Décimo aniversário da Clínica Virtual da NASA
[ NASA Celebrates 10th Anniversary of the Virtual Collaborative Clinic ]
Concebida e desenvolvida no Centro de Bioinformática de Ames, uma equipe chefiada por Muriel Ross desenvolveu a Clínica Virtual. Foto da NASA |
O que têm em comum uma avó Navajo e um astronauta da NASA? Ambos vivem em locais remotos e desolados, seja no deserto do Novo México, seja na Estação Espacial Internacional, e ambos terão dificuldades em obter tratamento médico ou ser levado para um hospital, caso necessário.
A NASA percebeu bem cedo que poderiam haver ocasiões nas quais os astronautas se veriam em apuros e necessitariam de assistência médica de emergência, estivessem eles em plena viagem espacial ou vivendo na Estação Espacial Internacional. Para resolver esse problema, o Centro de Pesquisas Ames da NASA desenvolveu uma “clínica virtual”, há dez anos, que também tem auxiliado populações mal servidas de saúde em alguns dos lugares mais remotos da Terra.
Celebrando seu décimo aniversário neste mês, essa “clínica virtual”, chamada Clínica Colaborativa Virtual (Virtual Collaborative Clinic = VCC), tem apresentado inovações médicas avançadas desde sua criação. Quando o Centro Ames criou essa “telemedicina” sofisticada, isso representou um grande passo para os serviços de saúde.
“Em uma época onde a presença virtual era só um sonho, os pensadores inovativos no Centro Ames demonstraram que as pessoas em vários locais diferentes podiam trabalhar em conjunto em tempo real, partilhar suas habilidades, informações e conhecimentos para melhorar o serviço de saúde para comunidades nas áreas mais remotas do mundo”, declarou Steve Zornetzer, Diretor Associado do Centro e antigo Diretor de Tecnologia da Informação no Ames.
A Clínica Colaborativa Virtual
Concebida e desenvolvida no Centro de Bioinformática no Ames, uma equipe de projeto, liderada por Muriel Ross, criou três ferramentas de software para auxílio de diagnóstico e planejamento de tratamento médico nos ambientes mais hostis. Essas ferramentas combinam imageamento médico avançado com comunicação em rede de banda larga de alto desempenho para dar aos médicos imagens coloridas de alta definição em tempo real.
O primeiro programa, “mesher,” gera visualizações estereoscópicas de alta fidelidade dos dadosde cada paciente. Usando informações obtidas a partir de microscopia eletrônica, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, os engenheiros de software desenvolveram visualizações dos osso, tecidos e órgãos dos pacientes.
Uma vez feitas essas imagens, uma segunda ferramenta de software, chamada “Bisturi Cibernético” (“CyberScalpel”), permite que os médicos, administradoers e técnicos em diferentes localizações, vejam e avaliem o problema ou ferimento do pacientes e discutam o procedimento médico mais adequado para o tratamento. Girando e manipulando a imagem, os médicos podem praticar os procedimentos cirúrgicos em ambiente virtual, reduzindo o tempo de realização da cirurgia e aumentando as chances de sucesso.
Médicos fazem a imagem em 3-D girar e discutem o caso em tempo real. Imagem da NASA |
Os médicos podem realizar incisões em imagens virtuais e até remover tecidos ou ossos. As sessões são colaborativas: qualquer participante, local ou remoto, pode girar a imagem para vê-la de diferentes perspectivas, enquanto outros participantes observam a mesma imagem e apresentam suas opiniões discordantes em uma atmosfera realmente interativa.
A rede
A terceira ferramenta é um aplicativo multicanal que permite o compartilhamento simultâneo das informações em vários lugares. O software regula
a informação recebida e enviada por roteadores, minimizando os atrasos na transmissão para fornecer os dados quase que em tempo real, sincronizando as imagens grandes em 3-D nos terminais e acomodando as redes por satélite e terrestres operadas em plataformas diferentes. Para resolver esse problema, a firma Cisco Systems
contribuiu para o projeto do software multicanal na internet.
