Nova partícula observada no LHC


Traduzido de: When Protons Collide: New Particle Observed at Large Hadron Collider

A busca pelo Bóson de Higgs revela uma nova partícula

Illustration of two gamma rays, yellow lines, and red towers measured in eletromagnetic calorimeter.Um evento candidato típico da Experiência CMS (Compact Muon Solenoid) na busca pelo Bóson de Higgs.
Crédito e imagem ampliada

4 de julho de 2012

Os físicos do LHC (Large Hadron Collider) observaram uma nova partícula e futuras análises podem demonstrar que se trata do longamente procurado Bóson de Higgs, a peça que faltava no Modelo Padrão da física de partículas.

Em dezembro último,  os experimentos CMS e ATLAS já haviam anunciado fortíssimos indícios da descoberta de uma nova partícula em sua busca pelo Higgs. Desde então, a quantidade de dados coletados mais do que dobrou, o que levou ao anúncio de hoje (4 de julho). No esforço internacional estão envolvidos mais de 1.700 cientistas, engenheiros, técnicos e estudantes de pós-graduação, somente nas instituições dos EUA, que ajudaram a projetar, construir e operar o acelerador LHC e seus quatro detectores de partículas.

Os cientistas nas experiências no LHC anunciaram seus mais recentes resultados em um seminário na sede do LHC, o laboratório do CERN, na fronteira de França e Suíça. Físico por todos os Estados Unidos se reuniram em seus laboratórios durante a noite para assistir um streaming ao vivo do seminário. Os cientistas ainda fariam uma apresentação mais detalhada na Conferência Internacional de Física de Altas Energias (bi-anual) que este ano se realiza em Melbourne, Australia.

“O que foi anunciado hoje não poderia ter sido conseguido sem a cooperação dos cientistas e das nações por todo o mundo na busca da compreensão das leis fundamentais da natureza”, declarou Ed Seidel, diretor-assistente para as Ciências Físicas e Matemáticas da NSF. “Se a partícula anunciada hoje no CERN for confirmada como sendo o Bóson de Higgs, isto representará uma pedra fundamental em nosso conhecimento das forças elementares e suas partículas que existem em nosso universo”.

Ao longo de mais de quatro décadas de testes experimentais, os pesquisadores descobriram que o Modelo Padrão da física de partículas tinha previsto corretamente e explicado as forças e partículas elementares da natureza. Mas o Modelo Padrão não pode explicar, sem o Bóson de Higgs, como a maioria dessas partículas adquire massa, um ingrediente chave na formação de nosso universo.

Em 1964 os cientistas propuseram a existência de uma nova partícula, agora conhecida como o Bóson de Higgs, cujo acoplamento com outras partículas determinaria suas massas. Diversos experimentos procuraram pelo Bóson de Higgs, mas ele sempre escapou da detecção. Somente agora, após décadas de desenvolvimento nas tecnologias de aceleradores, detectores e computação – isso sem mencionar os avanços na compreensão do restante do Modelo Padrão – os cientistas estão próximos do momento de saber se o Higgs é a solução correta para o problema.

“Até agora a teoria vem nos guiando”, declarou o físico da Universidade da California em Santa Barbara, Joe Incandela, porta-voz da experiência CMS. “Se começarmos a ver algo em nossa experiência, teremos um novo guia. É a natureza. É a coisa real”.

Quando os prótons colidem no Large Hadron Collider, sua energia pode se converter em massa, criando frequentemente partículas de vida breve. Essas partículas decaem rapidamente em partículas mais leves e mais estáveis que os cientistas podem registrar em seus detectores.

Os físicos teóricos previram a taxa de produção do Bóson de Higgs em colisões próton-próton em altas energias no LHC, assim como eles decairiam em certas combinações de partículas observáveis. Os físicos experimentais na ATLAS e CMS estudaram essas colisões e obtiveram indícios da existência de uma nova partícula que decai de modo consistente com as previsões feitas para o Higgs. Eles terão que coletar mais dados e realizar mais análises para estabelecer as propriedades dessa nova partícula.

“Se o Bóson de Higgs for descoberto, a atenção se voltará para uma nova série de questões importantes”, diz o físico da Universidade da California em Irvine, Andy Lankford, porta-voz auxiliar da ATLAS. “Esta nova partícula é o Higgs do Modelo Padrão, ou é uma variante que indica uma nova física e outras novas partículas?”

A descoberta do Higgs – ou uma outra nova partícula – representaria apenas um novo primeiro passo para um novo reino da compreensão do mundo que nos cerca.

-NSF-

Físicos detectam uma nova partícula pesada

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Um evento de colisão próton-próton na experiência CMS, produzindo dois fótons de alta energia (os traços grossos em vermelho). Isso é o que se pode esperar do decaimento de um Bóson de Higgs, mas também é consistente com outros processos físicos mais comuns.
Crédito da Imagem: CERN. © CERN 2012

A assinatura se parece com o longamente procurado Bóson de Higgs.

4 de julho de 2012
Por: Virat Markandeya, Contribuidor do ISNS

(ISNS) — Cientistas de duas experiências no Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider = LHC) na Eurpoa confirmaram a existência de uma nova partícula pesada, muito provavelmente a longamente procurado Bóson de Higgs, graças aos dados de colisões de partículas que resultaram em uma certeza a nível de descoberta, após análise. Os resultados, anunciados em uma importante conferência sobre física de partículas em Melbourne, Australia, marcam o ápice de uma busca por uma partícula pesada que, se acredita, é quem dá a massa a outras partículas elementares tais como elétrons e quarks.

O anúncio representa a mais recente proeza do acelerador de partículas de 9 bilhões de dólares na fronteira franco-suíça, que esmaga partículas subatômicas – mais exatamente prótons – em energias extremamente altas para recriar as condições que se pensa ter existido nas frações de segundo que se seguiram ao Big Bang.

“Para mim, a coisa mais incrível é que tenha acontecido durante minha vida”, declarou Peter Higgs, o teórico britânico de quem a partícula tem o nome e que estava presente na conferência e por vezes parecia sufocado pela emoção. As ideias estavam no ar quando Higgs escreveu um breve artigo de duas páginas em 1964 que fez com que a partícula fosse apelidada de “Bóson de Higgs”. O Higgs era a última partícula ainda não descoberta prevista pelo Modelo Padrão, a teoria básica das partículas e forças da natureza, e que guarda a promessa da revelação de novos fenômenos físicos.

Foi a realização para uma geração de cientistas. “Lágrimas me vieram aos olhos quando o número 5-Sigma apareceu”, diz Howard Gordon do Laboratório Nacional de Brookhaven, que é o Gerente Assistente de Programa da experiência ATLAS para os EUA no LHC. O contingente americano da ATLAS, baseado em Brookhaven e constituído por mais de 700 pessoas de 44 instituições, auxiliou a construir vários de seus detectores e maneja cerca de 20% do esforço mundial de computação envolvido na simulação e análise dos dados do ATLAS.

