(Pondo a vida em dia – 3) “Por dentro da ciência” do Instituto Americano de Física (28/01/09)
28 de janeiro de 2009
A Agenda para a Ciência: Agressiva e Gigantesca
Por Jim Dawson
Inside Science News Service
Quando o antigo assessor de Ciências do Presidente Clinton, Neal Lane, foi perguntado sobre qual seriam os conselhos que daria para John Holdren, o assessor de ciências do Presidente Obama, ele riu alto. “Eu diria para eIe que esse é um dos melhores empregos do governo e que ele deveria aproveitar”.
Mas, se Holdren perguntasse a ele o que fazer em seus primeiros dias no trabalho, Lane, agora um decano do Instituto de Políticas Públicas da Universidade Rice, em Houston, ofereceria uma gigantesca lista de questões que confrontam não só o assessor de ciências, mas toda a equipe presidencial, que deve por mãos à obra com tudo, desde o aquecimento global e energia “verde”, até as pesquisas com células-tronco e educação para as ciências.
Quando o Presidente George W. Bush tomou posse em 2001, a ciência ficou bem em baixo na lista de prioridades e permaneceu nessa posição pelos primeiros seis anos de sua administração. Com efeito, levou cerca de nove meses para que Bush indicasse um assessor para ciências. Porém Obama nomeou a maior parte de sua equipe científica até o dia da posse e, o mais importante, nomeou o físico Holdren como assessor presidencial para ciências e o físico e laureado com o Prêmio Nobel Stephen Chu como Secretário de Energia, bem como Carol Browner como “czar da energia”.
A esperança entre aqueles por dentro da política é que Holdren fique em um escritório no Eisenhower Executive Office Building, adjacente à Casa Branca. Lane teve um escritório lá, mas o assessor de ciências de Bush, John Marburger, foi removido para umas duas quadras mais distante, quando da reforma do Prédio Governamental e nunca voltou. Pode parecer uma questão trivial para muitos, porém Lane observou que é importante, tanto do ponto de vista simbólico, como no prático, ficar dentro do complexo da Casa Branca. “Mesmo que você esteja a um quarteirão de distância, você tem que passar pela segurança, cada vez que vai à Casa Branca para uma reunião. Isso leva tempo e, normalmente, você está com pressa”.
Para enfatizar a importância que a ciência terá na nova administração, Obama declarou em seu discurso de posse que: “Vamos restituir à ciência seu devido lugar e produzir maravilhas tecnológicas que aumentem a qualidade da saúde pública e diminuir seus custos. Vamos colher a energia solar e dos ventos para abastecer nossos carros e acionar nossas fábricas. E vamos transformar nossas escolas, colégios e universidades para fazer face às demandas de uma nova era. Tudo isso nós podemos fazer. E faremos isso tudo”.
Lane e outros cientistas, e experts em políticas estão motivados com a importância que Obama está colocando na ciência, mas estão igualmente muito conscientes da pressão que esse lugar de destaque coloca no pessoal de ciências do governo e sobre a comunidade científica para que se adiantem e obtenham resultados, tanto de curto como de longo prazo, nas questões científicas que confrontam o país.
Seguindo os números
As questões mais imediatas, tais como as restrições postas pela administração Bush sobre as pesquisas com células-tronco, podem ser resolvidas rapidamente por decreto, comentou Lane. Mas a lista de questões maiores, tais como energia, mudanças climáticas, regulamentação ambiental e educação científica, precisarão de um cuidadoso trabalho junto ao Congresso e uma pletora de grupos de pressão, públicos e privados, para fazerem os programas avançarem.
“Todas [essas] coisas que afetarem grandes números de pessoas, assim como estados e regiões em particular, bem como setores da comunidade dos negócios”, declarou Lane. “Aqueles que lidarem com essas questões, terão que trabalhar cuidadosamente e se certificarem que o Presidente dispõe de todas as informações que precisa, e se certificarem, também, de que essas informações incluam a ciência”.
Lidar com a montanha de questões relacionadas com a ciência é algo que começa imediatamente, em parte porque o pacote de US$ 550 bilhões de estímulo à economia, recentemente aprovado pela Comitê de Orçamento da Câmara, inclui US$ 13,3 bilhões para a ciência. Na administração Bush, a Iniciativa para a Competitividade Americana (American Competitiveness Initiative = ACI) e suas duas últimas propostas orçamentárias ao Congresso, as agências de ciência deveriam ter recebido verbas bem maiores do que as que o Congresso acabou aprovando.
O pacote de estímulo de Obama é dirigido no sentido de cobrir esse défcit de verbas para a ciência parcialmente. No pacote de estímulo, estão previstos US$ 3 bilhões para a Fundação Nacional de Ciências, o Escritório de Ciências do Departamento de Energia receberia US$ 2 bilhões e o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) receberia US$ 20 milhões. Outros US$9 bilhões iriam para as demais agências que custeiam a pesquisa básica.
Para irrigar rapidamente a economia com esse dinheiro, o Congresso está pedindo às agências federais que dêem prioridade a projetos “prontos para construir”. “Temos que atender as necessidades que foram postergadas, tais como a infraestrutura de laboratórios e equipamentos para as universidades”, diz Michael Lubell, diretor de assuntos públicos da American Physical Society. Essas são coisas “prontas para construir” e que podem ser começadas hoje. Um total de US$3,4 bilhões do pacote de estímulo proposto, iria para a atualização e ampliação das instalações de ciências e a compra de novos equipamentos, de acordo com uma análise feita pela Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS).
O comprometimento da administração Obama com o financiamento a longo prazo será detalhado na proposta de orçamento para 2010, que, se espera, será apresentado ao Congresso no fim de março. Quando o orçamento for apresentado, diz Lubell, a comunidade da física verá as “bases para um compromisso constante com a ciência [dessa administração]”.
Isso significa que Holdren, Chu, Browner e outros funcionários terão que lidar, não só com o financiamento da ciência a curto prazo no pacote de estímulo, mas também desenvolver o complexo orçamento para 2010 que vai financiar todos os programas de ciências federais: tudo, desde a previsão meteorológica até as novas aventuras espaciais da NASA.
O Avanço da Ciência
A nova ênfase na ciência deixou a comunidade científica algo bestificada, mostrando uma reversão total das políticas da administração Bush, e ela ainda está tentando compreender como as autoridades da área de ciências vão conseguir gerenciar suas responsabilidades e agendas superpostas.
O Prêmio Nobel Burton Richter, Diretor Emérito do Stanford Linear Accelerator Center (SLAC) na Universidade Stanford, na Califórnia, que passou os muitos últimos anos advogando em prol da ciência em Washington, declarou que está impressionado com as credenciais de Holdren, Chu e outros funcionários, mas está esperando para ver como eles vão resolver seus relacionamentos profissionais. Holdren é um expert em mudanças climáticas, tal como Chu. Browner é um expert em energias renováveis, como o são Chu e Holdren. “Sendo assim, eles terão que resolver como isso vai funcionar”, comentou Richter. “A administração determina a direção geral, mas, como as peças vão se encaixar, é uma questão em aberto”.
No escritório em Washington da AAAS, Norman Neureiter, diretor do Centro para Política de Ciência, Tecnologia e Segurança, observou que a ciência também é uma ferramenta da diplomacia internacional e deve receber uma importância renovada no Departamento de Estado. Neureiter, que foi assessor de ciências do Secretário de Estado no final da administração Clinton e no início da administração Bush, declarou que: “em várias questões de política externa, atualmente, existe um elemento científico ou tecnológico de algum tipo — seja sobre saúde global, proliferação de armas nucleares, meio-ambiente, aquecimento global, ou diversas outras questões. A ciência é apenas um dos elementos de qualquer decisão política complexa, mas eu acredito firmemente que uma decisão tomada com base em conhecimento dos fatos científicos relevantes, será melhor do que uma que ignore tais fatos”.
De forma que, com a ciência entremeada com quase todas as questões da política nacional, tanto interna como externa, e uma pletora de cientistas no controle do poder de várias agências federais, qual é a melhor maneira de ir para a frente? “Eu sempre cito o velho ditado que diz: se você não se importa com quem leva a fama, o que você pode realizar é impressionante”, diz Neureiter.
Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.
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