Diversidade dos peixes = sobrevivência dos corais?…

(Essa é meio que uma homenagem à Lucia Malla…) Via EurekAlert:
Georgia Institute of Technology Research News

Diversidade de peixes herbívoros pode ser a chave para a recuperação dos recifes de coral

Experiência no Caribe mostra um crescimento



Um mergulhador nada em direção ao laboratório submarino Aquarius no Centro Nacional de Pesquisas Submarinas na Flórida.
Crédito: National Undersea Research Center, University of North Carolina at Wilmington.
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Para os ameaçados recifes de coral, nem todos os peixes herbívoros são criados iguais.

Um relatório a ser publicado nesta semana na edição do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences sugere que a manutenção de um equilíbrio adequado entre os peixes herbívoros pode ser um ponto crítico para a restauração dos recifes de coral, que estão desaparecendo dramaticamente pelo mundo todo. A conclusão é resultante de um estudo de longo prazo que encontrou uma significativa recuperação em seções de recifes de coral onde peixes de duas espécies complementares ficaram enjaulados.

Os recifes de coral dependem dos peixes que comem as algas com quem os corais competem e, sem que haja essa limpeza, os recifes desaparecem na medida em que os corais são substituídos pelas algas. Peixes diferentes comem diferentes tipos de algas por causa das diferentes propriedades químicas e físicas das ditas algas.

“Das várias espécies diferentes de peixes que fazem parte do ecossistema de um recife de coral, pode haver um pequeno número de espécies que sejam realmente críticas para impedir que as macroalgas se alastrem e matem os corais”, explica Mark Hay, o Professor Harry and Linda Teasley de Biologia no Instituto de Tecnologia da Geórgia. “Nosso estudo mostra que, além de ter um número suficiente de herbívoros, os ecossistemas dos corais precisam também da mistura certa de espécies para suplantar as diferentes táticas defensivas das algas”.

Sabendo quais as espécies de peixe são as mais críticas para manter a saúde do coral, os gerentes dos recursos podem se focalizar em proteger e ampliar as espécies com o maior impacto. Em situações onde a população local depende da pesca, ela pode fazer mais pela manutenção dos recifes, dos quais ela depende, pescando apenas as espécies menos críticas.

“Isso pode oferecer um novo modo de agir para os gerentes de recursos”, acrescenta Hay. “Se os ecossistemas forem devidamente geridos para manter as misturas críticas das espécies herbívoras, poderemos ver uma recuperação mais rápida dos recifes”.



A mergulhadora Anne Prusak trabalha em uma jaula usada para conter peixes no topo de um recife de coral para o estudo do papel da diversidade entre os peixes herbívoros.
Foto: Deron Burkepile.
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Esta pesquisa que se acredita ser o primeiro estudo a demonstrar a importância da diversidade de herbívoros na melhoria das condições de recuperação dos recifes de coral, foi conduzida pelo Centro Nacional de Pesquisas Submarinas em Key Largo, Florida. Ela recebeu apoio da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), da Fundação Nacional de Ciências e do Fundo Teasley na Geórgia Tech.

Trabalhando a uma profundidade de 60 pés (quase 20m), próximos do laboratório submarino Aquarius, Hay e o co-autor Deron E. Burkpile — que atualmente está na Florida International University em North Miami — construíram 32 jaulas em um recife de coral. Cada jaula era um paralelepípedo de dois metros quadrados de superfície por um de altura e era vedado para que os peixes maiores não pudessem nem entrar, nem sair.

O  número e tipos de peixes colocados em cada jaula de quatro metros quadrados variava. Algumas jaulas tinham dois peixes que eram capazes de comer as algas duras e calcificadas; outras tinham dois peixes capazes de comer as tenras, porém quimicamente defendidas, espécies de algas; outras mais tinham peixes dos dois tipos; e algumas não tinham peixe algum. As jaulas foram observadas por um período de dez meses, começando em novembro de 2003, e as mudanças na cobertura de coral e o crescimento das algas foi medido.

