Gripe Aviária – Notícia Preocupante
Notícia publicada no “O Globo on line”:
13/07/2006 – 19h51m – “Vírus da gripe aviária já tem múltiplas mutações Reuters
LONDRES – Múltiplas mutações foram encontradas no vírus H5Nl que matou sete membros de uma família na Indonésia, mas cientistas ainda não têm certeza sobre o significado da descoberta, segundo reportagem do jornal “Nature”. Os pesquisadores, no entanto, acreditam que a descoberta reforça a necessidade de que as informações sobre a gripe aviá ria sejam mais divulgadas para melhorar a compreensão sobre vírus letal.
“O significado prático das mutações não é clara, a maioria parece não ser importante,” diz a reportagem publicada na “Nature” em sua edição do dia 13 de julho. A análise das amostras de vírus de seis dos oito membros da família mostrou 32 mutações. O estudo foi apresentado pelo virologista Mallk Pereis, da Universidade de Hong Kong, num evento fechado para especialistas em Jacarta em junho.
Cientistas temem que o H5Nl, que já matou mais de cem pessoas e milhões de aves desde que se espalhou da Ásia para a Europa, poderia produzir mutações que causariam uma pandemla entre os humanos.
Particularmente curiosa (e inquietante) é a afirmação «O significado prático das mutações não é clara, a maioria parece não ser importante». Como assim? Esse caso da família da Indonésia causou preocupação exatamente porque parece ser o primeiro indício de uma mutação que permite a transmissão pessoa-a-pessoa.
Certamente a maior parte pode ser perfeitamente inócua, mas há a grande chance de que uma delas seja exatamente a que todos estão temendo.
Há uma grande diferenção entre “não ser alarmista” e “esconder um dado importante”. A menos que, por trás das pesquisas que estão sendo realizadas, existam os interesses financeiros de Laboratórios Farmacêuticos que querem desenvolver uma vacina – para vendê-la por bom preço na ocasião oportuna…
Depois falam de nossa Polícia…
Nenhum Policial será acusado pela morte de Menezes
Por Stewart Tendler, Correspondente Criminal
Mas Sir Yan Blair está sujeito a mais revelações embaraçosas, uma vez que a Scotland Yard deve enfrentar acusações dobre saúde e segurança acerca da desastrosa operação
NENHUM POLICIAL será julgado pelo assassinato em Stockwell, mas a Scotland Yard deve responder a acusações pelas leis de saúde e segurança
A descisão deve causar novos embaraços para Sir Yan Blair, o Comissário da Polícia Metropolitana. Um julgamento em Old Bailey vai ventilar publicamente as falhas na operação onde Jean Charles de Menezes morreu e sobre como a força funciona sob o Comando de Sir Yan.
De acordo com fontes de Whitehall, a Procuradoria da Coroa vai anunciar, na segunda feira, que a Scotland Yard será processada por falhar em seu “dever de zelar” [pela segurança] do Sr Menezes, um brasileiro que foi morto em 22 de julho do ano passado em uma atrapalhada operção de contra-terrorismo. Sir Yan será intimado, em nome da Polícia. Ele não vai estar no banco dos reús, porém ele e muitos oficiais superiores podem ser interrogados.
Um oficial superior declarou que umaq tal acusação seria “ultrajante” [nota do tradutor: vá à merda!] e que a Polícia Metropolitana lutará furiosamente no tribunal [nota do tradutor: vá à merda de novo! Eles pelo menos terão direito de defesa]. Os Comandantes sustentam que a Scotland Yard enfrentava uma emergência sem precedentes no dia em que o Sr. Menezes morreu. [nota do tradutor: “morreu”, o cacete!… Foi covardemente assassinado!].
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O tiroteio ocorreu um dia depois que quatro homens falharam em colocar bombas em trens de metro e um ônibus. O Sr. Menezes foi confundido com um dos suspeitos de terrorismo e e foi seguido desde que deixou seu apartamento e tomou um ônibus para a estação de Stockwell. Ele foi atingido por sete disparos na cabeça, dentro do vagão de metro. Um processo por saúde e segurança significará uma multa ilimitada a ser aplicada na autoridade policial, mas a família de Menezes lutará contra qualquer decisão de não acusar os policiais.
Ontem, um porta-voz da Campanha “Justice4Jean Family” disse que Michael Mansfield, QC, um dos maiores crimnologistas, foi posto sob alerta para apelar por uma revisão judicial, se não forem feitas acusações criminais.
A família vê uma acusação de saúde esegurança como uma opção de “panos quentes”, mas a CPS acredita que o ponto crucial do que aconteceu reside nas falhas da Yard e não em indivíduos [nota do tradutor: a Yard é composta por indivíduos que mostraram ser incompetentes e incapazes para seus cargos; o resto é, em bom inglês, “bullshit”]. Pode igualmente ser muito difícil apontar culpados e obter uma acusação de sucesso. Uma acusação de saúde e segurança seria vista pela CPS como uma boa solução de compromisso [nota do tradutor: boa para quem?].
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Um relatório da Comissão Independente de Queixas contra a Polícia, enviada à CPS indicia 11 oficiais e discute as potenciais acusações, mas não faz qualquer recomendação. Entende-se que o relatório diz apenas que a CPS “pode desejar considerar” acusações de assassinatocontra a Comandante Cressida Dick, a oficial encarregada das equipes táticas armadas, e os dois peritos atiraqdores [leia-se: assassinos com um distintivo] que matarm o Sr. Menezes.
Durante as investigações a Srta. Dick e os oficiais se contradisseram sobre se a ordem para o uso de armas de fogo foi dada. A IPCC também investigou uma alteração feita nos registros dos Serviços Especiais da vigilância.
Um processo sob a Lei de Saúde e Segurança de 1974 se apoiaria na dúvida de se a polícia tomou todas as precauções práticas e razoáveis para proteger o Sr, Menezes. [isso só pode ser sacanagem!… tomaram providências sim: onze disparos à queima-roupa em um cara desarmado, subjugado no chão do vagão…]
Muitos anos atrás, o predecessor de Sir Yan, Lord Stevens of Kirkwhelpington e o Lord Condon, outro antigo comissário, foram processados com base na Lei de Saúde e Segurança, por causa da morte de um policial durante uma perseguição sobre telhados. Eles foram inocentados e a lei foi mudada de forma a que os chefes não possam ser pessoalmente acusados por crimes contra a saúde e segurança praticados por forças policiais.
Da mesma forma que W. Bush tomou uma porrada da Suprema Corte, a respeito dos KZ de Guantánamo, eu espero que a Justiça Britânica dê uma porrada neste crápula do Yan Blair e seus esbirros.
Mas o próximo inglês que vier me mencionar o Carandirú ou Eldorado dos Carajás vai tomar uma porrada nos cornos.
P.S: o The Guardian publica uma notícia de teor semlhante,
Conspirações e mais conspirações
Não… Eu ainda não acabei de traduzir o artigo da The New Yorker,, mas, quem sabe… um dia desses…
Por enquanto, vou deixar uma “pérola” do Village Voice, que apareceu no 3-quarks daily, sobre as “teorias de conspiração” associadas ao “11 de setembro”. Mais do que a discussão sobre o assunto, eu acho extremamente feliz a conclusão do articulista. Vamos lá:
Os que procuram
O nascimento e a vida do “Movimento pela verdade do 11 de setembro”
por Jarrett Murphy
21 de Fevereiro de 2006 11:48 AM
Essencialmente, tudo gira em torno de física e bom senso. Corte o aço e edifícios caem. Derrube um avião e a terra fica com circatrizes. Dispare um míssil e veja um buraco. O que está no alto, tem que cair, causas produzem efeitos e, para que a verdade o liberte, ela própria precisa ser libertada.
Está escuro no porão da Igreja de São Marcos e escuro do lado de fora em uma noite de verão em meados de dezembro, mas as pessoas dentro do porão viram a luz. Entre as mais ou menos cem pessoas no recinto, muitos usam “buttons” onde se lê “9/11 Was An Inside Job” (“O 11 de setembro foi um Serviço Interno”). Outros agarram-se aos textos vitais em suas mãos – “Crossing the Rubicon” (“Atravessando o Rubicão”), “The New Pearl Harbor” (“O Novo Pearl Harbor”), ou “9/11 Synthetic Terror” (“O Terror Sintético de 11 de setembro”). A maior parte dos componentes da multidão predominantemente (mas não exclusivamente) de homens brancos, pode citar para você importantes trechos de “Rebuilding America’s Defenses” (“Reconstruíndo as Defesas da América”) ou do Relatório da Comissão sobre o 11 de setembro. Uns poucos podem guiar você pelos detalhes de conceitos como “Peak Oil” e fluxo piroclástico. Todos eles suspeitam – e alguns simplesmente sabem – que seu governo foi, de alguma forma, cúmplice nos ataques que mataram quase 3.000 americanos, quatro setembros atrás.
