Sobre furacões e aquecimento global
24 de Setembro de 2005
Então quem está certo no debate sobre as responsabilidades pelo Aquecimento Global?
Por ANDREW C. REVKIN
Com uma cidade americana afogada por um grande furacão e, então, por outro, menos de um mes depois, e com os meteorologistas federais “gaivotando” no fim da lista de 21 nomes anuais em uma prancheta, não é surpesa alguma que o debate sobre as responsabilidades sobre o aquecimento global tenha se inflamado.
Afinal, um dos sinais mais claros de que as ações humanas levaram o recente aquecimento além de seus ciclos naturais, é a medição feita na temperatura dos oceanos da Terra e o calor oceânico é o combustível que alimenta os furacões.
O assunto tem sido abordado de pontos de vista radicalmente diferentes. Por exemplo, o ex-Vice-Presidente Al Gore realizou uma “tournée” de contínuos discursos sobre a necessidade de cortar a emissão de poluentes que causam retenção de calor, enquanto o Senador James M. Inhofe, Republicano do Oklahoma, acusou os ativistas do meio-ambiente de fomentar medos infundados sobre o aquecimento causado pelos seres humanos.
Então, o que tem a dizer a ciência acerca das discussões sobre a mensagem enviada pelos furacões Rita e Katrina?
O que fica claro é que vários “experts” em oceanos e climas concordam que os oceanos tropicais se aqueceram de uma maneira que dificlmente pode ser atribuída a outra coisa diferente de um aquecimento generalizado do clima, causado pelo acúmulo de dióxido de carbono e outras emissões causadoras do efeito-estufa.
Para muitos cientistas meteorológicos e oceanógrafos fica claro, também, que oceanos mais quentes eventualmente aumentarão a intensidade dos ventos e das chuvas dos furacões, não necessariamente sua freqüência.
De fato, dois recentes estudos sobre furacões, feitos por diferentes cientistas, usando processos diferentes, declaram detetar um grande crescimento na intensidade dos furacões por todo o mundo, ao longo das muitas últimas décadas.
Porém os autores de ambas as análises reconheceram que necessitariam de mais dados para confirmar uma ligação entre isso e um aquecimento de origem humana. Essa nebulosidade aparece porque a relação entre o aquecimento de longo prazo do clima e dos mares somente é perceptível no estudo estatístico de dúzias de tempestades, não na origem ou no destino de qualquer tempestade em particular.
O crescimento e a trajetória de qualquer uma das tempestades são moldados pelas grandes variações naturais na atmosfera e nos oceanos, assim como eventos aleatórios, tais como a passagem de ambos os recentes furacões por cima de meandrosas ressurgências de águas incomumente quentes no Golfo do México.
“É uma coincidência de condições ideais”, disse Christopher W. Landsea, um “expert” em furacões do Laboratório Oceanográfico e Meteorológico do Atlântico, do Departamento do Comércio, próximo de Miami.
Kerry Emanuel, o autor de um dos recentes estudos que mostram a crescente intensidade, fez eco a vários colegas ao dizer que o impacto do aquecimento global provavelmente não iria se manifestar de maneira “preto-sobre-o-branco” que serviria como toque de rebate para os que buscam eliminar as emissões. Ao contrário, disse o Dr. Emanuel, um cientista atmosférico no “Massachussets Institute of Techniology”, isso vai emergir como se alguem tivesse sutil, porém progressivamente, viciado um par de dados.
E enquanto os “experts” continuam debatendo sobre se a cabeça da vaca causa o rabo, ou se a vaca é causada pela convergência do rabo com a cabeça, a dita cuja vai pro brejo…
E o mais triste é constatar que cientistas do calibre de um Luboš Motl classificam o Protocolo de Kioto como lixo científico (“junk science”). Para que gastar dinheiro com essas “frescuras”, em lugar de construir um acelerador de partículas mais poderoso?
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