“Nas jaulas onde misturamos as duas espécies de herbívoros, os peixes foram capazes de remover muito mais das algas maiores e os corais nessas áreas cresceu em mais de 20% nesses dez meses”, diz Hay. “Para um recife do Caribe isto é uma taxa de crescimento espantosa”.

Apesar da percentagem de crescimento ter sido impressionante, o crescimento real em tamanho de cada coral foi pequeno, observou Hay. Antes da experiência, as áreas de recifes de coral estudadas tinham apenas entre 4 e 5% de cobertura de coral vivo. Depois de dez meses, os corais enjaulados com as duas espécies mostravam uma cobertura de 6 a 7%. Os corais enjaulados com apenas um tipo de peixe, ou sem peixe algum, perderam até 30% de sua cobertura durante o mesmo tempo.



O peixe-papagaio vermelho foi uma das espécies estudadas como parte da pesquisa sobre a importância da divesidade para a saúde dos recifes de coral.
Foto: Deron Burkepile
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Hay e Burkepile tentaram repetir sua experiência com uma espécie diferente de peixe, porém as gaiolas submarinas foram varridas pelo furacão Dennis em julho de 2005 após apenas sete meses de estudo.

Os pesquisadores estudaram os efeitos do peixe-papagaio  vermelho (Sparisoma aurofrenatum) e o peixe-cirurgião (Acanthurus bahianus) na primeira experiência, e o peixe-papagaio vermelho e o peixe-papagaio princesa (Scarus taeniopterus) na segunda. Os dois peixes por jaula representava a extremidade superior do gráfico de densidade de peixes encontrada nos recifes de coral do Caribe, nos dias atuais, porém as densidades históricas podem ter sido muito maiores, antes da pesca extensiva no Caribe, disse Hay.

Há apenas  duas décadas, a cobertura de corais no Caribe era, comumente, de 40 a 60%. Os cientistas culpam muitos fatores — doenças, pesca excessiva, poluição, excesso de nutrientes e a mudança climática global — pelo rápido declínio, que também foi observado em diferentes graus nos recifes de coral do mundo inteiro.

“Algumas pessoas questionam que os recifes de coral não existem mais como ecossistemas funcionais no Caribe”, declara Hay. “Os melhores recifes que temos atualmente são primos pobres daqueles que eram o normal há 20 anos”.

Para o futuro, Hay gostaria de expandir as experiências para estudar os efeitos de outras espécies e repetir os estudos em áreas diferentes, tais como as Ilhas Fiji, onde os moradores estão preocupados com a sustentabilidade dos recifes de coral. Apesar de depender da proteína dos peixes para sua dieta, ele disse que os habitantes das Ilhas Fiji são capazes de mudar seus hábitos de pesca, se os pesquisadores puderem estabelecer quais peixes devem ser protegidos para ajudar os recifes.

“Os dados que estamos observando nas Ilhas Fiji sugerem que a diversidade pode ser ainda mais importante lá do que no Caribe”, declarou ele. “Existem várias espécies diferentes, fazendo várias coisas diferentes. Esses consumidores são muito importantes e, em áreas onde eles são pescados em excesso, os recifes estão desmoronando”.

O estudo fornece mais provas do quanto pode ser importante a biodiversidade para a manutenção de ecossistemas saudáveis.

“A diversidade de espécies é criticamente importante, mas estamos perdendo componentes críticos do ecossistema da Terra em uma taxa alarmante”, disse Hay. “Houve pouco trabalho sobre o papel da diversidade entre os consumidores e o efeito que isso tem sobre as comunidades. Este estudo auxiliará a adicionar a nosso conhecimento sobre essa área crítica”.

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Contatos: Mark Hay (404-894-8429); E-mail: (mark.hay@biology.gatech.edu).

Discussão - 6 comentários

  1. Lucia Malla disse:

    João, valeu a homenagem! Entender melhor a dinâmica dos recifes é fundamental para um melhor projeto de conservação. Estudos nessa direção são importantíssimos.

  2. Paula disse:

    Eu ia ficar muito muito muito chateada se um furacão varresse minhas pesquisas...

  3. Isis disse:

    (achei fantástico esse laboratório submarino) Acredito que a pesquisa pode ser levada para outras áreas da biologia...

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