Haja paciência!…

Salve, Pessoal! O assunto de hoje é mais impessoal. Na verdade, é exatamente sobre “impessoalidade”.
O ser humano sempre teve preguiça de pensar. Antes que me venham com exemplos sobre filósofos, cientistas pesquisadores, teólogos e outros pensadores, eu pergunto: para um Cesar Lates, quantos preenchedores de bilhete de passagem de ônibus, balconistas, operadores de tele-marketing e quejandos existem? De que outro modo explicar o fenômeno do Fundamentalismo Religioso? Preguiça de pensar… Leia o Manual e, caso não entenda ou não ache o capítulo certo, pergunte ao Especialista. Eu mesmo venho de um meio (a Caserna), onde isso é particularmente verdadeiro. Velho adágio da Marinha: “Na Marinha nada se cria, tudo se copia”. Em meu curso na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (eu fui Fuzileiro Naval), se dizia, a boca-pequena, que, no Palácio Duque de Caxias, havia uma sala, cheia de Coronéis Reformados, muito velhinhos, que ainda estavam redigindo os Planos de Operações da FEB; se a FEB fosse esperar que os Planos ficassem prontos, jamais teria entrado em combate…
Mudando de assunto (aparentemente), seja Alexander Graham Bell ou Antonio Meucci que inventou o bendito telefone, ele não imaginava o pesadelo que estava criando. Junto com a conveniência de poder falar, instantaneamente, com qualquer parte do mundo, veio a contrapartida: qualquer panaca pode invadir sua privacidade, a qualquer hora. Não é uma delícia quando, às 3 da madruga, seu telefone toca? E, aí, quando você atende, vem a inominável musiquinha e aquela voz melosa informando: “chamada interurbana a cobrar!”, principalmente se você tem parentes em outra cidade (pior ainda, se forem idosos ou doentes). Você pensa: “Pronto! Meu Deus! Lá vem desgraça!…” Aí, dá o bip e do outro lado da linha: silêncio… E você: “Alô! Alô!…” Até que uma voz, totalmente desconhecida, diz: “Alô!… Quem é que está falando?…”, como se fosse você, que está pagando pela ligação, é quem tivesse a obrigação de se identificar. Normalmente, vão lhe perguntar se “é da casa do fulano” (que você não conhece), ou insistir “Quem é que está falando?”, ou então, você ouve a pessoa se dirigindo a alguém que está perto dela, dizendo “SSShhh! Peraí que a ligação está péssima” e, para você, “Não estou ouvindo nada. Fala mais alto!” Bater o telefone (acompanhando o ato com uma citação de Bocage), não adianta, porque o desmiolado vai repetir a aporrinhação, pensando que a ligação simplesmente “caiu”… Você sai de uma experiência dessas achando que o Inventor da Iron Maiden (veja a ilustração) não era, afinal, mau sujeito…
Pois, agora, graças ao desenvolvimento da automação eletrônica, além do Telemarketing e do Spam, os sádicos modernos desenvolveram duas novas formas capazes de irritar uma estátua do Buda Gautama.
Uma é o serviço de atendimento telefônico automatizado. O tipo: para fazer isso, tecle tal, para fazer aquilo, tecle qual… O mais novo refinamento dessa tortura é a mensagem inicial do atendimento. Por exemplo, a Ampla (antigamente conhecida como CERJ, acrônimo de Continua no Escuro o Rio de Janeiro. Já ouvi dizer que “Ampla” é acrônimo de Agora Mesmo que a Porcaria da Luz se Apagou), quando você disca para o 0800 para informar que a energia elétrica de sua rua caiu, lhe passa um sermão de cerca de três minutos, explicando que você pode pagar suas contas de luz nas farmácias e quitandas credenciadas (mas que a Caixa Econômica Federal não está mais aceitando pagamento de contas vencidas, portanto não adianta tentar pagar nas Lotéricas) e, para add insult to injury, manda você (que está no escuro) procurar no site acima a relação das ditas farmácias e quitandas (como se todo o mundo no Brasil tivesse um computador…). Já a Telemar(dita), nesses últimos dias, botou um telemarketing implícito: “Se você quer adquirir um OI na promoção especial do Dia das Mães, tecle 2; para qualquer outro serviço, tecle 4”.
Vamos imaginar que, depois de teclar cada opção (como em um menu de dBase III), você seja remetido ao serviço que você quer, aparece de novo a vozinha melosa com a ameaçadora mensagem: “Por favor, aguarde enquanto transferimos sua ligação para um de nossos atendentes”. Aí, depois de vários minutos ouvindo propaganda da empresa, ou uma musiquinha enlatada (capaz de fazer o Cristo Redentor bocejar de tédio), finalmente, o atendente lhe atende (isso se você tiver sorte; senão, você fica ouvindo o som ambiente dos atendentes batendo papo, até a ligação cair, ou ouve “Aguarde…” e tome mais musiquinha!). Isso tudo, para depois que você deu todos os dados que o atendente pediu, ele lhe informar que não pode implantar o serviço pedido, porque o “sistema caiu”!!!
A outra maldição é exatamente o SISTEMA! Como eu já disse, no início, as pessoas têm preguiça de pensar. Não seja por isso! Vamos programar sistemas informatizados que pensem pelas pessoas. Inclusive, que tomem as decisões pelas pessoas. Eu morro de pena dos funciários da Caixa Econômica Federal. Eu só fiquei três horas esperando que o sistema aceitasse uma alteração cadastral minha; o pobre funcionário tem que trabalhar com o sistema durante todo o expediente. E os Internet Bankings? Você quer fazer um pagamento via Internet? E você tem um acesso discado? Se ferrou, malandro! A partir das 22:00h, você só pode consultar saldo e extrato… Só que o sistema espera você digitar todo o código de barras do boleto, enviar sua senha, informar dia (ou mês, ou ano) de nascimento, cada passo destes em uma página que carrega bem devagar, porque tem um javascript diferente, para, no fim, lhe informar que a transação não está disponível naquele horário! Inibir o ítem do menu de transações, a partir de um certo horário, ou remetê-lo a uma página que informe isso, pra que? Não é o corno do programador que vai perder seu tempo: é você, trouxa, que ainda paga para receber esse tipo de serviço!
Donde se conclui: “chi fá, non sá…”

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