Mais um pouquinho sobre “Bad Science Blogging”
Um dado particularmente sinistro é:
O World Food Programme (WFP) calculou que o preço do milho, na Etiópia, aumentou 100% e o trigo, 40% desde o fim do ano passado, e os preços tendem a subir mais ainda.
Junte isto com a constatação nos Editoriais do New York Times, também de hoje, sob o título “Colheitando dinheiro em um Mundo Faminto, de que:
Mais de um quinto da safra americana de milho está, agora, destinada ao etanol. Para encurtar a história: a era da comida barata, tal como a era da gasolina barata, pode estar quase no fim.
E, aí, você percebe todo o cinismo arrogante por trás da afirmativa: “pode deixar o ar condicionado ligado…”
Claro que pode! Seu “rastro de carbono” não aumenta grande coisa… e se meia dúzia de etíopes morrem de fome para encher o tanque de sua SUV, melhor ainda: menos impostos para o governo americano para financiar a alimentação dessa “gentalha”…
E esta pústula do Tierney ainda posa como “jornalista de ciências”… E o pior: tem gente que vai ler essas “pérolas” e vai acreditar… Afinal, “deu no New York Times”…
O que a EPA REALMENTE DIZ!…
Parece haver prós e contras em ambos os lados do debate. Para as sacolas de papel, o ciclo de vida consiste dos seguintes estágios: corte da madeira, transformação em polpa, daí em papel, manufatura da sacola, uso do produto e tratamento do lixo. Para as sacolas plásticas (de Polietileno), os passos são: extração do petróleo ou gás natural, manufatura do etileno, polimerização do etileno, manufatura da sacola, uso do produto e tratamento do lixo. Em todos esses passos, há um gasto de energia e geração de lixo.
Alguns outros fatos acerca desses dois produtos podem nos auxiliar a responder a esta questão antiga:
- As sacolas plásticas foram introduzidas em 1977 e, atualmente, são quatro em cada cinco das sacolas usadas nos mercados [nota do tradutor: lá nos EUA].
- Sacolas de papel geram 70% mais poluentes do ar e 50 vezes mais poluentes de água do que as sacolas de plástico.
- Sacolas de papel são feitas a partir de madeira (árvores) que são um recurso renovável. A maior parte das sacolas de plástico é feita de polietileno, que é feito de petróleo crú e gás natural, recursos não renováveis.
- 2000 sacolas de plástico pesam 30 libras, 2000 sacolas de plástico pesam 280 libras. As primeiras ocupam um espaço bem maior nos aterros sanitários.
- É necessário 91% menos energia para reciclar uma libra de plástico do que uma libra de papel. Gasta-se quatro vezes mais energia para manufaturar uma sacola de papel do que uma sacola de plástico. A energia (em BTUs): Sacolas plásticas: 594 BTU; Sacolas de papel: 2511 BTU.
- Papel é aceito na maior parte dos programas de reciclagem, enquanto que a taxa de reciclagem de plésticos é muito baixa. Pesquisas feitas em 2000 mostram que 20% dos sacos de papel eram reciclados, enquanto que apenas 1% das sacolas de plástico eram recicladas.
- Pesquisas correntes mostram que o papel, nos atuais aterros sanitários, não se decompõe ou dissolve de maneira muito mais rápida do que o plástico. Na verdade, nada se decompõe totalmente nos atuais aterros sanitários, devido à falta de água, luz, oxigênio e outros elementos importantes necessários para o processo de decomposição se completar.
- A incineração pode diminuir a quantidade de sacolas de papel e plástico. Entretanto, a incineração causa poluição do ar e cria cinzas que têm que ser jogadas em aterros sanitários.
Então, qual é a melhor solução: papel ou plástico? NENHUM DOS DOIS! Procure adquirir sacolas reutilizáveis ou reutilizar suas sacolas de papel ou plástico no mercado. Reutilizar uma sacola, por uma vez só que seja, tem um grande impacto. Uma sacola resistente, reutilizável, que possa ser usada até 11 vezes, terá um impacto ambiental menor do que 11 sacolas de plásticos descartável.
- Somente na Cidade de Nova York, menos uma sacola de compras por pessoa por ano, reduziria cinco milhões de libras de lixo e reduziria os custos em US$250.000 em tratamento de lixo.
- Quando uma tonelada de sacolas de papel é reutilizada ou reciclada, se economiza três metros cúbicos de espaço em aterro sanitário e se salva a vida de 13 a 17 árvores! Em 1997, 955.000 toneladas de sacolas de papel foram usadas nos Estados Unidos.
