O que fazer dos embriões que sobram
Foi só eu mencionar a utilização dos embriões humanos criogenizados em pesquisas (em uma discussão no “Roda de Ciência”) que descobri esse novo dado no EurekAlert:
University of Illinois at Chicago
O que fazer com as sobras de embriões nas clínicas de fertilização?
A maioria dos pacientes de tratamentos de infertilidade são favoráveis ao uso dos embriões que sobram para a pesquisa com células-tronco e também apoiariam a venda dos embriões excedentes para outros casais, de acordo com uma recente pesquisa
A pesquisa foi publicada em dois estudos relacionados na edição de setembro de Fertility and Sterility.
Os pesquisadores entrevistaram 1.350 mulheres que se apresentaram em um centro de fertilização de um grande hospital universitário em Illinois. A pesquisa incluiu 24 perguntas acerca da origem demográfica dos pacientes, histórico de obsetetrícia e infertilidade, e opiniões acerca do uso dos embriões extra para pesquisa com células-tronco e a venda dos embriões excedentes para outros casais.
A tecnologia de reprodução assistida resultou na criação e criopreservação de embriões extra nos centros de fertilidade ao longo do país. A estimativa de 2002 era de que 396.526 embriões estavam armazenados em clínicas de fertilização nos EUA, de acordo com pesquisas previamente publicadas.
Esses embriões podem ser usados para futuras tentativas de implante, doados a outros casais ou agências, dados aos pesquisadores ou descartados.
Uma vez que os pacientes de infertilidade são os “guardas do portão” desses embriões excedentes, é importante compreender suas opiniões, de acordo com o Dr. Tarun Jain, professor assistente de endocrinologia reprodutiva e infertilidade, diretor da clínica de IFV da Universidade de Illinois em Chicago e principal autor do estudo.
Quando perguntados se o uso de embriões excedentes para pesquisas com células-tronco deveria ser permitido, 73% dos 636 entrevistados que deram uma opinião definida, responderam que sim.
“Os pacientes de infertilidade são, em geral, altruísticos e faz sentido que eles queiram ajudar a medicina a avançar e auxiliar os outros”, declarou Jain.
Os Afro-Americanos e Hispânicos deram menos aprovação ao uso de embriões excedentes para a pesquisa com células-tronco do que os Caucasianos. Os pacientes com menos de 30 anos, Protestantes, menos abonados e solteiros, também foram menos favoráveis ao uso de embriões excedentes para pesquisas com células-tronco.
Os pesquisadores também perguntaram aos pacientes de infertilidade se eles estariam dispostos a vender seus embriões excedentes para outros casais, uma prática considerada eticamente inaceitável pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas.
Existe uma demanda crescente por parte dos pacientes de infertilidade que não podem conceber com o uso de seus próprios oócitos, ou células-ovo, para comprar os embriões excedentes pré-existentes, já que essa é uma opção mais barata do que o uso de um doador de células-ovo, de acordo com os autores.
Quando perguntados se vender embriões excedentes para outros casais deveria ser permitido, 56% dos 588 entrevistados que exprimiram uma opinião responderam que sim.
Os hispânicos foram os que menos aprovaram a venda dos embriões excedentes, em comparação aos caucasianos, porém todos os Leste-Indianos entrevistados aprovaram a prática [nota do tradutor: região da ìndia com centro em Bombaim, colonizada principalmente por cristãos portugueses]. Mulheres que nunca tinham conseguido ficar grávidas também foram menos dispostas a aprovar, revelou o estudo.
Os autores dizem que essa é a primeira pesquisa que examina as opiniões de uma população genérica infértil com relação à utilização dos embriões excedentes e a analisar os resultados com base nos aspectos sociodemográficos e histórico de reprodução dos pacientes.
“Dado ao potencial de um significativo aumento do tratamento dos embriões excedentes como uma commoditie, as sociedades médicas e os legisladores podem precisar prestar atenção especial a essa área controversa”, concluem Jain e a co-autora Stacey Missmer do Brigham and Women’s Hospital e da Escola de Medicina de Harvard.
Para maiores informações sobre endocrinologia reprodutiva e infertilidade, no Centro Médico da Unioversidade de Illinois em Chicago, visite www.uicivf.org
Para maiores informações sobre a UIC, visite www.uic.edu
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Considerações do tradutor:
Parece que um dos receios dos “fundamentalistas” do White Power é totalmente infundado:a “ralé” negra e hispânica não está montando uma conspiração para espalhar seus “genes impuros” pela população WASP… Bem ao contrário!…
Sem dúvida, as questões de foro étnico-culturais-religiosas têm um impacto importante na predisposição dos possíveis doadores. Mas a mensagem do grupo Indiano introduz um “ruído” de origem local: talvez uma resposta instintiva para burlar o sistema de castas, apesar da influência do catolicismo na região.
Como eu observei no comentário ao post no “Roda de Ciência”, esses “gatos de Schrödinger humanos” não atraíram a atenção de “defensores dos direitos dos fetos”, até que os cientistas propuseram usá-los em pesquisas, em lugar de, simplesmente, descartá-los. O que traz dúvidas sobre a honestidade da argumentação desses “defensores da vida”…
E mais uma consideração final: o preço desses tratamentos e procedimentos continua extorsivo. Nada mais natural que quem pagou caro por esses embriões queira reduzir seu prejuízo, comercializando os “excedentes”…
Em tempo: “existem mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”. Notem que os dados percentuais das respostas afirmativas se referem ao número de opiniões contra ou a favor, mas os números citados são apenas do número de entrevistados: não há qualquer dado sobre o número de indecisos. Portanto, o que quer dizer em termos numéricos absolutos a afirmativa:
Quando perguntados se o uso de embriões excedentes para pesquisas com células-tronco deveria ser permitido, 73% dos 636 entrevistados que deram uma opinião definida, responderam que sim.
E se dos 636 entrevistados, apenas 100 deram uma opinião definida?… A proporção resultaria em 73 favoráveis em um universo de 636 entrevistados, um dado pífio e sem significado…
“Torture bem seus dados e eles acabam confessando o que você quer”…
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