Não encontramos coisa alguma! Bom… Isso já é uma descoberta!

Três press-releases no EurekAlert hoje trombeteiam mais ou menos isso sobre as pesquisas referentes ao suposto Fundo Cósmico Gravitacional.

A Universidade da Flórida diz: Observatório de Ondas Gravitacionais busca os ecos do nascimento do Universo. O Instituto de Tecnologia da Califórnia, sobre um tom: LIGO busca os ecos gravitacionais do nascimento do Universo. E a Penn State escancara: Grande avanço na compreensão do nascimento e do início da infância do Universo. Esse terceiro é acompanhado de figuras, portanto, foi o escolhido para ser traduzido (o texto é mais ou menos o mesmo, diferindo apenas na listagem dos cientistas envolvidos: cada universidade “puxa a brasa para a sardinha” dos seus…). Lá vai:


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Vista aérea das instalações do LIGO em Livingston, Louisiana.

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Um significativo progresso para nossa compreensão da evolução inicial do universo foi obtida por uma equipe de cientistas associada com a Colaboração Científica LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory, Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria a Laser) e a Colaboração Virgo. Os resultados da equipe serão publicados na edição de 20 de agosto de 2009 da Nature.

Os cientistas que estudam as ondas
gravitacionais, inclusive Lee Samuel Finn,
professor de física e astronomia e astrofísica na Penn State e Benjamin
Owen, professor de física da Penn State, estabeleceram novos limites para os detalhes de como o universo se parecia em seus primeiros momentos. A análise dos dados obridos pela equipe, colhidos durante um período de dois anos entre 2005 e 2007, estabeleceu os limites mais restringentes até agora obtidos quanto a quantidade de ondas gravitacionais que podem ser oriundas do Big Bang.

Finn que é membro da Colaboração Científica LIGO desde sua criação, declara:

— Nossos resultados são um importante passo para a detecção das ondas gravitacionais primordiais – enrugamentos na tessitura do espaço-tempo – que foram criadas quando o universo se expandiu em seus momentos iniciais. Este tipo de informação deve fornecer pistas importantes para a compreensão sobre como a estrutura do universo evoluiu. Por exemplo: por que nosso universo se aglomerou em galáxias? Essa informação também poderia nos dizer algo acerca de algumas das fantásticas proposições sobre como nosso universo veio a acontecer, se são plausíveis ou não.


IMAGEM:

Outra imagem aérea das instalações do LIGO em Hanford, Washington.

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Acredita-se que o Big Bang criou uma enxurrada de ondas gravitacionais que ainda preenchem o universo e portam informações sobre o mesmo nos instantes imediatamente subsequentes ao Big
Bang. Essas ondas seriam observadas na forma de um “fundo estocástico”, análogo a uma superposição de várias ondas de diferentes tamanhos e direções na superfície de um lago. A amplitude desse fundo é diretamente relacionado com os parâmetros que governam o comportamento do universo durante o primeiro minuto após o Big Bang.

De acordo com Finn:

— O espaço-tempo é o palco vivo onde o drama do universo se desenrola. As ondas gravitacionais primordiais são as dobras, rugas e amassões no espaço-tempo que se estabeleceram quando o universo se expandiu, desde o início até o presente. As observações que relatamos nesse artigo são as observações mais estreitas do arcabouço do universo vivo em ação.

A pesquisa também restringe os modelos de cordas cósmicas, objetos que, segundo a proposição, sobraram do começo do universo e foram subsequentemente esticadas a enormes comprimentos pela expansão do universo. As cordas, dizem alguns cosmologistas, podem formar laços (loops) que produzem ondas gravitacionais quando oscilam, decaem e, eventualmente, desaparecem.

As ondas gravitacionais portam com elas informação acerca de suas violentas origens e sobre a natureza da gravidade que não podem ser obtidas pelas ferramentas convencionais da astronomia. A existência das ondas foi prevista por Albert
Einstein em 1916 em sua teoria da relatividade geral. Indícios da existência dessas ondas foram relatados pela primeira vez na Nature
por J.H Taylor, L.A Fowler e P.M. McCulloch em 1979. O LIGO tem estado ativamente à procura das ondas desde 2002 e o interferômetro
Virgo se juntou à busca em 2007.

