Isso é mentira!

Salve, Pessoal! Mais uma tradução de artigo do Times de Londres (vou fingir que não ouvi o engraçadinho aí atrás dizer: mais uma!…). O artigo original é Liars, cheats? Join the club.

The Times 20 de outubro de 2005
Mentrosos, trapaceiros? Junte-se ao Clube
por Camilla Cavendish
Agora que se tornou aceitável dissimular à menor oportunidade, nós todos devemos ajudar a inverter essa maré.
EM UMA RECENTE manhã, no cafezinho da escola, uma mãe amiga fez uma pergunta espantosa. “Será que eu estou errada em ensinar meus filhos a serem honestos?”, foi o que ela perguntou. “Será que eu estou impedindo eles de abrirem seus caminhos no mundo?” Isto foi chocante. Será que nós nos tornamos, atualmente, tão mais mendazes que a dissimulação deveria passar a ser uma habilidade vital no currículo?
Essa mulher não era uma pobre coitada. Ela teve uma carreira de sucesso nos negócios. Ela tem visto como as pessoas contam pequenas mentiras e como outras, cada vez mais, aceitam-nas pelo valor de face. Ela uma vez monitorou o balcão de devoluções e reembolsos de um supermercado. As pessoas pediam reembolso, sem qualquer comprovante, por mercadorias que o mercado não tinha em estoque há algum tempo. Mas os funcionários freqüentemente pagavam. Eles não queriam confusão. Eles presumiam que as pessoas são desonestas e não pareciam se preocupar com isso.
Quando foi que nós começamos a esperar que as pessoas mintam? Nós passamos por um ponto sem retorno, para um mundo que é cheio de dissimuladores profissionais. “Marqueteiros”, pessoal de relações públicas, advogados, alguns “promotores de campanhas” e um, sempre mutante, elenco de “operadores de serviços de atendimento ao consumidor” que prometem ligar em retorno, prometem apagar aquele débito na sua conta, mas, na verdade, apagam todos os registros de sua conversa, de forma que, na próxima vez, você será tratado como o principal suspeito, em um jogo surrealista de gato e rato, no qual, subitamente, tudo é culpa sua. Mentir virou uma indústria em crescimento, na qual freqüentemente parece mais importante jogar a culpa, complicar e confundir do que simplesmente consertar a maldita conexão de banda larga.
Nosso cinismo tem conseqüências peculiares. A largamente difundida presunção de que políticos são mentirosos, faz com que alguns jornalistas imaginem “estórias de cobertura”, ao ponto de inventá-las, ao passo que assumem um ar blasé quando as verdadeiras mentiras são reveladas. Os tablóides sensacionalistas estavam tão desesperados por notícias escabrosas (para aumentar sua tiragem) sobre David Cameron, neste fim de semana, que eles publicaram uma foto, que eles tinham há pelo menos cinco meses, mas não usaram, porque sabiam que a “estória” era mais fraca do que macarrão molhado.
A foto dos tempos de estudante de George Osborne, Membro do Parlamento, em situação comprometedora, meramente fê-lo parecer quadrado demais para estar tramando algo escuso. O Sr. Osborne foi devidamente exposto – mas somente como um homem que tentou salvar um amigo das drogas e de de uma mulher que, claramente, achou editores tão ávidos quanto ela em exagerar a verdade.
O que poderíamos chamar de uma mentira Classe A, contada por Stephen Byers, o antigo Secretário de Transportes, gerou menos indignação. Levado aos tribunais pelos acionistas da “Railtrack”, que acusam o Governo de roubá-los, forçando a falência da companhia, o Sr. Byers admitiu que ele disse “inverdades” aos Membros do Parlamento, quanto à data em que ele começou a desenhar seus planos para falir a “Railtrack” e se tornar o Grande Patrão. Mas será que há algum jornalista querendo investigar qual foi a substância perturbadora da mente que fez o Sr. Byers perder a noção do tempo?