As duas experiências, CMS e ATLAS, analisaram dados de decaimento de partículas de aproximadamente 500 trilhões de colisões.  Joe Incandela, porta-voz da experiência CMS, explica que, se você imaginar cada colisão como um grão de areia, você teria areia bastante para encher uma piscina olímpica. No entanto, as colisões relacionadas com o Higgs são tão raras que os grãos de areia só cobririam a ponta de um dedo.

Na conferência ICHEP2012 nesta manhã, ambos os grupos relataram “bumps” em seus dados de colisões que indicam a presença de uma partícula com uma massa no entorno de 125-126 bilhões de elétrons-volt (abreviadamente, GeV). Isso é uma massa mais de cem vezes maior do que a do próton, o núcleo de um átomo de hidrogênio que tem apenas cerca de 1 GeV.

Cada uma das experiências do LHC confirmou esses resultados até cerca de 5-sigmas de certeza, o que indica que há uma probabilidade menor do que uma em um milhão de que esses dados sejam meras coincidências, resultantes de algo diferente da presença de uma nova partícula.

“Temos uma nova partícula consistente com um Bóson de Higgs”, declarou Rolf-Dieter Heuer, Diretor-Geral do CERN.

A nova partícula foi detectada a partir dos chuveiros de partículas nas quais ela decai. O Modelo Padrão prediz que o Higgs pode decair em pares de cerca de meia dúzia de tipos de partículas, porém outros tipos mais comuns de matéria podem também apresentar decaimentos semelhantes. Assim, os físicos experimentais têm que rastrear os eventos em cada uma das maneiras nas quais o Higgs pode decair e procurar por excessos inesperados nesses eventos. Mal comparando, é como lançar um dado milhares de vezes para saber se ele está viciado.

A experiência CMS estudou cinco canais de decaimento dos quais dois, onde o decaimento é em um par de fótons ou de partículas conhecidas como Bósons Z, são os mais importantes, porque permitem uma medição precisa da massa do Higgs. A significância combinada do sinal em todos os cinco foi de 4,9 sigma.

A experiência ATLAS estudou dois canais principais onde a partícula tipo-Higgs decai em dois fótons ou quatro léptons, uma categoria de partículas como elétrons e múons. Ela encontrou uma assinatura no entorno de 125 GeV com uma significância de 5 sigma, combinando os dados dos dois tipos de evento.

“É muita gentileza do Bóson de Higgs do Modelo Padrão ter uma massa nesse nível”, declarou a porta-voz do ATLAS Fabiola  Gianotti, porque o LHC é bem adequado para o estudo de partículas nessa faixa de massa. “Então, obrigado, natureza”, acrescentou ela.

Esses resultados se seguem a dados anteriores do LHC e do anúncio feito na segunda-feira pelo Fermilab em Illinois dos indícios, extraídos do menos potente e agora aposentado acelerador Tevatron, para a mesma partícula em um nível de 3 sigma.

O mecanismo de Higgs responde a pergunta fundamental: por que a maior parte das partículas elementares têm massa? Sem o Higgs, tudo, de estrelas a átomos, não existiria. Ele era a peça que faltava no Modelo Padrão. Partículas elementares, tais como elétrons e quarks, interagem com o Campo de Higgs e essa interação cria suas massas.

Os resultados de hoje representam “uma conquista maravilhosa, a pedra angular de 400 anos de esforços para explicar o que observamos no universo”, declarou Gordon Kane, um físico teórico da Universidade de Michigan que não trabalhou nos experimentos. Segundo ele, os dados sugerem uma partícula que é notavelmente semelhante ao Bóson de Higgs previsto pelo Modelo Padrão. O tempo dira – ainda segundo ele – se as pequenas discrepâncias que ainda existem entre os dados e as previsões do Modelo Padrão são erros experimentais ou se elas apontam para uma nova física além do Modelo Padrão. Caso confirmadas, até as pequenas discrepâncias do Modelo Padrão podem abrir o caminho para uma nova física e podem ser consistentes com as predições de extensões maiores do Modelo Padrão, tais como a Teoria das Cordas.

Esta última fatia representa apenas um terço dos dados que se espera obter do ATLAS em 2012. Os atuais resultados devem ser publicados no fim de julho. “Ainda há mais por vir…Por favor, especialmente os teóricos, sejam pacientes. Ainda há um longo caminho a percorrer”, admoestou de brincadeira o porta-voz do ATLAS Gianotti.

Os resultados vieram com as últimas séries de experimentos que terminaram cerca de duas semanas atrás. Os anúncios foram recebidos com ovações de pé e um número surpreendentemente pequeno de perguntas ao fim das apresentações científicas.

Um número maior de perguntas veio dos repórteres leigos em uma conferência de imprensa após o seminário. Um repórter perguntou se os resultados teriam qualquer relevância para ele, já que ele era feito de partículas elementares.

“Eu acho que é muito relevante para você”, disse Heuer, o Diretor-Geral do CERN, “porque se isso [o Campo de Higgs] não existisse, você não existiria”.


Virat Markandeya é um escritor contribuinte do Inside Science News Service.

Para alguma coisa os neutrinos servem: transmissão de mensagens

University of Rochester

Pesquisadores enviam mensagem “sem fio” usando neutrinos (através de rocha sólida)

Um grupo de cientistas, liderados por pesquisadores das Universidades de Rochester e Estadual da Carolina do Norte, enviaram, pela primeira vez, uma mensagem utilizando um feixe de neutrinos – aquelas partículas quase sem massa e que viajam quase à velocidade da luz. A mensagem foi enviada através de 240 metros de rocha e dizia simplesmente: “neutrino”.

“Com o uso de neutrinos, seria possível a comunicação entre quaisquer dois pontos da Terra sem o uso de satélites ou cabos”, diz Dan Stancil, professor de engenharia elétrica e de computação da NC State e autor principal de um artigo que descreve a pesquisa. “Os sistemas de comunicações por neutrinos teriam que ser muito mais complexos do que os atuais, mas podem ter importantes usos estratégicos”.

Diversas pessoas já teorizaram acerca da possibilidade de empregar os neutrinos em comunicações por causa de uma propriedade particularmente valiosa destes: eles podem atravessar quase qualquer coisa que esteja em seu caminho.

Se essa tecnologia fosse aplicada a submarinos, por exemplo, eles poderiam se comunicar por longas distâncias, mesmo submersos, o que é muito difícil, para não dizer impossível, com a atual tecnologia. E, se quiséssemos nos comunicar com algo no espaço exterior que estivesse no lado oculto da Lua ou de outro planeta, nossa mensagem poderia ser enviada diretamente através do corpo celeste sem qualquer impedimento.