Eles estão assistindo uma nova edição de “Loose Change” (“Mudanças Aleatórias”), um documentário duvidoso e sensacionalista, com uma trilha sonora maneira e uma abordagem do tipo “fogo à vontade” sobre praticamente todos os aspectos da história “oficial” de 11 de setembro. Trabalho do cineasta Dylan Avery (22 anos), “Loose Change” foi lançado no ano passado, passando a ocupar um lugar em uma crescente coleção de DVDs que os céticos sobre o 11 de setembro podem ter: “Painful Deceptions” (“Dolorosos Disfarces”), “Confronting the Evidence” (“Confrontando as Provas”), “911 in Plane Site” (“11 de Setembro do Ponto de Vista dos Aviôes”, um trocadilho com “plane sight”, “visão plana”), “9-11 Eyewitness” (“Testemunha Ocular de 11 de setembro”). Exibidos em reuniões similares pelo país afora e passado adiante entre amigos com idéias semelhantes, esses filmes são o que une as pontas díspares daquilo que muitos de seus membros chamam de “O Movimento pela Verdade do 11 de Setembro”. Eles reunem Luke Rudkowski, um sincero calouro do Brooklyn College, com David Ray Griffin, um teólogo da Califórnia que escreveu “The New Pearl Harbor” (“O Novo Pearl Harbor”, uma referência à controvérsia sobre a real surpresa do ataque japonês à Base Naval no Hawaii em 7 de dezembro de 1941). Eles unem Les Jamieson, um “web designer” e um dos coordenadores do “New York 9-11 Truth”, com o multimilionário Jimmy Walter que sonha com cidades auto-sustentáveis e livres de automóveis. E eles unem um Tenente do Corpo de Bombeiros de Nova York, comparecendo a sua primeira reunião do “Movimento pela Verdade”, com Michael Ruppert, autor de “Crossing the Rubicon”, que põe a culpa em uma noiva com ligações com a CIA-&-Mafia em tráfico de drogas e armamentos, por sua demissão do Departamento de Polícia de Los Angeles, vinte anos atrás.
É fácil desprezar esses tipos estranhos. É mais difícil ignorar os caras normais na sala, ou as pesquisas que mostram que 49 % dos residentes da Cidade de Nova York acreditam que o governo sabia sobre o 11 de setembro, antes que acontecesse, ou a certeza pétrea desses supostos desconfiados.«Eu adoraria que me provassem que eu estou errado. Eu adoraria que alguém chegasse e me dissesse que eu só estou falando merda. Só que isso não aconteceu», diz Avery. «Eu tenho cientistas do meu lado. Há tantos indícios apoiando meu lado, e nada apoiando o lado do governo».
Não obstante seu nome, o “Movimento pela Verdade no 11 de Setembro” conta uma historinha – e é uma historinha – sobre o que acontece quando o governo mente. Novamente, é uma simples questão de física: Para cada ação, existe uma reação igual e em sentido contrário.
Todo o mundo tem uma historinha sobre como acompanhou os eventos em 11 de setembro “não conseguindo acreditar”. Mas algumas pessoas realmente não acreditaram e, nos instantes que se seguiram aos ataques, suas dúvidas tomaram forma na Internet em sites como “serendipty.li”,”plaguepuppy.net” e “Killtown”. «Eles eram um grupo de teóricos da conspiração condicionados que já andavam por aí desde Kennedy e até antes», diz Steve Ferman, hoje um graduado em Marketing (22 anos) pelo Instituto de Tecnologia de Nova York, que se juntou ao “Movimento pela Verdade” bem depois dos ataques. «Eles sabiam como por a bola em movimento imediatamente. No momento em que aconteceu, as teorias de conspiração sairam voando».
Não demorou muito e essas teorias alcançaram o Rádio pela Internet – e shows como “The Power Hour”. O apresentador Dave vonKleist não era nenhum novato em contar histórias alternativas: sua mulher era uma ativista da primeira hora sobre a “Doença da Guerra do Golfo”, eles fugiram de Houston antes que acontecesse o “Y2K”, e seu show de três horas lida com assuntos tais como Urânio Exaurido e temores de vacinações. Em 11 de setembro, lembra-se ele, «Eu cheguei e disse, “Senhoras e Senhores, aqui é Dave e, antes de poder dizer ‘bom-dia’, corram para seus vídeo-casetes e comecem a gravar. A América está sob ataque”». Enquanto permanecia grudado a sua TV, naquele dia, ele começou a suspeitar quando as redes começaram a recorrer aos “tapes” do árabe alto com a arma. «Eles ainda estavam discutindo sobre qual tipo de avião tinha batido», diz ele, «mas eles estavam certos como o diabo que sabiam que tinha sido o Osama, e eu disse: “Espere um minuto!”». Essas dúvidas permaneceram incubadas durante meses, até que vonKleist encontrou um site francês “Hunt the Boeing”. A França foi um incubador para muitas das dúvidas sobre o 11 de setembro. O Livro de Thierry Meyssan, editado em 2002, “L’Effroyable Imposture” (“A Impostura Horrorosa”) espalhou novas questões, inclusive as do filme “911 in Plane Site” de vonKleist.
Enquanto que a história do Pentágono atraia as pessoas, porque muito pouco foi visto ou conhecido sobre o ataque, a destruição do World Trade Center foi enterrada na memória coletiva. Eric Humsfed, um designer de software de Santa Barbara, aceitou pelo valor de face os ataques em 11 de setembro e chegou a fazer pouco das nascentes teorias de conspiração. «Aí eu comecei a olhar para aquilo», disse ele a este repórter. «Ficou óbvio que havia alguma coisa errada quanto às torres. Elas pareciam ter sido implodidas». Ele começou a consultar professores de engenharia, pedindo que pesquisassem sobre o assunto,mas nenhum o fez. Assim, ele tomou a causa a si próprio e rascunhou o livro “Painful Questions” (“Perguntas Dolorosas”), no início de 2002 e produziu o filme acompanhante, “Painful Deceptions”, poucos meses depois.
Mais ou menos na mesma época, Dylan Avery estava completando um trabalho como ajudante na construção de um novo restaurante para James Gandolfini. Ele serviu no bar na festa de abertura e quando dispôs de uns minutos a sós com o ator de “Os Sopranos”, ele disse que gostaria de dirigir filmes. «James disse: “Se você quer ser um diretor de sucesso, você deve ter algo que você queira contar para todo o mundo”», relembra Avery. Ele saiu para escrever uma história de ficção sobre o tema: “descobrir que o 11 de setembro foi um trabalho interno”. «A medida em que eu pesquisava para o filme, eu comecei a pensar que isso poderia ser verdade», diz ele.
O momento do Movimento aumentou em 2004, quando George W. Bush resolveu concorrer à reeleição, a Comissão sobre o 11 de setembro terminou seus trabalhos e o National Institute of Standards and Technology emitiu suas conclusões preliminares sobre o colapso dos edifícios. Membros enviaram petições para o Procurador Geral de Nova York, Eliot Sptizer, para convocar um Grande Juri (nota do tradutor: um Juri que decide se há suficientes indícios para processar alguém por alguma coisa) sobre os ataques. Novas figuras apareceram, tais como Kevin Ryan, um cientista na firma de certificações que deu o certificado para o aço usado na construção das torres gêmeas, que foi despedido depois de escrever uma carta para o NIST desacreditando suas conclusões, e William Rodriguez, um faxineiro nas torres gêmeas, que salvou algumas vidas em 11 de setembro.
Rodriguez entrou com uma ação RICO contra Bush, o pai do presidente e três irmãos, o Comitê Nacional (do Partido) Republicano, Alan Greenspan, Halliburton, várias companhias de máquinas de votação e outros (nota do tradutor: “RICO” é o acrônimo para “Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act”, a legislação americana contra o crime organizado). Ele alega que o presidente e sua administração participaram da «aprovação e financiamento dos ataques de 11 de setembro, sequestro, incêndio criminoso, assassinato, traição» a fim de «obter um “cheque em branco” para conduzir guerras de agressão, para consolidar poder político e econômico».
«A culpa dos acusados», alega a petição, «é fartamente sugerida pela sua miríade de mentiras, suas ações impedindo qualquer investigação honesta e sua obstrução e falta de real cooperação até para com … a Comissão de “Investigação”».
É uma questão de conhecimento público que o governo não contou voluntariamente sempre toda a verdade sobre o 11 de setembro. Nos primeiros dias após a tragédia, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) declarou que o espaço aéreo estava a salvo. A administração Bush declarou que não houve alertas sobre os ataques. A Comissão Parlamentar de Inquérito foi impedida de discutir as informações que a Comunidade de Inteligência forneceu à Casa Branca. A Casa Branca resistiu e formou uma Comissão Independente, procastionou a liberação de documentos, demorou a permitir que Condoleezza Rice prestasse depoimento em público e concordou em que o Presidente se encontrasse com a CPI, sob as condições de que não seria prestado qualquer juramento, não haveria qualquer transcrição formal e que o Vice Presidente Dick Chenney estivesse a seu lado. Muitos membros da Comissão tiveram que se declarar sob suspeição em partes da investigação, porque suas carreiras no governo e na iniciativa privada os colocavam em “conflito de interesses”. E, em seu relatório final, a comissão “bicou pela lateral” (Nota do Tradutor: no original: “punted”. O “punt” é aquela jogada de futebol americano na qual o time se livra da bola, chutando-a para bem longe) questões tais como de onde veio o dinheiro para os ataques, sob a alegação de que era uma questão de “pouco significado prático”.