- Quando uma tonelada de sacolas de plástico é reutilizada ou reciclada, a energia equivalente a 11 barrís de petróleo é economizada.
Muitos mercados [nota do tradutor: nos EUA…] vendem, agora, resistentes bolsas de pano para compras. Alguns desses mercados até dão descontos (por exemplo, cinco cents por sacola) se você trouxer suas própria sacola. Portanto, guarde uma pilha de sacolas reutilizáveis em sua dispensa, ou, se você costuma ir de carro ao mercado, simplesmente guarde-as na mala do carro.
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Agora, comparem com o “não se preocupe” do artigo anterior e vejam se não é canalhice pura e simples afirmar que “não faz diferença”…
Bad science blogging!….
Entre as “pérolas”, eu destaco duas que são de um cinismo e uma falta de “semancol” impressionantes:
2. O ar-condicionado “matador do planeta” de seu carro. Não importa o quanto você esteja preocupado com o seu rastro-de-carbono, você não tem que derreter de suar na rodovia para a praia. Depois de realizar testes [de consumo] a 65 mph, os “experts” da “edmunds.com” relatam que o arrasto aerodinâmico causado por dirigir com as janelas abertas cancela toda a economia de combustível que você faz, desligando seu ar-condicionado.
(…)
5. As sacolas plásticas do mal. Acreditem na Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA): sacolas de papel não são melhores para o meio ambiente do que sacolas de plástico. Se mostra qualquer coisa, os indícios sobre o ciclo de vida favorecem as sacolas de plástico. Elas requerem muito menos energia – e emissões de gases de efeito-estufa – para serem manufaturadas, distribuídas e recicladas. Elas geram menos poluição do ar e das águas. E ocupam menos espaço em aterros sanitários.
Brilhante, não é?…
O primeiro problema não são os “pantagruéis-da-goela-seca”, conhecidos como SUV (“Sports Utility Vehicles”), tão queridinhos dos americanos… É o ar-condicionado… Numa porcaria de veículo que faz menos de dez km/litro (e o estudo foi feito em uma média de velocidade de cerca de 100 km/h – não em um engarrafamento daqueles onde o motor funciona somente para manter o ar-condicionado ligado), fingir que o “vilão” é o ar-condicionado só pode ser mau-caratismo…
E, no segundo caso, para começo de conversa eu duvi-de-ó-dó dos dados da EPA. (Não seria a primeira vez que uma Agência Reguladora americana mentiria descaradamente, neste governo de mentirosos que está no poder nos EUA…). Ainda mais quando o dado se baseia no “ciclo de vida” de uma bendita sacola… O papel é uma solução porca, mas, pelo menos, é muito mais biodegradável do que o plástico. A “reciclagem” mencionada insinua que todas as benditas sacolas (sejam de papel ou plástico) são recicladas… Estão querendo tampar o Sol com uma peneira furada… E o que realmente quer dizer “ocupam menos lugar nos aterros sanitários”?… Eu realmente gostaria de poder analisar detalhadamente esta “pesquisa” da EPA, porque simplesmente não consigo acreditar em uma única palavra do que o Tierney diz que eles dizem…
E um canalha desses ganha muitos milhares de dólares para escrever essas sandices em um dos jornais mais prestigiosos do mundo!…
Resta saber de quem…
O cobertor ecológico é curto…
University of Missouri-Columbia
Tecnologia demais pode estar matando bactérias benéficas
Engenheiro da UM preocupado com o impacto ambiental de nanopartículas de Prata no tratamento de águas servidas
COLUMBIA, Mo. – Um excesso de uma coisa boa pode ser prejudicial ao meio-ambiente. Por muitos anos, os cientistas souberam da capacidade da Prata de matar bactérias prejudiciais e, recentemente, usaram este conhecimento para criar produtos de consumo que contém nanopartículas de Prata. Agora, um pesquisador da Universidade do Missouri descobriu que as nanopartículas de Prata também podem destruir bactérias benignas que são usadas para remover Amônia em sistemas de tratamento de águas servidas. O estudo foi patrocinado por recursos da National Science Foundation.
Diversos produtos contendo nanopatículas de Prata já estão no mercado, inclusive meias que contém nanopartículas de Prata projetadas para inibir bactérias causadoras de chulé, e máquinas de lavar “high-tech”, economizadoras de energia, que desinfetam roupas gerando as pequenas partículas. Os efeitos positivos desta tecnologia podem ser ofuscados pelos potenciais efeitos negativos no meio-ambiente.
