O Futuro Governo Americano e a Educação (ISNS-AIP 17/10/08)

INSIDE SCIENCE NEWS SERVICE – Serviço de Notícias “Por dentro da Ciência” da Associação Americana de Física (AIP)
17 de outubro de 2008
Desafios da Ciência e da Matemática Confrontam o Futuro Presidente e o Futuro Congresso
Por Rob Boisseau
Inside Science News Service

College Park — Com as notícias de iminente penúria vindas da economia dominando a corrida presidencial e muitas das 470 vagas eletivas para o Congresso, as discussões acerca do sistema educacional dos EUA,  particularmente aquelas sobre como ensinar ciências e matemática às crianças, sumiram no fundo palco. Mesmo assim, os maiores desafios do sistema educacional “K-12” [nota do tradutor: abreviatura de “Kindergarten to 12th grade”; o que se traduz, em termos de Brasil, em “pré-escola ao 2º grau”] — desafios esses que muitos experts consideram críticas para o futuro bem-estar econômico do país — estão à espreita do novo Presidente e do novo Congresso.

Seja Barack Obama ou John McCain, ou qual partido tiver maioria no Congresso, a questão mais discutível em educação será, sem dúvida, o futuro do Programa “Nenhuma Criança Fica para Trás” (No Child Left Behind = NCLB). Esse Programa é severamente criticado por uns e visto como um grande passo adiante por outros.

Na verdade, o Programa “NCLB”, aprovado pelo Congresso em 2001, foi um esforço bipartidário [nota do tradutor: o sistema americano é, na verdade, pluripartidário, só que, na prática, existe um sistema bipartidário: os Partidos Republicano – mais à direita – e Democrata – menos à direita – são os únicos com real expressão política] para reviver a “Lei da Educação Primária e Secundária” (“Elementary and Secondary Education Act”). Os principais objetivos do Programa “NCLB” — melhorar as capacitações em leitura e matemática, tornar uma responsabilidade de cada escola o fraco desempenho dos alunos e dar aos pais a oportunidade de mudar seus filhos para escolas com melhor desempenho — são louvados por todos. Mas alguns pais e professores demonstraram aos políticos suas objeções quanto à maneira como o Programa“NCLB” funciona.

Talvez o componente mais controverso do Programa “NCLB” seja a medida sobre o “Progresso Anual Adequado” (“Adequate Yearly Progress” = AYP) que exige que as escolas alcancem 100% de proficiência em matemática e leitura em 2014. As escolas têm que apresentar progressos em sua aferição AYP todos os anos e, aquelas que não conseguem apresentar um AYP em anos consecutivos são rotuladas como “carentes de aperfeiçoamento” e podem sofrer penalidades que incluem a transferência de estudantes e a intervenção da Secretaria Estadual de Educação.

Somente as notas de leitura e matemática são computadas para a AYP; ciências, não. Em conseqüência, muitos na comunidade científica sentem que seus esforços são sabotados, uma vez que as escolas direcionam o ensino para obter bons resultados na AYP, focalizando o tempo de aulas e os recursos somente em matemática e leitura.

Patti Curtis, diretora-gerente do escritório em Washington do Museu de Ciências de Boston, declarou que a primeira coisa que os legisladores provavelmente farão será mudar o nome do Programa “NCLB” para tentar livrá-lo de seu passado controverso. De acordo com Curtis, as mudanças não vão parar por aí. Os legisladores podem “relaxar as implicações dos testes” permitindo “aferições múltiplas”, tais como taxas de conclusão dos cursos, contribuam para a AYP.

Porém Curtis alerta para que “quanto mais nebulosos nos tornarmos, mais facilmente as más notícias [acerca dos progressos dos alunos] poderão ser varridas para debaixo do tapete”.  Curtis diz que se o componente de aferição do Programa “NCLB” for radicalmente modificado, “já não estaremos comparando maçãs com maçãs”.

Quanto a se seria mais fácil trabalhar sobre o Programa “NCLB” com Obama ou McCain, Curtis diz que ambos os lados “têm os sentimentos corretos,” mas, quem quer que seja eleito, terá que “enfrentar uma situação econômica horrorosa” que vai ter prioridade sobre outros assuntos. A economia, segundo Curtis, vai ter que ser “o conserto número um” na lista da próxima administração.