A longa lista de confusões deliberadas e obstruções ajudou o “Movimento pela Verdade” a atrair simpatizantes que não compram a idéia de que os ataques tenham sido planejados pelo governo. A Congressista Cynthia McKinney, da Georgia, adotou alguns dos temas do Movimento. O ator Ed Begley Jr. foi co-apresentador de um evento do “Movimento pela Verdade”, em 11 de setembro de 2004, em Nova York, por conta de suas preocupações com o meio ambiente. «Quanto às outras teorias mais fantásticas sobre os eventos de 11 de setembro, eu nem teço outros comentários, a não ser que elas levantam algumas perguntas muito interessantes que eu adoraria ver respondidas», diz Begley a este jornal, em um email.
Outra ativista ambientalista, Jenna Orkin, também admira aspectos do Movimento, mas se distancia de outros. «Eu acho que é terrivelmente importante», diz ela, «distinguir entre as questões legítimas e as paranóias – e as paranóias contaminaram as questões legítimas de uma maneira muito destrutiva».
Traçar essa linha rachou o Movimento. Muitos ativistas da “Verdade” agora rejeitam a “teoria do suporte (de míssil)” e seu primo “o clarão”, que alegavam que os aviôes que atingiram as torres, tinham formatos não usuais em suas barrigas que poderiam ser suportes para mísseis (que teriam sido disparados antes do choque, daí o “clarão”). Mais desacreditada ainda é a teoria de que nenhum avião de verdade atingiu as torres – que o que vimos eram modelos de controle remoto (“drones”) ou hologramas. Até a teoria de “nenhum avião no Pentágono” divide os “pela Verdade”.
Alguns dos teóricos alternativos evitam eventos que envolvam a Imprensa Livre da América, que reportou muitas das peças vitais da história da “Verdade” mas tem ligações com a neo-nazista Barnes Review. E quase ninguém quer falar de de Jimmy Walter, cujo dinheiro (ele ofereceu um milhão de dólares para quem pudesse provar que as torres cairam por causa do incêndio) ajuda, mas cuja defesa de uma sociedade sem punições, não. As discussões nem sempre são amigáveis. VonKleist, um dos principais propositores da “teoria do suporte”, diz que o Movimento foi “tremendamente infiltrado”. E Hufschmidt rotula a maior parte do Movimento “parte do movimento criminoso que realizou o ataque em primeiro lugar”.
Disputas intestinas não são incomuns entre pessoas que acreditam em conspirações. Mesmo assim, rotular os menbros do “Movimento pela Verdade” de “teóricos da conspiração” é errado por duas razões. Primeiro, porque não há dúvida de que o 11 de setembro foi uma conspiração – a questão é se foi uma conspiração entre os terroristas muçulmanos, ou se há outros envolvidos. Segundo, muitos dos “pela Verdade” negam qualquer teoria. Eles resistem aos esforços para construir uma história alternativa para o crime.
«Eu não posso explicar isso. Essa não é minha função», diz o antigo ministro do Gabinete Germânico Andreas von B, um líder dos céticos sobre o 11 de setembro na Europa, em um recente documentário holandês. VonKleist usa a mesma linha. Ele não cria teorias sobre coisa alguma. Ele diz: «Eu apenas faço perguntas».
Isso parece inicialmente justo, só que não é. As perguntas do Movimento implicam em uma versão diferente da história e o verdadeiro teste é se essa alternativa é mais ou menos plausível do que a versão oficial. Dizendo que estão apenas verificando os fatos, os ativistas “pela Verdade” evitam abordar as fraquezas de suas lógicas. Por que as explosões no Trade Center teriam acontecido muitos minutos antes da implosão? Por que o governo destruiria o WTC7, quando ninguém sabia ou se importava com ele? O que aconteceu com as pessoas nos aviões?
Alguns dos céticos, entretanto, não são tímidos. O político extremista Lyndon LaRouche pensa que os atentados foram “uma tentaitva de golpe de estado militar”, Hufschmid diz que os terroristas árabes eram “figuras de proa” para diversos governos, inclusive o dos EUA e, possivelmente, Grã-Bretanha, França, Canadá e Israel. Ruppert, um adepto da teoria de que as reservas de petróleo chegaram a seu pico e que a economia à base de petróleo está correndo grande perigo, postula que o 11 de setembro foi um esforço desesperado, feito por algumas dúzias dos membros das elites nas administrações Clinton e Bush, para se apoderar das fontes de energia remanescentes. Sua versão sublinha as ligações entre a CIA e Wall Street e o cartel das drogas, suspeitas contra o Serviço Secreto e uma conspiração para se livrar de 4 bilhões de pessoas no mundo para reduzir a demanda por petróleo.
Para os passageiros que saltam na estação do metro e sobem as escadas para o “Marco Zero” em um sábado qualquer, o “Movimento pela Verdade sobre o 11 de setembro” é difícil de passar despercebido. Logo na saída ficam Jamieson, Rudkowski e alguns compatriotas segurando uma faixa que declara “O 11 de Setembro foi um Trabalho Interno”. Panfletos são distribuídos e alguns dos livros principais do “Movimento pela Verdade” estão à disposição, se um passante quizer debater, o que acontece um par de vezes toda semana. Uma mulher estava rotulando de “bullshit” a idéia de que todo o governo estivesse por trás da trama. Jamieson balança a cabeça. «Não foi todo o governo», diz ele. «Somente uma pequena facção».
Está frio e alguns passantes riem. Não tem sido fácil, diz Rudolwski, mas ele vê um progresso. «A princípio, minha família me achava um idota», lembra ele. «Agora eles estão apenas assustados». Avery e vonKleist dizem que distribuiram algo em torno de 50.000 cópias de seus respectivos filmes, mas o total de pessoas que assistiu os filmes deve ser muito maior, levando em conta que eles devem ter sido exibidos a grupos maiores ou menores. No Marco Zero, no porão da Igreja e nas entrevistas, os membros do “Movimento pela Verdade” são otimistas quanto a sua cruzada ir longe. O que fica claro é que será difícil, senão impossível, para muitos deles mudar de idéia. Uma vez que você acredita que as fontes oficiais não são dignas de crédito porque elas fazem parte da conspiração, torna-se difícil aceitar qualquer prova em contrário.
Tome o “Brief” Diário Presidencial de 6 de agosto de 2001: forçando sua divulgação, a Comissão do 11 de setembro mostrou para o mundo que o Presidente sabia de alguma coisa sobre ameaças extremistas. Mas, para Alex Jones, o apresentador de rádio anti-governamental que pensa que o FBI foi quem planejou o ataque a bomba ao WTC em 1993, o episódio do BDP foi somente uma manobra para que a Comissão parecesse independente. Quando este Jornal disse a Avery que uma testemunha chave entre os bombeiros negou ter dito alguma vez que existissem bombas nas torres e que o “conhecimento antecipado” do Prefeito de San Francisco. Willie Brown, dos ataques parecia ser limitado a alguma coisa que o Departamento de Estado tinha publicado no seu Website, o diretor não se mostrou abalado. «É apenas um dos indícios», disse ele sobre o alerta de Brown.
Ele não está só. Embora o “Movimento pela Verdade” seja rápido em detetar mudanças nas histórias contadas pelo governo, sua própria versão mudou diversas vezes. Meyssan primeiro disse que um caminhão-bomba tinha atingido o Pentágono, depois sugeriu que um “drone” ou um míssil “Cruise” teria feito a coisa. Primeiramente, os céticos disseram que os danos nos anéis interiores do Pentágono eram muito pequenos para terem sido causados por um 757; agora, alguns dizem que os danos são grandes demais. O número de sequestradores que, supostamente, ainda estão vivos, tem subido e descido ao longo dos anos.
A chave para entender o “Movimento pela Verdade” é perceber que seus membros não desacreditam de todas as instituições do governo dos EUA. Ao contário, suas teorias se baseiam em um saudável respeito pelo poder e competência das unidades de Defesa Aérea, agentes do FBI, projetistas de altos edifícios e outros.
Por que Bush diria erradamente que tinha visto o primeiro avião bater, na TV? Como o FBI poderia ter deixado passar tantos indícios? É plausível que a CIA tenha ignorado todos esses avisos? E, depois de todas as supostas múltiplas falhas da FAA e do NORAD em 11 de setembro, como é que ninguém foi despedido?