“Por causa do crescente uso de nanopartículas de Prata em produtos para o consumidor, o risco de que este material seja lançado em canalizações de esgotos, instalações de tratamento de águas servidas e, eventualmente, chegue a rios, correntes e lagos é preocupante”, declarou Zhiqiang Hu, professor assistente de Engenharia Civil e Ambiental na Faculdade de Engenharia da UM. “Nós descobrimos que as nanopartículas de Prata são extremamente tóxicas. As nanopartículas destroem as bactérias benignas que são usadas para o tratamento de águas servidas. Elas basicamente param a atividade de reprodução das boas bactérias”.
Hu disse que as nanopartículas de Prata geram substâncias químicas mais peculiares, conhecidas como espécies de Oxigênio altamente reativas, do que pedaços de Prata maiores. Essas espécies de substâncias químicas oxigenadas provavelmente impedem o crescimento das bactérias. Por exemplo, o uso de “lodo” resultante do tratamento de águas servidas como fertilizante de solos é uma prática comum, de acordo com Hu. Se, neste “lodo”, estiverem presentes altas concentrações de nanopartículas de Prata, o solo usado para agricultura pode ser prejudicado.
Hu está lançando um segundo estudo para estabelecer a que níveis a presença de nanopartículas de Prata se torna tóxica. Ele vai determinar o quanto as nanopartículas de Prata afetam o tratamento de águas servidas, introduzindo o nanomaterial em águas servidas e no lodo. Então, ele vai realizar medições do crescimento microbial para estabelecer os níveis de nanoprata que prejudicam o tratamento de águas servidas e a digestão do lodo.
A Water Environment Research Foundation recentemente concedeu a Hu $150,000 para determinar quando as nanopartículas de Prata começam a prejudicar o tratamento de águas servidas. Hu declarou que as nanopartículas nas águas servidas podem ser melhor gerenciadas e reguladas. Os trabalhos na pesquisa subseqüente devem estar completos até 2010.###A pesquisa sobre nanopartículas de Prata, realizada por Hu e seu estudante graduado, Okkyoung Choi, foi recentemente publicado em “Water Research and Environmental Science & Technology”.
Bom… Há especulações de que, em parte, as canalizações de chumbo para a água foram responsáveis pela deterioração do Império Romano. Mas alguém aprende algo com a História?…
Carros particulares: os grandes vilões!…
Este artigo foi motivado pelos artigos postados pela Maria Guimarães no “Ciência e Idéias”, ontem, com os títulos «“Declaração de São Paulo” define metas para melhorar a qualidade do ar e dos transportes urbanos na América Latina» e «Manifesto por cidades humanas».
O assunto é de grande importância e – por que não dizer – urgência. Os níveis de poluição nos grandes centros urbanos e a contaminação da atmosfera, em geral, são questões que não podem ser mais “empurradas com a barriga”. Os efeitos já estão se fazendo sentir!
O que me deixa avesso, são certas afirmações simplistas, mentirosas em essência, e que, em lugar de procurar soluções realmente adequadas, se preocupam mais em achar “bodes expiatórios”. Senão vejamos alguns trechos pinçados do primeiro dos artigos em causa.
Já começa o texto com a seguinte afirmação:
Boa parte da poluição do ar é causada por carros particulares. As conseqüências são sérias e vão desde mudanças climáticas globais até mortes e internações.
“Boa parte”, quanto? Exatamente, quanto? Qual o índice de emissão de poluentes “per capita” para os carros particulares? E qual é a parte correspondente aos ônibus e caminhões desregulados? Qual é o índice “per capita” destes? Notem o recurso retórico de começar a segunda frase logo após a expressão “carros particulares”, fazendo uma velada associação às “sérias conseqüências”. Vejam o mesmo trecho, refraseado:
Os carros particulares são responsáveis por boa parte da poluição do ar. As conseqüências são sérias e vão desde mudanças climáticas globais até mortes e internações.
O conteúdo é o mesmo, mas a “apelação” emocional diminui bastante. As conseqüências são causadas pela poluição, não pelos carros somente. Claro que os carros são uma das fontes de poluição, mas o problema a enfrentar é a poluição em si, não o uso de carros particulares.
O texto, mais abaixo, prossegue:
Grande parte da poluição do ar se deve ao crescimento da frota de veículos.