Pontos de Vista dos “Presidenciáveis”

Obama e McCain emitiram documentos com as linhas gerais de suas propostas para a reforma da educação. Obama apresenta um plano de bilhões de dólares em novas despesas com educação, enquanto McCain foi mais conservador. McCain repetiu diversas vezes que ele é a favor de um congelamento por um ano de todas as despesas governamentais não compulsórias, de forma a que ele possa avaliar os programas federais e cortar aqueles que não demonstrarem resultados significativos.  McCain, tal como Obama, também declarou que vai destinar fundos ao “America COMPETES Act” (Fundos para pesquisas), que, entre outras iniciativas, prevê o custeio de diversos programas de educação de ciências e matemática.

Em um discurso de novembro de 2007, Obama discutiu o importante papel da educação científica e matemática.  Chamando a educação de “a moeda da idade da informação”, Obama propôs uma reestruturação do Programa “NCLB” e incentivos para o recrutamento e manutenção de professores específicos de ciências. A plataforma educacional de Obama inclui apoio para as “escolas-charter” cujo foco seja em programas associados a matemática e ciências, um programa mais rigoroso de desenvolvimento de professores e medidas de responsabilização, e uma nova ênfase aos ensino de ciências e matemática no sistema público de educação.

Entre os desafios mais freqüentemente citados para a educação em ciências e matemática, está o número e a qualidade dos professores. O relatório de 2008 do National Science Board’s Science and Engineering Indicators observou que 80% das escolas tinham vagas em aberto para professores no ano passado, sendo 74% das vagas em programas de matemática e 56% em departamentos de ciências físicas.

A agenda educacional de Obama inclui gastos não compulsórios que teriam influência no número de professores nas áreas de ciências e matemática.  Obama propõe um programa de treinamento de professores que cobre as despesas com a formação de professores e, através de programas de licenciatura alternativa, encoraja aqueles com graduação em física e matemática a se tornarem professores. Os fundos seriam destinados a alunos na faixa de graduação ou pós-graduação, em um valor máximo de US$25,000 por ano e os recebedores desses fundos teriam que ensinar em campos altamente carentes, tais como ciências e matemática, ou em locais de alta carência por quatro anos.

McCain chamou a educação de “a questão de direitos civis deste século” no seu discurso de aceitação de indicação como candidato na Convenção Nacional do Partido Republicano, e ainda acrescentou que os estudantes de escolas com desempenho baixo deveriam ter a escolha de freqüentar outra escola.

A plataforma educacional de McCain é devotada a dar aos estudantes do primário e secundário a oportunidade de se transferirem entre escolas públicas, privadas e charter.  McCain apóia a transferência das verbas federais das escolas de onde os estudantes saem, para aquelas onde irão estudar. Ostensivamente isso se aplicaria a escolas charter especializadas em matemática e ciências. Ele também apóia programas de licenciatura alternativos para aumentar os efetivos de professores e de bônus para professores com alto desempenho nas áreas de ciências e matemática.

Preocupações Econômicas

Um relatório de 2005 da Academia Nacional de Ciências mostrou que a educação em ciências e matemática é particularmente importante para o futuro econômico da nação. “Rising Above the Gathering Storm” (literalmente: “Subindo acima da tempestade que está se formando”) revelou a depressão nacional em termos educacionais, observando que “pela primeira vez em gerações, as crianças da nação poderiam encontrar perspectivas piores que a de seus pais e avós encontraram”.

A despeito das melhores intenções, tanto de McCain, como de Obama, os desafios econômicos que a nova Administração e o novo Congresso terão que fazer face — recessão, dívida pública indo para o espaço e contínuas despesas com guerras — poderão limitar quaisquer tentativas mais profundas de reformar o sistema educacional para a ciência.

“Eu acho que vai ser dureza, quem quer que seja o Presidente” declara Sam Rankin, diretor executivo associado da Sociedade Americana de Matemática (AMS) e diretor do escritório da AMS em Washington. As verbas para a Fundação Nacional de Ciências, que financia vários programas de educação de ciências e matemática em escala nacional, não conseguiu se manter a par com a inflação.  Rankin questiona que “de um ponto de vista da ciência, nós já estamos [com os gastos] congelados há dois anos”. Devido à corrente crise econômica, esse congelamento pode continuar, temem os experts.

Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.

Discussão - 1 comentário

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM