Afinal, por que Darwin ainda incomoda?

Por que será que a Evolução e a Seleção Natural ainda incomodam tanto e causam reações extremadas, notadamente entre as pessoas que se dizem religiosas? Na verdade não se vê tanta reação contra a Astronomia, contra a Geologia ou mesmo contra a Física, embora todos esses ramos da ciência contradigam frontalmente o “livro sagrado” das religiões originadas da judaica.

A Astronomia botou por terra um ponto fundamental do fundamentalismo: a Terra não é o centro do universo, nem sequer um ponto notável no mesmo.

A Geologia, por sua vez, desmente de maneira cabal a cronologia bíblica e não se vê qualquer “tour-de-force” como o “Intelligent Design” para contestar seus ensinamentos.

Há algo mais nas constatações de Darwin e seus sucessores que incomoda, e muito, as pessoas em geral e esse incômodo é que dá alento aos fundamentalistas religiosos para continuarem em sua cruzada contra a Evolução.

Me parece que a fonte disso tudo está em algo que o Darwinismo não contesta explicitamente, e que continua a ser presumido até mesmo por partidários ateus da Evolução: a idéia de que a espécie humana é “o ápice” da hierarquia dos seres vivos.

Eu não preciso recorrer a minhas crenças religiosas, nem à SETI, para constatar que essa idéia é totalmente infundada. Nada do que conhecemos pode ser usado como indício de que a espécie humana seja, realmente, a “última palavra” em matéria de evolução biológica. Quem estudasse a Terra no Período Jurássico, jamais apostaria em nossos ancestrais mamíferos contra os poderosos dinossauros. No entanto, os grandes répteis acabaram extintos — mercê de uma catástrofe natural que pode, perfeitamente, se repetir — e os mamíferos dominaram as terras. E, dentre as diversas espécies de mamíferos, uma só entre os primatas conseguiu prosperar (embora tenha sofrido a concorrência de seus “primos” Neanderthal) e, em lugar de se adaptar ao meio ambiente, foi capaz de transformá-lo em seu proveito.

Entretanto, os indícios de que essa transformação do meio ambiente e o crescimento numérico exagerado da espécie humana, estão levando a uma situação que põe a própria sobrevivência da maioria dos indivíduos em perigo, são cada vez mais alarmantes.

Animal gregário, o Homo Sapiens tem como base de sua prosperidade a vida em sociedade. E essa sociedade está — para não ser piegas — claramente aquém das necessidades da espécie para uma sobrevivência futura. Espécies bem menos “evoluídas” têm chances bem maiores de sobreviver a eventos de destruição em massa — e, ao que consta, pela primeira vez na história do planeta, uma espécie “dominante” pode ser a própria causadora de um evento dessa natureza.

A Biologia — em especial, a Genética — pode trazer novos dados para alimentar a parte realmente científica da questão “como a espécie humana pode evoluir para melhor”. Mas não pode servir como base para decisões de foro político e ético sobre a sociedade — afinal, quem decide o que é “melhor”?

Darwin ainda incomoda… Nem só porque contradiz a parte do “criado à imagem e semelhança de Deus”, mas porque enfraquece o pedestal de barro sobre o qual as pessoas teimam em se equilibrar, seja pela arrogância do ignorante, seja pela petulância dos que “têm um olho em terra de cegos”.

Se Darwin nos livrou do “Criador” bíblico, fonte de subsistência de sacerdotes e de limitação para a ciência, a Seleção Natural não se aplica plenamente para a espécie humana, uma vez que essa possui uma capacidade inédita em não só se adaptar ao ambiente, como também de modificá-lo em proveito próprio.

E sempre resta a questão: o que pode surgir depois do ser humano?

(Este post faz parte da discussão de março do “Roda de Ciências”. Por favor, comentários aqui)

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