pelo qual essa mutação no tamanho do cérebro tenha ocorrido inicialmente (já que, a julgar pelo noticiário, essa seria uma mutação fadada ao fracasso, já que a maioria das fêmeas não teria capacidade de parir adequadamente essas crias) e a troco de que ela teria ocorrido (recordando Faraday: “Qual é a utilidade de um recém-nascido?”).
Ou será, ainda, que duas mutações totalmente independentes e que devem ter causado enormes problemas para a reprodução da espécie, acabaram por selecionar a combinação “ideal”: cérebro maior & pelve mais aberta? Isso corresponderia a uma tremenda “revolução cultural”, uma “modificação dos padrões estéticos” que definiriam não só os conceitos de “fêmea atraente” como a de “macho atraente”.
Meio “sofisticado” demais, não parece?…

Discussão - 10 comentários

  1. smx disse:

    Deixa eu ver se eu entendi :
    Eles tão dizendo que as femeas do homo erectus tem uma pelve maior para abrigar seus bebes cabeçudos?
    its bullshit!

  2. Soares disse:

    Os a diminuição de tamanho nos músculos da mandíbula permitiram que os ossos do crânio ficassem livres para expandir o cérebro. Isto ocorreu nos australopitecos, possivelmente devido a hábitos alimentares.
    A galinha veio primeiro, neste caso.

  3. João Carlos disse:

    Obrigado, Soares. E, sim Smx, o modo como as notícias foi veiculado deixa no ar o que é causa e o que é efeito.
    Como o que eu li, para mim, não fazia sentido, eu pedi explicações (que não tardaram a chegar).
    Para quem estuda o assunto, a resposta pode parecer óbvia, mas falta um bocado de contexto para um press release.

  4. Roberta disse:

    Estão veiculando isso ultimamente?!?!? Poxa, eu li sobre isso a algumas eras geológicas atras, numa Scientific american da vida. Por sinal era uma reportagem muito interessante, que falava sobre a relação entre o formato da pelve feminina, o tamanho do cérebro de um recem-nascido, a grau de prematuridade do recem nascido e as relações sociais. Se eu achar essa reportagem venho aqui deixar a referência.

  5. Carlos Hotta disse:

    Eu fui o visitante 49,999!!! Quando dei o reload eu era o 50,006... 🙁

  6. Leonardo disse:

    Uma coisa que tem que se falar sobre evolução é que não existe isso de "isso ocorreu por causa daquilo". O surgimento duas multações (cabeça grande e bacia larga) são eventos independentes, podendo estar presentes nas populações humanóides bem antes delas serem vantajosas. É claro que "filhos cabeçudos" poderiam morrer e/ou matar a mãe ao nascer. Da mesma forma, mães com bacias mais largas teriam mais chances de sobreviver ao parto, tanto de filhos normais, quanto de "cabeçudos". O fato é que não dá para saber se foi o ovo ou a galinha que veio primeiro sem datar os genes no tempo, ou por meio moleculares ou por indícios fósseis. Deve-se levar em conta ao observar evolução que ela é feita de dois fatores: um aleatório: a mutação; e o mais importante, a seleção natural, que não tem nada de aleatório, mas é totalmente determinada pelas condições do meio.

  7. Soares disse:

    Mas dá para estipular, extrapolar tendo dados suficientes para isto. Claro que não se tornará definitivo, só uma aproximação.
    Pelo pouco que aprendi de genética, quanto mais "maduro" estejam os os pais ao procriarem, mais os filhos terão características deles, e não genéricas dos avós.
    Alguns estudos recentes mostram que pais humanos que tem filhos depois dos 30, estes filhos já nascem com uma certa imunidade hereditária à doenças que os pais tiveram e se curaram.
    Se isto for correto, o que eu disse se aplica ao que você falou das mutações e as condições do meio.
    Condições de alimentação fizeram que não necessitássemos de força em nossas mandíbulas por tanto tempo (centenas de milhões de anos), que gerações tiveram a chance de já nascerem adaptadas.
    Como consequëncia disso mães cabeçudas que não tinham pélvis larga não tiveram filhos(morreram no parto). O meio continuou lá, adaptando o músculo do maxilar.
    Uma alternativa a esta hipótese seria que a mutação ocorreu sem que o meio influenciasse, e munidos de maxilar mais fraco tivemos que migrar. Talvez isso tenha ajudado a inteligência aumentar, já que teríamos que lidar com ambientes novos, cooperar, e por fim usar ferramentas.

  8. Leonardo disse:

    É esta postura que temos que adotar ao falar de evolução. Não há uma intencionalidade no surgimento das mutações; elas surgem ao acaso por erro de cópia, gerando indivíduos anormais. Se essas aberrações, por qualquer motivo que seja, forem superiormente competitivas em relação ao normal, tanto em termos de sobrevivência quando de reprodução, a frequência da característica nova tenderá a aumentar na população.
    No caso das mães ancudas e dos filhos cabeçudos, nada impede que quadris largos possam ter surgido antes, porém é uma característica que atrapalha no deslocamento um pouco mais acelerado, como quando da fuga de um predador/competidor, mas só até o surgimendo de indivíduos com um cortex cerebral mais complexo compensasse a dificuldade motora. Em um cenário paralelo, indivíduos cabeçudos teriam menos chance de sobreviver ao parto, bem como suas mães, dificultando o aumento na frequência dessa característica na população, até que uma bendida anormal apareceu com as ancas largas, possibilitando uma maior taxa de sobrevivência nos cabeçudos.
    O ponto em que eu quero chegar é que não importa se o quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha, pois o surgimento de um é independente do surgimento de outro. No caso dos hominídios, uma característica teve um sucesso maior quando associado à outra do que quando sozinha.

  9. João Carlos disse:

    Leonardo, volto a colocar minha dúvida original de quando li o press-release inicialmente.
    Me parece bem evidente que os "bebes-cabeçudos" são mais "pró-evolução" da espécie (cérebros maiores, maior complexidade de redes neurais - embora as mulheres estejam aí para desmentir essa equação simplista). Eu temo que muitas mães de ancas mais estreitas tenham, simplesmente, morrido no parto desses bebes (aliás, ainda morrem mulheres na hora do parto!... Inconcebível, isso!).
    Portanto, eu acredito que há uma "ordem de precedência" nessas mutações - coisa que o teor do press-release parecia por "o carro antes dos bois".

  10. João Carlos disse:

    Por uma questão de justiça, devia ter sido você Carlos... (mas quem disse que esse mundo é justo?... 😉 )

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