É estranho. Para um grupo de pessoas que abriga tantas dúvidas acerca das intenções de seu próprio e de outros governos, da mídia e concidadãos, a maior parte do “Movimento pela Verdade” jamais suspeita, por um minuto, de que os gastos com defesa tenham sido dinheiro jogado fora, que o FBI é uma burocracia desajeitada, que nossas agências de espionagem sejam surdo-mudas e que nossos arranha-céus não são 100% seguros. Eles não parecem preocupados em poderem estar sendo parceiros inocentes em uma conspiração muito mais mundana para obscurecer os limites da segurança e da ciência. Às mentiras da administração Bush, muitos no “Movimento pela Verdade” respondem com uma desconcertante e familiar certeza. “Eu não posso pular de volta para o outro lado”, diz Avery. “Eu sei que o que eu estou fazendo é certo”.
Bom… Para quem acompanhou as críticas feitas à Administração Bush sobre a resposta do governo federal ao Furacão Katrina, quem tem algum conhecimento sobre os antecedentes do envolvimento dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial, e conhece um pouco sobre construção civil (e sabe que as Torres Gêmeas foram feitos para “implodir” em caso de risco de desabamento: imaginem se elas tivessem tombado de lado… até hoje estariam tirando entulho de Wall Street…), nada parece tão misterioso assim…
Talvez as pessoas prefiram acreditar em uma conspiração maquiavélica, do que admitir que o presidente que elegeram é um imbecil incompetente. O que, absolutamente, não é privilégio dos americanos…
Mas que droga!…
Para começar bem o ano, mais uma tradução… Desta vez é de um artigo do Times de Londres (original aqui). Sem mais delongas:
The Times 02 de Janeiro de 2006
Tolice pode ser um narcótico, também
Jamie Whyte
Está na hora de nossos legisladores pararem de “viajar” na hipocrisia sobre as leis sobre drogas.
POLÍTICOS NÃO SE IMPORTAM com drogas. É um tópico tal como a religião: uma vez que a posição oficial é uma tolice, os detentores de cargos oficiais não gostam de discutí-lo, se puderem evitá-lo.
Infelizmente, as drogas estão invadindo o establishment pelo lado de dentro. Primeiro foi Kate Moss, depois David Cameron e, agora, o Conselho Advisório sobre o Abuso de Drogas, com seu relatório sobre a classificação criminal da Cannabis. Todo o establishment está em campo: a “patuléia”, a aristocracia e a burocracia. Não há onde se esconder. Está, de novo, na hora de “debater as drogas”.
O “debate sobre as drogas” funciona asssim. A maior parte pensa que a produção, venda e consumo de drogas recreativas, tais como cannabis, ecstasy, cocaína e heroína, deve ser ilegal. Eles apontam para os danos que o uso de drogas causam à saúde dos usuários: morte, danos ao cérebro, câncer de pulmão e por aí a fora. (Todos os outros males causados pelo tráfico de drogas decorrem de sua ilegalidade e, assim, não são usados como argumentação).
Os que acham que as drogas devem ser legalizadas – “somente as leves, é claro; nós não somos loucos” – se resumem a John Stuart Mill. Pessoas adultas conscientes, em um país livre, deveriam ser capazes de causar a si próprias todos os danos que quizessem. O Estado pode legitimamente limitar nossa liberdade para impedir que prejudiquemos os outros, mas não para impedir que prejudiquemos a nós mesmos.
Mill provavelmente estava certo. Mas o argumento não é inteiramente adequado porque ele admite tacitamente que as pessoas se prejudicam ao consumir drogas. E nós vivemos em uma era em que o “bem-estar” prevalece sobre a liberdade, sempre. Os políticos modernos gostam de dizer que é uma tarefa muito difícil encontrar o equilíbrio entre o “bem estar” e a liberdade. Mas não é nem um pouco difícil adivinhar para que lado a balança deles penderá.
Então, para obtermos nossa liberdade, devemos encontrar legisladores que vejam que as drogas são, de fato, “boas para seus usuários”.
Esta afirmativa vai surpreender muitos leitores. Será que Whyte pôs as mãos em alguma pesquisa radicalmente nova acerca dos efeitos psicológicos e fisiológicos das drogas? Não. Eu tenho em minhas mãos uma teoria perfeitamente ortodoxa sobre o “bem estar” que é sempre esquecida no “debate sobre as drogas”. Uma coisa é “boa para você” se seus benefícios são maiores que seus custos. Caso contrário, ela é “má para você”.
Este princípio simples significa que você não pode honestamente recomendar alguma coisa considerando somente seus benefícios, nem condená-la considerando somente seu custo. Este último engano é o mais favorecido no “debate sobre as drogas”. As pessoas persistem infinitamente – e freqüentemente de modo exagerado – em falar sobre os riscos para a saúde no consumo de drogas, como se isso fosse suficiente para demonstrar que drogas são “más para você”. Isto é um absurdo. Se você considerar somente os custos, então tudo é “mau para você”. Comer tem seus custos, tais como o preço da comida e o risco de engasgar e sufocar. Devemos, então, concluir que “comer é mau para você”?
A verdadeira questão não é se o uso de drogas tem custos. Toda atividade o tem. A questão é se estes custos são maiores do que os benefícios do uso de drogas. É fácil demonstrar que não, mas, primeiro, devemos reconhecer qual é o maior benefício. Isso deveria ser óbvio, mas, por alguma razão, ninguém envolvido no “debate sobre as drogas” sequer menciona isso. O maior benefício do uso de drogas é que isso causa prazer. De fato, pode ser incrivelmente prazeiroso. Por isso as pessoas o fazem.
E também porque isso é “bom para eles”. Os usuários de drogas são, simplesmente, pessoas para as quais o prazer é mais importante que o risco de morte, doença, vício e todo o resto. Em outras palavras, são as pessoas para quem os benefícios do uso de drogas são maiores que os custos. Se não fosse assim, eles não seriam usuários de drogas. Isso não é verdade para todos. Alguns dão mais valor à saúde do que ao prazer. Para estes, usar drogas resultaria em uma perda. Tudo bem: essas pessoas não usariam drogas, mesmo que elas fossem legais.
O ponto não é peculiar apenas às drogas. Mudemos de exemplo. Jogar golfe é “bom para você”? Isto depende de quanto valor você dá valor à parte boa (o exercício, a companhia, as belas roupagens) e quanto valor (negativo) você atribui à parte ruim (o exercício, a companhia, às belas roupagens). Se seus valores apontam que jogar golfe traz um benefício, você jogará. Senão, você não jogará. “Bem estar” e liberdade estão em perfeita harmonia. As pessoas só fazem voluntariamente o que é “bom para elas”.
Desde que, é claro, estejam adequadamente informadas. Se você subestimar o custo de alguma atividade, você pode fazê-lo, mesmo que os custos superem os benefícios. Esta possibilidade é algumas vezes usada para justificar a criminalização das drogas. Mas a subestimação é uma faca de dois gumes. As pessoas podem deixar de fazer alguma coisa que seja “boa para elas” porque subestimam seus benefícios. Aqueles que nunca tomaram Ecstasy não podem saber como é maravilhoso. Será que o uso experimental deveria ser compulsório, para eliminar esse risco?
Em 1990, 15 homens que, voluntariamente, cortaram as genitálias uns dos outros, por puro prazer sexual, foram condenados por “lesão corporal” (nota do tradutor: o crime, em inglês é chamado “assault”, que seria traduzido por “agressão”; mas a figura no Código Penal Brasileiro que melhor se adapta é “Lesão Corporal”). Por que seu consentimento não foi levado em conta como circunstância dirimente? Se o consentimento não foi, então por que o Rugby não é considerado “lesão corporal”? Na apelação (negada) em 1992, Lord Lane explicou. O consentimento é dirimente somente se o dano físico for causado por “um propósito meritório”. Rugby é um “propósito meritório”; prazer sexual, não é.
Eu suspeito de que é um raciocínio similar que faz com que os legisladores sistematicamente desprezem os benefícios das drogas. Não é suficiente que as pessoas dêem valor a alguma coisa. Para que conte como benefício, nossos sábios mentores em Westminster têm que julgá-la “meritória”. E, como no caso do mero prazer sexual, eles não consideram “ficar doidão” como “meritório”.
Não é nossa preocupação com nosso “bem estar” que explica a ilegalidade do uso de drogas. É hipocrisia.
O autor é um filósofo.
Copyright 2006 Times Newspapers Ltd. (traduzido e reproduzido sem permissão, é claro…)
As raízes dos motins na França
Depois de perder meu tempo durante uma semana, lendo os jornais fanceses em busca de explicações sobre os motins que continuam agitando a França, a despeito da invocação de um “Estado de Emergência” que data da guerra de independência da Argélia, eu acabei encontrando uma explicação coerente…. no Times de Londres: esta notícia publicada na edição de hoje. Lá vai a tradução:
The Times 12 de Novembro de 2005
“A pressão vem crescendo por 30 anos. Tinha que explodir”
Por Charles BremnerÀ medida em que 2.000 policiais extras são trazidos para combater os motins em Paris neste fim de semana, um jovem muçulmano que cresceu no ambiente, conta como ele evitou o caminho fácil da violência e dos pequenos crimes para alcançar o sucesso nos negócios.
