Cientistas registram para onde vai o petróleo de afloramentos naturais


[ Scientists Document Fate of Oil Slicks from Natural Seeps ]

Revelada a “história de vida” do petróleo que vaza em Coal Oil Point, Califórnia

Photo of petroleum seeps off Coal Oil Point, California.

Os cientistas documentaram o destino do petróleo que vaza dos afloramentos em Coal Oil Point, Califórnia.
Crédito e imagem ampliada

13 de maio de 2009

Há vinte anos o petroleiro Exxon Valdez estava deixando o Estreito do Príncipe William no Alaska quando montou em um recife no meio da noite.

O que aconteceu a seguir foi considerado um dos piores desastres ambientais dos EUA: 48,6 milhões de litros de petróleo cru vazaram para as límpidas águas do Alaska, chegando a cobrir 29.000 km² de oceano.

Agora, imagine de 8 a 80 vezes a quantidade de petróleo derramado no acidente do Exxon Valdez.

De acordo com novas descobertas feitas por cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (UCSB)  e a Woods Hole Oceanographic Institution
(WHOI), é isso tudo que já vazou sobre o fundo do mar dos afloramentos submarinos de petróleo perto de Coal Oil Point, ao largo de Goleta, Califórnia, no Canal de Santa Barbara.

Photo of seeping oil and methane floating on the ocean's surface off Coal Oil Point.

Petróleo e metano afloram e boiam na superfície do mar em Coal Oil Point.
Crédito e imagem ampliada

Esses afloramentos naturais liberam umas 20 a 25
toneladas de petróleo diariamente, “o que dá um laboratório ideal para investigar o destino do petróleo no oceano costeiro”, diz o oceanógrafo David Valentine
da UCSB.

A pesquisa da equipe, relatada em um artigo a ser publicado na edição de 15 de maio da revista Environmental Science & Technology,
documenta como o petróleo é liberado pelos afloramentos, trazido à superfície por plumas sinuosas e então depositado no fundo do oceano em sedimentos que se estendem por quilômetros a Noroeste de Coal Oil Point.

As descobertas revelam, também, que o petróleo está tão degradado quando acaba enterrado no leito do mar, que é uma mera casca do petróleo que borbulhou para fora inicialmente dos afloramentos.

“Foram descobertas espetaculares”, entusiasma-se Christopher Reddy, um químico marinho da WHOI e, em conjunto com Valentine, um dos autores do artigo.

Outros autores são Libe Washburn da UCSB e Emily Peacock e Robert Nelson, ambos da WHOI.

Don Rice, diretor de programa na Divisão de Ciências Oceânicas da Fundação Nacional de Ciências (NSF), declara:  “Seja de um afloramento natural ou da indústria humana, o petróleo que entra no oceano tem uma ‘história de vida’. Uma com muitos capítulos depois daqueles que todos nós vemos – as manchas na superfície, as bolas de piche na praia e os animais marinhos afetados. Esta equipe de cientistas se dispos a escrever o resto da história – e conseguiu”.

“Em um mundo faminto por energia, é uma saga sobre a qual temos que conhecer um bocado”.

O autor principla é Christopher Farwell que, na época da pesquisa, era um estudante de química na UCSB. Inspirado pelo projeto,
Farwell mudou o rumo de sua carreira e agora é um estudante de pós-graduação na UCSB, estudando ciências do mar e ciências da Terra.

“Foi uma grande oportunidade”. disse Farwell. “Eu pude passar para outra disciplina diferente que me permitiu fazer uma contribuição e compreender o processo da ciência como um todo”.

Valentine, que supervisionou a pesquisa de Farwell, declarou: “Não é comum ter um estudante tomar a frente de um estudo com tanto significado e seu sucesso é um testemunho da perseverança de Chris”.

Em um artigo anterior, publicado em 2008,
Valentine e Reddy documentaram como micróbios devoram muitos componentes do petróleo que emana dos afloramentos.

O novo estudo examina o passo final no ciclo de vida do petróleo.

“Uma das perguntas naturais é: O que acontece com todo esse petróleo?”, diz Valentine. “É tanto óleo que vaza para cima e flutua na superfície do mar; isso é algo que nos intrigou por muito tempo”.

“Nós sabemos que parte dele volta para as praias como bolas de piche, mas não fica por lá. E, depois, temos esses afloramentos enormes. Se pode vê-los, algumas vezes se estendendo por quase 40 km de distância dos afloramentos. Mas qual é seu destino final?”

Photo of sea-floor tar and methane gas covered with white sulfide- and methane-eating microbes.

O piche e o gás metanp ficam cobertos por micróbios que se alimentam de sulfetos e metano.
Crédito e imagem ampliada

Com base em pesquisas anteriores, Valentine e Reddy supuseram que o petróleo afundava “porque, para começar, o petróleo é pesado”, como disse Valentine.

“Uma boa aposta é que ele termina nos sedimentos, porque ele não acaba na praia, nem dissolve nas águas do oceano”.

Uma maratona noturna de coleta de amostras feita pelo navio de pesquisas (R/V) Atlantis, financiada pela NSF, forneceu os meios para testar a hipótese. Com Farwell
e Reddy na liderança, a equipe colheu 16 amostras de sedimentos do fundo do oceano, seguindo uma rota cuidadosamente calculada e mapeada por Farwell.

Os pesqusiadores esperavam que sua rota, descrita po Farwell  como um “retângulo ao longo da costa de Santa Barbara a Point
Conception”, coincidiria com o rastro da pluma.

Os cálculos de Farwell estavam perfeitos, afirma Valentine. A rota de 16 pontos revelou um padrão inconfundível de sedimentos saturados de petróleo por toda a rota do navio.

Os cientistas então cuidadosamente analisaram as amostras usando o cromatógrafo de gases bidimensional de Reddy. Diz Valentine: “Vimos que podíamos ligar o petróleo dos afloramentos com o petróleo dos sedimentos”..

“Nós o podemos fazer através da composição das moléculas que são específicas do petróleo dos afloramentos. Assim, sendo capazes de estabelecer a ligação entre eles e sendo capazes de quantificar quanto petróleo havia lá, podíamos ver o padrão do petróleo. Ele vinha dos afloramentos”.

Washburn, que estava usando ondas de rádio para mapear as correntes marítimas ao largo de Santa Barbara,
forneceu os indícios adicionais. “Libe calculou uma média de sete anos da média da corrente que flui pela superfície na região e traçou um gráfico. Coincidiu perfeitamente com nossa pluma”, relata Valentine.

Esta pesquisa se comprovou como uma extensão do estudo de 2008 de Valentine e Reddy: que o petróleo tinha-se degradado, a maior parte dele comido por micróbios, antes de se depositar no leito do oceano e ficar enterrado.

Valentine prossegue: “Do que se vê de todas essas amostras, as bactérias parecem colidir com uma ‘parede’ comum, a partir da qual elas não comem mais. No estudo anteiror, nós estavamos procurando por uma biodegradação debaixo da superfície, onde não há oxigênio”.

“Ainda restam milhares de componentes naquele petróleo, mas agora podemos ver a evaporação e a dissolução que acontece com a mancha de petróleo e, então, a biodegradação que acontece com a mancha quando há oxigênio”.

“Quando ela finalmente cai para o leito do mar, continua a ser biodegradada. Parece que ela é biodegradada até o mesmo ponto – e aí simplesmente para”.

“É dramático o quanto o petróleo perde neste ciclo de vida”, diz Reddy. “É quase como se alguém que tivesse perdido 200 quilos”.


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