Indiscutível! Mas com a frase inicial, ainda na cabeça, o leitor associa “frota de veículos” com “carros particulares”, o que é, simplesmente, mentira! O número de veículos de transporte coletivo e de cargas cresce igualmente, em virtude da maior demanda por meios de transporte para pessoas e de mercadorias para essas pessoas (mas o crescimento desordenado das conurbações é solenemente ignorado – claro! Carros não votam, pessoas, sim. E o número de eleitores pedestres é bem maior do que o de “motorizados”).
Outra “agulhada politicamente correta” aparece mais abaixo:
A proliferação de pequenos coletivos como as peruas são um problema sério, pois acabam por dividir o trânsito (e a emissão de poluentes) em veículos menores e mais “sujos”. A primeira medida, portanto, é limpar os veículos — tanto em termos de regulagem e tecnologia como do combustível utilizado.
Opa! E o motivo da “proliferação dos pequenos coletivos”? Não é algo que mereça atenção? Esse “transporte alternativo” (eufemismo para “van”, no Rio, e “perua”, em Sampa) começou a operar em locais onde o Serviço Público de transporte não ia. De repente, perceberam que, mesmo nas rotas servidas pelos Transportes Públicos, havia espaço para os “piratas”. Isto, certamente, é um dado relevante; mas que “passa batido”: vamos “limpar os veículos”… Só não esqueçam de começar pelos ônibus legalizados e caminhões. E pelas “viaturas oficiais”, a começar pelas latas velhas com as quais “equipam” as polícias (para quem não sabe: no Estado do Rio de Janeiro, as polícias recebiam veículos reprovados nos controles de qualidade das fábricas – portanto, mais baratos…) A perua clandestina (toda amarrada com arame e com um “kit-gás” clandestino) polui. Mas a ambulância (também caindo aos pedaços, porque jamais viu uma revisão), também. Dos ônibus que parecem equipados com geradores de fumaça, eu nem vou falar…
A questão dos combustíveis é realmente relevante. O Brasil tem tecnologia de ponta nesse setor: só resta passar do discurso de campanha para a prática (mas será que isso realmente interessa à Petrobrás?… O Brasil exporta, a preço vil, o excedente de gasolina, para custear a importação de Diesel — aliás, outro dado pouco conhecido: nosso combustível para aviação é dos mais baratos do mundo! Por que? Produção excedente…)
Desde a “crise do petróleo” da década de 1970, a Petrobrás sabia que um dispositivo combinando o óleo de mamona com o GLP poderia substituir o Diesel, sem necessidade de regulagem diferente do motor. Mas o GLP já é pouco para o consumo dos botijões domésticos e, gás natural canalizado, custa caro para implantar…
A matriz do transporte, no Brasil, é de um total absurdo. As cargas e passageiros são transportados, preferencialmente, pelos meios mais caros: aéreo e rodoviário. Isso, no país com a maior malha de aquavias interiores… Mas, construir uma hidroelétrica em Sete Quedas, tudo bem. Construir eclusas para a navegação… ah!… isso fica muito caro!… A navegação no São Francisco só sobrexiste por motivos turísticos. E pensar que ele foi uma das vias de penetração da colonização do Brasil-Colônia… Inventar uma absurda “transposição das águas do São Francisco” para resolver (será?…) o problema de meia-dúzia de municípios nordestinos, pode. Abrir canais para ligar as bacias fluviais, não.
Só para dar um exemplo de como, no Brasil, “o carro anda na frente dos bois”, na época em que eu residi em Corumbá-Ladário, MS, mandar uma encomenda do Rio para Corumbá por via aérea, não só era mais rápido: era mais barato do que pela ferrovia! Dá para entender?…
Continuando a pinçar o texto:
Mas ônibus movidos a combustíveis mais limpos, como gás natural ou biodiesel, não resolvem o problema de poluição se estão presos no trânsito, afirma Schipper. “A mobilidade sustentável é o que resolve o problema”. Segundo ele, a ênfase em combustíveis limpos traz o problema de aumentar sua demanda. A solução é reduzir a necessidade de combustível, explicou.
Explicou o problema, mas não indicou uma solução. Mais pessoas, mais coletivos, mais combustível, mais tráfego, mais engarrafamentos, mais combustível desperdiçado, mais poluição. Qualquer um pode ver isso. E a solução?
Lloyd Wright, da Fundação Viva, em Quito (Equador)[…] acredita que vias para pedestres, ciclovias e transporte público são soluções muito mais efetivas do que depender de um tipo de combustível. Mas ele avisa que essas soluções só serão adotadas pelo público se oferecerem velocidade, comodidade e segurança.