A próxima revolta nas terras francesas “será mais explosiva, eles usarão armas militares. Eles já têm Kalashnikovs e lança foguetes lá”, diz um homem de 29 anos, nascido em Marrocos, da mais notória de todas as cidades satélite de Paris.
A previsão, dita com um sotaque árabe, não vem de um dos cabeças-quentes que fizeram badernas na noite passada.
A opinião é a de Aziz Senni, um dos raros bérberes, etnicamente Norte-Africanos, que conseguiu achar seu caminho para fora dos subúrbios e para o sucesso nos negócios.
O Sr. Senni era um bebê quando seus pais o trouxeram para a França e um lar em Val Fourre. O grande subúrbio de Mantes-la-Jolie, no Noroeste do Sena em Paris, é mais conhecido pelos sangrentos motins de 1991. Estes se tornaram o roteiro do filme “La Haine” (“O Ódio”), um filme de sucesso entre os jovens desesperançados dos subúrbios.
Junto com cinco irmãos mais moços, o Sr. Senni cresceu sob as vistas de um rigorososo pai ferroviário. “Les Gaulois”, os franceses brancos, abandonaram os subúrbios. O Sr. Senni estava bem no meio da violência de 1990, mas aos 23 ele tinha conseguido escapar do círculo vicioso de desesperança.
Ele evitou o caminho comum de sobrevivência mediante pequenos delitos, obteve um diploma comercial e fundou uma companhia de transportes em Mantes.
O ATA, um serviço de franquia de taxi comunitário, agora opera em diversas cidades e o Sr. Senni atraiu a atenção do President Chirac e da mídia nacional, enquanto permanece nos subúrbios, onde ainda tem suas raízes.
Com um timing perfeito, ele conta sua história em um livro publicado na mesma semana em que dois garotos foram eletrocutados em Clichy-sous-Bois. Ele não ficou surpreso quando a tampa da panela de pressão explodiu em Clichy, em 27 de outubro, e inflamou os subúrbios ao longo do país.
“A pressão tem-se acumulado por 30 anos e as coisas estão muito piores desde a última vez. Tinha que explodir de novo”, disse ele ao Times ontem.
O gatilho foi Clichy, mas a raiva foi alimentada pelas palavras insultuosas e as rudes táticas policiais de Nicolas Sarkozy, o Ministro do Interior, disse ele.
Os animos parecem ter-se acalmado, embora a policia esteja pronta para uma possível re-ignição durante este fim de semana.
A mensagem do Sr. Senni também é rude. Ele diz que as minorias devem usar seus próprios recursos para sair dos guetos. Seu livro se intitula “O Elevador Social está quebrado. Eu fui pelas escadas” (publicado pela editora Archipel).
“L’ascenceur Social” é a doutrina pela qual a República igualitária deveria ter promovido suas minorias ao nível de prosperidade geral, Quando as oportunidades de emprego em massa atingiram um patamar, a partir do final da década de 1970, o elevador parou, deixando os árabes étnicos e os negros residentes dos subúrbios no porão.
O Sr. Senni não é amargo. Com o entusiasmo de um jovem empresário, ele se declara orgulhoso de ser francês e um muçulmano moderado. Ele despreza o que ele chama de hipocrisia do modelo gálico falido.
“A França precisa de psicanálise. Ela ainda não consegue se olhar no espelho e entender quem é”, diz ele. “A França ainda vive no início do século XIX, pensando que ainda é um país branco e fortemente rural. Ela não percebeu que suas crianças mudaram”.
O pleito das gerações imigrantes tem sua fonte no que ele chama de uma mentira de estado. A França trombeteia seu modelo de igualdade sem distinções de cor, “enquanto Sarkozi e o resto lhe empurram na direção comunitarianismo”, disse ele.
Este é o termo usado para condenar as comunidades que se mantém separadas, da mesma forma que os modelos multiculturais que existem em outros lugares.
“Você não pode fazer parte de uma comunidade”, disse ele. “Se você tentar e for um muçulmano, eles associam você a al-Qaeda”.
Ele reconhece as falhas do sistema “Anglo-Saxão”, mas admira a maneira em que este é mais aberto às minorias.
Ele cita um primo, com curso de pós-graduação, que só conseguiu encontrar emprego como vendedor de aspiradores de pó.
“Ele veio para a Inglaterra, há três anos, e foi recrutado pela BP. Eles o puseram em um programa de aprendizado rápido e o mandaram para mais treinamento em Oxford. Agora ele está iniciando seu próprio negócio”.
O Sr. Senni diz que a França deve fazer sua doutrina de igualdade funcionar, usando o estilo americano de ação afirmativa.
Uma tal discriminação positiva, oficialmente rejeitada, é necessária, segundo ele, para resgatar as minorias de escolas que limitam a maior parte dos alunos a treinamentos para profisões de baixo perfil, e de empregadores que rejeitam candidatos com nomes que soam estrangeiros.
A idéia, ainda rejeitada pela corrente majoritária política, agora está ganhando terreno.
Seu maior entusiasta é, paradoxalmente, o Sr. Sarkozy, um presidenciável que concorda com a maior parte dos pontos de vista do Sr. Senni, embora atice os ressentimentos com sua repressão policial.
A mensagem do Sr. Senni para os baderneiros é que ele entende sua raiva, mas que eles têm que rejeitar a violência.
“Eu digo a eles que um voto é mais poderoso do que um coquetel molotov”.
Eles devem achar seus próprios líderes políticos, disse ele. Os partidos são regidos por uma elite que não entende os pobres, acredita ele. Ele só tem desprezo pelo Partido Socialista o qual, diz ele, alardeia velhas palavras de ordem do dogma marxista e não consegue ajudar os pobres quando está no poder. (Nota extemporânea do tradutor: qualquer semelhança com um certo partido da esquerda brasileira, será mera coincidência???)
“Nenhum político sabe o que é olhar para uma geladeira vazia e ter que dizer que: compras, só daqui a dez dias”.
O que a França tem pela frente? Comentaristas sociais ventilam suas vistas
Laurent Joffrin, Editor da revista “Nouvel Observateur”: “Uma vez que a calma tenha sido restaurada, será que a França vai aceitar a divisão, admitir que partes inteiras de seu território vivem em dissidência, com um cordão de homens de capacete em torno delas, e sujeitá-las, por conta da desesperança social, à vigilância com caminhonetes com luzes azuis ou a um toque de recolher que data da guerra da Argélia? Ou será que, através de novos esforços e medidas realísticas que consistiriam em uma ruptura com tudo o que vem sendo feito, vai se por no caminho de uma reunificação republicana? Uma porção de coisas já foi feita: e não funcionaram. Um novo capítulo deve ser escrito”.
Michel Wieviorka, sociologista: “Os motins dos últimos dias sublinharam a indignação, a raiva, um profundo sentimento de injustiça e de rejeição”.
“Eles nos lembram de que não resolvemos coisa alguma desde os anos 1970 e o primeiro de nossos “verões quentes”: setores inteiros de nossa juventude são sacrificados em nome de nosso modelo de integração em decomposição, que se pretende baseado na República, mas que esquece igualdade e fraternidade para grande parte da população, e que se descreve como social, enquanto deixa esta mesma população lutando contra o desemprego, a exclusão e a pobreza”.
Alain Duhamel, comentarista político: “A República Francesa queria mostrar ao mundo que, com seus valores seculares, seu sistema educacional, sua linguagem, sua história, seus princípios universais e seu Estado Forte, era capaz de transformar qualquer estrangeiro, de qualquer continente, qualquer que fosse a cor de sua pele e quaisquer que fossem suas crenças religiosas, em um verdadeiro Gaulês patriótico, com um bigode e uma tendência a resmungar”.
“Essa assimilação metódica é uma das chaves da famosa, indiscutível excessão francesa”.
“Outros países – os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda, Canadá – escolheram o caminho diferente do multiculturalismo e do comunitarismo. Eles aceitaram, eles encorajaram os imigrantes a se apegar a suas culturas, suas línguas, suas memórias, seus hábitos originais. Eles lhes deram uma margem de autonomia, de auto-organização. Eles admitiram, eles proclamaram, eles facilitaram essas diferenças”.
“Na França, o cadinho republicano, este misterioso e singular receptáculo, tentou o oposto. De múltiplos imigrantes, ele tentou formar um único tipo de cidadão. Por um longo tempo, Paris observou os motins raciais e as lutas, nos países que optaram pelo comunitarismo, com um ar de zombeteira superioridade”.
“Hoje, é sua vez de chorar sobre seu modelo em chamas”.
Alain Etchegoyen, filósofo: “A República não está ameaçada por estas fagulhas de curta duração que acendem os fogos. Estas são cenas terríveis em palcos improvisados, mas o que ocorre nos bastidores é muito mais preocupador”.
