Ensurdecendo as baleias

Via EurekAlert, cheguei a este release do Monterey Bay Aquarium Research Institute(MBARI):

MBARI News Release:
29 de Setembro de 2008

Elevando o volume — O Som chega mais longe debaixo d’água à medida em que os oceanos do mundo se tornam mais ácidos

É de conhecimento geral que os oceanos e a atmosfera do mundo estão se aquecendo, na medida em que a espécie humana libera mais e mais dióxido de carbono na atmosfera da Terra. No entanto, menos pessoas compreendem que a composição química dos oceanos também está mudando — a água  do mar está se tornando mais ácida no mesmo passo em que mais dióxido de carbono da atmosfera se dissolve nos oceanos. De acordo com um artigo a ser publicado nesta semana pelos químicos marinhos do Insituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Montery (Monterey Bay Aquarium Research Institute), essas mudanças na temepratura e na composição química do oceano terão um efeito colateral inesperado — os sons vão chegar mais longe debaixo d’água.


Esta ilustração mostra como o aumento do dióxido de carbono na atmosfera leva a um aumento da acidificação da água do mar, que, por sua vez, permite que os sons (tais como os emitidos por baleias) cheguem mais longe debaixo d’água.
Imagem:©2008 MBARI
(Imagem original: cortesia de David Fierstein)

Projeções conservadoras feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change = IPCC) sugeriam que a composição química da água do mar pudesse ser modificada em até 0,3 unidades de pH nas alturas de 2050 (vida abaixo informação adicional sobre o pH  e a acidificação dos oceanos). Em na edição de 1 de outubro de 2008 de Geophysical Research Letters, Keith Hester e os coautores calculam que essa mudança na acidez dos oceanos permitirá que os sons cheguem até 70% mais longe debaixo d’água. Isto vai elevar o ruído de fundo nos oceanos e pode afetar o comportamento dos mamíferos marinhos.

Os químicos oceânicos sabem, há décadas, que a absorção do som pela água muda com a própria composição química da água. Quando o som se propaga através da água do mar, faz com que grupos de átomos vibrem, absorvendo os sons em freqüências específicas. Isso envolve várias interações químicas que não são inteiramente compreendidas. No entanto, o efeito em geral é fortemente controlado pela acidez da água do mar. A linha de base é que, quanto mais ácida a água do mar, menos sons de baixa e média freqüência ela vai absorver.

Desta forma, à medida em que os oceanos se tornam mais ácidos, os sons chegarão mais longe debaixo d’água. De acordo com os cálculos de Hester, uma mudança assim na composição química terá maior efeito nos sons abaixo de cerca de 3.000 ciclos por segundo (duas oitavas e meias acima do “dó” do meio do teclado em um piano).

Esta faixa de freqüências de som inclui a maior parte dos sons de “baixa freqüência” usados pelos mamíferos marinhos para procurar alimento e para acasalamento. Também inclui muitos dos sons subaquáticos gerados por atividades industriais e militares, bem como por barcos e navios. Este ruído gerado pela atividade humana aumentou dramaticamente nos últimos 50 anos, na proporção em que as atividades humanas no oceano aumentaram.

Os pesquisadores do MBARI afirmam que o som pode já estar chegando 10% mais longe do que o fazia a poucas centenas de anos atrás. Entretanto, eles predizem que, por volta de 2050, mesmo com as projeções conservadoras sobre a acidificação do oceano, os sons chegarão até 70% mais longe em algumas áreas oceânicas (particularmente no Oceano Atlantico). Isso pode aumentar muito a capacidade dos mamíferos marinhos em se comunicar a longas distâncias. E pode, igualmente, aumentar o ruído de fundo com o qual eles têm que conviver.

Não existem registros de longo-prazo sobre a absorção de sons em grandes áreas oceâncias. Não obstante, so pesquisadores citam um estudo feito ao largo da costa da Califórnia que mostrou um aumento no ruído oceânico entre 1960 e 2000 que não pode ser diretamente atribuído a fatores tais como ventos oceânicos ou navios.

A pesquisa de Hester mostra, mais uma vez, como as atividades hjumanas estão afetando a Terra de maneiras inesperadas e de longo alcance. Com dizem os pesquisadores em seu artigo: “As águas na superfície do oceano estão passando agora por uma transição extraordinária em seu estado químico fundamental, em um passo que não é visto na Terra há milhões de anos, e os efeitos estão sendo sentidos não só em impactos biológicos, mas, também, nas propriedades geofísicas, inclusive na acústica dos oceanos”.

Esta pesquisa foi financiada pela Fundação David e Lucile Packard.
Acidificação dos oceanos — informações complementares

No século passado, carros, usinas de energia e várias atividades humanas liberaram centenas de bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera da Terra. Ao analisar os efeitos dessa experiência química de escala planetária, os cientistas descobriram que cerca de metade deste CO2 foi absorvido pelos oceanos do mundo. Nos últimos cinco a dez anos, químicos oceanográficos chegaram à conclusão que a adição de dióxido de carbono aos oceanos os tornou mais ácidos, tal como a adição de dióxido de carbono à água gaseificada a faz se tornar mais ácida.

Os químicos medem a acidez em unidades de pH, em uma escala que vai de 0 (o mais ácido) a 14 (o menos ácido, ou seja, mais alcalínico). A água neutra da bica (lá nos EUA), por exemplo, tem um pH de cerca de 7. Em termos de comparação, o suco de limão tem um pH de cerca de 2 e o ácido da bateria do seu carro pode ter um pH de 0,8. A água do mar, por outro lado, usualmente é levemente alaclina, com um pH de cerca de 8,1.

Químicos marinhos (inclusive Peter Brewer do MBARI) estimam que o pH dos oceanos do mundo já caiu eem cerca de 0,1 unidades de pH desde o início da Revolução Industrial, há cerca de 250 anos. Eles estimam, ainda, que o pH do oceano possa cair outras 0,2 unidades de pH (para 7,9) por volta do ano 2050. Isto pode parecer uma mudança não muito grande, porém pode ter um impacto significativo nos corais e outros organismos marinhos cuja química corporal é adapatada a milhões de anos de condições químicas relativamente constantes.

Para mais informações sobre esta notícia, por favor entre em contato com:
Kim Fulton-Bennett (Monterey Bay Aquarium Research Institute)
(831) 775-1835, kfb@mbari.org
ou
Peter Weiss (American Geophysical Union)
202-777-7507 pweiss@agu.org


Artigo com a pesquisa:
K. C. Hester, E. T. Peltzer, W. J. Kirkwood, e P. G. Brewer, “Unanticipated consequences of ocean acidification: A noisier ocean at lower pH”. 2008. Geophysical Research Letters, Vol. 35 nº31 (1 de outubro de 2008).
Links relacionados (em inglês):

Traduzido e publicado com a expressa (e gentil) autorização de:

Kim Fulton-Bennett
—————————-
Communications Associate
Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI)

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