Sim… E carregar algumas sacolas de compras a pé, ou penduradas no guidom da bicicleta são uma excelente solução… para a mãe dele! E uma ciclovia Seropédica – Centro do Rio é uma excelente alternativa para a Avenida Brasil – para quem não se importa de pedalar 120 km de ida e 120 km de volta, todo dia… Fácil! Você acorda às três da madruga, monta no “camelo” e sai pedalando… lá pelas 9, você está pronto para bater o ponto (e cair duro de cansaço no trabalho)… lá pelas cinco da tarde, você acorda, bate o ponto de novo, pega o “camelo” (se é que ele ainda está onde você deixou…) e chega em casa lá pelas 11 da noite… e cai na cama, sem tomar banho, porque, no dia seguinte, você tem que acordar às três da madruga… Ora, faça-me o favor!!!…
Existe uma linda ciclovia, no Rio, que liga Copacabana ao Centro da Cidade. Se há meia dúzia de pessoas que a usam, regularmente, para ir e voltar do trabalho, eu vou ficar muito surpreso…
Triste é um longo trecho que se segue:
Mas para realmente solucionar o problema, é preciso ousar. Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, contou sobre as mudanças feitas na capital colombiana. Segundo ele, a questão do transporte transcende questões científicas e técnicas. “As cidades têm que refletir que os seres humanos são sagrados”, diz. Elas têm que ser planejadas para promover igualdade social e bem-estar. Até agora foi dada prioridade à mobilidade dos carros mais do que à felicidade das crianças. E segundo ele, para sermos felizes precisamos caminhar. De outra forma sobrevivemos, como um passarinho sobrevive numa gaiola.
Peñalosa chega a considerações mais filosóficas do que políticas. Segundo ele, precisamos rever nossos ideais de felicidade. Talvez ter um carro possante e andar a 200 Km/h numa auto-estrada não traga tanta felicidade quanto passear numa bicicleta velha por uma ciclovia às margens de um rio. Acima de tudo, ele defende que as cidades devem contribuir para a igualdade de qualidade de vida entre as pessoas. Para o ex-prefeito, é impossível tomar decisões sobre transporte sem definir que tipo de cidade se quer. Sua proposta é construir cidades para as pessoas, que privilegiem o espaço público para pedestres.
É esse o rumo que ele tomou durante sua gestão de Bogotá: tornar a cidade mais agradável para pessoas do que para carros. Por isso, vagas para estacionamento perderam espaço para calçadas alargadas. Se os recursos são escassos, a prioridade vai para calçamento de vias para pedestres e bicicletas; se falta espaço, o que não cabe são os carros. É esta a visão de Peñalosa. E andar de bicicleta, não porque seja simpático ou divertido. Mas porque é um direito do cidadão deslocar-se de forma barata sem correr risco de vida.
Ou seja: quem tem um automóvel é um bandido, que merece cadeia ou coisa pior. O Sr. Peñalosa é um grande demagogo! Esse discurso (supostamente, de cunho muito social e humanista) agrada àqueles que não têm recursos para comprar um carro (muito mais numerosos…); mas o trânsito em Bogotá é famoso por ser uma m****.
Este tipo de atitude é de um maniqueísmo imbecil: onde há carros, não cabem pessoas; onde há pessoas, não cabem carros. Quem anda de carro não é “gente”, portanto… Não paga impostos (sobre o veículo, sobre os combustíveis, sobre a “indústria de multas de trânsito”, mais aqueles embutidos no preço do carro – que, no Brasil, são mais do que a metade do preço final do carro – e nos custos de manutenção). Garanto que o Sr. Peñalosa não dispensou nenhum recurso oriundo dessas fontes para suas obras de “humanização” de Bogotá… Non olet…
E esse maniqueísmo imbecil ainda impõe outras provações aos “malditos” motoristas particulares. “Uso de cinto de segurança obrigatório”. Se fosse, realmente, pela preocupação com os ocupantes dos veículos, não deveria ser permitido transportar passageiros em pé nos ônibus. Ou será que isso foi resultado do lobby das Seguradoras que sabem que a maior parte dos acidentes ocorre em velocidades abaixo dos 60 km/h (acima disso o cinto é mais perigoso do que protetor). Junte os lucros das seguradoras (que não fazem seguro para passageiros de ônibus urbanos), à “indústria de multas” e uma maciça propaganda enganosa pela mídia (que recebe bom dinheiro pela propaganda veiculada), e temos mais uma “lenda urbana” criada.