“A ditadura de curto período vai produzir uns poucos anúncios que serão seguidos de discussões semânticas”.
“A miopia ameaça nossos governantes. Os assessores ministeriais sabem que não sabem coisa alguma acerca da vida diária dos distritos problemáticos. A maior parte de nossos intelectuais está melhor informada sobre a Chechênia do que sobre Clichy-sous-Bois”.
Copyright (devidamente violado) 2005 Times Newspapers Ltd.
Eu acredito que a melhor colocação foi feita Alain Duhamel, acima. A arrogância francesa não consegue adimitir que alguém, seja lá quem for, possa discordar da “evidente superioridade” do modelo gaulês. O igualitarismo republicano funciona assim: todos os homens são iguais – iguais aos franceses, é claro!… Se não forem, que tratem de se tornar!
E o pior é que essa megalomania foi a responsável pelas sucessivas derrotas francesas na Segunda Guerra Mundial e no esfacelamento do império colonial. Mas, como eu sempre me repito: o pior nos imbecís é que eles são imbecís…
O mais assustador, no entanto, é a acusação feita ao Partido Socialisata por Senni: repetir chavôes marxistas, quando na oposição; se comportar como qualquer outro direitista, quando no poder. A versão dublada em pt-br está sendo exibida atualmente em Brasília, para desespero dos multi-étnicos brasileiros…
Medições de hipocrisia, digo, pesquisa de opinião
Apenas atualizando os dados sobre a crise na França, aqui vão os resultados das enquetes diárias do Le Monde (“Votre avis”):
2ª feira – 07 de novembro de 2005 – Nos episódios de violência urbana dos últimos dias, você ve, principalmente…
… a expressão do desajuste social dos jovens dos subúrbios menos favorecidos – 39,9 %
… a ação destrutiva de bandos e delinquentes – 55,2 %
… nem um. nem outro – 3,5 %
… sem opinião – 1,4 %
(de 28.578 votos)
3ª feira – 08 de novembro de 2005 – A decisão do governo de recorrer ao “toque de recolher” nas conurbações afetadas pelas violências urbanas, lhe parece…
… perfeitamente adequada à situação – 68,2 %
… um pouco fora de proporção – 27,3 %
… sem opinião – 4,5 %
(de 23.435 votos)
4ª feira – 09 de novembro de 2005 – Com respeito à aplicação do “Estado de Emergência” e do “Toque de Recolher” nas conurbações afetadas pela violência urbana, você…
… tem confiança em que o governo vai aplicar estas medidas de excessão de modo comedido – 62,6 %
… não confia, porque essas medidas são arriscadas a serem exageradas ou são um risco para as liberdades individuais – 33,9 %
… sem opinião – 3,5 %
(de 16.042 votos)
5ª feira – 10 de novembro de 2005 – Nicolas Sarkozy (nota do tradutor: Ministro do Interior da França) cogita de expulsar os estrangeiros condenados por violências urbanas, mesmo que sua situação no país seja regular. A seus olhos, esta medida é…
… injusta, trata-se de uma dupla penalização para o mesmo crime – 36,7 %
… justa, tendo em vista os acontecimentos atuais – 60,1 %
… sem opinião – 3,2 %
(de 20.867 votos)
6ª feira – 11 de novembro de 2005 – A respeito do “Estado de Emergência”, você cogita que…
… que ele seja prorrogado (pela aprovação de uma Lei) além dos 12 dias previstos para sua vigência – 41,4 %
… que ele não seja prolongado além dos 12 dias previstos – 50,1 %
… sem opinião – 8,5 %
(de 7.655 votos, até o momento)
Eu atribuiria a outro país europeu a atitude de responder a uma enquete on-line para se declarar “sem opinião”, mas parece que nem a estupidez nos é, realmente, ancestral.
Só um cego ou um completo estúpido não vê que esta atitude xenófoba, claramente demonstrada na enquete de 5ª feira, é uma das raízes do problema. Mas a secular calhordice dos “iluminados” franceses, terra da “liberdade, igualdade e fraternidade” (contanto que os franceses sejam mais livres, iguais e fraternos do que os outros), nem consegue disfarçar seu ranço de velhos decrépitos. E pensar que esses que ocupam os postos de decisão na França atual, são os mesmos que em 1968 enfrentavam valentemente os CRS em batalhas campais nas ruas de toda a França…
E é desses asnos (ou será dos hipócritas do “Bible Belt”?…) que os “macaquitos” brasileiros vão buscar inspiração para a solução dos problemas nacionais brasileiros? O que esses imbecís têm a nos ensinar???….
Santa hipocrisia, Batman!
Em 25 de outubro, eu estava postando sobre as Repercussões Internacionais do Referendo e comentava sobre o tom hipócrita das notícias dos jornais franceses.
Agora, a violência urbana está explodindo na França e eu estou tentando fazer pé com cabeça do que realmente está acontecendo por lá. Qual seria a melhor fonte de informações? Eu (besta que sou) pensei em acompanhar pelos jornais Le Figaro e Le Monde… lêdo engano d’alma…
A edição do Le Monde (on line) traz a seguinte enquete (sob o título: Votre Avis):
Você acha que a divulgação das imagens da violência nos subúrbios pela televisão deve ser:
…totalmente liberada: o público tem o direito à informação (44,1%)
…feita com muito cuidado: isso cria um efeito de contágio entre os mais jovens (52,6%)
…sem opinião (3.3%)
de 22.822 votos computados, até a hora deste post.
Saperlipopette! Vamos esconder a verdade desagradável e, quem sabe, ela vai embora…
E é esse tipinho de gente que quer vir “passar julgamento” sobre o nosso pobre “pays des sauvages”…
Repercussões internacionais do referendo
Os brasileiros rejeitam massivamente a interdição das armas de fogo
LEMONDE.FR | 24.10.05 | 08h57 • Atualizado em 24.10.05 | 09h01
Os brasileiros se manifestaram, por ocasião de um referendo no domingo, contra a proibição da venda de armas de fogo, com uma grande maioria estimando que esta medida seria ineficaz para por fim à violência da qual sofre o país. Mais de 64% dos votantes responderam “não”, segundo os resultados preliminares de cerca de 75% dos votos.
O Brasil ocupa a segunda posição no mundo em mortes por tiros, com o macabro registro de 36.000 mortos em 2004. “Nós não perdemos porque os brasileiros gostem de armas. Nós perdemos porque as pessoas não têm confiança no governo e na polícia”, reagiu Denis Mizne, do grupo “Sou da Paz” que milita contra a violência.
“EU VI CRIANÇAS FERIDAS POR BALAS”
No decurso dos debates que precederam o referendo, diversas pessoas disseram que temiam que uma proibição as deixasse à mercê dos delinqüentes fortemente armados. “Esse referendo (…) não vai acabar com a violência”. predisse, ao votar contra a proibição, Assis Augusto Pires, 60 anos, que mora em um bairro cercado e protegido do Jardim Paulistano. Carlos Eduardo Ferreira, eletricista de 40 anos que mora na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, teatro de uma sangrenta guerra entre quadrilhas, não concorda com essa opinião. “Eu sou favorável à proibição, eu sou pela vida. Eu já vi meninos feridos por balas”, explica ele.
Antes do começo da campanha pelo rádio e televisão sobre o referendo, o “sim” apresentava 76% das intenções de voto. Mas, depois do lançamento da campanha, em 1° de outubro, a tendência se inverteu rapidamente. Os grupos favoráveis à proibição acusaram os fabricantes de armas e as associações em favor do porte de armas – tais como a “National Rifle Association” (nota do tradutor: associação americana que defende o porte irrestrito de armas de fogo, de todos os calibres) que acompanhou de perto a votação – de financiar uma grande campanha defendendo a livre circulação de armas e de jogar com os medos da população.
“Eu penso que, para o comum dos mortais, ter uma arma à mão não é uma garantia de segurança. Por isso eu votei ‘sim'”, declarou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao votar. Enquanto isso, os partidários do “sim” reconheceram que a proibição do comércio das armas não seria o suficiente para contolar o problema da violência e que um aumento dos recursos para a segurança pública é necessário. Antonio Rangel, dirigente da “Viva Rio”, uma ONG de ponta na campanha pelo “sim”, reconheceu a concordância dos pontos de vista com os partidários do “não” acerca da insuficiencia da ação pública contra a violência.
Le Figaro
Os brasileiros querem manter suas armas
Brasil – Dois terços dos eleitores respondem “não” ao referendo, realizado no domingo, sobre a proibição da venda de armas.
L. 0.
[25 de outubro de 2005]
DESDE O ANÚNCIO dos resultados, os militantes da ONG “Sou da Paz” (segue-se, no original, a tradução literal do título da ONG) se desmancharam em lágrimas. Há dois meses, as pesquisas lhes prometiam que uma imensa maioria (80%) dos 122 milhões de eleitores brasileiros sustentaria a proposta do referendo de proibir a venda de armas e munições. Não aconteceu nada disso: no domingo, dois terços da população se pronunciaram contra esse projeto de Lei (sic), não obstante o apoio governamental.