Além disso, para que as interações entre os sítios sejam feitas com sucesso, o sistema de rede precisava de largura de banda, progressividade, confiabilidade e capacidade multicanal. A NASA precisava de uma solução de rede com base nos IP. Essas redes — a Rede de Pesquisa e Educação da NASA (NASA Research and Education Network = NREN), o Serviço de Backbone de Rede de Alt[issima Performance da Fundação Nacional de Ciências (vBNS), em Abilene, Novo México, e a Rede de Pesquisa e Educação da Califórnia (CalREN2) — conectam os sítios participantes com o servidor do aplicativo em Ames.
Para o componente de satélite, a NASA usou um aplicativo de banda muito larga que fornece o acesso em alta velocidade à internet. Essa solução de rede permitiu à NASA se conectar com cinco instalações principais: o Hospital Memorial de Salinas Valley da Universidade da Califórnia em Santa
Cruz, o Centro Médico da Universidade Stanford na Califórnia, o Centro Médico Navajo do Norte no Novo México a Clínica Cleveland no Centro de Pesquisas Glenn da NASA e o Centro de Pesquisa Ames da NASA — com uma rede de grande área de alto desempenho que se estende por todos os Estados Unidos.
Um conceito se torna realidade
Com todos os sistemas prontos, a VCC foi lançada em 4 de maio de 1999. Pela primeira vez na história, especialistas médicos de cinco locais diferentes tiveram a oportunidade de discutir casos reais, enquanto observavam complexas visualizações para a cirurgia em tempo real. Usando ligações terrestres e transmissões por satélite através da VCC, os médicos discutiram casos e, em uma ocasião, realizaram uma cirurgia virtual. No dia da demonstração, a UC Santa Cruz também montou um auditório para que qualquer um pudesse observar o que acontecia na VCC.
A equipe da Clínica de Cleveland discutiu um caso onde um paciente sofria de um coração hipertrofiado. A equipede Salinas tratou o coração de uma criança com arritmia e os hospitais dos Navajo, Cleveland e Salinas apresentaram resultados de cirurgias cardíacas.
Zornetzer declarou: “A Dra. Muriel Ross e seus companheiros do setor privado, a indústria da saúde e as clínicas particulares, conceberam, implementaram e demonstraram a utilidade da Clínica Colaborativa Virtual. A NASA é conhecida por sua liderança nas capacidades técnicas e o projeto da VCC demonstrou, há mais de uma década, o que só hoje está se tornando uma realidade mais comum”.
Novos desenvolvimentos
Atualmente a VCC é usada para auto-transplante, correção de lábios leporinos, cirurgia de reconstrução facial e de reconstrução de coxas. Michael Stephanides, um médico pesquisador no Centro Médico da Universidade Stanford, relembra três projetos que surgiram da clínica virtual de 1999. Os projetos incluiarm software para uma cirurgia para a reconstrução da face de uma mulher (nariz e bochecha); um simulador para treinamento de microcirurgia que resultou em um protótipo, e uma ferramenta de medição em 3-D que criava maxilas a partir de ossos das pernas para pacientes com câncer.
O Dr. Stephen A. Schendel, antigo pesquisador no Centro Médico da Universidade Stanford na Califórnia, disse: “Os avanços na computação nos últimos dez anos melhoraram rapidamente o imageamento e as simulações para os serviços de saúde. Em Stanford, nós conseguimos desenvolver um sistema de simulação para o planejamento de cirurgia crânio-facial. Essa tecnologia representa uma significativa vantagem para o ensino e planejamento de cirurgia, o que pode aumentar a segurança e melhorar o prognóstico para os pacientes”.
Os médicos dizem que as cirurgias simuladas poupam tempo e melhoram as cirurgias reais, e a VCC lhes permite realizar simulações de procedimentos cirúrgicos. O objetivo de longo prazo da NASA é que a VCC assegure a saúde dos astronautas, na medida em que eles se aventuram mais longe pelo espaço. Mas as tecnologias avançadas de rede da clínica também tornam o serviço de saúde “universal” uma realidade, oferecendo a mesma qualidade de serviços existentes em nas instituiçoes mais conhecidas, a pacientes em localidades remotas.
Os profissionais médicos envolvidos na Clínica Colaborativa Virtual gostariam de reconhecer as contribuições feitas pelos Dr. Bruce Finke e Dr. Mark Carroll, do Serviço Médico Indígena.
(Por Ruth Dasso Marlaire
Ames Research Center, Moffett Field, Califórnia)
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