Má notícia: o permafrost está derretendo
[Livremente traduzido daqui: Permafrost Could Be Climate’s Ticking Time Bomb]
Pesquisadores realizam trabalho de campo para monitorar o derretimento do permafrost no Alaska e obter novos dados acerca da liberação de carbono para a atmosfera
Os estudantes de doutorado Gregory Lehn e Matt Knhosh conversam com o co-responsável pela pesquisa Jim McClelland. |
5 de agosto de 2009
Por Amanda Morris, Northwestern University
O terreno da Encosta Norte do Alaska não é íngreme, no entanto Andrew Jacobson ainda enfrenta dificuldades ao caminhar pela tundra esponjosa que é cheia de pedregulhos e enxames de mosquitos.
Jacobson,
um professor de ciências da Terra e Planetárias na Northwestern University,
extrai amostras de solo e água à procura de indícios acerca de uma das maiores bombas-relógio do aquecimento global que estão tiquetaqueando: o derretimento do permafrost.
O Permafrost,
ou terreno congelado, recobre aproximadamente entre 20 a 25% da superfície do hemisfério Norte e estima-se que contenha até 1.600 gigatons de carbono, principalmente na forma de matéria
orgânica. (Um gigaton equivale a 1 bilhão de toneladas). Em comparação, a atmosfera contém, atualmente, cerca de 850 gigatons deste elemento na forma de dióxido de carbono.
Jacobson, cuja pesquisa é financiada pela Fundação Nacional de Ciências (NSF) e pela Fundação David & Lucile Packard, diz: “O permafrost tem historicamente servido como um reservatório de carbono, isolando grandes quantidades de carbono do chamado ‘ciclo de carbono’. Entretanto, o aquecimento global pode transformar o Ártico em uma nova fonte de carbono com a aceleração do ritmo de derretimento do permafrost. Isso teria, sem dúvida alguma, um efeito dramático no ciclo de carbono global”.
Jacobson diz que a principal preocupação é que o carbono do permafrost se oxide em dióxido de carbono, à medida em que o derretimento se acelerar, causando uma realimentação positiva para o aquecimento global. Um clima mais quente facilita uma maior liberação de carbono que, por sua vez, favorece mais aquecimento ainda, criando um círculo vicioso.
Assim, Jacobson e seus colegas coletam amostras das águas dos rios e de solo próximos à Estação de Pesquisa Ecológica de Logo Prazo de Toolik (da NSF) – a 250 km ao Norte do Círculo Ártico. A Rodovia Dalton – construída como via de suprimentos para o Sistema de Oleodutos Trans-Alaska – é a única via de acesso ao local.
Ele graceja: “O planejamento constitui uma grande parte de nossos dias – olhar os mapas, procurando saber onde ir e como chegar lá. O trabalho de campo é tipicamente o tempo todo problemas com veículos, estradas ruins e mau tempo. Uma coisa que você sempre pode apostar, é que cada expedição é uma aventura”.
Embora o primeiro passo lógico para criar um modelo do aquecimento global seja quantificar o fluxo de carbono, existem problemas complexos e não solucionados que envolvem o ciclo de carbono do Ártico, o que torna difícil a criação de modelos para esse elemento.
Jacobson e sua equipe usam uma abordagem complementar, analisando os isótopos que existem naturalmente de outros elementos, tais como cálcio e estrôncio, que rastreiam o derretimento do permafrost e, assim, fornecem dados acerca da liberação de carbono. Os dados iniciais mostram que os rios e o permafrost têm quantidades de isótopos de cálcio e estrôncio inteiramente distintas.
Quando o permafrost derrete durante o verão e escorre para os rios, estes mostram quantidades de cálcio e estrôncio que se aproximam mais daquelas do permafrost. Jacobson acredita que, em um mundo mais quente, a assinatura do
permafrost nos rios seja mais pronunciada por períodos mais longos.
Mudanças nas quantidades de isótopos nos rios podem se relacionar com mudanças no ritmo de liberação de carbono. Assim, as taxas de cálcio e estrôncio nos rios do Ártico podem servir como registro para o monitoramento do impacto do aquecimento sobre a estabilidade do permafrost e da liberação de dióxido de carbono.
“A meta básica é estabelecer uma linha de base contra a qual se possa comparar futuras mudanças”, diz Jacobson. “Daqui a muitos anos, poderemos comparar as mudanças reais às previsões dos modelos e melhorar nossa compreensão sobre como o sistema funciona”.
A estação de coleta de amostras dura um curto tempo quando o permafrost derrete na primavera, até que congele novamente no outono. O pessoal no campo coleta as amostras que são enviadas ao laboratório de Jacobson em Evanston no Illinois, onde ele realiza as análises fora da estação. Em 2007 ele recebeu fundos para a aquisição de um espectrômetro de ionização térmica multi-coletor para medir os isótopos de cálcio, estrôncio e outros elementos. A Universidade Nortwestern está, atualmente, construindo um avançadíssimo laboratório “livre de metal” que abrigará o instrumento e servirá para as pesquisas de Jacobson.
Discussão - 3 comentários
Eu tenho medo...
Somos dois, Cláudia...
Somos três... 🙁