“Foi uma coça, nós perdemos em todos os estados do país e, mesmo entre as mulheres, que são tradicionalmente contrárias à circulação das armas”, resumiu Ignacio Cano, professor especilista em questões de segurança na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A Igreja, as ONG e o Ministro da Justiça acharam suficiente repetir que esta proibição seria um primeiro passo para limitar o número de mortes provocadas pelas armas de fogo – mais de 36.000 no ano passado, 550.000 entre 1979 e 2003 – e, progressivamente, foram perdendo o apoio da sociedade.
O pendão da auto-defesa.
Os partidários do “não” no referendo, financiados pela indústria de armamentos, uma das maiores do mundo (sic), explorou, com sucesso, o pendão da auto-defesa. Com tal Lei (sic), o governo não iria impedir os criminosos de se armarem ilegalmente, mas abandonaria o cidadão a sua triste sorte, sem possibilidade de se proteger. “Uma idéia absurda, porque a maioria das armas compradas pelos cidadãos comuns acaba nas mãos dos criminosos”, sublinha Ignacio Cano. Não obstante, o argumento pegou “na mosca”, enfatizando a exasperação e o desengano dos brasileiros em face dos problemas da segurança pública. “Este ‘não’ é um voto de censura a toda a classe política, incapaz de encontrar a menor solução para a violência”, prossegue Ignacio Cano, lamentando a ausência de engajamento de políticos de envergadura.
O Presidente Luiz Inacio Lula da Silva certamente insistiu, no domingo, sobre a necessidade de limitar a venda de armas, mas, receoso de sofrer as conseqüências políticas desse “cheque-mate”, apressou-se a relembrar que “o povo é soberano”. No seio de um governo envenenado (no original, “tétanisé”), somente o Ministro da Justiça, desconhecido do grande público, trabalhou como o bom diabo para a causa do “sim”. A principal organização de oposição, o Partido Social Democrata (PSDB), teóricamente a favor do “sim”, igualmente brilhou por sua ausência no debate. A começar por José Serra, o Prefeito de São Paulo, o provável adversário de Lula na eleição presidencial de outubro de 2006.
Repercussões nos Estados Unidos
O resultado deste referendo, inédito no mundo, se arrisca a ter conseqüências bém além das fronteiras do Brasil. “Esta reversão de opinião em algumas semanas é uma grande decepção”, diz, desolado, Benoît Muracciole, encarregado da Campanha Mundial em favor do desarmamento da Amnesty International. A ONG contava muito com um resultado positivo em um país americano. “Os fabricantes de armas vão se sentir “de barriga cheia” (no original, “requinqués”), em particular nos Estados Unidos”, acrescenta ele. No Congresso Americano, esses lobbies estão dando os últimos polimentos em seu último projeto de Lei: proibir aos parentes das vítimas de armas de fogo de processar os comerciantes de armas.
O curioso é que ambos os jornais franceses, pelo tom das notícias, pareciam estar torcendo veladamente pelo “sim” (observe-se que o jornalista do Le Figaro só cita as lamúrias dos derrotados e o sugestivo subtítulo, no meio da matéria, publicada no Le Monde). Considerando que as submetralhadoras francesas são as armas mais usadas no submundo europeu e que o país também tem uma importante indústria de armamento, como essas lágrimas parecem ser “de crocodilo”!
Aliás, o tom dos artigos do London Times (faça-me o favor! A Inglaterra, pacifista!?) e dos jornais americanos (bem mais comedidos: lá o lobby da indústria de armamentos é bastante poderoso para processar um jornal), é igualmente reprovativo… “Selvagens armados? Claro que não!…”
Que fique bem clara a minha posição sobre o assunto!
Eu não sou a favor da posse e muito menos do porte indiscriminado de armas, tal como era antes do Estatuto do Desarmamento. Pelo contrário, eu acho que a posse e o porte de armas têm que ser severamente vigiados. O que não acarreta que a comercialização legal de armas de fogo deva ser proibida. Eu só lamento que pessoas bem intencionadas, como, sem dúvida, o são o pessoal do “Viva Rio” e do “Sou da Paz” dê tanta importância a desarmar todos os cidadãos, usando um non-sequitur tão primário como “eu não gosto, portanto você não pode”.
Desde os 19 anos as armas de fogo passaram a fazer parte de meu dia-a-dia. E eu também já vi os funestos resultados do uso descuidado e irresponsável de armas de fogo (é!… isso acontece dentro dos quartéis, também!…). O mesmo se pode dizer de remédios, substâncias para limpeza doméstica, automóveis… até mesmo de telefones e da Internet.
Mas, como já diziam os romanos: Abusus non tolit usus.
Isso é mentira!
The Times 20 de outubro de 2005
Mentrosos, trapaceiros? Junte-se ao Clube
por Camilla Cavendish
Agora que se tornou aceitável dissimular à menor oportunidade, nós todos devemos ajudar a inverter essa maré.
EM UMA RECENTE manhã, no cafezinho da escola, uma mãe amiga fez uma pergunta espantosa. “Será que eu estou errada em ensinar meus filhos a serem honestos?”, foi o que ela perguntou. “Será que eu estou impedindo eles de abrirem seus caminhos no mundo?” Isto foi chocante. Será que nós nos tornamos, atualmente, tão mais mendazes que a dissimulação deveria passar a ser uma habilidade vital no currículo?
Essa mulher não era uma pobre coitada. Ela teve uma carreira de sucesso nos negócios. Ela tem visto como as pessoas contam pequenas mentiras e como outras, cada vez mais, aceitam-nas pelo valor de face. Ela uma vez monitorou o balcão de devoluções e reembolsos de um supermercado. As pessoas pediam reembolso, sem qualquer comprovante, por mercadorias que o mercado não tinha em estoque há algum tempo. Mas os funcionários freqüentemente pagavam. Eles não queriam confusão. Eles presumiam que as pessoas são desonestas e não pareciam se preocupar com isso.
Quando foi que nós começamos a esperar que as pessoas mintam? Nós passamos por um ponto sem retorno, para um mundo que é cheio de dissimuladores profissionais. “Marqueteiros”, pessoal de relações públicas, advogados, alguns “promotores de campanhas” e um, sempre mutante, elenco de “operadores de serviços de atendimento ao consumidor” que prometem ligar em retorno, prometem apagar aquele débito na sua conta, mas, na verdade, apagam todos os registros de sua conversa, de forma que, na próxima vez, você será tratado como o principal suspeito, em um jogo surrealista de gato e rato, no qual, subitamente, tudo é culpa sua. Mentir virou uma indústria em crescimento, na qual freqüentemente parece mais importante jogar a culpa, complicar e confundir do que simplesmente consertar a maldita conexão de banda larga.
Nosso cinismo tem conseqüências peculiares. A largamente difundida presunção de que políticos são mentirosos, faz com que alguns jornalistas imaginem “estórias de cobertura”, ao ponto de inventá-las, ao passo que assumem um ar blasé quando as verdadeiras mentiras são reveladas. Os tablóides sensacionalistas estavam tão desesperados por notícias escabrosas (para aumentar sua tiragem) sobre David Cameron, neste fim de semana, que eles publicaram uma foto, que eles tinham há pelo menos cinco meses, mas não usaram, porque sabiam que a “estória” era mais fraca do que macarrão molhado.
A foto dos tempos de estudante de George Osborne, Membro do Parlamento, em situação comprometedora, meramente fê-lo parecer quadrado demais para estar tramando algo escuso. O Sr. Osborne foi devidamente exposto – mas somente como um homem que tentou salvar um amigo das drogas e de de uma mulher que, claramente, achou editores tão ávidos quanto ela em exagerar a verdade.
O que poderíamos chamar de uma mentira Classe A, contada por Stephen Byers, o antigo Secretário de Transportes, gerou menos indignação. Levado aos tribunais pelos acionistas da “Railtrack”, que acusam o Governo de roubá-los, forçando a falência da companhia, o Sr. Byers admitiu que ele disse “inverdades” aos Membros do Parlamento, quanto à data em que ele começou a desenhar seus planos para falir a “Railtrack” e se tornar o Grande Patrão. Mas será que há algum jornalista querendo investigar qual foi a substância perturbadora da mente que fez o Sr. Byers perder a noção do tempo?
