“Por dentro da ciência” do Instituto Americano de Física (25/02/09)

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25 de fevereiro de 2009

Olhos Trêmulos resolvem “Onde está Wally?”

Por Devin Powell
ISNS

O livro infantil “Onde está Wally” (conhecido no mundo inteiro — menos no Brasil — por ‘Where’s Waldo’) tem um lugar especial no coração da maioria de nós que nasceu após o final da década de 1970 — e dos pais que nos criaram. Todos nos recordamos de desafiar nossos colegas de primário, disputando quem seria o primeiro a enxergar os óculos e listras de Wally entre um oceano de faces. Agora, um grupo de pesquisadores no Arizona pode ter descoberto o segredo para solucionar o quebra-cabeças: descobrir o personagem magrelo faz nossos olhos tremelicarem involuntariamente.

Esses pequenos espasmos dos olhos — chamados de “microssacadas” — diferem dos grandes movimentos dos olhos que usamos para olhar intencionalmente para diferentes regiões de uma página. Eles são tão pequenos que, de fato, as pessoas nem os percebem. Os cientistas pensavam que esses movimentos só aconteciam em experiências em laboratório, normalmente nos cansados olhos dos voluntários que tinham ficado mirando pontos em telas por várias horas. Por décadas, poucos pensaram que as microssacadas fossem uma parte importante de nossa visão normal cotidiana.

A neurologista Susana Martinez-Conde desafia esse ponto de vista estabelecido, sugerindo que esses tremores aparentemente insignificantes são algo realmente importante para nossa visão. No Instituto Neurológico Barrow, em Phoenix, ela trabalha em conjunto com colaboradores pouco comuns, tais como os mágicos Penn e Teller, para descobrir como as mágicas e ilusões visuais funcionam. A poucos anos, ela descobriu que as microssacadas preenchem nossa visão periférica quando fixamos a visão em algo. E quando fixamos a visão em uma ilusão visual, tal como a “Enigma” (http://www.michaelbach.de/ot/mot_enigma/index.html), os espasmos não conseguem capturar direito a imagem, produzindo os estranhos efeitos que tornam essas ilusões tão populares.

Para verificar se esses espasmos também auxiliavam a procurar objetos interessantes em nossa vizinhança, Martinez-Conde pegou recentemente em um exemplar de “Onde está Wally” na livraria local. E ela gravou cuidadosamente os movimentos dos olhos de voluntários, enquanto eles olhavam as enormes ilustrações e outras imagens tais como fotografias e quebra-cabeças feitos de imagens.

Ela rapidamente decobriu que nossos olhos jamais ficam perfeitamente parados, mesmo quando pensamos que estamos fixando o olhar em um ponto. Eles dançam e tremelicam constantemente, ao percorrerem uma página.

A experiência mostrou que esses espasmos microscópicos aumentam quando olhamos para cenários complexos. Uma tediosa tela cinzenta é vista com olhos mais calmos do que, por exemplo, uma foto com cachorros e um quebra-cabeças ou uma ilustração de “Onde está Wally” fazem com que nossos olhos fiquem doidos (para ver vídeos de como as pessoas movimentam seus olhos ao verem diferentes imagens, visite http://journalofvision.org/8/14/21/supplement/supplement.html).

Porém nossos olhos tremem mais quando descobrem Wally. Uma possível explicação dada por Martinez- Conde, é que os espasmos sejam um sistema de alerta. Quando movimentos mais largos dos olhos levam nossa visão a passar por uma área de interesse, ao microssacadas podem ser um sinal que diz ao cérebro para prestar atenção.

E não é só o caso de fotos e ilustrações para crianças. “Podemos extrapolar os resultados para situações da vida cotidiana” tais como procurar por constelações no céu noturno, ou tentar localizar o Empire State Building na silhueta da cidade de Nova York, argumenta ela.

O psicólogo Ralf Engbert, que estuda a visão na Universidade de Potsdam, na Alemanha, diz que isso faz sentido em termos evolutivos. “Nosso sistema visual evoluiu para localizar alvos móveis”, diz ele. “Se queremos olhar para uma cena estacionária em detalhes, prescisamos de movimentos em miniatura para otimizar a visão”.

Os resultados da pesquisa podem significar que pessoas cujos olhos tenham mais espasmos, sejam melhores para encontrar Wally, embora sejam necessários novos experimentos para comprovar isso. Se isso for verdade, daria uma desculpa conveniente para a próxima vez que seu filho de oito anos vencer você no jogo do Wally: ele não é necessariamente mais esperto do que você… apenas os olhos dele tremem mais.


Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.

Discussão - 4 comentários

  1. Igor Santos disse:

    Eu li uma pesquisa onde pontos foram pintados em lentes de contato e, por não serem escaneados por esses movimentos, rapidamente desapareciam da visão dos testados.
    Será que Pruitt Taylor Vince tem a visão tão melhor quanto aparenta?
    E na Austrália também é Wally.

  2. Veri disse:

    ¬¬
    Eu odiava os livros pq eu nunca conseguia achar o Wally-Waldo! hahahahaha

  3. Victor disse:

    Bom, mas meus olhos tremem quando eu quero e os espaços são medianos sempre fico com medo de acontecer alguma coisa mas consigo fazer isso há 5 anos o que é?

  4. João Carlos disse:

    Provavelmente nada, Victor. Talvez você seja até mais capaz de reparar em pequenos detalhes do que o comum das pessoas.

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