“É evidente que nossa atual tecnologia faz uso de enormes equipamentos de alta tecnologia para enviar uma mensagem por meio de neutrinos, de forma que ainda não é algo prático”, diz Kevin McFarland, um professor de física da Universidade de Rochester que não esteve envolvido na experiência. “Mas o primeiro passo na direção de algum dia empregar neutrinos para comunicação de forma prática, é uma demonstração que se valha da tecnologia existente”.

A equipe de cientistas que demonstraram que isso é possível, realizou seus testes no Fermi National Accelerator Lab (conhecido como Fermilab), nas cercanias de Chicago. O grupo apresentou suas descobertas à publicação Modern Physics Letters A.

No Fermilab os pesquisadores têm acesso a dois componentes cruciais. O primeiro é um dos mais poderosos aceleradores de partículas do mundo que cria feixes de neutrinos de alta intensidade, acelerando prótons em redor de uma circunferência de 2,5 milhas e os fazendo colidir com um alvo de carbono. O segundo é um detector de muitas toneladas chamado MINERvA, localizado em uma caverna a   100 metros abaixo do solo..

O fato de um aparato tão gigantesco ser necessário para a comunicação por meio de neutrinos, significa que ainda é necessário muito trabalho, antes que a tecnologia possa assumir uma forma de uso prático.

O teste de comunicações foi realizado durante um período de duas horas quando o acelerador estava funcionando a meia potência, devido a um período de desligamento programado. Os dados de interação regularmente detectados por MINERvA foram coletados ao mesmo tempo que o teste de comunicação era realizado.

Atualmente, a maior parte das comunicações é realizada pelo envio e recepção de ondas eletro-magnéticas. É assim que nossos rádios, celulares e televisões funcionam. No entanto, as ondas eletro-magnéticas não atravessam facilmente a maior parte da matéria. Elas são bloqueadas pela água, pelas montanhas e vários outros líquidos e sólidos. Por outro lado, os neutrinos atravessam regularmente os planetas sem serem perturbados.

Por causa de sua carga eletromagnética neutra e massa quase nula, os neutrinos não estão sujeitos à atração magnética e não sofrem uma influência significativa da gravidade, de forma que se movem virtualmente sem impedimentos.

A mensagem que os cientistas enviaram com o uso de neutrinos foi em código binário. Em outras palavras, a palavra “neutrino” foi representada por uma série de 1’s e 0’s; os 1’s correspondendo a um grupo de neutrinos disparados e os 0’s à ausência de neutrinos. Os neutrinos foram disparados em enormes grupos porque, mesmo com um detector de várias toneladas, eles são tão elusivos que apenas um em cada dez bilhões de neutrinos são detectados. Depois que os neutrinos eram detectados, um computador na outra extremidade traduzia o código binário de volta ao inglês e a palavra “neutrino” foi recebida com sucesso.

“Os neutrinos tem se constituído em uma ferramenta excepcional para nos ajudar a aprender acerca do funcionamento do núcleo [atômico] e do universo”, disse Deborah Harris, gerente do projeto Minerva, “mas a comunicação por meio de neutrinos ainda tem um longo caminho pela frente até ser eficaz”.

Minerva é uma colaboração internacional de físicos nucleares e de partículas de 21 instituições que estudam o comportamento dos neutrinos, usando um detector localizado no Fermilab, perto de Chicago. Esta foi a primeira experiência no mundo a usar um feixe de alta intensidade para estudar as reações dos neutrinos com núcleos de cinco diferentes tipos de material alvo, criando, pela primeira vez, uma comparação lado a lado dessas interações. Isso auxiliará a completar o quadro dos neutrinos e permitir que os dados seja interpretados de maneira mais clara em experiências correntes e futuras.

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Neutrinos mais rápidos do que a luz?… (2)

Atualização rapidinha: Phil Plait, em seu blog Bad Astronomy, fala de uma notícia não confirmada de que os tais 60 nanossegundos de diferença medidos nos neutrinos emitidos pelo LHC e captados no Gran Sasso podem ser resultado de uma má conexão no cabo de fibra óptica que envia os dados do receptor do GPS para um circuito do computador… Link para o original (em inglês): Unconfirmed rumor: FTL neutrinos may be due to a faulty GPS connection.

Nada de dobra, Senhor Sulu!…

Acharam a “Partícula de Deus”?… Ainda não…

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Físicos de partículas relatam “indícios promissores” do Bóson de Higgs

Ainda não foi detectada a partícula, há tanto tempo procurada, mas os pesquisadores podem ter encontrado seu esconderijo

13 de dezembro de 2011

Por Ben P. Stein
Inside Science News Service

 

 

Higgs -- 111213 -- LARGE
Evento de colisão próton-próton detectado no Compact Muon Solenoid (CMS) no qual se pode observar 4 muons de alta energia (linhas vermelhas). O evento exibe as características esperadas para o decaimento de um Bóson de Higgs, mas também podem ser geradas por “ruidos” decorrentes de outros eventos de fundo previstos pelo Modelo Padrão.
Crédito: Copyright: 2011 CERN

(ISNS) — Os físicos europeus relataram hoje possíveis indícios do bóson de Higgs, a peça que falta no quebra-cabeças da física de partículas. Teoricamente, essa partícula deve ser a responsável pela massa de todas as partículas fundamentais, tais como elétrons e quarks.

Ao relatar as últimas análises dos escombros das colisões de partículas no maior acelerador de partículas existente, os pesquisadores ainda não dispõem de dados suficientes para declarar uma descoberta – uma nova série de colisões de partículas a ser realizada no ano que vem deve produzir mais respostas – mas anunciaram uma faixa de massa provável para o Higgs, caso ele realmente exista. Os pesquisadores apresentaram seus resultados através de um webcast e um seminário, acompanhado por um grande público, a partir do CERN, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares em Genebra, Suiça.

“O entusiasmo é palpável e há um número incrível de pessoas competentes e brilhantes examinando os dados”, escreveu Drew Baden, um professor de física da Universidade de Maryland, em um email ao Inside Science . “Se o Higgs existir mesmo, logo saberemos com certeza. Só que não vai ser [nesta] terça-feira”, escreveu Baden que pertence a uma das equipes de detectores que apresenta hoje seus resultados.

As partículas criariam um Campo de Higgs que permearia todo o espaço. Outras partículas, ao passarem por esse campo, interagiriam com ele em diferentes graus e seria dessa forma que elas ganhariam suas massas. A massa pode ser considerada uma medida da inércia, ou resistência ao movimento. Um elétron reagiria de modo relativamente fraco com o Campo  de Higgs e, por isso, não apresentaria uma grande resistência ao movimento. Já um quark interagiria com o campo mais intensamente e seu movimento sofreria uma resistência maior em seu deslocamento através do espaço. Os fótons, as partículas de luz, não interagiriam com o campo e por isso não tem massa.