“Lombadas eletrônicas”, “Pardais” com velocidades ridiculamente baixas, localizados nos pontos estratégicos (no vale entre uma descida e uma subida, por exemplo, ou logo após à saída de um túnel), funcionando em horários onde nem alma penada está na rua (quanto mais a polícia, para lhe proteger de um assalto…), estacionamentos públicos com um número ridículo de vagas e taxas absurdas, e quem tem prioridade no planejamento urbano ainda é o pedestre! É mesmo?… E quanto ao acesso ao coletivo para deficientes e idosos?… E os pontos de ônibus que servem a trocentas linhas – onde o ônibus ou para no meio da rua, ou “passa batido”?… E a fiscalização dos transportes concedidos?
Querem um exemplo dessa última? Eu dou… O órgão estadual do RJ autorizou, há mais de um ano, a cobrança da passagem Niterói-Araruama em um valor superior a R$ 12,00. Atualmente, a concessionária monopolista (Auto Viação 1001) está cobrando R$ 8,00 pela passagem, a título de “promoção” (quando o valor foi fixado, a passagem custava, “na promoção”, R$ 5,00). Agora, me conte com base em que foi fixado esse valor superior a R$ 12,00, quando a mesma companhia pode cobrar R$ 11,00 pela passagem Araruama-Rio, que passa pelo pedágio mais caro do Brasil (via Lagos) e pela Ponte Rio-Niterói????
Se eu for ao Rio com minha mulher, sai mais barato a gasolina (nem vou argumentar que meu carro é adaptado para GNV… é covardia…) do que a passagem (conte as passagens de ônibus urbano no Rio). Só que eu nunca vou de carro: a casa da minha sogra não tem garagem e eu não sou louco de tentar ir de carro ao Centro do Rio. Só se meu carro tivesse a capacidade de virar supositório…
Pois é, Maria… Eu concordo com você:
Que tal ir trabalhar a pé ou de bicicleta, mesmo que demore um tanto mais? Você deixaria de poluir o ar, economizaria tempo e dinheiro com academia e ficaria mais saudável.
Eu adoraria, pena que nem sempre é possível.
Mude de “nem sempre” para “quase nunca” e eu assino em baixo também!
Deu no New York Times…
Aí, pessoal! Olha só essa notícia:
New York Times
1 de julho de 2005
Cientistas Britânicos dizem aque o Dióxido de Carbono está tornando os Oceanos ácidos
Por KENNETH CHANG
Contribua ou não para o aquecimento global, o dióxido de carbono está tornando os oceanos ácidos, avisou ontem a principal organização científica da Inglaterra.
Em um relatório feito por um painel de cientistas, a organização, a Royal Society, disse que a acidez crescente provavelmente causará danos aos recifes de coral e outras formas de vida marinha, lá pelo fim do século.
“Eu acho que existem várias questões sérias a serem abordadas”, disse em uma entrevista o Dr. John Raven da Universidade de Dundee, na Escócia. “Isto vai afetar todos os organismos que têm esqueletos, conchas e tecidos rígidos feitos de carbonato de cálcio”. [nota do tradutor: “Raven”, em inglês, quer dizer “Corvo” — será que eles não tinham outro porta-voz?…]
O relatório, com 60 páginas, foi agendado para influenciar a Conferência de Cúpula do G-8, na próxima semana. O Primeiro Ministro Britânico, Tony Blair, presidente do Grupo este ano, tem advogado ações enérgicas para limitar as alterações do clima global.
Diferentemente das previsões de aquecimento global, que são baseadas em modelos computadorizados, complexos e incompletos, a química do dióxido de carbono é simples e direta.
A queima de combustíveis fósseis por automóveis e usinas elétricas libera mais de 25 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, a cada ano. Aproximadamente, um terço disso é absorvido pelos oceanos, onde o gás passa por reações químicas que produzem ácido carbônico, que é corrosivo para as conchas.
“Isso é indicutível”, disse o Dr. Raven. “Eu não acredito que ninguém possa se esquivar disso. Trata-se de química de segundo grau, sólida como rocha”.
A escala de pH, que mede a concentração de hidrogênio, vai de 1, o grau mais ácido e com a maior concentração de íons, até 14, o grau mais alcalino, quase sem íons. As águas dos oceanos são, atualmente, meio alcalinas, com um pH de 8,1, cerca de 0,1 a menos do que no começo da Revolução Industrial de dois séculos atrás.