Mais fascinante é a nova definição de verdade e mentira que o Sr, Juiz Lindsay nos deu, achando na Alta Corte, na sexta-feira, que o Sr. Byers não era um “comprovado mentiroso”, a despeito dele ter admitido que mentiu para o Parlamento. “Ele aceitou para mim que ele disse uma inverdade. Mas isso, por si só, não o rotula como mentiroso, se definirmos como “mentiroso” uma pessoa que diz uma inverdade, sabendo que ela é uma inverdade, ou sendo leviano quando a sua veracidade ou inveracidade. Se ele é ou não um “mentiroso” nesta acepção, não é problema meu; eu devo deixar essa decisão para a Câmara dos Comuns”. Então, a Comissão de Padrões e Privilégios torna-se o árbitro final sobre a verdade; e os parlamentares podem aceitar uma visão edulcorada da declaração do Sr. Byers, nesta semana, na qual ele se desculpou pelo que ele rebaixou a um “ato falho”.
É da natureza humana fazer distinções bem sutís entre diferentes matizes de desonestidade, Existe uma hierarquia de mentiras, de “mentirinhas” para cima. O problema é que “mentira mesmo” é, geralmente, vista como uma coisa que outras pessoas fazem: a Enron, ou o Programa “Petróleo-por-comida” da ONU, ou Jaques Chirac, que prometeu 100 libras por dia para frutas e legumes. Existe uma categoria mental, totalmente diferente, para você não pagar suas dívidas, tirar um dia para ficar na cama, ou contestar aquela multa de trânsito, porque você acha que tem uma chance razoável de se livrar dela. Estas coisas ainda parcem um pouco desonestas para a maioria de nós. Mas a honestidade não está começando a parecer “fora-de-moda”, um pouco ingênua mesmo, quando todo o mundo “está levando vantagem”? Um ponto de vista bem difundido, mas um que é seriamente corrrosivo.
Uma pesquisa, realizada neste ano, mostrou que um em cada quatro estudantes britânicos adimite que “copia e cola” material da internet e apresenta como original seu. Tão chocante como a mentira é a honestidade brutal dos estudantes acerca do fato. Quase um em cada cinco disse encarar o plágio como uma prática aceitável. No entanto, as universidades ficam estranhamente embaraçadas em adotar uma linha moralizante contra a desonestidade. Na mesma Grã-Bretanha onde “grupos de pressão para a cortesia” tentam restaurar os “bons modos”, também há um Serviço de Assessoramento para Plágios que se empenha em “identificar exemplos dos melhores desempenhos”. Por que não dizer que plágio é errado e parar de inventar desculpas polidas?
A verdade é que, talvez, nós não valorizemos mais a honestidade como fazíamos, mas ainda valorizamos a aparência de honestidade. Nós traçamos uma distinção grande demais entre corrupção, que ainda provoca uma indignada tomada de fôlego, e a desonestidade que, mais e mais, parecemos encarar como algo natural, conquanto possamos nos livrar das conseqüências. As empresas estão contratando psicólogos e assessores de recrutamento para investigar os Curricula Vitae que não são mais confiáveis. E o fato de que as pessoas admitem mais prontamente suas desonestidades, é um sinal seguro de sua degradação moral.
Não é inevitável que um flerte com inverdades Classe C, venha a tentar os potoqueiros a contar mentiras Classe A. Mas ser complascente com a desonestidade, como as universidades e os empregados do supermercado parecem fazer, pode alimentar, seguramente, a impressão de que todo o mundo “está levando vantagem”. A Universidade de Virgínia achou falsidades em um quinto de todas as conversas de dez minutos, que aumentam para um terço entre os estudantes graduados. Se a educação está dando às pessoas confiança em tapear os outros, teremos que trabalhar especialmente duro para manter nossos filhos honestos.
Resta mais algo a dizer?…
Mudei de idéia…
Este texto apareceu na Comunidade “Questões Militares – Brasil” do Orkut. Como o autor do post diz tê-lo recebido por email, eu vou, sem-vergonhamente, reproduzí-lo aqui:
MUDEI DE IDÉIA!!!! AGORA É SIM!!!
Antes, eu tinha certeza de que ia votar no NÃO e ninguém ia me convencer do contrário. Mas o tempo foi passando, entrei nas comunidades do SIM e do NAO no Orkut, ouvi propagandas no rádio e na TV e os argumentos do SIM me convenceram. Vou votar SIM. Sabe por que? Vou dar 18 motivos:
1. Descobri que a chance de se sair bem ao reagir a um assalto é de uma em 288.345.774.324.500. As estatísticas provam que nos outros 288.345.774.324.499 casos, a vítima que reagiu morreu.
2. Descobri que a arma legal alimenta os bandidos. Todas aquelas AR-15, AK-47, granadas e bazucas que os traficantes do Rio usam foram roubadas de cidadãos honestos que compraram as armas legalmente. Da minha casa mesmo, por exemplo: Ano passado me roubaram quatro mísseis STINGER.
3. Descobri que todos os pais que têm arma de fogo costumam deixá-las carregada e engatilhada em cima do sofá da sala. Por isso que 94 milhões de crianças brasileiras morrem brincando com armas de fogo todos os anos.
4. Descobri que todos os assaltantes de casa têm superpoderes. Eles atravessam portas e paredes e se materializam imediatamente na sua frente e apontam uma arma para a sua cabeça enquanto você ainda está deitado, tornando impossível qualquer reação. Eles não perdem tempo e não fazem barulho arrombando portas.
5. Descobri que se eu vir ou ouvir algum bandido pulando a cerca e entrando no meu quintal, eu não vou conseguir afugentá-lo com um tiro para cima ou para o chão. Se ele ouvir o tiro, aí sim, é que ele vai ficar excitado e vai querer de toda forma entrar em casa e trocar tiros comigo. Eles adoram fazer isso.
6. Descobri que se o NAO ganhar, as armas de fogo vão imediatamente ficar 90% mais baratas e vai acabar a burocracia para a compra de uma. No dia seguinte à vitória do NÃO, qualquer pessoa (bandido ou não) vai poder ir numa loja de armas, comprar uma 45 e oito caixas de munição, já vai sair armado e vai para o bar mais próximo para arrumar briga e me matar.
7. Descobri que delegados e policiais civis, militares e federais – que são em quase totalidade favoráveis ao NÃO – não entendem N-A-D-A de violência e criminalidade. Quem manja mesmo do assunto são atores, sociólogos e dirigentes de ONGs internacionais.
8. Descobri que estrangeiros que lideram ONGs como a Viva-Rio têm muita experiência no assunto. Afinal, todo mundo sabe que a situação social, econômica e de criminalidade da França, Inglaterra e Estados Unidos (que é de onde eles vêm) é IGUALZINHA à realidade do Brasil. Não tenho a menor dúvida de que as teorias que eles têm vão funcionar direitinho aqui.
9. Descobri que 90% dos casos de homicídios são cometidos pelos chamados cidadãos de bem. Claro que isso é só dos homicídios ESCLARECIDOS, que são menos de 5% dos casos. Mas pela lógica, os outros 95% dos homicídios, que não são esclarecidos, também deve ser causados pelos cidadãos de bem.
10. Descobri que o governo quer que a gente vote sim. E o governo sempre pensa no nosso bem. Afinal, todo mundo sabe que a qualidade da saúde pública, ensino público, segurança pública, e etc vêm melhorando cada vez mais, dia a dia.
11. Descobri que se o SIM ganhar, não vão mais acontecer mortes banais. Maridos ciumentos só vão agredir as mulheres com travesseiros, torcidas organizadas vão se dar às mãos, facas e canivetes vão perder o fio, tijolos e paus vão ficar macios e os pitboys vão todos se converter ao budismo.
12. Descobri que até agora, o desarmamento voluntário já deu resultados. É claro que a queda nos atendimentos dos postos do SUS em São Paulo nos últimos 12 meses foi devido à diminuição do número de armas, e não devido a maiores investimentos em segurança e educação.
13. Descobri que o jovem é a principal vítima da arma de fogo. Claro que isso não tem nada a ver com o fato de o jovem ser o maior usuário de drogas, e nem o fato de que quase 100% dos envolvidos no tráfico de drogas têm menos de 30 anos (porque morrem ou são presos antes). Isso é só coincidência.
14. Descobri que todo mundo que tem arma de fogo é um suicida em potencial. E a única causa do suicídio é a arma de fogo, e não a falta de perspectivas, falta de um ideal, falta de um sonho a buscar ou então distúrbios mentais como a depressão.
15. Descobri que se algum bandido invadir a minha casa, basta-me ligar para o 190. A polícia sempre tem homens e viaturas sobrando e levará menos de 3 minutos para me atender.
16. Caso isso não aconteça, basta-me fazer o sinalzinho do “sou da paz” com as mãos e o ladrão vai saber que eu sou um sujeito legal, e então ele vai embora em paz sem levar nada e sem violência nenhuma. Eles sempre agem assim quando descobrem que você é da paz, e não um daqueles psicopatas malvados que são a favor do NÃO.
17. Caso o ladrão seja muito, mas muito malvadão, eu só preciso gritar por socorro. Em cinco segundos vão aparecer a Fernanda Montenegro, a Maitê Proença e o Felipe Dylon para me salvar e prender o bandido. Sem usar armas.
18. Se o SIM ganhar, o Brasil vai ser um país mais feliz. Que nem na novela das oito.