Afinal, o que é “ciência”?

Salve, Pessoal! Quem já se deu ao trabalho de ler meus artigos anteriores, pode estar estranhando esta matéria… Afinal, quem é o João para tecer comentários sobre “o que é ciência”? Bom… Apesar de conhecer o adágio “não vá o sapateiro além das sandálias”, conheço também o que diz: “não é preciso ser cozinheiro para saber se a comida está bem temperada”.
E, por incongruente que isso possa parecer, minhas duas principais áreas (atuais) de interesse (além de xingar o governo, é claro…) são “Religiões & Teologias” e “Cosmologia & Física de Partículas” (…tá bem, Daniel: “Física de Altas Energias”). Parece uma contradição, não é? “Misticismo” e “Ciência” são, por definição, antagônicos. Enquanto os místicos têm respostas para tudo, os cientistas têm perguntas para tudo. O místico é imbuído de fé, o cientista, de dúvida. A única semelhança é que ambos buscam respostas para o que não compreendem.
Vamos deixar o misticismo de lado, por enquanto (prometo que volto ao assunto e eu não jogo basquete), e vamos ver algo sobre a “ciência”.
Bem… A primeira observação cabível é que a ciência não é algo definitivo. Exemplificando: nos tempos antigos, “todo o mundo” sabia que a Terra era plana e ficava bem no meio do Universo (isso não é bem verdade: os filósofos gregos já sabiam que a Terra era redonda e sabiam até qual era o tamanho de sua circunferência, mas “todo o mundo” não se lembrava mais disso). Até que apareceram os Galileus e Copérnicos da vida, e demonstraram que não era bem assim. E os Colombos e Magalhães da vida que demonstraram que a Terra, não só não era plana, como “todo o mundo” não era, sequer, “todo o mundo”. É claro que eu estou apresentando a história do ponto de vista em que somos ensinados: o ponto de vista europeu, que divide o mundo em Europa (que geopolíticamente inclui as colônias dos Estados Unidos e Canadá), Oriente Médio, Índias, Extremo Oriente, África, o resto das Américas (derrisivamente chamado de ‘América Latina”, como se a Guiana, Belize, Suriname e demais países da América Insular nem existissem), Oceania (que, para eles se resume em Austrália, Nova Zelândia e “Ilhas Exóticas”, a não ser, talvez, pelo Hawaii) e Antáritica. Relutantemente se admite que a civilização não nasceu na Europa: fala-se no Antigo Egito e na Mesopotâmia, enquanto se omite totalmente as civilizações dos vales dos rios Indo, Ganges, Mecong, Azul e Amarelo (que só aparecem quando Marco Polo fala nelas: até aí, elas não existiam). Deixem eu voltar à vaca fria…
Bom… Saltando dessa concepção primitiva do Cosmos, vamos para o que, atualmente, é reconhecido como ciência: a Terra é um planetinha fuleiro (a Terceira Pedrinha, a partir do Sol), que faz parte de um binário Terra – Lua (a Lua é grande demais para ser um mero satélite), que circunda em órbita elíptica uma estrelinha de 5ª, na periferia de um dos braços de uma galáxia espiral de tamanho mediano, que faz parte de um grupo local de galáxias (algumas delas bem maiores do que nossa Via Láctea), que é apenas um dos incontáveis grupos de galáxias em um Universo Conhecível, porque já se admite que devem existir mais coisas no Universo do que jamais poderemos ver…
Um pouquinho diferente daqueles “mapas mundi” da Idade Média que botavam Jerusalém (por que não Belém?) no centro do “Mundo” que, por sua vez, era o Centro do Universo, né?
Por outro lado, quando Paracelso enunciou que “todas as doenças eram um resultado de um desequilíbrio (al)químico no corpo”, o que passava por ciência, na época, é que havia quatro elementos: terra, água, ar e fogo, aos quais Teofrasto acrescentava três “substâncias”: o enxôfre, o mercúrio e o sal. É bem verdade que os atomistas gregos, no século V A.C., já tinham apresentado um conceito diferente de “matéria”, mas a alquimia lidava com “substâncias” que supunha serem compostas de diferentes misturas dos “elementos”. A ciência dos tempos de Paracelso não estava apta a comprovar o acerto de sua teoria, porque seu conhecimento da estrutura da matéria (principalmente da matéria orgânica) era totalmente insuficiente. Errado? Não! O que, naquele tempo, era conhecido como elementos, hoje é conhecido como fases da matéria, a saber: sólido, líquido, gasoso e plasma (Condensados de Bose-Einstein e Matéria Degenerada não vale…). E o próprio conceito de átomo de Leucipo e Demócrito era bem diferente do atual conceito, que é também bastante diferente daquele apresentado por Rutherford, que nem sonhava com a existência das Forças Nucleares.
No princípio do século passado, ocorreram duas verdadeiras revoluções na Física. Uma foi a introdução do conceito dos quanta de energia, que levou ao ramo da Física de Altas Energias, onde se estuda as partículas subatômicas, ou seja: a composição mais detalhada possível daquilo que chamamos de “realidade”. A outra foi a formulação, por Albert Einstein, da Teoria da Relatividade, que, em última análise, trata da estrutura do Universo. (É importante notar que o link para a WikiPedia em Português fala somente da Relatividade Restrita ou Especial. A Teoria da Relatividade Geral, que é o que se aplica no atual estudo da cosmologia, é mencionada, en passant, como “publicada, dez anos depois, incorporando a gravidade”, como se isso fosse um detalhe menor…). Já na primeira versão a Teoria da Relatividade incluia a famosa equação: E = mc². Isso nos diz que matéria e energia são a mesmíssima coisa, ou dizendo de uma forma mais rigorosa, que a matéria (massa) pode ser traduzida em termos de energia.
Bom, né?… Só que, quase um século depois, ainda não conseguiram conciliar a Cosmologia Relativística com a Física de Altas Energias! Parece brincadeira, mas não é!… E o que é pior, com a tecnologia que dispomos atualmente, ambas as abordagens sobre a “realidade do Universo” parecem rigorosamente corretas, só que não integráveis. É como se o Universo se comportasse de uma maneira na escala “macro” e de outra, na escala “micro”… As abordagens que, inicialmente, pareciam mais promissoras, como as teorias das Cordas (Strings) e “M”, envolvem a existência de uma grande quantidade de dimensões extras (além das quatro do espaço-tempo relativístico) e têm um grande defeito: não oferecem previsões comprováveis por experiências! Ou seja, um monte de matemática complicadíssima e totalmente fora do alcance de nós, meros mortais, e que, até agora, não explicou coisa alguma…
Será que, então, eu estou afirmando que a “ciência” é uma farsa? Eu estaria parafraseando São Paulo: “toda a sabedoria humana é loucura aos olhos de Deus”? Nada disso!
Quando Avogadro previu que um determinado volume de qualquer gás, em condições fixas de temperatura e pressão, deveria conter um mesmo número de moléculas, ninguém tinha a menor noção do que eram “moléculas” (aliás, usava-se livremente os termos “átomo” e “molécula”, um pelo outro). O número de moléculas só foi calculado em 1865 por Johann Joseph Loschmidt. E, aquilo que nos é apresentado na escola como uma “constante”, na verdade é uma decorrência da definição de “grama”, em termos da massa atômica do isótopo de Carbono 12. Da mesma forma, o valor da “constante” da velocidade da luz no vácuo é que define o valor do “metro”.
Ciência é isso: a melhor explicação que se pode obter com a tecnologia disponível, daquilo que é observável!

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