Porém, tal como a escala de magnitude de terremotos, uma unidade na escala de pH reflete uma mudança de fator 10 [nota do tradutor: tal como a Escala Richter, que mede os terremotos, a escala de pH é logarítmica]. A mudança de 0,1 pH significa que atualmente existem 30% mais íons de Hidrogênio na água.
Dependendo da taxa da queima de combustíveis fósseis, o pH da água dos oceanos deve cair para algo entre, 7.9 e 7,7, até 2100, o que, segundo a Royal Society é a taxa mais baixa nos últimos 420.000 anos.
O Dr. Patrick J. Michaels, membro sênior em estudos ambientais no Instituto Cato, o grupo libertário de pesquisas com base em Washington e que é cético quanto a se o aquecimento global pode causar sérios danos ambientais, apontou para o fato de que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera têm sido mais altos por 90 dos últimos 100 milhões de anos.
Mas o Dr. Ken Caldeira, um cientista pesquisador do Departamento de Ecologia Global do Carnegie Institute, de Stanford, Califórnia, e um dos membros do painel da Royal Society, disse que a diferença estava em que a corrente emissão de dióxido de carbono estava ocorrendo rapidamente, por apenas dois séculos. No passado, as águas das profundezas do oceano teriam tempo para se misturarem, diluindo o efeito do dióxido de carbono. “Se pusermos o mesmo ao longo de algumas centenas de milhares de anos, não teríamos com o que nos preocupar”, disse ele.
A mudança no pH ameaça diminuir a taxa de crescimento dos recifes de coral, que já sofrem com as temperaturas mais altas e a poluição, diz o relatório.
“Já na metade do século, por volta de 2050, nós provavelmente poderemos observar falhas notáveis nos recifes de coral”, disse o Dr. Raven. “Qualquer enfraquecimento de seu esqueleto os tornará mais suscetíveis a eventos de tempestades”.
Os cientistas dizem, ainda, que a acidez aumentada pode, também, reduzir as populações de plânctons com conchas de carbonato de cálcio, perturbando seriamente a cadeia alimentar de certas espécies de peixes.
É o que certos “cientistas” (como os tais do Instituto Cato) chamam de Junk Science…
Quando a nova era glacial chegar, eles vão por a culpa nos políticos, nos crioulos, nos judeus, nos macumbeiros, na falta de verbas para pesquisa, ou vão, com o financiamento da Templeton Foundation “provar” que isso é uma “obra de Deus, para punir a humanidade pecadora”…
Ou vocês achavam que, entre os cientistas, não havia “Jeffersons” e “Delúbios”?…
Cadeia, no Brasil, foi feita pra cachorro…
Nota extraída da Coluna do Gaspari em “O Globo” de 26/06/2005.
Publicado em 26 de junho de 2005 | Versão impressa |
Elio Gaspari |
[…]
Retardatário
Por determinação do procurador Mário Lúcio Avelar, foi preso em Brasília e posteriormente transferido (algemado) para Cuiabá o engenheiro Antonio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama.
Acusado de tenebrosas traficâncias era a maior autoridade a bordo entre os 93 passageiros do camburão da Operação Curupira.
Quando o procurador soube que a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, não queria falar do funcionário por não ter visto o inquérito onde estariam listadas as acusações contra ele, o doutor Avelar respondeu: “Se ela quiser, eu envio para ela. Já mandei uma cópia para a Polícia Federal, é só ela pedir e vai entender tudo”.
Um dia depois, o procurador pediu a libertação de Hummel. O engenheiro, com 23 anos de ficha limpa no serviço público, gramou quatro noites na cadeia.
No último dia 7 a Comissão de Processo Disciplinar instaurada no Ibama, solicitou ao procurador uma “cópia integral” do inquérito. (Ofício CPAD n 1/2005.)
[…]
O que está faltando ao Eminente Procurador Mário Lúcio Avelar é um processo criminal por “Denunciação Caluniosa” (crime previsto no Código Penal), devidamente agravado por se tratar de Funcionário Público em exercício da função, por ter sido praticado de maneira torpe e cruel, por ter exposto o Engenheiro Hummel à humilhção pública sem provas.
O que está faltando à Polícia Federal (e, de resto, às Polícias do Brasil em geral) é a proibição do uso de algemas e por qualquer um na “caçapa” do “camburão”, e cadeia em quem fizer isso! Essa merda de país não é Estados Unidos!