Enterrado a dezenas de metros abaixo do solo na fronteira franco-suíça, o LHC (Large Hadron Collider = Grande Colisor de Hádrons) no CERN acelera prótons até as mais altas energias obtidas até hoje. Os físicos produziram um enorme número de colisões próton-próton nessas energias recordes desde maio de 2010. Quando os prótons se estraçalham contra outros prótons, a colisão cria uma bola de energia da qual se formam outras partículas novas, o que deveria incluir o Bóson de Higgs. A famosa equação de  Einstein, E=mc2, mostra que matéria e energia são intercambiáveis, de modo que, a partir da energia da colisão, podem ser criadas novas partículas maciças.

A massa do Bóson de Higgs, caso ele exista, é maior do que tudo o que os aceleradores de partículas tinham conseguido criar até recentemente. Os atuais resultados no LHC e outros anteriores do acelerador Tevatron no Laboratório Nacional Fermi no Illinois, descartam a existência do Higgs em certas faixas de massas.

Os pesquisadores de dois detectores do LHC, conhecidos como ATLAS e CMS, apresentaram novos dados no longamente aguardado seminário de hoje. Fabiola Giannoti, chefe da experiência ATLAS, relatou um excedente de eventos gerados pelas colisões que podem indicar a geração e o decaimento do Higgs.

Giannoti relatou que os dados de sua equipe sugerem que a região de massas mais provável para o Higgs fica na faixa de cerca de 116 a 130 gigaelectron-volts (GeV), o que corresponde a aproximadamente de 116 a 130 vezes a massa do átomo de Hidrogênio. Ela relatou, mais exatamente, um excedente de eventos de colisão no entorno dos 126 GeV, mas não pode declarar uma descoberta conclusiva. Guido Tonelli, porta-voz da experiência CMS, também relatou o que ele chamou de “indícios intrigantes e tantalizantes” da existência da partícula. A equipe dele relatou que a provável faixa de massas para o Higgs fica entre 115 e 127 GeV, sendo que seus resultados eram mais compatíveis com uma massa de 124 GeV. Ambas as equipes não possuem dados estatisticamente significativos para poder anunciar uma descoberta.

No conjunto, esses dois grupos encontraram, independentemente, intrigantes eventos de colisão entre os 124 e os 126 GeV, o que sugere que o Higgs pode ter sido produzido no LHC.

“Eu acho que é significativo que as duas colaborações, analizando independentemente os dados obtidos de seus detectores tão diferentes, ambas encontraram eventos similares ao Higgs na mesma faixa de massas”, declarou o físico de partículas teórico da Universidade de Maryland, Raman Sundrum, que não faz parte de nenhuma das duas equipes, logo após o encerramento do seminário ao Inside Science. “Se isso for constatado, eu penso que será uma monumental descoberta científica e o resultado de um esforço hercúleo e brilhante”.

Entretanto, todos os pesquisadores enfatizaram que, no atual ponto, ainda há uma chance de que partículas já conhecidas – o que os físicos chamam de “ruído de fundo” – possam ser as responsáveis pelos sinais. Cada grupo enfatizou ter encontrado um número relativamente pequeno de eventos interessantes nas faixas de massas relatadas. Em termos estatísticos, ainda há muitas chances em cada mil de que os resultados sejam um mero falso indício errático. A detecção de mais eventos de colisão semelhantes pode reduzir as probabilidades até o ponto onde os pesquisadores possam concluir seguramente ter descoberto os rastros da verdadeira partícula.

A partícula foi batizada em honra a Peter Higgs, um dos teóricos que postularam sua existência em 1964 para impedir a falência do Modelo Padrão da física de partículas. O Modelo Padrão é uma das teorias de maior sucesso na história da ciência e descreve três da forças fundamentais – eletromagnetismo e as forças nucleares forte e fraca – assim como todo o “zoológico” das partículas conhecidas no universo, desde querks e elétrons a fótons e neutrinos. Sem o Higgs, o modelo seria incapaz de explicar importantes diferenças entre as forças e por que certas partículas tem massa e outras não.

Mesmo assim, os físicos encaram uma detecção definitiva do Higgs apenas como um começo, não o fim, de uma era de descobertas. Da mesma forma que a Teoria da Relatividade Geral de Einstein incorporou todas as previsões da Teoria da Gravidade de Newton, mas permitiu a previsão da existência de novas coisas assim como os buracos negros, o Modelo Padrão, fortificado pela comprovação da existência de um Bóson de Higgs, pode levar a teorias ainda mais avançadas, assim como uma física totalmente nova

“Ainda não sabemos onde um futuro estudo cuidadoso do Higgs pode conduzir”, escreveu Sundrum. “Bós estamos ainda no início da jornada”.

Uma teoria mais abrangente, chamada supersimetria, exige a existência de “partículas-espelho” para todas as partículas já conhecidas. A Teoria das Cordas, uma descrição ainda mais elaborada do universo, afirma que os elementos de construção do cosmos não são partículas, tais como os elétrons, mas sim que até os elétrons resultam de vibrações de cordas e outros objetos, tais como membranas, que são tão pequenos que não podem ser detectados pelos atuais instrumentos científicos.

Ainda assim, Sundrum alerta contra enxergar demais nos resultados divulgados hoje. Ele afirma que as notícias não excluem a possibilidade do Bóson de Higgs ser, na verdad, uma classe de partículas. E que estes resultados não são uma validação de outras teorias, tais como o modelo da supersimetria.

“A melhor prova para a supersimetrias seria a detecção das próprias super-partículas”, acautela Sundrum.

Depois dos anúncios de hoje, os físicos estão mantendo reserva em seu julgamento, afirmando que os dados estão apenas estreitando as áreas onde pode ser que o Higgs esteja.

Um maior número de colisões provavelmente porá um fim às questões.

“Nada de conclusivo se pode afirmar por enquanto”, alerta Baden. “Se tudo correr bem, provavelmente teremos resultados conclusivos no final do ano que vem”.


Ben P. Stein é o gerente editorial do serviço Inside Science do Instituto Americano de Física (AIP)

Neutrinos mais rápidos do que a luz?

Tem havido muito frisson sobre um resultado de medições dos neutrinos emitidos pelo Large Hadron Collider (LHC) – o Grande Colisor de Hárdrons, o maior acelerador de partículas já construído – do CERN e detectados no Laboratori Nazionali del Gran Sasso (LNGS) do Instituto Nazionale di Fisica Nucleare (Itália).

Segundo os dados obtidos no LNGS – publicados aqui no ariXiv – os neutrinos oriundos do LHC estão chegando aos sensores do LNGS mais rápido do que se fossem fótons (isso se os fótons pudessem atravessar a Terra, do mesmo modo que os neutrinos o fazem).

Um dos pilares da física – a Teoria da Relatividade (de Einstein) – postula que nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz no vácuo (o termo “c”, na famosa equação E = mc²) e os fótons (as partículas fundamentais da Força Eletromagnética(EM) e a luz visível é apenas uma estreita faixa da radiação EM) só conseguem esta proeza porque não tem massa.