Mais fascinante é a nova definição de verdade e mentira que o Sr, Juiz Lindsay nos deu, achando na Alta Corte, na sexta-feira, que o Sr. Byers não era um “comprovado mentiroso”, a despeito dele ter admitido que mentiu para o Parlamento. “Ele aceitou para mim que ele disse uma inverdade. Mas isso, por si só, não o rotula como mentiroso, se definirmos como “mentiroso” uma pessoa que diz uma inverdade, sabendo que ela é uma inverdade, ou sendo leviano quando a sua veracidade ou inveracidade. Se ele é ou não um “mentiroso” nesta acepção, não é problema meu; eu devo deixar essa decisão para a Câmara dos Comuns”. Então, a Comissão de Padrões e Privilégios torna-se o árbitro final sobre a verdade; e os parlamentares podem aceitar uma visão edulcorada da declaração do Sr. Byers, nesta semana, na qual ele se desculpou pelo que ele rebaixou a um “ato falho”.
É da natureza humana fazer distinções bem sutís entre diferentes matizes de desonestidade, Existe uma hierarquia de mentiras, de “mentirinhas” para cima. O problema é que “mentira mesmo” é, geralmente, vista como uma coisa que outras pessoas fazem: a Enron, ou o Programa “Petróleo-por-comida” da ONU, ou Jaques Chirac, que prometeu 100 libras por dia para frutas e legumes. Existe uma categoria mental, totalmente diferente, para você não pagar suas dívidas, tirar um dia para ficar na cama, ou contestar aquela multa de trânsito, porque você acha que tem uma chance razoável de se livrar dela. Estas coisas ainda parcem um pouco desonestas para a maioria de nós. Mas a honestidade não está começando a parecer “fora-de-moda”, um pouco ingênua mesmo, quando todo o mundo “está levando vantagem”? Um ponto de vista bem difundido, mas um que é seriamente corrrosivo.
Uma pesquisa, realizada neste ano, mostrou que um em cada quatro estudantes britânicos adimite que “copia e cola” material da internet e apresenta como original seu. Tão chocante como a mentira é a honestidade brutal dos estudantes acerca do fato. Quase um em cada cinco disse encarar o plágio como uma prática aceitável. No entanto, as universidades ficam estranhamente embaraçadas em adotar uma linha moralizante contra a desonestidade. Na mesma Grã-Bretanha onde “grupos de pressão para a cortesia” tentam restaurar os “bons modos”, também há um Serviço de Assessoramento para Plágios que se empenha em “identificar exemplos dos melhores desempenhos”. Por que não dizer que plágio é errado e parar de inventar desculpas polidas?
A verdade é que, talvez, nós não valorizemos mais a honestidade como fazíamos, mas ainda valorizamos a aparência de honestidade. Nós traçamos uma distinção grande demais entre corrupção, que ainda provoca uma indignada tomada de fôlego, e a desonestidade que, mais e mais, parecemos encarar como algo natural, conquanto possamos nos livrar das conseqüências. As empresas estão contratando psicólogos e assessores de recrutamento para investigar os Curricula Vitae que não são mais confiáveis. E o fato de que as pessoas admitem mais prontamente suas desonestidades, é um sinal seguro de sua degradação moral.
Não é inevitável que um flerte com inverdades Classe C, venha a tentar os potoqueiros a contar mentiras Classe A. Mas ser complascente com a desonestidade, como as universidades e os empregados do supermercado parecem fazer, pode alimentar, seguramente, a impressão de que todo o mundo “está levando vantagem”. A Universidade de Virgínia achou falsidades em um quinto de todas as conversas de dez minutos, que aumentam para um terço entre os estudantes graduados. Se a educação está dando às pessoas confiança em tapear os outros, teremos que trabalhar especialmente duro para manter nossos filhos honestos.

Resta mais algo a dizer?…

Discussão - 1 comentário

  1. No Sexy Nick disse:

    Joããããão... ainda não li seu blog... ando em falta com isso viu... Eu não ando mto sumida do msn... entro mais durante o dia, la da empresa... e, de casa, entro umas 17:30 e fico até umas 21:30... com essa coisa de "viajar" uma hora e pouco pra ir da minha casa até Alphaville, dá 19h eu já to "irracional" de tão cansada... mas mesmo assim fico na net atééééé minha mãe chegar do trabalho.... e se ela mudar de horário, vou começar a sair da net umas 19:30... Vc é q é meu amigo "morcegão" né e só aparece online pra mim de madrugada... ahahahahahahahah... Eu entro sempre "ocupado" ou "online"... Bjo! (Ah!!... Uma amiga minha deu um esculacho "público" no meu ex... depois te conto...rs)

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM