Armazenar gás carbônico em rochas?…
Via EurekAlert:
The Earth Institute at Columbia University
Rochas poderiam ser mobilizadas para absorver vastas quantidades de CO2 do ar, diz estudo
Processo proposto aceleraria uma reação natural um milhão de vezes
|
Cientistas dizem que um tipo de rocha encontrada na superfície ou em suas proximidades no Meio-Leste da nação de Oman e em outras áreas pelo mundo, pode ser mobilizada para absorver enormes quantidades do gás de efeito estufa dióxido de carbono. Seus estudos mostram que a rocha, conhecida como peridotito, reage naturalmente com o CO2, em taxas surpreendentemente altas, formando minerais sólidos — e que o processo pode ser acelerado em um milhão de vezes, ou mais, com métodos simples de perfuração e injeção. O estudo será publicado na edição desta semana de Proceedings of the National Academy of Sciences.
Peridotito compreende a maior parte ou quase toda a rocha no manto que fica por baixo da crosta terrestre. Ela começa a cerca de 20 quilômetros ou mais abaixo, porém, ocasionalmente, pedaços são exumados quando as Placas Tectônicas colidem e empurram o manto para a superfície, como acontece em Oman. Os geólogos já sabiam que, quando exposta ao ar, a rocha podia reagir rapidamente com o CO2, formando um carbonato sólido tal como o calcário ou o mármore. Entretanto, esquemas para transportá-la até usinas de energia, moê-la e combiná-la com os gases das chaminés tinham sido encarados como caros demais ou com baixo retorno energético. Os pesquisadores alegam que a descoberta de altas taxas de reação subterrânea, anteriormente ignoradas, significa que o CO2 pode ser enviado para lá artificialmente e com um custo muito menor. “Este método propiciaria um processo de baixo custo, seguro e permanente para capturar e armazenar o CO2 da atmosfera”, afirma o autor principal, o geólogo Peter Kelemen.
Kelemen e o geoquímico Juerg Matter, ambos do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Colúmbia, fizeram esta descoberta durante trabalhos de campo no deserto de Oman, onde trabalharam por anos a fio. Sua área de estudos, uma área do tamanho de Massachusetts (ou seja, de Alagoas), praticamente nua, de peridotito exposto, é recruzada na superfície com terraços, veios e outras formações de minerais carbonatados, formados rapidamente em eras recentes, quando os minerais na rocha reagiram com o ar ou a água repletos de CO2. Até 10 vezes mais carbonatos jazem em veios subterrâneos; mas se pensava, antes, que esses veios fossem formados por processos sem conexão com a atmosfera e que fossem tão antigos como a rocha, com seus 96 milhões de anos. Entretanto, usando a datação convencional com isótopos de carbono, Kelemen e Matter demonstraram que os veios subterrâneos são também bem jovens — 26.000 anos em média — e ainda estão sendo ativamente criados, à medida em que as águas ricas em CO2 na superfície percolam em direção ao fundo. Várias amostras subterrâneas foram convenientemente expostas em cortes recém abertos em estradas. Ao final, Kelemen e Matter estimam que o peridotito de Oman esteja absorvendo naturalmente entre 10.000 a 100,000 toneladas de carbono por ano — muito mais do que qualquer um poderia pensar. Da mesma forma, são conhecidas grandes áreas de peridotito exposto nas ilhas do Pacífico de Papua-Nova Guiné e Caledônia, e ao longo das costas da Grécia e da antiga Yugoslávia; depósitos menores ocorrem no Oeste dos EUA e em vários outros lugares.
Os cientistas afirmam que o processo de aprisionar o carbono nas rochas pode ser acelerado 100.000 vezes ou mais, simplesmente perfurando o solo e injetando água quente com CO2 pressurizado. Uma vez que a reação tenha sido assim disparada, ela naturalmente gera calor — e o calor, por sua vez, acelera a reação, fraturando grandes volumes de rochas, o que expõe esta a reagir com ainda mais água rica em CO2. O calor gerado pela própria Terra também ajuda, uma vez que. quanto mais se desce, maior é a temperatura. (O peridotito exposto em Oman penetra até cerca de 5 km de profundidade.) Os cientistas dizem que uma tal reação em cadeia precisaria de pouca energia, após desencadeada. Levando em conta os desafios de engenharia e outras dificuldades, eles afirmam que Oman sozinho poderia absorver provavelmente algo em torno de 4 bilhões de toneladas de carbono atmosférico por ano — uma parte substancial das 30 bilhões de toneladas emitidas pela humanidade para a atmosfera anualmente, principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis. Com a formação de grandes quantidades de sólidos no subsolo, fendas e expansões irão produzir micro-terremotos — porém nada que seja prontamente perceptível para as pessoas, diz Kelemen.
“Ainda bem que temos este tipo de rochas na região do Golfo”, disse Matter. Grande parte do petróleo e gás é produzido ali e Oman está construindo novas usinas de energia elétrica a gás que se tornarão grandes fontes de CO2 que podem ser bombeadas para o subsolo.
Matter tem trabalhado em outro projeto distinto na Islândia, onde outro tipo de rocha, o basalto vulcânico, também se mostra promissor para absorver o CO2 produzido por usinas elétricas. Os testes lá estão previstos para começar na primavera de 2009, em parceria com a Reykjavik Energy e as universidades da Islândia e de Toulouse (França).
De acordo com os cientistas, a companhia estatal Petroleum Development Oman, está interessada em um programa piloto.
Kelemen declarou: “Nós vemos este como apenas um dentre vários processos de aprisionamento de carbono. Seria um grande erro pensar que estaríamos à procura de apenas uma coisa que resolvesse tudo”.
O artigo, “In situ carbonation of peridotite for CO2 storage,” está disponível em http://www.pnas.org/content/early/2008/10/31/0805794105.full.pdf+html, ou dos autores, ou ainda através da Proceedings of the National Academy of Sciences: PNASnews@nas.edu.
Discussão - 3 comentários
Mas quanto de CO2 por ano pode ser aprisionado?
E esse tipo de mudança na estrutura do peridotito não poderia causar perturbações na dinâmica do solo?
E, afinal, quanto custa?
A estimativa de "quanto carbono" só foi feita para o afloramento em Oman (4 bilhões de toneladas/ano). Eu "vendi o peixe pelo preço que comprei". O tom da notícia é bastante otimista, o que (naturalmente) levanta suspeitas... 😉
Ultimamente ando vendo muito desenvolvimento e teorias de como capturar e aprisionar o CO2 nos antigos depósitos de petróleo. Máquinas complexas que mal conseguem capturar o CO2.
Por que não capturam o CO2 pelas plantas, que crescem e mantém esse carbono em sua estrutura, na forma de madeira, e aprisionam essa madeira nos antigos depósitos de petróleo?
Muito mais simples, econômico e quem sabe daqui uns milhões de anos, volte a haver petróleo nas atuais reservas vazias de petróleo.
Achei que seria interessante levantar essa questão com todos.
Abraços!