Ora, supõe-se que os neutrinos tenham uma massa – muito pequena, é certo, mas tem – o que tornaria impossível que eles viajassem, mesmo no vácuo – e, para eles, a Terra e o vácuo são praticamente a mesma coisa – a uma velocidade sequer igual a “c”, quanto mais a uma velocidade superior.

Então, alguma coisa certamente está errada!

Ou temos (mais provável) algum erro desconhecido nas leituras, ou temos que refinar o arcabouço da física teórica para acomodar um novo fenômeno. (Mas, seja como for, dificilmente estaremos próximos de uma “viagem no tempo”, como sugeria um subtítulo de manchete do habitualmente sóbrio The Guardian).

Para dar as notícias de uma fonte menos bombástica, apresento a tradução da notícia divulgada no Inside Science News Service, da Associação Americana de Física.

 


 

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Físicos relatam indícios de uma partícula mais rápida do que a luz

Mas adiem a revolução: os resultados precisam ser confirmados e podem não alterar radicalmente a física.

23 de setembro de 2011

Por Ben P. Stein
Inside Science News Service

OPERA Info GRAPHIC

Imagem ampliada. Crédito: Colaboração OPERA

 

(ISNS) – No que pode vir a representar a maior descoberta em física do século até agora, caso confirmada, pesquisadores anunciaram terem medido partículas se deslocando a uma velocidade superior à da luz, o que – ao menos até agora – era considerado o limite máximo de velocidade para qualquer coisa no universo.

Pesquisadores do projeto OPERA (Oscillation Project with Emulsion-tRacking Apparatus) apresentaram seus resultados na última sexta em um seminário no CERN, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (a sigla é em francês), em seguida à publicação antecipada de um relatório no site arXiv (vide link acima)

Porém os pesquisadores do OPERA são os primeiros a enfatizar que é cedo demais para especular sobre possíveis implicações. Embora a colaboração OPERA tenha realizado uma análise compreensiva de suas medições, os pesquisadores reconhecem a possibilidade de haver um erro que passou despercebido, ou mesmo que tenha uma causa ainda desconhecida, que pode ter causado um desvio nos resultados. Eles declaram que estão apresentando seus resultados à comunidade da física de forma a que outros possam verificar esses resultados e tentem duplicar suas experiências.

O OPERA mediu o tempo de trânsito de partículas conhecidas como neutrinos em seu deslocamento de aproximadamente 732 km entre o acelerador do CERN na Suíça e o Laboratório do Gran Sasso na Itália. Ao medir o instante de chegada de mais de 15.000 neutrinos no Gran Sasso, eles descobriram de maneira inesperada que as partículas chegavam 60 nanossegundos (bilionésimos de segundo) mais rápido do que a luz teria chegado. Isso representa uma velocidade 0,002% mais rápida do que a luz que viaja a cerca de 300.000km/seg.

“É algo bem simples; é uma medição clássica”, declarou Dario Autiero do Instituto de Física Nuclear em Lyon e membro da equipe OPERA, durante o seminário da sexta-feira.

Para determinar a velocidade, a equipe dividiu a distância percorrida pelos neutrinos pelo tempo que eles levaram para completar sua viagem de mão unica. A equipe computou uma precisão geral do tempo de percurso dentro de 10 nanossegundos. Eles dispunham de um sistema de medição de tempo sofisticado que recebia sinais de satélites GP`S, os quais, por sua vez, contam com relógios atômicos.

As partículas que sacodem o mundo da física

Através de suas medições, a equipe OPERA conhecia a distância do percurso de 732 km com uma precisão de ± 20 cm, aproximadamente. Em sua viagem, os neutrinos atravessas quase que unicamente rocha sólida. No Gran Sasso eles se encontravam com um detector que consiste de vários “tijolos” de filme fotográfico dentro de folhas de chumbo. Uma pequena fração de neutrinos interagia com os alvos, produzindo fótons, os quais eram observados com foto-detectores sensíveis.

“Não importa o quão bom seja a experiência, eu vou continuar cético até que seja confirmado por outra experiência independente, porque se trata de um resultado muito revolucionário”, declarou V. Alan Kostelecky, um físico teórico da Universidade de Indiana. “Afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias. Elas precisam de comparações cruzadas, verificações cruzadas e experiências independentes. Eu ficaria muito feliz se [uma partícula mais rápida do que a luz] fosse encontrada. Eu realmente quero ter certeza de que o efeito existe e só vou ficar convencido se ele for detectado de diversas maneiras”.

Os neutrinos acrescentam outra camada de mistérios

Os neutrinos são uma das partículas mais comuns no universo, porém também são das mais difíceis de detectar. Eles são invisíveis e raramente interagem com o resto da matéria. Foram previstos pelo físico Wolfgang Pauli em 1930 como explicação para onde ia a “energia faltante” em reações nucleares e foram finalmente detectados em experiências com feixes de partículas subatômicas em 1956 nos Estados Unidos por Frederick Reines e Clyde Cowan. São conhecidos três tipos de neutrinos: de elétron, de múon e de taon. Sabe-se que eles transportam até 99% da energia quando uma estrela explode.

“A velocidade dos neutrinos nunca foi bem caracterizada”, argumenta Alan Chodos da Sociedade Americana de Física, que, juntamente com Kostelecky e Avi Hauser, então na Universidade Yale, publicaram uma série de artigos teóricos que começou em 1985, apresentando a hipótese dos neutrinos serem “táquions” – ou seja: partículas que se movem acima da velocidade da luz.

Uma estrela supernova que explodiu em 1987 ofereceu pistas em potencial para a velocidade dos neutrinos. Ela emitiu um jato de neutrinos de elétron que chegaram à Terra antes da luz da explosão, mas Chodos pondera que outros efeitos, tais como a luz ter ficado cativa dentro da estrela que explodiu, poderia explicar essa diferença. Os neutrinos – menos sociáveis – podem ter passado de passagem [enquanto a luz ficava presa]. No entanto, a análise da supernova descobriu que a velocidade dos neutrinos estava próxima da velocidade da luz em uma parte por bilhão – um resultado 50 vezes menos significativo do que o que está sendo relatado atualmente e que era consistente com uma velocidade não superior à da luz.

Mais recentemente, a experiência MINOS (Main Injector Neutrino Oscillation Search) nos Estados Unidos relatou em 2007 indícios de deslocamentos mais rápidos do que a luz para neutrinos de muon; no entanto a qualidade dos dados estatísticos não era do mesmo nível dos resultados do OPERA.

Durante o seminário de sexta-feira, as perguntas mais frequentes de outros cientistas na audiência eram se a equipe OPERA tinha re-verificado a distência exata entre o CERN e o Gran Sasso, e se eles tinham levado totalmente em conta efeitos tais como o efeito de maré e Autiero respondeu que eles haviam realizado várias medições independentes das distâncias.

As notícias sobre “uma revolução na física” podem ser grandemente exageradas

Caso confirmada sua existência,  partículas mais rápidas do que a luz poderão causar, no mínimo, uma revisão da física moderna que se apoia em uma fundação que inclui a velocidade da luz como limite cósmico de velocidade. Embora o conceito de velocidades ainda mais altas abra as portas para toda uma pletora de questões possivelmente complicadas, uma partícula mais rápida que a luz não destrói as noções correntes de causa e efeito. Quando mais não seja, observou Chodos, se ocorre apenas com neutrinos, estes não tem um efeito notável em nossa vida diária.

A violação da causalidade, acrescenta Kostelecky, requer que a observação de uma cadeia de eventos em um referencial seja invertido em um segundo referencial e isso não ocorre necessariamente se os neutrinos tiverem interações especiais com o meio por onde passam. De acordo com Kostelecky, uma classe de teorias, conhecida como Extensões do Modelo Padrão, permite a existência de partículas mais rápidas que a luz, as quais incluiriam novos fenômenos, mas não precisariam que as leis conhecidas da física fossem radicalmente re-escritas.


Ben P. Stein é o gerente editorial de Inside Science

Sonda de Gravidade B: Einstein (como sempre) está certo

 

Artist concept of Gravity Probe B

Concepção artística da espaçonave Gravity Probe B em órbita polar em torno da Terra. Crédito da Imagem: Stanford.


Traduzido de: NASA’s Gravity Probe B Confirms Two Einstein Space-Time Theories

A missão da NASA Gravity Probe B (GP-B = Sonda de Gravidade B) confirmou duas previsões chave derivadas da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, cuja comprovação era exatamente a missão da espaçonave.

O experimento, lançado em 2004, empregou quatro giroscópios ultra-precisos para medir o hipotético efeito geodésico: a deformação do espaço-tempo no entorno de um corpo com gravidade e o arrasto de referenciais, a quantidade de deformação causada por um objeto giratório com massa na estrutura do espaço-tempo em seu entorno.

A GP-B estabeleceu os valores de ambos os efeitos com uma precisão sem precedentes, apontando para uma estrela solitária, IM Pegasi, enquanto descrevia uma órbita polar ao redor da Terra. Se a gravidade não afetasse o espaço-tempo, os giroscópios da GP-B apontariam na mesma direção para sempre enquanto estivessem em órbita. Mas, confirmando as teorias de Einstein, os giroscópios sofreram minúsculas, porém mensuráveis, mudanças de direção em sua rotação, causadas pela atração da gravidade da Terra.

A descoberta está publicada na versão online de Physical Review Letters.

“Imaginem a Terra como se ela estivesse imersa em mel. Na medida em que o planeta girar, o mel em torno dele vai se deformar e a mesma coisa acontece com o espaço-tempo”, declara Francis Everitt, o principal investigador da GP-B na Universidades Stanford. “A GP-B confirmou duas das previsões mais profundas do universo de Einstein que tem profundas implicações na pesquisa astrofísica. Igualmente, as décadas de inovação tecnológica por trás da missão vão deixar uma duradoura marca na Terra e no Espaço”.

A GP-B é uma das missões mais compridas da história da NASA, remontando o envolvimento da agência com o experimento ao segundo semestre de 1963 com as primeiras verbas para o desenvolvimento de um experimento com giroscópios relativísticos. Nas décadas seguintes o desenvolvimento levou a tecnologias revolucionárias para controlar as perturbações ambientes na espaçonave, tais como o arrasto aerodinâmico, campos magnéticos e variações térmicas. O colimador de estrelas e os giroscópios empregados foram os mais precisos que já foram um dia projetados e produzidos.

A GP-B completou sua coleta de dados e foi descomissionada em dezembro de 2010.

“Os resultados da missão terão um impacto de longa duração sobre o trabalho dos físicos teóricos”, afirma Bill Danchi, astrofísico senior e um dos cientistas do programa no quartel-general da NASA em Washington. “Qualquer refutação futura da Teoria da Relatividade Geral de Einstein terá que buscar medições ainda mais precisas do que o notável trabalho realizado pela GP-B”.

Essas inovações criadas para a GP-B foram empregadas nas tecnologias GPS que permitem que aeronaves pousem sem auxílio de (outros) instrumentos. Outras tecnologias desenvolvidas para a GP-B foram aplicadas na missão da NASA para a exploração do Fundo Cósmico de Micro-ondas que estabeleceu com precisão a radiação de fundo do universo. Essa medição foi o melhor ponto de apoio para a teoria do Big Bang e levou a um prêmio Nobel para o físico da NASA John Mather.

O conceito de satélite sem arrasto, cujo modelo pioneiro foi a GP-B, tornou possíveis vários satélites de observação da Terra inclusive o Gravity Recovery
and Climate Experiment (Recuperação de [Dados sobre a] Gravidade e Experiência Climática) da NASA e o Gravity field and
steady-state Ocean Circulation Explorer
(Explorador do Campo Gravitacional e Circulação em Estado Estacionário dos Oceanos) da Agência Espacial Européia. Esses satélites fornecem as mais precisas medições do formato da Terra, um dado crítico para a precisa navegação em terra ou no mar, e a compreensão do relacionamento entre a circulação oceânica e os padrões climáticos.

A GP-B também ampliou as fronteiras do conhecimento e forneceu um campo de treinamento prático para 100 estudantes de doutorado e 15 de mestrado em diversas universidades dos Estados Unidos. Mais de 350 estudantes universitários e mais de quatro dúzias de estudantes secundaristas também trabalharam no projeto junto com cientistas de ponta e engenheiros aero-espaciais da indústria civil e do governo. Uma das estudantes universitárias que trabalhou na GP-B se tornou a primeira mulher astronauta, Sally Ride.  Outro foi Eric
Cornell que recebeu o Premio Nobel de Física em 2001.

“A GP-B fez acréscimos à base de conhecimentos sobre a relatividade de modo importante e seu impacto positivo será sentido nas carreiras dos estudantes cujas educações foram enriquecidas pelo projeto”, declarou Ed Weiler, administrador associado do Diretório de Missões Científicas do quartel-general da NASA.

O Centro de Voo Espacial Marshall  em Huntsville, Alabama, ferenciou o programa Gravity Probe-B para a agência. A Universidade Stanford, principal contratado da NASA para a missão, concebeu o experimento e foi responsável pelo projeto e integração da instrumentação científica, operação da missão e análise dos dados. A Lockheed Martin Corp. de
Huntsville projetou, integrou e testou o veículo espacial e alguns de seus componentes principais.


As casas do espaço-tempo

O espaço parece com um tabuleiro de xadrez?

Por Jennifer Marcus


Electron Spin and Graphene

A ilustração mostra os elétrons como se fosse uma esfera giratória com um momento angular positivo ou negativo (azul ou amarelo). No entanto, representações como esta são fundamentalmente enganosas, já que os indícios experimentais mostram que os elétrons são partículas puntuais, sem um raio finito ou estrutura interna que possa girar (em inglês “spin”).
Crédito: Chris Regan/CNSI – UCLA.

Os físicos da UCLA se propuseram a projetar um transistor melhorado e acabaram por descobrir uma nova maneira de pensar sobre a estrutura do próprio espaço. 
 
Normalmente se considera que o espaço é infinitamente divisível — dadas quaisquer duas posições, sempre existe uma posição intermediária. No entanto, em um recente estudo direcionado ao desenvolvimento de transistores ultra-rápidos com o emprego de grafeno, os pesquisadores do Departamento de Física e Astronomia da UCLA e do Instituto de NanoSistemas da California demonstraram que, dividindo-se o espaço em locais distintos, tal como em um tabuleiro de xadrez, se pode explicar como os elétrons puntuais que não tem um raio finito, conseguem exibir um momento angular intrínseco, conhecido como “spin.”
 
Ao estudar as propriedades eletrônicas do grafeno, o professor Chris
Regan e o estudante de pós-graduação Matthew Mecklenburg descobriram que uma partícula pode adquirir spin por residir em um espaço com dois tipos de posições possíveis — tais como as casas brancas e pretas de um tabuleiro de xadrez. A partícula parece girar se as casas forem tão próximas que sua separação nem possa ser detectada.
 
“O spin de um elétron pode surgir do fato de que o espaço, em distâncias extremamente pequenas, pode não ser uniforme, porém segmentado, tal como um tabuleiro de xadrez”, argumenta Regan.
 
Suas descobertas foram publicadas na edição de 18 de março de Physical Review Letters.
 
Em mecânica quântica, o “spin up” e o “spin down” se referem aos dois tipos de estado que podem ser atribuídos a um elétron. O fato de que o spin do elétron só pode assumir dois valores— não um, três ou uma quantidade infinita — ajuda a explicar a estabilidade da matéria, a natureza das ligações químicas e vários outros fenômenos fundamentais.
 
No entanto, não fica claro como o elétron consegue realizar o movimento rotatório indicado por seu spin. Se o elétron tivesse um raio, a resultante superfície teria que estar se movendo a uma velocidade superior à da luz, violando a teoria da relatividade. E as experiências demonstram que o elétron não possui um raio: acredita-se que ele seja uma partícula realmente puntual sem uma superfície ou uma infra-estrutura que pudesse girar. 
 
Em 1928, o físico britânico Paul Dirac demonstrou que o spin do elétron é intimamente relacionado com a estrutura do espaço-tempo. Sua elegante argumentação combinava a mecânica quântica com a relatividade restrita, a teoria de espaço-tempo de Einstein (mais conhecida pela equação E=mc2).
 
A equação de Dirac, longe de apenas acomodar o spin, na verdade exige que ele exista. Porém, embora demonstre que uma mecânica quanto-relativística necessita do spin, a equação não fornece um quadro mecânico que explique como uma partícula sem dimensões pode ter momento angular, nem porque esse spin tem apenas dois valores possíveis.
 
Descobrindo um conceito que é a um só tempo novo e enganosamente simples,
Regan e Mecklenburg descobriram que o spin de dois valores pod surgir do fato de termos dois tipos de “casas” — claras e escuras — em um espaço tipo tabuleiro de xadrez. E eles chegaram a esse modelo de mecânica quântica enquanto trabalhavam no problema surpreendentemente prático de como fabricar transistores melhores com o novo material chamado grafeno. 
 
O grafeno, uma simples folha de grafite, é uma camada de apenas um átomo de espessura de átomos de carbono dispostos em uma estrutura em forma de colméia. Isolado pela primeira vez em 2004 por Andre Geim e Kostya Novoselov, o grafeno tem diversas propriedades eletrônicas extraordinárias, tais como uma enorme mobilidade dos elétrons e capacidade de transportar correntes. Na verdade, essas propriedades guardam tantas promessas de avanços revolucionários que Geim e Novoselov receberam o Prêmio Nobel de 2010, meros seis anos após sua realização..
 
Regan e Mecklenburg fazem parte de um esforço da UCLA para o desenvolvimento de transistores ultra-rápidos que empregam esse material novo.
 
“Nós queríamos calcular a amplificação  de um transistor de grafeno”, explica Mecklenburg. “Nossa colaboração estava construindo eles e precisava saber o quão bem eles deveriam funcionar”. 
 
Esse cálculo envolvia compreender como a luz interage com os elétrons no grafeno.. 
 
Os elétrons no grafeno se movem saltando de átomo de carbono para átomo de carbono, como se pulassem de casa em casa em um tabuleiro de xadrez. As casas do tabuleiro do grafeno são triangulares, com as casas escuras apontando “up” e as claras “down”. Quando um elétron no grafeno absorve um fóton, ele salta de uma casa clara para uma escura. Mecklenburg e Regan demonstraram que essa transição é o equivalente a rotacionar o spin de “up” para “down.”
 
Em outras palavras, o confinamento dos elétrons no grafeno em posições específicas e diferenciadas no espaço lhes confere um spin. Este spin, que deriva da geometria especial do retículo em colméia do grafeno, se soma a e é diferente do spin que o elétron tem normalmente. No grafeno o spin adicional reflete a estrutura semelhante a um tabuleiro reticulado do espaço ocupado pelo elétron.
 
“Meu tutor [Regan] dedicou seu Ph.D.ao estudo da estrutura do elétron”, conta Mecklenburg. “Por isso ele ficou muito entusiasmado de ver que o spin pode emergir de um retículo. Faz você pensar se o spin normal de um elétron pode ser gerado da mesma forma”.  
 
“Ainda não está claro se este trabalho será mais útil na física de partículas ou de matéria condensada”, diz Regan, “mas seria muito estranho se o retículo do grafeno fosse o único capaz de gerar spin”.


A física dos tubarões

American Institute of Physics

O segredo do sucesso dos tubarões


IMAGEM:

Tubarão-mako.

Imagem ampliada e mais informações.

WASHINGTON, D.C., 23 de novembro de 2010 — Novas pesquisas realizadas na Universidade do Sul da Florida sugerem que um dos segredos da evolução dos tubarões está oculto em uma de suas características menos aparentes – escamas flexíveis no corpo desses predadores sem par tornam eles caçadores mais eficientes por permitir que eles mudem de direção enquanto se movem a toda velocidade.

A chave para essa capacidade reside no fato de que as escamas controlam a turbulência do fluxo de água ao longo do corpo das criaturas, afirma Amy Lang da Universidade do Alabama que vai apresentar o trabalho feito em conjunto com seus colegas da Universidade do Sul da Florida, hoje, no encontro anual da Divisão de Dinâmica de Fluidos da Sociedade Americana de Física em Long Beach, California.

A turbulência dos fluxos é um problema em sistemas tais como o projeto de aeronaves, explica Lang, porque isso tende a causar vórtices que prejudicam a velocidade e a estabilidade.

“Na natureza, se examinarmos as superfície [dos corpos] dos animais, descobrimos que elas não são lisas”, argumenta ela. “Elas tem padrões. Por que? Uma das utilidades comuns em criar um padrão em uma superfície é controlar o fluxo – como é o caso dos pequenos recessos nas bolas de golfe que permitem que a bola voe mais longe. Nós acreditamos que as escamas dos tubarões, nadadores bem rápidos, servem para um propósito semelhante: o controle da turbulência de fluxo”.

Com base nas medições experimentais e nos modelos de escamas de tubarão, a equipe da Dra. Lang descobriu que as bases das escamas da espécie tubrão-mako (que são, literalmente, pequenos dentes que recobrem seu corpo) são mais estreitas na base, onde se fixam no corpo, do que nas extremidades externas. Esse formato cônico permite que as escamas sejam facilmente manipuladas em ângulos de 60º ou mais, dotando-as de um movimento capaz de compensar as turbulências, eriçando os dentículos. 


IMAGEM:
As escamas da lateral de um tubarão-mako. Essas escamas mostradas na foto foram “eriçadas” manualmente e medem aproximadamente 0,2 mm…

Imagem ampliada e mais informações.

Mais ainda, essas escamas flexíveis só são encontradas nas partes do corpo onde a turbulência de fluxo é mais provável de acontecer, tal como por trás das guelras na lateral do corpo.O eriçamento dos dentículos é, provavelmente, o mecanismo de controle da turbulência de fluxo para o tubarão-mako. 

“Enquanto nos aprofundamos nas investigações, ficamos imaginando as aplicações no controle de turbulência de fluxo para o projeto de aviões, helicópteros, turbinas eólicas – tudo aquilo onde a turbulência de fluxo seja um problema”, acrescenta Lang. .

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O resumo da apresentação, “Recent Observations on Shortfin Mako Scale
Flexibility as a Mechanism for Separation Control” pode ser encontrado aqui:  http://meetings.aps.org/Meeting/DFD10/Event/134387

O trabalho foi financiado pela Fundação Nacional de Ciências (NSF)

Crédito das imagens:P. Motta/Univ. South Florida.


Nota do tradutor: por que será que a Lucia Malla me veio à lembrança?…

Som em “mão única”

Photobucket


[ Traduzido de: One Way Sound ]

Um novo material permitirá um melhor imageamento por ultrassom.

19 de novembro de 2010

Por Phillip F. Schewe
Inside Science News Service

Baby Ultrasound

Imagem ampliada

A redução da interferência entre as ondas pode melhorar a qualidade das ultrassonografias.

Crédito: Biagio Azzarell via flickr

WASHINGTON (ISNS) — A grande maioria das vias terrestres permitem o fluxo de veículos em ambas as direções. No entanto, em certas circunstâncias, tais como as ruas congestionadas de uma cidade, faz mais sentido limitar o tráfego em apenas uma direção. Com a eletricidade também acontece ser necessário “retificar” a corrente – ou seja, fazer com que os elétrons se movam em apenas uma direção – usando um dispositivo chamado diodo. Uma corrente elétrica em “mão única” é conveniente porque permite, por exemplo, ligar e desligar transistores, além de outras coisas.

Fazer com que ondas de som se movam em apenas uma direção já é mais difícil por causa da maneira pela qual as ondas de som se movem através de um material. Ondas sonoras consistem de perturbações do tipo empurra-puxa que primeiro comprimem átomos ou moléculas – estejam elas em um meio sólido ou em um meio gasoso como o ar – e depois os deixam descomprimir. Essa perturbação atua ao longo da direção de propagação do som.

Agora, pela primeira vez, cientistas da Universidade de Nanjing na China conseguiram, finalmente, criar um retificador de som. O retificador acústico funciona sobre as ondas sonoras que passam através de um meio aquoso e se compõe de duas peças diferentes.

A primeira delas é um material especial – um líquido cheio de bolhas microscópicas – no qual as ondas sonoras que entram em uma determinada frequência (pulsações por segundo) saem dele com uma frequência que é o dobro da original. A segunda consiste de um dispositivo em camadas que alterna finas fatias de vidro e água que funcionam como um filtro, permitindo a passagem das ondas sonoras com a frequência dobrada, mas não as ondas sonoras originais. 

Se fizermos meia-volta com o dispositivo, as ondas sonoras com a frequência original não passam mais pelo filtro. Com efeito, a combinação da parte que duplica a frequência com a parte filtrante funciona como um “diodo” para ondas sonoras.

Mas para que podem servir retificadores acústicos? Afinal, quando uma banda toca uma música, um ouvinte quer que o som esteja livre para ir e vir, já que diversos efeitos musicais dependem de se ouvir simultaneamente as ondas sonoras iniciais e as refletidas. 

Mas música é uma coisa e imageamento é outra.

No imageamento por ultrassom – o processo mais usado para imagear um feto – as ondas sonoras são enviadas para dentro do corpo. As ondas refletidas retornam ao instrumento imageador e os sensores que o circundam, formando a imagem exibida na tela. No entanto, algumas ondas refletidas sofrem a interferência das ondas emitidas, o que diminui a clareza e a definição da imagem. Se conseguirmos impedir que as ondas refletidas atinjam a fonte do ultrassom, conseguiremos obter imagens claras e precisas.

“Esse dispositivo permite a manipulação da energia acústica de forma a criar espelhos unidirecionais para evitar que as fontes de ultrassom sofram interferência das ondas refletidas”, declara Jianchun Cheng, um dos pesquisadores de Nanjing. “Ele também pode ser usado como uma barreira sônica para bloquear o ruído ambiente em apenas uma direção”.

Cheng e seus colegas publicaram os detalhes de seu retificador acústico na edição de 24 de outubro de Nature Materials.

Xiang Zhang, um expert em manipulação de ondas sonoras que não esteve envolvido com o trabalho feito em Nanjing, afirmou que o trabalho é “um passo significativo na demonstração do conceito de um diodo acústico com o uso de bolhas em suspensão. Com algum refinamento na engenharia, esse espelho acústico unidirecional pode ter aplicações interessantes em terapias e imageamento de alta definição por ultrassonografia, ao repelir as ondas refletidas”.   

Zhang, um destacado cientista e engenheiro na Universidade da California em Berkeley, publicou seu próprio artigo na edição de 8 de novembro de Nature Physics, sobre como aumentar a definição do imageamento acústico com o emprego de metamateriais perfurados em um padrão de colméia. Normalmente a definição de uma imagem não pode ser melhor do que um pouco mais do que a frequência das ondas usadas para formar a imagem. Porém o dispositivo acústico de Zhang, desenvolvido em conjunto com Francisco Garcia-Vidal da Universidad Autonoma de Madrid na Espanha, a resolução da imagem é cerca de 50 vezes mais fina do que o tamanho das ondas incidentes.


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