Os autores do artigo relatam que o fundo estocástico de ondas gravitacionais ainda não foi descoberto. Mas a própria não-descoberta, descrita no artigo da Nature,  por si só é um dado de conhecimento sobre a história do início do universo.

A análise foi feita sobre os dados coletados pelos interferômetros do LIGO, um detector de 2 km e outro de 4 km em Hanford, Washington, e um instrumento de 4 km em
Livingston, Louisiana. Cada um dos interferômetros em forma de L usa um laser, dividido em dois feixes, que vai e volta através dos longos braços do interferômetro. Os dois feixes são usados para monitorar a diferença entre os comprimentos dos braços do interferômetro. De acordo com a teoria da relatividade geral, um dos braços do interferômetro seria ligeiramente esticado, enquanto o outro seria ligeiramente comprimido, quando da passagem de uma onda gravitacional. O interferômetro é construído de forma a poder detectar uma mudança menor do que um milésimo do diâmetro de um núcleo atômico no comprimento comparado dos braços.

David
Reitze, professor de física da Universidade da Flórida e porta-voz da Colaboração Científica LIGO, declara:

— Ondas gravitacionais são a única maneira de sondar diretamente o universo no momento de seu nascimento – elas são absolutamente sem ingual nesse ponto. Nós simplesmente não podemos obter essas informações de nenhuma outra prática astronômica. Isto é o que torna este resultado em particular e a astronomia de ondas gravitacionais em geral, algo tão empolgante.

De acordo com Francesco Fidecaro,
professor de física da Universidade de Pisa e do Istituto
Nazionale di Fisica Nucleare, e porta-voz da Colaboração Virgo:

— Os cientistas das Colaborações LIGO e Virgo juntaram seus esforços para fazer o melhor uso de seus instrumentos. A combinação de dados simultâneos dos interferômetros LIGO e Virgo fornece informações sobre fontes de ondas gravitacionais não acessíveis por outros meios. É algo bastante sugestivo que o primeiro resultado dessa aliança faça uso do fato dessas ondas gravitacionais serem capazes de sondar o universo muito jovem. Isso promete muito para o futuro.

Maria Alessandra
Papa, cientista senior no Instituto Max Planck para Física Gravitacional e chefe do esforço de análise de dados de todo o projeto, acrescenta:

— Centenas de cientistas trabalharam muito duro para produzir resultados fundamentais como este: os cientistas que projetam, montam e operam os detectores, as equipes que preparam os dados para as pesquisas astrofísicas e os analistas de dados que desnvolvem e implementam técnicas bem sensíveis para procurar por esses sinais muito fracos e elusivos nos dados.

O próximo marco para o LIGO é o Projeto Avançado
LIGO, previsto para entrar em funcionamento em 2014.  O LIGO Avançado vai incorporar melhoramentos nos projetos e nas tecnologias desenvolvidos pela Colaboração Científica LIGO. Ele tem o apoio da Fundação Nacional de Ciências dos EUA. do Conselho de Instalações Científicas e Tecnológicas do Reino Unido e da Sociedade Max Planck da Alemanha.


Eu não costumo comentar as matérias que traduzo, mas vou abrir uma exceção…

Afinal, que dados tão preciosos e merecedores de tantas fanfarras são esses?… De tudo que eu li, eu tiro que os cientistas descobriram algo que – em linguagem chula – se descreve como “o buraco é mais embaixo”. Dito de outra forma: eles já sabem onde o tal fundo estocástico não está. Claro que isso é um dado importante, mas será que merece mesmo todas essas declarações grandilouquentes (e totalmente vazias) dos porta-vozes? E três press-releases simultâneos que descrevem um  resultado proeminentemente negativo, como se fosse (eu não resisto a usar o lugar-comum…) o Santo Graal da astrofísica?…

Marketing demais acaba atrapalhando…

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