O que está faltando é um processo criminal e de impeachment contra o Juiz que expediu o Mandato de Prisão sem analisar os “elementos de convicção” no Pedido do Pulha do Procurador.
E é essa merda que passa por “justiça” no Brasil.
Síndrome do Titanic
Salve, Gente! Deixa o Lula pra lá… (gente melhor do que eu, já escreveu o suficiente sobre a “mosca azul” que picou nosso Presidente).
Mais uma vez, eu encontrei um link interessante no BLOG do Daniel, sob o título “Are you being served?” (The Economist). Se você não sabe (ou tem preguiça de) ler em inglês, eu dou um breve resumo: a partir da análise da necessidade de reflorestar as nascentes que abastecem de água o Canal do Panamá, o articulista chega à brilhante conclusão que gastar dinheiro com restauração da natureza, é um investimento economicamente compensador! E discute diversos outros exemplos pelo mundo a fora. (“Abstract” mais abstrato do que esse, vai ser difícil encontrar…)
O ponto importante é que até os “Porcos Capitalistas” estão vendo o óbvio. Poluição, gasto desenfreado de recursos naturais não-renováveis, desmatamento indiscriminado, impermeabilização do solo (via super-conurbações), tudo isso tem efeitos economicamente indesejáveis e em prazos não tão longos assim. O que está assustando os nossos vizinhos do hemisfério Norte é que o processo está se acelerando! Afinal, durante séculos eles destruíram suas florestas, poluíram seus rios e lagos, extinguiram um sem-número de espécies animais, exauriram seus solos e lançaram toneladas de poluentes na atmosfera, e, aparentemente, nada aconteceu!
Mas, será isso verdade? Qualquer inglês que tenha conhecimento do custo da despoluição do Tâmisa, sabe que isso envolve catadupas de dinheiro e tecnologia de ponta. Exatamente o que, cá no hemisfério Sul, faz falta. O articulista do The Economist propõe (usando o exemplo do Canal do Panamá) que os capitalistas do Norte, cujos interesses sejam afetados pelas agressões à natureza no Sul, “façam uma vaquinha” para financiar esses projetos. Uma espécie de “pedágio ecológico”… Bom… Pode ser que, no caso específico do Canal do Panamá, seja fácil mostrar àqueles que se beneficiam da redução nos custos do transporte marítimo, que isso é um investimento com retorno garantido (afinal, fica muito mais caro usar a rota do Estreito de Magalhães…). E quanto aos assuntos menos evidentes? Como é que fica? E o tal Protocolo de Kioto? (se você duvida que alguém duvide, dê uma olhada na página JunkScience…)
Por outro lado, é muito fácil ficar jogando a culpa da degradação do meio-ambiente para cima do Norte rico e persistir em práticas agrícolas superadas, desperdício de recursos naturais (renováveis ou não) e em todas as práticas condenáveis que herdamos, junto com nossa cultura de colônia, dos modelos europeus de nossa cultura.
O que é que nós estamos, realmente, fazendo para preservar os recursos naturais de nosso país? A resposta aparece, de maneira eloquente, quando se olha para o Rio Paraíba do Sul!… Muita falação, muito discurso, muita Lei, muito Decreto, muito Grupo de Trabalho, e xongas de ação! A desculpa é a de sempre: falta dinheiro…
Estão pensando que o caso é novidade? Lêdo engano d’alma… Basta ler Monteiro Lobato (Urupês, Cidades Mortas, Idéias de Jeca Tatu…) e ver que, no início do século passado, algumas pessoas de visão menos estreita já enxergavam o problema! (“Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são…”. Isso é de Macunaíma!)
Então, se falta dinheiro para meio-ambiente, educação, saúde pública, segurança pública, e infraestrutura de transportes (e não é por falta de arrecadação de impostos, que já os temos em demasia!), como é que temos dinheiro para enriquecer os Bancos? (Já imaginou: que beleza se fosse você quem dissesse ao Gerente do seu Banco o quanto você estaria disposto a pagar de juros por seu “cheque especial”? Pois é… A famosa “Taxa SELIC”, que o Banco Central anda mandando para os cornos da Lua, é exatamente isso!)
E é um partido que se intitula de “Partido dos Trabalhadores”, que está promovendo essa lambança!
Enquanto isso, nós, os cidadãos que elegemos esse governo, fazemos como os passageiros do Titanic: cada um por si, que os botes salva-vidas são poucos, enquanto que o governo faz a parte da orquestra do Titanic: toca musiquinhas bonitinhas, enquanto o navio vai a pique…
“Chi pó, non vó…”